Elas...

I don't want another pretty face

(Eu não quero outro rosto bonito)

- Nem me olha assim, Lily. – Kate levantou-se de sua cama e atravessou o quarto até a cama de Giovanna, que não desgrudava os olhos do livro; era uma discussão tradicional entre nós duas. – Você sabe que eu não me arrependo nem um pouco de ter ficado com o Black!

- Você não precisa me lembrar disso sempre! – retruquei, notavelmente desgostosa com a situação. Não movi um músculo.

- Qual é, Lílian! Exceto você, todas as garotas do colégio já caíram no papo do Black, tiveram um amor platônico pelo Potter ou foram apaixonadas pelo Lupin! – Kate agora andava de um lado para o outro, enumerando os três tipos de caso.

Desviei o olhar, encarando o lençol branco de minha cama. Alguma coisa não fazia sentido na frase de Kate, ou no silêncio que se sucedeu a ela. Com uma luz de compreensão, ergui os olhos para as outras duas ocupantes do quarto: Giovanna Boytollè e Alice Petterson.

- Vocês... – apontei o dedo para Giovanna e depois para Alice. - não negaram a afirmação da Sawyer!

Giovanna finalmente desprendeu os olhos do livro, com uma expressão no máximo intrigada. Era difícil extrair qualquer coisa desta. Já Alice, dava indícios de culpa e torcia as mãos levemente constrangida.

- Todas já caímos no papo do Black. – disse a loira, encarando o chão.

- Ou tivemos um amor platônico pelo Potter.

Inevitavelmente, todas as cabeças do quarto viraram-se para Giovanna, com uma expressão idêntica de surpresa. Depois do choque inicial, Kate começou a gargalhar.

- Você ficou com o Potter? – perguntei, em tom de acusação e com a voz levemente falha.

- Não, eu só queria ver a sua reação. – disse a morena, voltando a ler seu livro enquanto as risadas de Kate explodiam mais uma vez. – Também fique com o Black.

Eles...

I don't want just anyone to hold

(Eu não quero apenas alguém para abraçar)

- Sirius Black, o maior galinha da história de Hogwarts! – debochou Snape, provocando nós quatro.

- Eu mesmo. – respondeu Sirius, soltando uma risada tipicamente canina.

- Você chama isso de xingamento, Ranhoso? – ergui uma sobrancelha em desaprovação, ainda segurando firmemente a varinha.

Snape lançou um olhar indecifrável para as quatro varinhas erguidas para ele. Não havia por onde sair e onde estávamos, certamente ninguém nos veria. Estava encurralado, totalmente sem saída.

- Foi uma pontada de medo isto que eu vi? – perguntou Remo, ironicamente. Não era de seu feitio acompanhar a mim e Sirius ao azarar alunos pelos corredores, mas Severo Snape era um caso à parte.

- Ou devemos chamá-lo de príncipe mestiço?

O último dos marotos se pronunciou, arrancando gargalhadas de todos nós – você não consideraria Severo Snape como nós, certo? -, algumas mais exageradas por parte de Sirius. Pedro segurava um livrinho preto, nada mais que um livro de poções do sexto ano; ele balançava ameaçadoramente com a mão esquerda.

- Façamos assim: - disse Sirius, sabiamente. – se você prometer lavar o cabelo, nós prometemos deixa-lo ir com seu precioso diário.

- Já disse que isso não é um diário, traidor do sangue.

- Nananinanão, Seboso. Resposta errada. – respondi com os olhos castanhos brilhando diante de minha nova (ou antiga) presa. – Acho que vamos brincar um pouquinho mais.

Um novo ano...

I don't want my love to go waste

(Eu não quer desperdiçar meu amor)

- Bem vindos a mais um ano em Hogwarts! – anunciou Dumbledore, como de costume em cada jantar de início do ano letivo. – Já devem estar carecas de saber que a Floresta proibida é proibida e que a lista de Filch aumentou mais alguns centímetros. Bom, ao menos eu estou.

O diretor indicou alguns cantos do couro cabeludo que não eram mais preenchidos devidamente, arrancando risadas dos alunos e de alguns professores – nenhuma delas tão escandalosa quanto a de um certo cachorro que localizava-se na mesa da grifinória, por acaso ao meu lado.

- Aposto que continuaremos com o record de detenções este ano!

Uma voz vinda exatamente do lugar citado acima – para os mais lerdos, ao meu lado – sobre pôs-se aos demais ruídos do salão, tornando o movimento das cabeças uniforme e em direção ao moreno que sorria marotamente com a altura mais alta que a desejada com que dissera as sutis palavras. Novas gargalhadas ecoaram, inclusive o leve riso de Alvo Dumbledore, que ao contrário de Minerva McGonagall, parecia achar graça no comentário. Eu, é claro, concordei com meu melhor amigo com um aceno de cabeça. Por acaso, alguém naquele salão duvidava das humildes palavras do Almofadinhas? Pois eu duvido que alguém duvide.

- Tenho certeza que ninguém discorda, Sr. Black. Ninguém.

Que talvez traga situações repetitivas...

I want you and your beautiful soul

(Eu quero você e sua maravilhosa alma)

- Hey, Evans! – a voz dele penetrou meu ouvido, fazendo-o latejar. Não me virei ou dei qualquer indício de prestar atenção, mas ele continuou. – Quer sair comigo?

O fato mais que óbvio de estarmos no meio do café da manhã de uma segunda-feira não pareceu chegar à compreensão de Tiago Potter, já que ele gritava no meio do salão principal um convite que já havia recebido à resposta há anos. Os risinhos debochados da mesa da sonserina misturavam-se aos invejosos das garotas e aos dos garotos, que achavam graça. Meu Merlin, o que eu fiz pra merecer?

- Você devia dar uma chance a ele. – disse Alice, concentrada em sua refeição. – Foram poucas as vezes que ele pediu em frente ao colégio todo, certo?

- Se comparado as duzentas e setenta e três do total... – Kate ergueu a colher e a encarou pensativamente. Voltou a abaixá-la e mexer o suco de abóbora. – É, quarenta e sete é pouco.

E outras nem tanto...

You're the one I wanna chase

(Você é a única que eu quero perseguir)

As costumeiras risadas vindas dos jardins invadiram meus ouvidos. Só duas coisas poderiam estar acontecendo: Snape sendo torturado por Black ou Snape sendo torturado por Potter. No final, ambas as situações seriam a mesma coisa, já que um era sempre cúmplice do outro.

Percorrendo o corredor até a saída para o jardim, a monitora da grifinória, eu, chegaria prontamente para distribuir detenções entre os marotos. E foi isso que fiz. Pisando forte, andei até a luz que indicava as portas de mármore para fora do castelo, a varinha já em punho.

- O que vocês fizeram dest...

O choque abafou o resto de minha frase; uma expressão de espanto tomou minha face. Os alunos que gargalhavam eram, de certa maneira, mais verdes que o normal. A cena parecia ter sido invertida, estava totalmente ao contrário, ao avesso... E pra completar o quadro duvidoso, Tiago Potter estava de cabeça para baixo, contorcendo-se e gritando vários nomes desagradáveis, enquanto era erguido pela varinha de um Severo Snape bastante satisfeito. Isso, sim, era algo inesperado.

- Sabe, Potter, eu não conhecia esse lado seu. – eu disse, em voz alta. Jamais perderia essa oportunidade. Era única.

Mas no final, o que importa mesmo é o amor...

You're the one I wanna hold

(Você é a única que eu quero abraçar)

- Se manda, Potter! – Lily empurrou Tiago que tentava depositar-lhe um beijo na bochecha.

- Sai fora, Black! – Kate demorou ao empurrar o outro maroto e eu arrisco dizer que foi de propósito, dando-lhe a chance de grudar levemente seus lábios nos dela.

- Vocês não dizem nada? – perguntei à Giovanna, referindo-me a ela e Alice.

- Se você quiser, tenta me beijar que eu te empurro.

Giovanna Boytollè, a rainha do sarcasmo, sempre com uma resposta na ponta da língua, fechando com seu sorriso tipicamente irônico. Corei levemente, sorrindo de volta pra garota, enquanto voltava a observar a cena. Quem sabe um dia que não fizesse o que ela havia sugerido? E talvez a parte do "eu te empurro" seja desconsiderada. Quem sabe...

I wont let another minute go to waste

(Não deixarei outro minuto ser desperdiçado)

I want you and your beautiful soul

(Eu quero você e sua maravilhosa alma)

Simplesmente Marotos

Julho de 2006