Nellie passara boa parte do dia fazendo suas tortas sozinha, pois deixara Toby sair um pouco. Não gostava de prender aquele adorável garotinho na sua casa. Queria cuidar dele como se fosse seu filho, e achava que um pouco de liberdade o faria bem.

Assim que terminou o serviço, Nellie jogou-se no sofá para descansar um pouco. Estava sozinha em casa. Sweeney também saíra, dissera que tinha negócios a resolver no centro, algo relacionado ao "sumiço" do Pirelli. Por um momento ela ficou preocupada, e se o garoto descobrisse a verdade?

Nellie procurou manter a calma e deitou-se, fechando os olhos. Tinha de tirar aquela tensão dela. Não demorou muito até que ela adormeceu.

Estava mais jovem, provavelmente mais de dez anos. Aquilo não era apenas um sonho, mas sim uma lembrança, ela sabia muito bem como tudo acontecera naquele dia.

Nellie acabara de sair de casa quando viu um movimento estranho vindo do centro. Guardas levavam um homem à força para fora, dirigindo-se para o cais. Nellie só pôde ver seus cabelos rebeldes e não teve como confundir: eram os cabelos de Benjamin Barker, o homem a quem sempre amou.

Ela correu até chegar ao tumulto. Eles o puxavam com cada vez mais força. Benjamin era forte, mas não podia vencê-los sozinho.

- Soltem-no! – gritou ela. – Por favor, soltem-no!

E para a sua surpresa, os guardas pararam. Olharam, então para trás, como se receassem que alguém os visse e então afrouxaram o aperto nos braços do barbeiro. Ele permaneceu calado, olhando para baixo, como se admirasse seus sapatos. Estava se controlando para não tentar fugir novamente. Sabia de seria pior se tentasse.

- Para onde eles estão te levando? Aconteceu alguma coisa? – sua voz estava embargada, ela estava prestes a chorar.

- Estou indo embora, Nellie – e ao ouvir seu nome saindo dos lábios dele, Nellie sentiu seu estômago despencar. – Por favor, cuide da Lucy enquanto eu estiver fora.

Então foi como se um balde com água caísse na sua cabeça: ele só tinha olhos para Lucy, nunca a olharia da mesma forma, nunca a amaria.

Inconformada com o que acabara de ouvir, Nellie abaixou a cabeça e assentiu. Foi a ver dele levantar a sua e notar a besteira que acabara de dizer. Ela o sentiu se aproximar.

- Me desculpe – disse ele. Nellie, então levantou a cabeça para olhar em seus olhos negros e então entendeu o que ele queria dizer.

Benjamin inclinou-se um pouco em direção a Nellie e deu-lhe um beijo. Ela pôde sentir o desespero dele. Pôs as mãos em seu rosto e acariciou-lhe a face. Assim que se separaram, uma lágrima escorreu pelo rosto de Nellie.

- Prometo que farei de tudo para trazê-lo de volta.

E assim ele se foi, dando-lhe um ultimo olhar antes de embarcar com os guardas, mostrando que não a esqueceria.

Nellie acordou num sobressalto, uma lágrima percorrera seu rosto enquanto sonhava. Ela olhou para os lados, mas estava sozinha em casa. Uma sensação de abandono surgiu, até que ouviu o som da porta se abrindo. Ela correu até a loja de tortas e lá estava Sweeney, com seu ar sério de sempre. Trazia um saco pequeno em uma das mãos.

- Ah... – tentou conter seu espanto ao vê-la encarando-o ansiosa – trouxe isto para você – então estendeu o braço com o saquinho. Nellie correu e, sem se importar com o que ele tinha na mão, abraçou-o com todas as forças. Sem entender realmente o que estava acontecendo, ele retribuiu o gesto.

- Promete que não vai me deixar? – sussurrou ela.

- Por que está perguntando isso?

- Apenas me prometa.

Ele hesitou logo de início, mas logo respondeu:

- Prometo.

Nellie conseguiu abrir um sorriso e então ele a beijou. E nos beijos dele ela sentiu-se novamente em casa.