É isso que eu ganho. Eu não deveria ter falado nada, mas não... Abri a minha boca enorme e contei do meu aniversário de 18 anos pro Jasper. Por que eu faria isso? Não sei. Inocência, burrice, talvez uma vontade louca de tomar ovada...
O que eu sei é que foi tudo muito bonito, cerveja em garrafas de refrigerante, ovo podre e farinha no meu cabelo e eu, Jasper, Alice e Tanya bêbados no banheiro quebrado atrás da quadra... E agora eu pagando o que seriam seis meses de detenção com trabalho escravo no estúpido festival da droga da escola.
"E aí, Ed, meu mano?"
"Eu não sou seu 'mano', Tyler" resmunguei sem tirar os olhos da revistinha do Homem Aranha "Você é branco, se veste igual a um rapper de boutique e toda a galera negra daqui te odeia! Eu não sou seu 'mano'." ele parou por um instante, me encarando com um olhar em branco, então riu.
"Essa foi boa!" idiota "Tá curtindo aí?"
"Eu estou preso na barraca dos bolos no festival do colégio quando o que eu mais queria era ficar fumando no banheiro. Não, eu não estou curtindo, Tyler."
"Você fuma?"
"Tem uma trouxinha de maconha me esperando atrás da descarga no banheiro dos deficientes" comentei, ainda com os olhos colados no quadrinho, esperando que ele se assustasse e fosse embora.
Mas em vez de um Tyler fugindo, ouvi uma risada feminina e cristalina atrás de mim. Virei lentamente, tirando as pernas de cima do balcão e encontrei a pessoa que eu mais temia que fosse.
"S-senhora Swan!" exclamei levantando de uma vez, fazendo a cadeira virar.
"Maconha no banheiro dos deficientes, hein?" ah, não, não, não...
"Te vejo mais tarde cara!" Tyler cuspiu antes de sair correndo.
Agora ele corre! Idiota.
Isabella Swan. Senhora Swan... Desde o primeiro dia que coloquei os olhos nela eu sabia que estava tão bom quanto se estivesse morto.
No meio do ano passado eu a vi, uma morena, não muito alta, com os olhos castanhos mais intensos que eu já vi na minha vida, a pele clarinha, umas curvas sensacionais, que passou por mim valsando corredores do colégio... Me entorpecendo com seu perfume de morango.
Então ela bateu a cabeça na porta aberta de um armário aberto e fez a melhor cara do planeta! Ao mesmo tempo em que eu queria ajuda-la, parte de mim preferia rolar no chão por horas de tanto rir. E fácil assim eu já estava completamente caído pela aluna nova... Foi o que eu pensei a princípio.
Que ela fosse uma aluna nova.
Então, prestando mais atenção, percebi que ela era mais velha que eu, e alucinei pensando que não conseguiria ficar em nenhuma aula e me desdobraria pra ser mandado pra detenção só pra ver a nova secretária gostosa, mas secretária ainda não era inatingível o bastante pra mim... Claro que não.
Isabella Swan era voluntária no meu colégio. No Comitê de Pais e Mestres. A senhora Swan, não só tem um filho de 6 anos, como é amiga da minha mãe. Elas freqüentam a mesma droga do Clube do Livro idiota.
Ela tem 28 anos, é recém divorciada e é, provavelmente, a mulher mais perfeita a andar por essa terra... E eu não posso deixar que ela descubra que eu penso isso. Então, fiz da minha missão de vida correr dela igual o capeta corre da cruz. Modéstia à parte, eu corro bem rápido.
Mas não poderia correr para sempre, aparentemente... Ou pelo menos não dava pra correr agora com ela parada na minha frente, braços cruzados, sobrancelhas arqueadas, esperando uma resposta. Eu deveria ter ficado com os seis meses de detenção.
"Eu... Não era o que... Era brincadeira!" consegui dizer por fim.
"Você parecia bem sério falando com seu colega."
"Ele não é meu colega!" respondi meio rápido, me sentindo ofendido por ela ter me relacionado com o Tyler. Ela esboçou um sorriso e eu ia continuar minha defesa quando ela recomeçou.
"Acho melhor falar com a Esme sobre isso..." suspirou, baixando o olhar e balançando a cabeça.
Todos os pelos do meu corpo se eriçaram de um jeito dolorido. Se minha mãe fica sabendo disso chuta minha bunda com tanta força que eu só ia cair amanhã.
"Pelo amor de Deus, senhora Swan!" implorei juntando as mãos, desesperado "Era brincadeira! Eu só queria que ele fosse embora!"
"E pra ele ir embora você precisava falar que tinha maconha?" ela me devolveu, descrente.
"Eu não precisava... Só era mais engraçado!" dei de ombros "Por favor, senhora Swan..." eu estava quase me jogando de joelhos.
Ela respirou fundo e subiu o olhar para mim, puxando todo o cabelo para o ombro esquerdo, ela tinha mechas vermelhas naquela luz.
"Talvez a gente possa fazer um acordo..." ela ainda não parecia acreditar em mim.
"Qualquer coisa!"
"Primeiro..." ela ergueu o indicador, enumerando "Quero que pare de me chamar de senhora!" concordei com a cabeça, tão rápido que fiquei meio tonto "Segundo, me chame de Bella."
"Certo, tudo bem, Bella, entendi!" despejei e ela riu.
"Terceiro e último..." esperei, com os olhos arregalados "Arruma uma cadeira pra mim? Já andei essa feira inteira e agora me encarregaram de ficar aqui com você, mas minhas pernas estão me matando!"
Fiquei parado, olhando para ela. Era brincadeira, né? Ela estava só esperando eu me distrair e ia contar tudo pra Esme que estaria na porta de casa me esperando com uma espingarda. E vou te falar, minha mãe tem uma excelente mira.
Abri a boca, tentando perguntar se ela tinha esquecido da última condição do tal acordo, mas só saíram sílabas ininteligíveis da minha boca. A senhora Swan, Bella, começou a rir.
"Você está bem?" ela perguntou, sorrindo de um jeito doce "Era brincadeira, Edward!"
"Ah... Hmm... É que... Brincadeira?" tombei a cabeça e leve pro lado e ela riu ainda mais.
"Eu sei que você não faria isso..."
Pisquei algumas vezes, cocei a cabeça e decidi que eu era um burro e ela tinha um senso de humor fantástico. O que era ainda mais irritante, ela precisava ser perfeita em tudo?
"Ahm... Cadeira." lembrei.
Levantei a cadeira que eu derrubei e ofereci para ela, que ainda me olhava divertida. Puxei uma das cadeiras de plástico da barraca do lado quando ninguém estava olhando.
Já estava sentando ao lado da Bella quando o treinador Newton, o encarregado da barraca vizinha, foi se afastando para trás procurando a cadeira até que parou e ficou olhando em volta, confuso.
Bella começou a rir.
"Isso não foi muito legal, Edward." ela não parecia realmente triste, então dei de ombros.
"Também não foi muito legal ameaçar contar pra minha mãe que eu sou maconheiro!" arqueei as sobrancelhas e ela caiu na gargalhada.
"Desculpa..." mordeu o lábio inferior "Mas você parecia tão desesperado..."
"É eu sei... Sou um alvo fácil." balancei a cabeça, fingindo que estava sofrendo.
"Engraçado... Não lembro de você ser tão engraçado nas nossas outras conversas."
Isso é porque nossas outras conversas consistiram em 'Bom dia, senhora Swan', 'Até logo, senhora Swan', o que sempre foi um enorme desgosto pra minha mãe, já que ela adora a Bella... Mal sabe ela que eu adoro muito mais.
"Eu sou tímido..."
"Não parece..." ela sorriu.
"Eu disfarço muito bem."
"Realmente... É quase um ator shakespeariano!"
"É... Eu já fui o Romeu na sexta série." ela gargalhou e eu adorei aquele som.
Era difícil não ficar olhando pra ela o tempo todo, mas eu não queria que Bella notasse que eu estava babando nela, porque eu estava.
"E agora? O que a gente faz?" ela bateu as mãos nas coxas, olhando em volta.
"Ahm... Nada?"
"Como assim?"
"A gente só..." cocei a cabeça "Espera alguém vir comprar alguma coisa!"
"E se ninguém vier?"
"Menos trabalho!" sorri e abaixei o tom de voz "E dá pra comer algumas coisas escondido também..."
"É mesmo?" me olhava divertida, será que eu parecia tão crianção como me sentia?
"Só fique longe do bolo de passas." última pá de terra em cima do meu caixão.
"Por que?" franzi a testa um pouco.
Não sei se era muito legal contar os podres dos outros pra ela.
"O que foi?"
"Não sei se é uma boa idéia te falar..."
"Por que?"
"Bom, pra começar porque o fofoqueiro é o Jasper!"
"O loirinho na barraca do beijo?" tentei conter o riso, mas meus ombros balançaram.
Ele disse que foi o mentor da minha festa de aniversário, por pura burrice já que se ninguém dissesse nada o castigo seria o mesmo, mas o besta foi lá e admitiu. Acabou pegando o serviço na barraca do beijo... A mãe da Jéssica Stanley já entrou três vezes na fila...
Ele vai acabar pegando alguma pereba na boca... E eu serei obrigado a rir.
"Ele mesmo..." minha boca doía enquanto eu me forçava a não sorrir.
"Mas você sabe que pode me falar, não é?"
Passei a mão pelo cabelo.
"Sabe a senhora Mallory?" ela concordou com a cabeça "Ela é a pior cozinheira do mundo! E sempre traz esse bolo de passas... E eu não entendo, porque... Quem gosta de passas?" Bella começou a rir.
"Viu? Eu disse que você podia me contar! E eu também odeio passas!"
"Claro que odeia! Você é normal!" ela riu mais ainda.
"E você não vai me dizer a outra coisa?"
"Que outra coisa?"
"O que você e o loirinho da barrada do beijo fizeram pra vir parar aqui..."
"Na verdade eu não fiz nada! A culpa é toda dele!" pensei um pouco "E da Alice!"
"Você não tem vergonha de colocar a culpa na sua irmã?"
"Essa é minha história e eu vou continuar com ela!" entrelacei os dedos atrás da cabeça.
"Eu vou descobrir, você sabe, não é?" arqueei uma sobrancelha na direção dela "Eu já sei onde posso conseguir informações." apontou para a barraca do beijo onde Jasper estava discretamente fazendo gargarejo com Listerine e respirando fundo antes de voltar pro batente.
"Quer um pedaço de bolo de chocolate, senhora Swan?" perguntei sorrindo meu melhor sorriso e ficando em pé.
Bella me examinou de cima a baixo, cruzando os braços.
"Está tentando me subornar com bolo?"
"Depende..." peguei um pedaço e estendi para ela "Está dando certo?"
"Talvez..." comentou, aceitando "Quem fez esse bolo?"
"Eu!" exclamei e fui encarado com completa descrença "... comprei os ingredientes..." completei, arrancando mais risadas dela "Minha mãe preparou e Alice enfeitou."
"Um trabalho em equipe."
"Mas claro que o meu foi o mais pesado! Eu tive que sair, comprar um monte de coisas, pagar, levar de volta... Elas só misturaram tudo."
"Ah... Pobrezinho..." ela deslizou a mão pelo meu braço e eu tive que prender a respiração.
Foi um dos dias mais longos da minha vida!
Antes, Bella era perfeita e inatingível, agora ela era realmente perfeita, inatingível, com um senso de humor que era tão parecido com o meu que dava medo, e o pior... Agora ela era real.
Eu sempre achei que imaginava o jeito dela, que exagerava nas minhas suposições, que a idolatrava... Mas eu não tenho tanta sorte. E estava completamente caído.
Ela ainda me ajudou a desmontar a barraca, por mais que eu insistisse que não precisava. Especialmente porque ela é provavelmente a pessoa mais desastrada que conseguiu sobreviver até os 28 anos e quase se matou sete, sete vezes, me obrigando a fazer resgates incríveis e tocar nela.
Eu estava encostado na parede, esfregando os olhos, desesperado pra fugir e completamente exausto por ter passado a tarde inteira tentando ser gentil, fingindo que era completamente normal conversar com ela e que eu não estava louco pra mandar o mundo pro inferno e beijar aqueles lábios vermelhos que não paravam de me sacanear.
Respirei fundo e me preparei pro ato final daquela farsa estúpida, e quando me virei lá estava Bella desafiando a lei da gravidade – que parecia ser muito mais forte só no corpo dela – em pé em cima de um banquinho de madeira, na ponta dos pés, soltando a lona que cobria a barraca. Eu não sabia o que seria pior, deixa-la fazer aquilo ou falar alguma coisa, já que aparentemente os riscos de acidente aumentavam quando eu tentava alerta-la.
Parei atrás dela, coçando o pescoço, então decidi que nenhuma das opções que havia pensado antes eram boas o bastante. Era muito mais fácil cortar o mal pela raiz. Então, sem dizer nada, segurei sua cintura.
"Edward?!" ela exclamou, meio esganiçada enquanto eu a colocava no chão "O que está fazendo?"
"Por favor, senhora... Bella." concertei no último minuto "Eu sei que você só quer ajudar, mas não precisa! De verdade!"
Ela me lançou um olhar triste e eu me senti um idiota, mas eu estava enlouquecendo tendo que toca-la sem poder realmente toca-la. Era tortura ter que fingir que eu simplesmente não me importava.
"Eu estou te atrapalhando, né?" disse numa voz pequena, mordendo o lábio inferior, seu olhar nos meus tênis. Eu só queria abraça-la.
"Não... Eu só..." desviei o olhar para o treinador Newton que estava atrapalhado com uma mesa desmontável "Eu só estou preocupado com você..." terminei com a voz tão baixa que não tive certeza se ela ouviu.
"Comigo?" perguntou apontando para si mesma.
"Eu... Realmente não quero que se machuque." continuei falando baixinho, como se isso fosse tirar o peso das minhas palavras.
"Você está preocupado... Comigo?!" ela repetiu, parecendo chocada.
"Isso é tão estranho assim?" subi o olhar para seu rosto um instante e voltei a olhar o treinador que tinha prendido o dedo na droga da mesa. Sério. Dá pra ser mais imbecil?
"Não... Não sei... Eu sempre achei que você..." balançou a cabeça de leve, o olhar meio perdido, gesticulando com as mãos "não se importava!"
Ah, Bella... Se você soubesse.
"Bom, eu só quero que você sente aqui..." segurei seus ombros e a coloquei sentada na cadeira de plástico "e deixa que eu resolvo tudo!" ela ficou me olhando, as sobrancelhas juntas, parecendo confusa "O que foi?"
"Quantos anos você tem mesmo?" a encarei, meio desconfiado.
"18..." respondi devagar, subindo no banco onde ela estivera há alguns minutos.
"18!" repetiu, rindo "Passou uma tarde comigo e já se preocupa mais que meu ex-marido se preocupou nos últimos 4 anos!"
"Ele é um idiota." disse sem pensar e me encolhi com uma careta "Desculpa."
"O pior é que você tem razão!" riu ainda mais.
Terminei de soltar a lona e a encontrei me encarando.
"Tudo bem?"
"É engraçado... Você não parece ter 18 anos..."
"Hmm... Obrigado?" riu de novo.
"Se eu fosse 10 anos mais nova, estaria perdida com você por perto!" me mate. Me mate agora.
"Mãe!" uma vozinha gritou enquanto eu dobrava as mesas e olhava pro treinador sorrindo. É assim que se faz, idiota "Mãe!" gritaram de novo.
"Aqui, Seth!" Bella acenou e logo um moleque estava pulando em seu colo.
"Mãe! Eu vi um palhaço e ganhei bala e comi um crepe e brinquei de pega-pega e peguei um-"
"Ei! Calma!" ela riu "Respira!"
Acho que o menino percebeu que eu estava de queixo caído com a velocidade que eu falava e me olhou meio feio.
"Quem é ele?"
"Esse é o Edward, Seth! Filho da tia Esme, lembra dela?" ele negou com a cabeça "A do bolo de chocolate?" ela tentou de novo e os olhos dele aumentaram.
"Sua mãe que faz aquele bolo?" ele perguntou pra mim, ainda com os olhos grandes em admiração.
Se era de bolo que eu precisava pra fazer o pirralho gostar de mim...
"Ainda tem aqui! Quer?" perguntei sorrindo, Bella parecia feliz. É... Dá pra aturar o monstrinho.
"Posso, mamãe?" ele pediu com a segunda melhor cara de súplica que eu já vi. A primeira era da Alice.
"Claro..." ela sorriu daquele jeito que só mãe sorri pro remelento do filho.
Dei bolo pro pivete que conseguiu a proeza de sujar a testa de chocolate.
Ele ainda não parecia gostar de mim, mas pelo menos não estava mais fazendo aquela cara de bunda de antes. Seth tinha o cabelo castanho, mais escuro que o da Bella e olhos acinzentados, mesmo com a cor diferente não dava pra falar que não lembrava os olhos chocolate dela. A pele dele era mais morena, o que não era difícil já que Bella era bem pálida.
Jasper apareceu, parecendo completamente destruído e se jogou na cadeira onde eu estava sentado.
"To morto!"
"Oi pra você também..." resmunguei.
"Cara, nunca mais te dou uma festa de aniversário!" jogou a cabeça pra trás "E eu nem consegui pegar tua irmã!"
"Jazz... Acho que você ainda não conhece a senhora Swan..." indiquei com a cabeça, querendo matar o burro com o olhar "Amiga da minha mãe..." frisei.
Já não basta querer ficar com a Alice ele ainda tem que ficar falando disso na frente de todo mundo?
"Ah..." ele franziu a testa voltando o olhar na direção da Bella como se tivesse reparado só agora que ela estava ali "Oi, senhora Swan!"
"Jazz... É isso?" ela perguntou, interessada.
"Jasper... Jazz..." ele deu de ombros.
"Estúpido..." adicionei.
"Só queria saber se você se divertiu com a Ava!" ela disse sorrindo, de um jeito quase inocente. Ava era a senhora Stanley "Porque ela parece ter se divertido bastante!"
Jasper ficou branco, verde, roxo e começou a se remexer na cadeira.
"Ah... A senhora viu isso?"
"Acho que foi meio difícil de perder... Você poderia entrar com um processo alegando pedofilia!" ela riu.
"Já fiz 18..." ele enterrou o rosto nas mãos, fingindo que estava chorando "Se ela tentasse enfiar a língua na minha boca eu ia chorar!"
Chutei a perna dele. Ele esqueceu que apesar de linda e divertida, Bella ainda era mãe? E como mãe ela falava com outras mães, no clube secreto das mães onde todas despejavam todos os nossos segredos pra poder brigar com a gente com mais propriedade quando a gente menos esperava?
"Ei!" ele reclamou, puxando a perna pra junto do corpo, esfregando a canela "Por que fez isso?"
"Pra ver se você controla esse bueiro que chama de boca!" pensei um pouco e completei "E pra você ficar longe da Alice!"
Bella gargalhou com a nossa interação.
"Calma, Edward!" ajeitou o moleque, que já estava pescando, no colo "É nosso segredo!" piscou um olho pra mim.
Então se levantou e Seth ajeitou a cabeça em seu ombro, ainda de olhos fechados.
"Tenho que ir, garotos! Foi um longo dia..." indicou o monstrinho com a cabeça.
"Obrigado por me ajudar!" disse sincero, sorrindo de leve.
"Obrigada por não me deixar me matar enquanto te ajudava!" ela riu.
"Que isso... Qualquer um faria o mesmo." desviei o olhar e encontrei Jasper me olhando quase com nojo. Devolvi um olhar mortal.
"Não, não faria..." Bella chamou minha atenção de novo "Te vejo amanhã!"
"Amanhã?"
"Clube do livro!" explicou.
A tradição mais chata do planeta! Todas as velhas amigas da minha mãe comentando algum livro besta enquanto bebiam vinho barato e reclamavam dos maridos. Não sei o que Bella via naquilo, ela era tão... Jovem, legal e perfeita pra se meter com aquelas velhas malucas!
E a senhora Mallory ficava com a mão muito mais boba depois da terceira taça de vinho...
"Ah... Tudo bem!"
Bella se despediu de Jasper e foi embora.
"Você não deixou a senhora Swan se matar?" ele perguntou, inconformado "Como assim?"
"Você beijou a senhora Stanley?" devolvi, me contorcendo com nojo "Como assim?"
"Nunca, eu disse nunca mais fale disso!" ele ameaçou, apontando o indicador pra minha cara.
Corri antes do Jasper pra encontrar Alice, que ficara presa numa das barracas de jogos e assim que me viu despejou uma quantidade surpreendente de palavrões pra descrever as crianças que passaram por lá.
"Eu juro por Deus! Eu amo a senhora Swan, ela é um amor, só se veste esquisito, mas nada demais! Só que aquele filho dela... Meu Deus!" ela disse de um jeito exagerado.
"O que ele fez?" perguntei sem dar muita atenção, vigiando pro Jasper não se aproximar enquanto ela pegava a bolsa.
"Ele é uma peste! Ficava correndo igual um demente, empurrando as outras crianças, ficava gritando comigo... AI! Que saco!" comecei a rir baixinho "Parece que quanto mais a gente tenta ser legal com ele, mais irritante ele é!"
Informação anotada para o futuro, pra ganhar o pivete era só trata-lo como eu trato o Jasper!
Conseguimos evitar o Jazz, não que Alice quisesse. Essa história dela perceber os meninos, meu amigo imbecil em particular estava me dando ânsia de vômito, enfim chegamos em casa completamente exaustos. Nossa mãe estava particularmente feliz porque, até onde ela sabia, nós fomos voluntários no festival do colégio. Pra que mexer com quem está quieto, certo?
"Como foi o dia?" ela perguntou, alegremente.
Troquei um olhar com Alice e respondemos devagar.
"Longo..." dissemos ao mesmo tempo, fazendo nossa mãe rir.
"E meu bolo? Fez sucesso?"
"O filho da senhora Swan comeu o último pedaço depois do festival..." comentei, jogando minha mochila no chão, perto da porta.
"Ah, o Seth... Ele é uma criança bem-"
"Chata." Alice completou, enchendo um copo d'água.
"Alice, não fale assim!"
Nem me meti, achei o moleque bem pentelho, mas eu acho todas as crianças pentelhas.
"Ah, mãe! Assim, nossa! Cara... Sem palavras, sério." girei os olhos pro jeito da Alice.
"Ali... A Bella está passando por uma fase muito difícil! Acho que o Seth só está descarregando tudo o que sentiu no divórcio..." minha mãe é sempre tão condescendente...
"Mas eu não entendo! Você já viu como ele age quando a Bella tá junto? Ele é um anjo! Deixa ele sozinho que vira o capeta encarnado!"
"Alice!"
"Mãe..." falei antes que pudesse me controlar "Por que ela é tão triste?"
Tanto minha mãe quanto Alice se voltaram pra mim, me olhando um pouco chocadas, o silêncio ficou até pesado.
"O que, filho?" me arrependi instantaneamente de ter aberto a boca.
Mas foi inevitável, mesmo eu que sou mais lento conseguia enxergar a tristeza nos olhos da Bella. Ela brincava, ria, mas era só ficar em silêncio que parecia se afundava em pensamentos ruins... E sim, eu só me toquei disso agora. Eu disse que era lento.
"O divórcio e tudo mais... Foi muito difícil?" perguntei sentando num dos banquinhos na lateral do balcão de frente pra minha mãe.
Foi a vez dela e Alice trocarem olhares.
"O que?" perguntei irritado.
"Por que você quer saber?" minha mãe perguntou, tentando não parecer muito interessada.
"Ela passou o dia comigo hoje, foi voluntária! E nós conversamos..."
"O que ela te disse?"
Alice não dizia nada, só ficava alternando o olhar entre mim e nossa mãe.
"Nada demais. Só conversamos besteira. Mas sei lá... Ela parece triste."
As duas trocaram olhares de novo. Ah qual é? Eu sou tão insensível assim?
"O divórcio foi muito difícil pra ela, Ed..." minha mãe começou, me olhando carinhosamente, parecendo orgulhosa por eu estar preocupado. É, eu devo ser bem escroto "Mas o pior foi toda a mudança, sair de Chicago, mudar de emprego... Ela pode não falar disso, mas sabe muito bem que Seth não está bem."
Concordei com a cabeça em silêncio. Ela passou a mão pelo meu cabelo.
"Ela é bem legal... Você sabe, depois que a conhece melhor..." comentei, tentando fingir que não era nada demais.
"Ah, que bom que agora gosta dela, filhote!" ela comemorou.
Não disse nada, só levantei e fui pro quarto, mas antes que eu pudesse fechar a porta a cabecinha de Alice apareceu no batente.
"O que foi aquilo?" perguntou, curiosa.
Se ela não fosse me dedar pra mãe mesmo depois de morta, eu teria fechado a porta na cara dela, literalmente.
"Aquilo o que?" me joguei de costas na cama, cobrindo os olhos com o braço.
"Você sabe..." e até na voz dela, ela estava girando os olhos.
"Não, não sei..." o colchão afundou quando ela pulou do meu lado.
"Você não gosta da senhora Swan! Não gosta de nenhuma das amigas da mamãe!"
"Nem você!"
"Mas eu finjo!" ela disse, enfiando o cotovelo nas minhas costelas.
"Não sei..." afastei o braço do rosto e olhei pra minha irmãzinha, que ainda tinha o mesmo tamanho de quando tinha 11 anos no alto de seus 16 "Ela foi legal comigo... E ficou zoando o Jasper por a senhora Stanley ter beijado ele umas 3 vezes!" sorri com a lembrança e o rosto de Alice se contorceu em nojo "É!" sentei "Muito bem lembrado, quero ver você ter coragem de beijar o mongol agora!"
Ela começou a rir e me deu um tapa no braço.
"Foi bacana isso, sabia?"
"O que?"
"De ter se preocupado com a senhora Swan... E perguntado aquilo pra mamãe... Ela não vai dizer nada, mas eu sei que ela fica triste quando você trata as amigas dela mal!"
"Eu não trato as amigas dela mal!" tentei me defender sem olhar na cara dela, porque eu sabia que ela não estava exagerando.
"Nem vou falar nada, tá bom?"
"Melhor..." ela começou a rir de novo "Mas nem que faça a mãe me dar um Aston Martin Vanquish, nem morto vou tratar senhora Mallory bem!"
"Por que, Eddie?" Alice perguntou inocentemente, cretina.
"Você sabe muito bem o porquê!" rosnei "Não basta querer pegar na minha bunda, quando ela pega aperta com muita força!"
A baixinha caiu na minha cama, rolando de tanto gargalhar. Eu sabia que era engraçado, mas não esbocei nem um sorrisinho, não ia dar esse gostinho pra ela.
"Ai... Só você!" ela riu, esfregando os olhos, secando lágrimas imaginárias.
"Vai dormir, chatinha!" a empurrei pra fora da cama e ela saiu saltitando do quarto.
"Ei, Ed?" colocou só a cabeça pra dentro de novo.
"Fala..."
"A senhora Mallory também beijou o Jasper hoje?"
"De língua!"
"Ugh! Nojento, nojento, nojento, nojento..." saiu resmungando em direção ao próprio quarto.
Depois que fiquei sozinho, tomei um banho rápido e, só de bermuda, me joguei na cama e fiquei olhando para o teto. Clube do Livro amanhã. Velhas chatas e taradas amanhã. Bella na minha casa amanhã.
Seria outro longo dia...
N/A.: Essa até que tem continuação, mas não tem um final, finaaal, daqueles que finaliza.
Então deixo vocês decidirem, querem ver mais do Seth como a criança mais fofa sqñ da história do planeta? Ou deixo por aqui mesmo já que o final não é final porque não resolve nada?
Vocês têm sido ótimas nessa semana de escavação do PC! Acho que ainda tenho mais alguma coisa pra encontrar e postar, fiquem no aguardo.
Espero que curtam!
