CAPÍTULO UM
Edward Cullen Vasquez, Conde de Olivares, aproveitava a sombra de uma laranjeira acomodado na sela do garboso garanhão negro enquanto observava o vale que havia pertencido aos seus ancestrais há mais de quinhentos anos.
Naquela bela manhã de primavera, o céu azul e sem nuvens proporcionava uma visão gloriosa das terras férteis que se estendiam para além do horizonte.
Aqueles milhares de acres agora lhe pertenciam, mas a tristeza marcava o belo rosto do conde desde o divórcio, dois anos antes.
Apesar de toda aquela riqueza, Edward possuía as características próprias do povo espanhol: a família estava sempre em primeiro lugar. E esses sentimentos haviam rasgado seu coração por causa de um casamento inconsequente.
Para um homem forte, orgulhoso e bem sucedido como ele, aquela era uma verdade amarga que lhe abalava as estruturas morais.
Edward havia seguido o coração ao invés da razão quando se casara com a mulher errada. Um erro caro e pelo qual ele ainda estava pagando.
Jasper, seu meio irmão, tinha conseguido um trabalho em Nova York e cortara o contato com a família.
Apesar de Edward ter cuidado do irmão após a morte prematura do pai, ele não tinha certeza de que conseguiria perdoá-lo se o visse pela frente naquele momento.
Quanto a Isabella, não havia espaço em seu coração para o perdão. Apenas o desejo de se vingar da mulher e do irmão que traíram, unidos, sua confiança e seu amor.
Desde o momento em que Isabella decidira romper os votos do casamento e desaparecera, fervilhara em Edward a vontade de fazer justiça. O desejo persistia, mesmo com os avisos de seu brilhante intelecto, que sabia ser inútil o impulso vingativo quando se fala dos assuntos do coração.
O celular tocou naquele instante e interrompeu um dos raros momentos em que Edward conseguia se isolar do mundo para ter um pouco de paz.
As sobrancelhas espessas e escuras se ergueram ao ouvir que o detetive particular, contratado para encontrar Isabella, o aguardava no castelo.
Enquanto retornava com o cavalo, ele se perguntava se Alonso Ortega finalmente conseguira uma pista sobre o paradeiro dela.
— Eu peço desculpas por vir sem marcar um horário, excelência. — murmurou o detetive veterano. — Mas sei que gostaria de ouvir as notícias que trago sem demora. Eu descobri o paradeiro da condessa.
— Ela está na Inglaterra? — antecipou Edward, pois suspeitava há tempos. O detetive confirmou, fornecendo detalhes complementares.
No mesmo instante, a condessa viúva Esme, mãe de Edward, entrou na sala e lançou um olhar ácido para o detetive. A presença intimidante da matrona obrigou-o a reafirmar que, finalmente, conseguira fazer jus ao propósito da sua contratação. Um sorriso raro de aprovação atenuou as severas feições da mulher.
— Há mais uma informação que devo acrescentar — confessou Ortega enquanto tentava evitar o olhar escrutinador da anfitriã. —A condessa teve um filho. Um garoto que deve ter mais ou menos dois anos de idade.
Edward sentiu o sangue congelar quando ouviu a notícia.
A porta foi aberta novamente. Dessa vez, era Rosalie, sua irmã mais velha. Ela se desculpou pela intromissão e posicionou-se ao lado da mãe, justamente no momento em que a arrogante matrona lançava um comentário cruel:
— Aquela devassa inglesa que enfeitiçou seu pobre irmão para que se casasse com ela deu a luz a um bastardo!
Horrorizada com a crítica humilhante feita na frente de um estranho, Rosalie olhou penalizada para o irmão e apressou-se em oferecer um refresco para o detetive, esforçando-se para desviar a atenção do assunto.
Edward sabia que, se pudesse, a calma e ponderada irmã seria capaz de se acomodar no sofá e começar a falar sobre o tempo, enquanto ele, mais explosivo, estava a ponto de agarrar o detetive pelas lapelas do paletó e exigir os pormenores da revelação que acabara de fazer.
Contudo, conhecendo o temperamento do conde, Ortega recusou rapidamente a oferta gentil de Rosalie, passando a pasta que continha o relatório completo de suas descobertas para as mãos de Edward. Em seguida, pediu desculpas, e retirou-se do aposento às pressas.
Assim que o detetive saiu, Rosalie exclamou:
— Um filho? De quem?
Edward deu de ombros. Dele é que não era, pensou. E aquela era a maior afronta que já enfrentara na vida. Descobrira, e da pior forma, que Isabella sabia muito bem como acabar com o orgulho de um homem.
— Dios mio!— disse Rosalie, admirada. — Ela teve um filho de outra pessoa!
— Se você tivesse me ouvido — lamentou Esme. — nada disso teria acontecido. Eu sabia que ela não era a mulher certa para você desde o instante em que a vi. Você era um dos partidos mais cobiçados da Espanha e poderia ter escolhido a mulher que quisesse. No entanto...
— Eu me casei com Isabella. — completou Edward, ansioso pelo fim do sermão.
— Isso porque ficou hipnotizado com a sensualidade dela. Esse tipo de mulher não se contenta com apenas um homem — afirmou a mãe. — Graças a ela, meu pobre Jasper está vivendo no outro lado do planeta! E o pior é que ela teve a coragem de dar à luz a um filho bastardo enquanto ainda usa o seu nome!
— Já chega, mãe! — protestou Edward. — Para que servem todas essas recriminações? O que está feito, está feito.
Com a expressão repleta de fúria, Esme evidenciou:
— Ainda não está feito. Você nem mesmo iniciou o processo de divórcio.
— Como poderia? Eu nem mesmo sabia onde ela estava! Agora, irei para a Inglaterra e discutirei os termos do divórcio.
— Peça para o advogado fazer isso. Não há necessidade de falar com ela pessoalmente. — Protestou a mãe, com vigor.
— Não é isso o que eu penso. — revidou Edward em tom calmo e decisivo. — Isabella ainda é minha esposa. — Antes que a mãe prosseguisse com as objeções, ele decidiu encerrar a discussão: — E eu estou lhe informando das minhas intenções apenas por cortesia. Não estou pedindo permissão e nem preciso de aprovação.
Em seguida, ele se retirou para a privacidade do seu escritório particular e serviu-se de uma dose de brandy.
Um filho? Isabella tivera um filho? Ele ainda estava chocado com aquela informação, principalmente porque ainda se ressentia com a perda do primeiro bebê que eles teriam pouco antes de abandoná-lo. Por essa razão, Edward não tinha dúvidas de que aquela criança não era sua. Será que o menino seria filho de Jasper? Ou de um homem qualquer?
A sórdida especulação o deixava desgostoso, como se tivessem cravado uma lâmina em seu peito.
Angustiado, ele abriu a pasta que o detetive lhe entregara e folheou o relatório. Não havia maiores revelações, dizia apenas que Isabella estava morando em Dorset, um distrito no sul da Inglaterra, e administrava uma floricultura.
Por um instante, a lembrança da esposa pareceu sufocá-lo. Edward esforçou-se para conter a emoção, valendo-se da autodisciplina com que fora educado.
Contudo, onde fora parar aquela conduta rigorosa quando se envolveu com Isabella Swam?
Edward não tinha como desculpar o próprio comportamento, uma vez que tinha conhecimento das irrefutáveis diferenças que havia entre eles, mesmo antes de se casar com ela.
Estava claro que ele ficara, de fato, hipnotizado com a sensualidade de Isabella, conforme sua mãe salientara. Mas ele não havia se dado conta da própria vulnerabilidade diante de uma tentação como aquela. Talvez as conquistas fáceis do passado o tivessem levado ao desafio de possuir Isabella a qualquer custo. E essa fraqueza o levara a cometer o maior erro de sua vida. Contudo, na medida em que o tempo se passava e ele enfrentava inúmeras desilusões de seu breve casamento, a forte atração que sentia por Isabella acabara se desvanecendo em sua memória.
Afinal, seu desastroso casamento destruíra a harmonia da família. E, para piorar, ela ainda era sua esposa aos olhos da lei e, por consequência, sua responsabilidade. Assim como o garoto. Enquanto não acontecesse o divórcio, ele era, para todos os efeitos, seu filho. E esse fato o irritava além da conta. Ele precisava partir para a Inglaterra o mais cedo possível.
Ninguém da família Olivares, desde o século XV, fora reconhecido como um covarde ou se furtara a cumprir suas responsabilidades. E Edward não seria o primeiro. Isabella tinha sorte de pertencer ao século XXI, porque se isso tivesse acontecido com algum antecessor medieval, ele teria, com certeza, trancado a esposa infiel em um convento ou mandado matá-la por ter manchado a honra da família.
Enquanto Isabella acondicionava um buquê com um papel celofane decorativo, Thomas a espiava por trás de um canto do balcão. Seus olhos espertos e brilhantes enchiam-se de curiosidade.
— Olá! — Ele saudou a cliente que aguardava o buquê com um sorriso tímido, uma característica da sua personalidade.
— Olá! Que menino bonito! — respondeu a mulher, encantada.
Isabella já estava acostumada aos inúmeros elogios dirigidos ao pequeno Thomas. Com certeza, ele havia herdado do pai aqueles olhos grandes e escuros, assim como a cor bronzeada da pele e o tom negro do cabelo sedoso.
Da mãe, apenas os cachos encaracolados e uma natureza otimista, contrastando com alguns repentes explosivos à semelhança do pai.
— Obrigada — respondeu enquanto entregava o buquê para a mulher e recebia o pagamento.
Logo que a cliente saiu, Thomas começou a brincar com um carrinho próximo aos pés de Isabella, que já se ocupava com a preparação de um arranjo de flores para atender outra encomenda feita no dia anterior.
Enquanto isso, os pensamentos se perdiam entre as lembranças de um passado recente. Ela chegara à vila de Charlbury St Helens em um momento crítico de sua vida: como estava grávida, o único emprego que conseguiu foi o de auxiliar de balcão em uma floricultura. Ao menos, teria um sustento e uma ocupação. Contudo, o emprego serviu também para que ela descobrisse um talento inato para lidar com flores. Animada, decidiu frequentar um curso profissionalizante. Pouco tempo depois, quando a proprietária decidiu se aposentar, Isabella teve a coragem de adquirir a pequena loja combinando o pagamento em prestações. Ela se empenhou nos projetos que tinha em mente e obteve resultados fantásticos, aumentando assustadoramente o número de encomendas. Isabella custava a acreditar no seu próprio sucesso. Nada mal para alguém de origem humilde, filha de um marginal com uma mãe alcoólatra que acabara morrendo num acidente com um carro que seu próprio pai havia roubado.
Ela nunca tivera a chance de alimentar qualquer aspiração em sua adolescência. Ninguém na família havia cursado qualquer tipo de carreira. "Essas idéias não são para pessoas como nós. O que Isabella precisa é de um trabalho para ajudar a sustentar a casa", ouvira a mãe comentar com a professora, que insistira que Isabella deveria permanecer na escola após ter concluído o básico e prosseguir os estudos. "Você é como sua mãe: teimosa e inútil!", reclamava o pai. E aquela depreciação a acompanhou por muitos anos.
Depois de almoçarem, Isabella levou Thomas para a pré-escola da vila e ficou feliz ao ouvi-lo gritar o nome de seus pequenos colegas e correr para dentro do estabelecimento. Com certeza, ele estava ansioso para esbanjar a energia contida durante o tempo que passara com a mãe na floricultura.
Isabella havia mandado colocar um balanço num canto da loja, mas isso não era o suficiente para manter a atenção dele concentrada por muito tempo. Com a ajuda de uma babá, ela conseguia manter Thomas distraído enquanto se ocupava com a clientela. Contudo, agora que ele tinha idade suficiente para participar da recreação oferecida pela pré-escola durante a tarde, Isabella conseguia cuidar sozinha do filho, já que havia terminado o curso de especialização que frequentava pela manhã. Apesar disso, ela e Alice, a babá, se tornaram boas amigas.
Foi uma grata surpresa quando Alice entrou na loja, uma hora depois de Isabella retornar, e perguntou a ela se teria tempo para um café.
Enquanto saboreavam o café fresco na pequena cozinha nos fundos da loja, Isabella notou a inquietude da amiga:
— Está preocupada com alguma coisa?
— Talvez não seja nada de importante. Eu teria vindo aqui no fim da semana para lhe contar, mas uma família me contratou para um trabalho e eu fiquei ocupada. — revelou Alice. — Um homem estranho alugou um carro na vila e alguém o viu tirar uma foto da sua loja. Eu soube também que ele andou fazendo perguntas a seu respeito para o pessoal do posto de gasolina.
Isabella franziu o cenho.
— Que tipo de perguntas?
— Se você morava na vila, qual a idade do seu filho... Maurice, do posto de gasolina, disse que se tratava de um jovem de boa aparência, possivelmente interessado em você.
Isabella estava acostumada a ser assediada pelos homens solteiros da vila. Porém, depois do seu casamento fracassado, dedicara-se a cuidar bem do filho. Por enquanto, arranjar um namorado não estava em seus planos.
— Você sabe se ele é espanhol? — Isabella perguntou, desconfiada. Mas a outra negou com um gesto de cabeça.
— De acordo com Maurice, ele veio de Londres. Quem sabe não se trata de um turista que entrou na loja e ficou fascinado por você?
— Eu não me lembro de ter atendido nenhum jovem de boa aparência na semana passada.
— Talvez ele tenha perdido o interesse depois de saber que você tem um filho e ainda está casada. — deduziu Alice, encolhendo os ombros. — Não sei por que você não liga para o seu marido para exigir o divórcio.
— Ninguém diz para Edward o que ele deve fazer — revelou Isabella. — Além disso, as coisas ficariam complicadas se ele descobrisse sobre Thomas.
— Você poderia contratar um advogado e alegar violência doméstica.
— Mas ele nunca me bateu!
Alice esboçou um sorriso.
— Não é preciso chegar ao ponto de um espancamento. Existem outras maneiras de se constatar a violência. Tais como abuso mental ou negligência. Que tal a maneira como ele a deixou à mercê daquela família horrível?
— Apenas a mãe dele é uma megera. O irmão e a irmã são boas pessoas. — corrigiu Isabella, desejando ser mais justa. — E não acho que eu tenha sofrido algum abuso mental.
— Mas você me disse que Edward criticava tudo o que você fazia e a deixava sozinha a maior parte do tempo. E ainda a engravidou de uma hora para a outra, antes que você estivesse preparada para ser mãe. Não foi isso?
Isabella lamentou ter sido tão franca com Alice no início da amizade entre elas. O problema era que quando a contratara para ajudar a cuidar de Thomas, Isabella ainda se sentia muito vulnerável e estava precisando desabafar com alguém os seus sentimentos para não enlouquecer.
—A verdade era que eu não me sentia boa o suficiente para Edward — ela assumiu.
A maneira como fora criada pelos pais trouxera um imenso complexo de inferioridade que a acompanhara durante a vida. Embora tenha se tomado uma jovem muito bonita, a timidez a impedira de conseguir emprego em algum escritório. Com isso, destruíra as esperanças da mãe de que ela se tomasse assistente de algum ricaço que, posteriormente, acabasse se casando com ela. Sua mãe costumava viver em um mundo de fantasias e se embriagava constantemente para fugir da realidade do seu infeliz casamento.
O pai de Isabella, cujo único sonho era conseguir muito dinheiro sem precisar se levantar do sofá, queria que ela se tomasse modelo, mas a altura exigida pelo mercado fora um impedimento. Logo após a morte da mãe, o pai insistiu que aceitasse o trabalho de dançarina em um clube noturno administrado por um amigo dele. Quando Isabella se recusou, o pai a espancou e a expulsou de casa. Anos se passaram antes que ela visse o pai outra vez, em circunstâncias que preferia esquecer.
Desde muito cedo, ela aprendera que as pessoas sempre esperavam mais do que ela tinha condições de oferecer. E com seu casamento não foi diferente.
Por essa razão, Isabella sentia-se mais do que satisfeita por ter conseguido administrar um negócio por conta própria, o que renovou sua autoestima.
Quando viu Edward pela primeira vez, a paixão a atingiu como um tornado e a fez acreditar que o impossível pode, às vezes, se tomar realidade. De alguma maneira, ela assumiu os sonhos de Cinderela e se casou com um homem rico, acreditando em um final feliz.
Mas o que aconteceu depois comprovou que as diferenças sociais nunca são superadas completamente. E o seu pior erro foi ter se tomado amável demais com seu cunhado Jasper. Contudo, se Edward não fosse tão ausente e a ajudasse a se inteirar com sua nova vida na Espanha, ela não teria ficado tão solitária e nem aceitado a companhia de Jasper de maneira tão frequente.
Ela adorava Jasper e ficou muito magoada por ele ter parado de procurá-la, mesmo depois do casamento com Edward ter acabado.
A voz de Alice interrompeu-lhe os devaneios:
— Ele é que não foi bom o suficiente para você. E acho que deveria contar para Edward sobre Thomas, em vez de ficar se escondendo como se tivesse feito alguma coisa errada.
Isabella desviou o olhar e sentiu um calor subir-lhe às faces. Não queria revelar a verdade por inteiro e acabar perdendo a amiga.
— Se Edward descobrir sobre Thomas, ele não medirá esforços para conseguir a custódia do filho e levá-lo de volta para a Espanha. — argumentou Isabella. — Ele leva muito a sério sua responsabilidade com a família.
— Bem, se você acredita no risco de Thomas ser levado pelo pai, então está certa em ficar calada. Porém, não poderá esconder a verdade para sempre.
— Sei disso. Mas, por enquanto, essa é a melhor opção. — Isabella atestou e ergueu-se da cadeira para atender um cliente que acabava de entrar na loja ao ouvir o ruído da campainha.
No fim da tarde, Isabella fechou a loja mais cedo para poder fazer uma entrega de flores em uma mansão nos arredores da cidade. No caminho de volta, buscou Thomas na pré-escola e seguiram para casa.
Isabella alugara uma pequena casa com um extenso gramado na frente, onde ela colocara um balanço e uma caixa de areia, para que o menino pudesse brincar nos fins de semana. Embora a casa fosse modesta e a mobília barata, ela representava o único e verdadeiro lar que fora verdadeiramente seu.
Algumas vezes, parecia inacreditável que ela já tivesse morado em um castelo. Castillo Del Halcón, como era chamado, fora construído pelos antepassados, guerreiros da família de Edward. A mistura de estilos islâmicos e europeus transparecia nos artefatos que se espalhavam pelos inúmeros recintos do castelo. Remover a mobília ou um quadro de um lugar para outro era terminantemente proibido pela condessa viúva. Esme não tolerava que outra mulher interferisse na decoração do lar que ela continuava a considerar como seu.
Isabella se sentia mais como uma hóspede do que como a esposa do conde. O estilo de vida formal, que exigia um tipo de roupa para cada ocasião e viver cercada de criados, não a agradava nem um pouco.
Haveria alguma recordação agradável daquele casamento infeliz? Isabella perguntou a si mesma, e a figura imponente de Edward surgiu de imediato em sua mente. Inicialmente, pensara que seu charmoso marido havia sido um presente do destino, embora ela nunca tenha acreditado que merecia. Por um instante, ela se deu conta de que as melhores coisas de sua vida tinham acontecido sem planejamento, como a gravidez de Thomas.
Os pensamentos retornaram ao dia em que conhecera Edward. Ela estava retornando do hotel em que trabalhava como recepcionista e conduzia a bicicleta que havia escolhido como transporte, uma vez que os ônibus oram escassos na zona rural em que morava. Porém, distraiu-se e acabou no acostamento da estrada quando o pneu dianteiro da bicicleta deslizou no cascalho. Uma Mercedes que passava naquele instante parou logo e Edward e o motorista desceram do veículo e se aproximaram para prestar-lhe auxílio.
Enquanto ela se esforçava para conter as lágrimas e examinava as escoriações nos joelhos, Edward a ergueu nos braços e a colocou dentro do veículo, ordenando que o motorista seguisse para o hospital mais próximo. Ao mesmo tempo, ligou para uma oficina e solicitou que eles cuidassem da bicicleta que haviam deixado na rodovia.
Só então ela se deu conta de que estava sendo socorrida pelo homem mais bonito que já havia visto na vida. Era uma pena que Isabella não tivesse percebido, naquele momento, o quanto Edward era dominador e teimoso.
Após as radiografias de praxe e terminado os curativos, ela foi liberada do hospital, mas não de Edward. Ele parecia tê-la enfeitiçado com seu sorriso encantador. Amor à primeira vista, ela pensou enquanto se revirava na cama sem conseguir conciliar o sono.
Isabella nunca acreditara em amor à primeira vista. E havia prometido a si mesma que nunca permitiria que um homem a dominasse da mesma maneira como seu pai fizera com sua mãe. Apesar das duras lições que tivera na vida, bastou um olhar de Edward Cullen Vasquez para que ela caísse de amores por ele.
Muito antes de Edward surpreendê-la com um pedido de casamento, Isabella havia enfrentado meses de um namoro turbulento. Ele prometia ligar, mas muitas vezes não o fazia. Cancelava encontros no último minuto. Via suas fotos nos jornais ao lado de outras mulheres e, quando protestava, Edward se defendia dizendo que era um homem obrigado a cumprir certas formalidades na sociedade.
Isabella era obrigada a compreender isso. Afinal, ele era um duque espanhol, e ela não passava de uma empregada em um hotel de quinta categoria. Contudo, Edward nunca se importara com a diferença social que os separava e costumava lhe dizer com ternura:
— Nós somos como a sombra e a luz, querida. Precisamos um do outro.
Seis meses depois daquele primeiro encontro, estavam casados.
Restava pouco espaço no piso da loja depois que Isabella preencheu os vasos com novos botões de flores. Assim que terminou de regá-los, limpou as mãos no avental e aqueceu as palmas das mãos uma contra a outra para aquecê-las. Não importava se fosse verão ou inverno, a temperatura na loja estava sempre fria. Tratava-se de uma construção antiga e úmida. A vantagem, porém, era a de que se fosse mais arejada, o calor poderia danificar as plantas.
Ela caminhou até o quarto que ficava nos fundos da loja, apanhou o casaco pendurado atrás da porta e o vestiu. Thomas estava brincando no pequeno pátio dos fundos com seu triciclo e imitava o som de um motor com a voz. Ela sorriu enternecida com a brincadeira inocente do filho, que parecia não se importar por ter precisado sair cedo da cama e enfrentado o ar frio da manhã.
— Isabella...
A voz que ela nunca esperava ouvir outra vez lhe provocou arrepios. Isabella apertou os olhos e recusou-se a olhar para trás. Talvez a mente estivesse lhe pregando uma peça. Talvez aquela voz estivesse ecoando do seu próprio passado, quando ela estava na cama com Edward e ele murmurava-lhe o nome. A voz rouca e sensual que era capaz de excitá-la apenas ao dizer-lhe o nome. A voz que silenciara quando ela ficara grávida e a angustiante perda de interesse nela enquanto seu ventre se avolumava.
Ela girou a cabeça lentamente e lá estava ele: Edward Cullen Vasquez, seu marido. O homem que aprendera a amar e precisar e depois a privara de seus carinhos por causa de sua fraqueza.
Os olhos da cor da violeta se arregalaram com surpresa, mal acreditando no que estavam vendo.
O cabelo escuro evidenciava o nariz retilíneo e as linhas aristocráticas do rosto. Arrogante e imponente, ele parecia transpirar sensualidade por cada poro. O terno escuro e de corte perfeito combinava com os sapatos feitos à mão. Edward sempre se apresentava de maneira impecável, a não ser na cama, ela recordou com amargura. Isabella costumava desarranjar-lhe o cabelo e depois correr as unhas pela extensão da pele bronzeada daquelas costas poderosas.
— O que você está fazendo aqui? — perguntou Isabella enquanto sentia o fôlego ir embora.
