Troque O Dior Pelo All Star

Sinopse: "Ele não ficou abalado com a minha ameaça, o que me irritou profundamente. Quem aquele camponês pensava que era?"


PRÓLOGO

— Natalie, eu vou sair.

A garota Kabra revirou seus olhos âmbar mentalmente. É claro que ele iria sair. Era a única coisa que ele fazia desde que começara a namorar a garota Cahill.

— E vai me deixar sozinha aqui?

Mesmo de costas Natalie sabia que Ian havia revirado os olhos. Ela conhecia bem o irmão que tinha.

— Pare de fazer drama, Natalie. Você sabe se cuidar. Além disso — ele hesitou, e Natalie pôde perceber que alguma coisa o incomodava —, não tem nada a temer. Você está segura aqui.

— E os Vespers? — perguntou Natalie, cautelosa, ainda sem se virar.

— Esqueça os Vespers. Estamos seguros. — Pode ter sido a imaginação de Natalie, mas ela jurou ter ouvido Ian murmurar "pelo menos por enquanto". Mas antes que Natalie pudesse perguntar, ele se despediu e saiu.

Natalie e Ian estavam hospedados naquele hotel há duas semanas. Eles vieram a pedido de Amy para discutirem sobre os Vespers, o grupo misterioso e implacável que estava finalmente saindo das sombras.

Natalie sabia que o irmão aproveitaria a oportunidade para finalmente acertar as contas com Amy Cahill. Por um lado, ela ficou um pouco ressentida, mas não fez objeções. Afinal, ela estava falando de Ian Kabra, o cabeçudo teimoso. Por outro, ela ficou feliz por Ian ter finalmente acertado as coisas com Amy. No fundo do coração de Natalie ela sabia que alguma coisa estava errada com ele. Desde a Coréia ele estava agindo estranho e ela supôs que era por causa do que eles fizeram os irmãos Cahill e Alistair Oh, mas achara bobagem. Afinal, ele era um Lucian, e um Lucian não sente remorso.

Como mamãe.Natalie fechou os olhos. Não a chame de "mamãe", ordenou a si mesma. Ela nunca foi isso pra você. Para ela, você era apenas uma subordinada como todos os outros.

Ela se lembrou de todos os dias em que elas fizeram compras juntas. Como mãe e filha.

Então veio a caçada. Isabel mostrou a Natalie seu lado frio, impiedoso e assassino. Tantas pessoas morreram por causa dela. Os pais de Amy e Dan, Irina Spasky e o tal Lester que Dan contara a ela. E provavelmente mais outras.

Natalie suspirou e se levantou. Pegou o seu sobretudo e suas galochas Gucci. Precisava sair daquele hotel e pensar.

Logo depois que passou pelas portas do hotel o ar frio a envolveu, fazendo Natalie abraçar a si mesma.

As ruas e lojas passavam como um borrão para ela. Tudo era da mesma cor: cinza. Sem cor, sem vida, sem alegria.

A chuva veio sem aviso prévio. As gotas caíram no cabelo de Natalie, mas ela não se importou. Deixou as gotas frias caírem no seu rosto, sem se perguntar se aquilo poderia estragar a sua pele. Seus pés pareciam ter vida própria, desviando-se das pessoas, levando-a para um caminho que ela não sabia qual era. Mas quando ela entrou na rua, a reconheceu imediatamente. Era a rua da mansão de Dan e Amy.

Natalie franziu a testa, sem saber muito bem por que estava ali. Acho melhor eu ir embora. Ian deve estar com Amy. Eu não quero incomodá-los. Ela se virou e deu um passo, mas então trombou com uma pessoa.

— Ei! — A pessoa reclamou. Natalie já ia abrir a boca para pedir desculpas, mas então reconheceu Dan. Ele levantou a cabeça para olhá-la. Seus olhos demonstraram reconhecimento. — Natalie? O que você está fazendo aqui?

Ela encolheu os ombros, sem encará-lo.

— Eu só queria passear. Acho que meu cérebro me levou para aqui.

Dan franziu a testa ao ver o estado dela. Cabelo molhado e meio desgrenhado. Sem maquiagem. Tremendo. Ele tirou a sua jaqueta e colocou nos ombros dela. Natalie o olhou, confusa.

— Por que você fez isso?

Dan também ficou confuso.

— Você estava com frio. — Parecia mais uma pergunta do que uma afirmação. Natalie o encarou por tanto tempo que ele ficou constrangido.

— O que foi?

Ela piscou, saindo do transe.

— Nada. Obrigado, Dan.

— De nada. — Então ele percebeu uma coisa. — Você me chamou de Dan!

Natalie deu as costas para ele, virando-se em direção para a casa dele, com um sorriso esticando em seus lábios.

— Sim, eu chamei. E é melhor você não ficar tão presunçoso... Daniel.

Ele revirou os olhos, mas sorriu. Os dois caminharam em silêncio para a casa. Natalie se grudou o máximo possível à jaqueta de Dan.

Naquela noite ela teve um sonho. Natalie corria com um garoto por um parque. Era outono e as folhas das árvores estavam caindo. Ela não conseguiu ver o rosto do garoto. Tudo o que conseguiu ver foi uma cicatriz em cima do olho dele.