MSN Fiction Rute e Kika
Hum…não é um conto de fadas
Sinopse: Uma vez ela cometeu um erro, um erro de que arrependera. Agora tem a oportunidade de resolver tudo, mas a Vida Não É Um Conto de Fadas! short de Rute Riddle e Kika Felton
Capítulo 1
Nunca poderia ser um conto de fadas
Talvez aquele fosse um dia feliz. Talvez porque todos esperavam que fosse. Mas ela não conseguia. Não conseguia sorrir, não conseguira fingir que era aquilo que desejava. Fora em tempos o seu maior desejo, mas agora que acontecia diante dos seus olhos era a mais pura desilusão.
Sentia o coração bater cada vez mais rápido no peito. Aquilo era tão errado. Mas era o que todos queriam! Como poderia ela desiludir todas aquelas pessoas? Apenas não podia. E mesmo que pudesse, que motivo dava? A verdade não seria aceite por eles, a verdade nem era aceite por ela, pelo menos não mais.
O seu pai sorria, a seu lado, com o braço entrelaçado no dela. Os passos que ele dava eram confiantes, ao contrário dos seus, que se atrasavam a cada momento.
"-Gin?"
"-Está tudo bem…"
Ele sorria ao fundo, alegre, o que fez afundar ainda mais o seu estômago.
"-Toma bem conta dela…" – Sussurrou ao moreno entregando-lhe a mão da ruiva.
Ela olhou o homem a seu lado, o juiz de paz à sua frente, e depois toda a sua família olhando para ela. E com um sorrido dele teve a certeza. Pegou no vestido comprido com ambas as mãos e desatou a correr. Correu pelas ruas movimentadas, sabendo que todas as pessoas a olhavam ligeiramente surpresas. Mas havia algo pior, algo que a preocupava mais. Para onde iria?
Não podia ir para A Toca, seria bombardeada com imensas perguntas, e ela não queria dar as respostas, não ainda pelo menos.
Para onde poderia ir? Para o apartamento? Não, não podia, não devia, mas algo lhe dizia que era a única solução.
O apartamento, um local só dela, e dele, mas dela em especial. Um lugar que ninguém da sua família sabia. Era perfeito. Pois estaria sozinha. Não estaria?
Não importava, não era altura de pensar nisso, apenas iria para lá, depois logo veria o que faria se houvesse lá alguém.
O apartamento estava silencioso, como sempre que lá entrava. Caminhou até à varanda da sala e afastou as pesadas cortinas deixando a luz entrar na sala. Assustou-se. Estava tudo igual, não havia uma moldura fora do sítio, um livro fora de ordem. Mas estava tudo tão limpo que ela tinha a certeza que ele continuava a entrar lá.
Então, um estalido vindo do quarto deixou-a sobre alerta.
O coração acelerou no mesmo momento e ela sentiu o mesmo que sentia meses atrás. Nervoso miudinho mas ao mesmo tempo vontade de o ver. E foi o que aconteceu assim que ele saiu do quarto e entrou na sala.
Não disseram nada, mal se moveram. Ele apenas a olhava surpreso, como se vê-la ali fosse a ultima coisa que ele esperava. E na realidade era.
Alguém teria que falar, um deles teria que dizer algo.
"-Olá…Draco." – Murmurou ela sentindo as mãos ficarem húmidas, e tremendo ligeiramente.
"-O vestido fica-te bem…" – Comentou casualmente olhando o vestido branco e longo, agora bastante amarrotado e não tão branco assim.
Ela olhou em volta, tentando disfarçar o nervosismo.
"-Deixaste aqui alguma coisa que te faça falta?"
A indiferença no tom dele magoava-a, mas não ia dizer nada.
"-Deixei-te a ti…"
"-Mas não precisaste de mim para brincar às 'noivinhas fugitivas' de novo, pois não?"
"-Draco, eu…"
"-Não vamos ter esta conversa de novo, pois não? Ficou tudo esclarecido da ultima vez. Nós íamos casar, tu fugiste. Mas agora não me sinto o único idiota!"
"-Eu não quis que te sentisses idiota. Eu expliquei. Tive medo, medo de nós, medo da reacção que minha família teria se eu soubesse que me tinha casado contigo às escondidas, medo de tudo."
"-Sim, sim, tu disseste-me, eu lembro. Mas isso não muda nada? Pois não?"
"-Muda. Quer dizer não, eu sei que nada do que diga vai fazer com que tu me perdoes, mas eu estou arrependida. Se fosse hoje eu não fugiria, eu casaria."
"-Hoje quem não casaria era eu. Sabes, ainda bem que fugiste, ao menos não cometi o maior erro da minha vida." – Disse ele olhando-a furiosamente.
A ruiva apenas engoliu em seco e baixou o olhar, sentindo o peito apertar. Draco ouviu-a soluçar, mas daquela vez não lhe importava. Ela tinha decidido assim, não ele. Ela!
"-Chora! Chora à vontade, chorar faz bem."
"-Se era um erro porque aqui estás?" – Perguntou ela do nada, fazendo Draco estacar e gelar.
"-Ora… ora! Esta casa é minha também!"
"-E a mansão? Não era tão luxuosa, tão perfeita para um Malfoy?"
"-Eu moro na mansão! Mas se venho aqui ou não, não te interessa! É minha também e tenho direito a estar aqui."
"-Então vais querer saber…" – Começou limpando as lágrimas com as costas das mãos – "…que eu acabo de voltar para cá." – Concluiu sentando-se no sofá, vendo o processo a dificultar-se por causa do longo vestido.
"-Tu…tu não podes!"
"-Não Draco? E porquê? A casa é minha também."
"-Mas é minha, e se tu vens para aqui tem que ser com o meu consentimento, e eu não tu dou obviamente."
"-Não preciso do teu consentimento, ela é tanto minha como tua."
"-Legalmente não. A casa está em meu nome, e não no teu."
A ruiva olhou-o magoada. Como ele podia ser assim? Tão frio? Tão calculista? Tão Malfoy? Aquele não era o Draco que ela havia conhecido.
"-Tu não farias isso. Tu não me proibirias de vir morar para aqui."
"-Porque não? Tu saíste daqui lembras? Primeiro fugiste do casamento, depois discutiste comigo, e quando a conversa começou a não te agradar tu fugiste porta fora, e nunca mais voltaste. Nem tiveste a decência de me dizer que irias casar, com o Potter."
"-É isso? Ciúmes do Harry?"
"-Não Weasley, para sentir ciúmes dele, eu teria que sentir algo por ti. Algo bom. E a única coisa que sinto é ódio, e nojo. Nojo de mim, por te ter tocado, ódio por te ter amado. E tu não vais ficar aqui! Volta para a tua casinha ridícula. Mas sai da minha casa, sai daqui como saíste da minha vida, pela porta da frente." – Disse ele virando costas e saindo da sala, dando a entender que a discussão tinha terminado.
Ela ignorou completamente o que ele disse. Engoliu o orgulho que a mandava voltar para a Toca, engoliu o choro que estava para vir. Não ia sair dali, nem naquele momento, nem em nenhum outro. Levantou-se, e agarrando no vestido com ambas as mãos, caminhou até ao banheiro.
Ao entrar no banheiro sentiu o choque que sentira ao ver a sala. Estava tudo exactamente igual, os seus perfumes alinhados em cima da bancada, as suas toalhas felpudas arrumadas dentro do armário, e todos os champôs alinhados perto da banheira, como ela tinha deixado à vários meses atrás.
Encheu a grande banheira com água quente e despiu o vestido, deixando-o caído no chão. Mal tinha entrado na banheira quando Draco abriu a porta.
"-O que raio fa…?" – Parou, de falar, de se mexer. Estava por demais concentrado nela para fazer o que quer que fosse.
"-Afectado?" – Perguntou casualmente brincando com a espuma branca.
"-Uma mulher nua dentro da minha banheira não me afecta… Onde é que eu ia?"
"-'O que raio fa…'"
"-Isso! O que raio fazes tu na minha banheira?"
"-Tomo banho, algo que as pessoas normais fazem. E é nossa banheira."
"-Tu não ouviste nada do que eu disse à minutos atrás pois não?"
"-Ouvi. Mas isso não significa que faça o que tu queres. Não significa que eu saia daqui."
Draco apenas rolou os olhos irritado. Tinha esquecido da teimosia dela. Sempre fora assim, teimosa como tudo. Quando metia algo na cabeça ninguém a conseguia demover. Fechou a porta da casa de banho e caminhou até ao lavatório, pegando num frasco de perfume e pondo-o na zona do pescoço.
"-Vais sair?" – perguntou realmente curiosa.
"-Sim. Não que tenhas algo a ver com isso, mas sim vou sair. Tenho um encontro." – Respondeu olhando para ela através do espelho da casa de banho.
"-Encontro?"
"-Sim, sabes, algo que as pessoas normais têm. Algo que as pessoas que não fogem do altar têm."
"-Ora, eu também tive encontros."
"-O Potter não conta. Ele sempre foi corno. Sempre esperou por ti. Acho que se voltasses para ele agora ele te aceitava."
"-Tu não aceitavas?"
"-Claro que não. Não sou idiota ao ponto de cometer o mesmo erro duas vezes."
"-É a segunda vez que dizes que a nossa relação foi erro!" – Disse ela realmente irritada levantando-se da banheira sem pensar claramente no que fazia.
Draco não disse nada, apenas observou a ruiva nua à sua frente, com o corpo húmido e com pedaços de espuma. Engoliu em seco vendo-a ficar vermelha. Mas ao contrário do que ele esperava ela não se baixou.
"-Vais ficar aí assim nesse estado para sempre?"
"-Estás a incomodar-te? A mim não, afinal já me viste nua várias vezes."
"-É tens razão, já vi." – Concordou ele esforçando-se para olhar para a face dela e não para o corpo.
"-Pareces muito incomodado…"
"-Não tenho por costume ver mulheres nuas na minha banheira."
"-Nossa." – Corrigiu de novo irritando-o.
"-Eu vou embora…" – Disse sem desviar os olhos dela.
"-Bom encontro." – Respondeu por fim, deitando-se na banheira.
Ele ficou a observá-la por uns segundos, desejando que ela tivesse ficado irritada, ou ciumenta com a saída dele. Mas não, ela continuou a brincar com a espuma como se ele não estivesse ali. Não disse nada, apenas saiu da casa de banho e fechou a porta com força em seguida.
Ginny encarou a porta por segundos, desejando que ele voltasse. Mas ele não voltou. Ele ia ter um encontro, com alguém que não era ela.
Suspirou fundo sentindo o ciúme apoderar-se dela. Teve vontade de chorar, chorar pelo facto de ter deixado escapar o homem que amava. Nunca devia de ter fugido do casamento, nunca. Casar com Draco era algo que ela realmente queria, mas tivera medo, em especial de ele não sentir o mesmo por ela. Sabia que ele a amava, mas o medo apoderou-se dela, sem ela querer. E agora estava ali. Sem ele. Apenas com raiva de si, e com ciúmes da mulher com quem ele iria ter o encontro.
Suspirou levantando-se em seguida e pegando numa toalha, enrolando-a no corpo. No instante seguinte saiu da casa de banho sabendo que molharia o chão, mas isso não a importava.
Caminhou até ao quarto e mais uma vez viu que tudo estava na mesma. Excepto uma coisa. Uma camisola dela. O que fazia aquela camisola em cima da cama ao pé das almofadas? Ela não a tinha deixado lá. Tinha a certeza.
Caminhou até à cama e pegou na camisola sabendo que era a camisola que Draco mais adorava.
Sorriu. Devia de ter sido ele, afinal ele pedira-lhe aquela camisola certa vez, e dissera que a queria pelo facto de ela ter o seu cheiro, e assim sempre que ela não estava presente ele tinha algo para o relembrar do seu perfume.
Sentiu as lágrimas escorrerem pela sua face. Não eram lágrimas de tristeza, nem de alegria, eram de saudades. Saudades dos beijos dele, dos toques dele, dos sussurros dele no seu ouvido, de acordar abraçada a ele, de fazer amor com ele. Quando voltou ao apartamento era tarde, muito tarde na verdade. Não tinha intenções de lá voltar naquele dia, nem enquanto ela lá estivesse, mas não conseguira evitar.
Tudo o que conseguia ouvir no silêncio era a respiração suave dela. Caminhou até ao sofá e com um movimento de varinha acendeu umas velas distantes. Ela dormia serena, enroscada no sofá, como costumava acontecer antes. E tal como antes ele sentou-se no chão, à frente dela e acariciou-lhe a face.
Estava magoado, muito magoado, mas aquele gesto era como um instinto básico, que ele não conseguia reprimir.
Ela murmurou algo e apertou a mão dele entre as suas, voltando a dormir tão profundamente quanto antes.
Pensou em largar a mão dela no mesmo instante e aparatar na mansão, como devia ter feito à minutos atrás. Porém permitiu-se sentir o toque dela por mais alguns minutos, vigiando o seu sono.
Quanto se levantou, minutos depois, percebeu a camisola que ela vestia. Era a que mais adorava, a que guardava perto para poder relembrar o perfume dela. Abanou a cabeça afastando os pensamentos, ela tinha voltado e ele não se permitia continuar com aqueles sentimentos idiotas de saudade e solidão.
Olhou-a por mais alguns segundos tentando decidir o que fazer? Ir? Ou ficar?
Virou costas saindo da sala no instante seguinte.
…
Assim que abriu os olhos visualizou as pequenas velas que ardiam um pouco distantes de si. Levantou-se do sofá, e olhou em volta tentando ouvir algo. Nada. Apenas silêncio, como seria de esperar. Mas as velas indicavam que ele tinha voltado. Poderia continuar ali?
Saiu da sala e caminhou vagarosa e silenciosamente até ao quarto abrindo a porta lentamente e vendo-o dormir na cama. Teve ímpetos de caminhar até ele, de o ver dormir, de afastar as madeixas loiras da face dele, mas não o fez. Apenas ficou ali, parada a olhá-lo. Minutos depois voltou a fechar a porta e caminhou até à cozinha.
Já tinha amanhecido, e ele não era madrugador. Ou muito se enganava ou dali a pouco ele iria aparecer na cozinha, como sempre. Pelo menos era o que ela queria.
Suspirou pousando ambas as mãos na bancada antes de decidir fazer o pequeno – almoço, para si e para ele.
Caminhou até à cozinha, reparando que ela não se encontrava mais na sala, mas assim que entrou na cozinha viu em cima da mesa um prato com duas sandes e um copo de leite. Pequeno – almoço. Como era hábito quando ela lá estava. Sorriu sozinho, aproximando-se da mesa e vendo que havia um pequeno bilhete em cima da mesa
Não sei porque o escrevo, talvez porque fora hábito certa vez. Espero que gostes do pequeno – almoço, eu fui comprar roupa, e procurar um sítio para ir, visto não me deixares ficar aqui. Talvez até tenhas razão.
Ginny
Draco deu um pequeno murro na mesa sentindo o mesmo que sentira no dia em que ela saíra daquela casa. Mas nesse dia ele não fez nada, não foi atrás dela, e ele sabia que devia de ter ido.
Apesar de magoado ele sabia o que ela havia sentido, lá no fundo até conseguia compreender o que a levara a fugir. Mas não era capaz de perdoar o facto de ter ido ter com o Potter. O facto de ter fugido do casamento deles e de ter quase casado com o Potter.
E sabia que não se perdoaria se a deixasse ir. Não iria voltar a cometer o mesmo erro, não daquela vez.
...
"-Finalmente chegaste."
Ela estacou à entrada do apartamento. Teria ele dito aquilo?
"-Como?"
"-Finalmente chegaste."
"-Eu entendi à primeira. Só não entendi o porquê…"
"-Precisava de falar contigo."
Ela pousou todas as sacolas que carregava e olhou-o.
"-Estou a ouvir."
"-Eu não quero que vás embora."
"-Já arranjei onde ficar. Não tens de fingir que te preocupas."
"-A casa também é tua. E eu tenho a mansão. Tens todo o direito de ficar aqui."
"-Isso foi o que eu tentei dizer ontem…"
"-Que seja. Só não esperes que eu deixe de aparecer. Eu gosto de aqui estar, quer cá estejas, quer não."
"-Há dois quartos. Não vamos ter de nos cruzar muitas vezes."
"-Óptimo."
"-Perfeito!" – disse ela pegando nas sacolas e caminhando até ao quarto, que eles costumavam usar.
"-Hei! Quem disse que ficas com este? Tu ficas com o quarto de hóspedes." – Disse ele abrindo a porta.
Viu a ruiva pousar os sacos em cima da cama e em seguida ela observava-o. Sorriu antes de dizer:
"-Eu vou viver aqui. Tu virás aqui de vez em quando. Como os hóspedes sabes? Portanto, tu ficas com o quarto de hóspedes sempre que cá vieres. Agora sai."
Draco olhou-a irritado, mas limitou-se a não dizer nada, não valia a pena chatear-se. No instante seguinte saiu do quarto, fechando a porta com força.
…
A cada segundo achava que tinha feito a pior coisa de sempre. Deixa-la viver ali! Ela ia não só transformar a sua vida num inferno como o ia deixar louco.
"-Draco!" – Chamou abrindo a porta do quarto.
"-Que foi?" – Respondeu irritado.
Ela estava ali à pouco mais de um dia e ele já não suportava mais tudo aquilo.
"-Ficas para jantar?"
Ele sorriu, sozinho, na sala. Talvez não fosse tão mau assim tê-la por perto de novo.
"-Só se fores tu a cozinhar!"
"-Tudo bem." – Disse ela saindo do quarto, passando pela sala sem nem o olhar e caminhar para a cozinha.
Algum tempo depois ele viu-a carregar um tabuleiro com comida, e pratos. Não disse nada, apenas se sentou à mesa, e serviu-se, vendo-a servir-se também.
Fora um jantar silencioso. Para Draco era algo normal, mas para ela não. E vendo bem, para ele também, afinal nunca jantara silenciosamente quando jantava com ela. Mas daquela vez tudo era diferente, e tanto um como outro desejava que não fosse, mas tanto um como outro não tentavam mudar.
Só mudariam que algo que não estivesse nos planos deles acontecesse. Mas isso não iria acontecer! Pois não?
….
"-Vou sair. Não volto hoje."
"-Por mim tudo bem." – Disse ela sentando-se no sofá da sala.
Draco bufou irritado. Ela não podia demonstrar um pouco de ciúme? Não, ela quando queria era super controlada.
Não disse absolutamente nada, apenas ficou a olhá-la, o que fez a ruiva erguer o olhar do livro e encará-lo, perguntando:
"-Não ias embora?"
"-Claro que vou."
"-Diverte-te." – Disse ela num tom claramente irónico antes de ele aparatar.
"-Idiota!" – Bradou atirando o livro para cima da pequena mesa à sua frente.
Algo caiu produzindo o inconfundível som de vidro a partir. Levantou-se só para ver uma moldura estilhaçada no chão. Era uma foto deles, a sua favorita. Estavam na praia, à beira mar. A foto tinha sido tirada muito tempo antes, numas férias que fizera com ele.
Um barulho de aparatação assustou-a.
"-O que fazes aqui?" – Perguntou.
"-Esqueci-me duma coisa. Mas parece que nem devia ter saído. Já fizeste estragos!"
"-Não foi de propósito." – Respondeu apanhando os pedaços de vidro maiores com as mãos – "Au!"
"-O que foi?"
"-Nada!" – respondeu apressada caminhando até à cozinha.
Ele seguiu-a com o olhar vendo as pequenas pingas de sangue a marcar o chão. Não pensou duas vezes antes de caminhar, também ele apressado, até à cozinha.
"-Deixa-me ver." – Pediu ele encostando seu peito às costas dela, de modo a segurar-lhe na mão que ela passava por água.
"-Não é necessário. Eu sei tratar-me sozinha." – Disse ela tentando em vão afastar a mão da dela.
Draco virou-a de lado e ficou de pé ao lado dela, não a olhando, apenas olhando para a mão que ele próprio limpava. Passou com o dedo pelo pequeno, mas ligeiramente fundo, corte da mão dela, e em seguida sentiu-a tremer. Pegou na varinha e murmurou algo extremamente baixo, e logo em seguida rasgou o fundo da sua camisa negra e atou a mão dela com cuidado.
"-Pronto. Para a próxima vez tem mais cuidado. Eu posso não estar presente."
"-Obrigada, mas…"
Ela fixou os olhos dele e foi então que percebeu que estavam muito próximos.
"-Eu tenho que…"
"-Ir mudar de camisa?" – perguntou ela como se fosse uma sugestão.
"-É. Mudar de camisa." – Concordou sussurrando antes de soltar a mão dela e sair da cozinha, sentindo a respiração ligeiramente descompensada.
Aquilo tinha sido idiota! Tinha sido verdadeiramente idiota! Ele dera cabo da sua melhor camisa! E porquê? Porque estava nervoso de mais para pensar que aquilo nem sequer era necessário! O corte dela já estava sarado, e ela estava em casa, não havia necessidade de ligar a mão dela com um pedaço da camisa que lhe custara algumas centenas de galeões. Mas não! Ele tinha agido como um adolescente idiota completamente perdido de amores.
E ele não era nada disso. Ou pelo menos não os dois primeiros.
Atirou a camisa para cima da cama e em seguida vestiu outra. Olhou desgostoso e irritado para a camisa e em seguida aparatou, sem dizer absolutamente nada.
Abriu a porta do quarto e apenas viu a camisa dele em cima da cama, mas dele não havia sinal. Olhou para a camisa, e em seguida para a mão que estava ligada, e suspirou. Porque raio ele tinha feito aquilo? Abanou a cabeça e em seguida olhou o relógio. Talvez ainda tivesse tempo.
...
Era cedo mas não se importava. Aparatou na sala, vendo em seguida que a casa se encontrava claramente silenciosa.
Caminhou até ao quarto que ela havia designado para ele, lutando à tentação de entrar no dela, só para a ver dormir. Suspirou, entrando no quarto e ficando realmente surpreso vendo uma camisa negra igual a que ele rasgara em cima da cama. Aproximou-se da cama e pegou no bilhete que estava em cima da camisa, e que dizia:
Obrigada pela camisa, mas não queria que a tivesses rasgado, sei como preservas as tuas camisas, portanto aqui está uma. Considera-a como um agradecimento
Ginny
Não pôde deixar de sorrir.
….
Ela olhava preocupada para as manchetes dos jornais. Todos falavam dela, do escândalo, da vergonha do Potter.
Mas ela não se preocupava muito. Mesmo sabendo que a sua família estava preocupada, que a sua mãe devia estar desolada, ela não queria sair dali. Queria continuar no seu esconderijo, longe de tudo, longe de todos. Perto de Draco.
Ela notara os olhares quando saíra a noite passada para comprar a camisa dele. Notara o ar estranho com que os outros olhavam para ela, julgando-a por ter abandonado o herói do mundo mágico. Mas agora estava segura. Ali não havia ninguém que a pudesse julgar.
Atirou o jornal para cima da mesa e deixou-se relaxar, sentindo-se livre de uma maneira que não sabia explicar.
Fechou os olhos não vendo Draco entrar na cozinha.
…
Olhava os jornais ligeiramente preocupado. Falavam todos dela, insultavam-na, julgavam-na. E ele não queria aquilo. Aquelas pessoas não tinham o direito de escrever aquilo sobre ela, eles não a conheciam.
Bufou deitando o jornal no lixo e aparatando em seguida no apartamento.
Entrou na cozinha vendo-a de olhos fechados. Ficou alguns segundos a olhá-la sentindo uma imensa vontade de caminhar até ela e de a abraçar. Era verdade que gostava dela, mas o ódio era mais forte. Ou pelo menos assim ele queria pensar.
"-Boa tarde Draco." – Murmurou ela ainda de olhos fechados.
"-Como…?"
"-Teu perfume é inconfundível." – Respondeu ela abrindo os olhos e encarando-o. – "Saíste cedo hoje!"
"-Não havia muito trabalho." – Disse ele encolhendo os ombros e entrando na cozinha, caminhando até ao frigorifico, indo buscar uma peça de fruta.
"-Vais ficar para jantar?"
"-Eu não vivo aqui." – Respondeu ele trincando a maçã.
"-Eu sei, estava só a ser simpática."
"-Não, não fico para jantar. Tenho um jantar marcado com outra pessoa."
"-Espero que te divirtas." – Disse ela levantando-se e indo até ao frigorifico, tirando comida para fazer para o seu jantar.
"-Então até amanhã. Sim, eu hoje não devo de voltar."
"-Por mim." – Murmurou ela encolhendo os ombros como se aquilo não lhe importasse.
"-Vou indo."
"-Adeus." – Despediu-se ela sem se virar para o encarar.
Draco fechou os punhos irritado, mas porque raio, ela não demonstrava nem um pouco de ciúme?
Aparatou no segundo seguinte mais que irritado.
Ele não fizera nada! Ali estava ela, destroçada, e ele nem prestara atenção! Insensível! Custava alguma coisa ter dito algo que a animasse? Custava ter-se oferecido para lhe fazer companhia? Pelos vistos custava!
...
"-Bom dia…" – Murmurou esfregando os olhos.
"-Acordei-te?"
"-Não não… foi um sonho mau. O que fazes aqui tão cedo?"
"-Preparar as coisas para uma reunião. Gosto de trabalhar aqui…"
"-Tudo bem… Já tomaste o pequeno-almoço?"
"-Não te preocupes…"
"-Tu e a tua mania de sair sem comer. Não saias daí, eu trago-te algo para comeres antes da reunião."
Ele não disse absolutamente nada, apenas a viu caminhar até à cozinha e minutos depois ela voltava com um copo e sumo e uma sandes de queijo.
"-Pronto, ao menos vais alimentado. Devias realmente de desaprender certos maus hábitos que tens."
"-Maus hábitos?" – perguntou enquanto comia a sandes e desviava o olhar dos relatórios.
"-Sim. Como dormir de janela aberta no Inverno, deixar as tolhas do banho espalhadas no corredor, as camisas amarrotadas no sofá, e claro, não comer ao pequeno-almoço. Mas eu acho que isso não é mau hábito."
"-Não é?"
"-Não! É preguiça." – Respondeu ela sorrindo e saindo da sala em seguida.
Draco ficou claramente chocado com aquele diálogo, divertido sincero. Era como antigamente.
Abanou a cabeça, aquilo estava a começar a passar dos limites.
…
Uma semana! Ela estava ali há uma semana. Há uma semana que ela tinha fugido do altar, há uma semana que eles se viram novamente, há uma semana que eles conviviam. Há uma semana que tinha vontade de a beijar e não o fazia.
"-Onde vais?" – perguntou realmente curioso vendo-a aparecer na sala de vestido.
Durante aquela semana ela não saíra de casa por causa das matérias nos jornais.
"-Vou sair."
"-Sair? Pensava que não querias sair por causa do que dizem sobre ti no jornal."
"-E o que dizem?"
"-Tu sabes o que dizem Ginevra, não me parece que seja necessário eu dizer-to."
"-Não, tu disseste-o há meses atrás, não foi?"
Draco levantou-se e caminhou até ela, vendo que ela não se intimidara nem por um segundo.
"-Tu sabes porque disse aquelas coisas? Sabes? Porque eu te amava, e porque tu me abandonaste!"
Ela desviou o olhar do dele, e Draco apenas suspirou fundo.
"-Vais sair com quem?"
"-Um amigo." – Mentiu.
"-Amigo?"
"-Sim. Como um encontro sabes?"
"-Para quê? Para daqui a uns meses o largares no altar?"
"-Como será que eu ainda consigo te amar?"
Draco não disse nada, apenas se limitou a fixá-la, sentindo o tão conhecido formigueiro na boca do estômago.
"-Eu também ainda te amo, mas…"
"-Mas ainda é complicado, não é Draco?" – perguntou ela num sussurro.
"-Sim. Mas o melhor é ires, não vás deixar o teu amigo à espera."
"-É a Luna." – Disse ela fazendo com que ele a olhasse e em seguida ele viu-a aparatar.
Aquilo era a gota de água. Não aguentava mais, tinha que fazer algo. Esquecer. Ou voltar! Ele não sabia o que fazer. Apenas sabia que teria que decidir rápido, antes que desse em louco.
…
Por falar em dar em louco… Ver a mulher que se ama a passear enrolada numa pequena toalha de banho não é lá grande ajuda para a sanidade mental.
"-Olá Draco. Como correu a reunião?"
"-Bastante… hum… bem…" – Respondeu num tom vago vendo a ruiva a passear-se dum lado para o outro da sala – "Não tens…frio?"
"-Oh! Nada do outro mundo. Também só vim cá buscar um livro, antes que me esqueça."
Ele observava cada movimento dela, e viu bem quando ela se esticou ao máximo para alcançar um livro na última prateleira.
"-Deixa que eu ajudo." – Disse levantando-se do sofá.
Encostou o seu corpo ao dela, alcançando lentamente o livro que ela queria.
"-Era este?"
Ela voltou-se para ele, lentamente, sem que os dois corpos deixassem de se tocar.
"-Era exactamente este…"
Draco olhou directamente nos olhos dela, fazendo-a tremer por segundos, e ela apenas sorriu, baixando o olhar, olhando o pescoço dele, e afastando-se do loiro em seguida como se tivesse levado um choque.
"-Mas, o que…" – começou ele a perguntar assim que a viu fugir de ao pé de si, indo até ao meio da sala.
"-Já tenho o livro que queria. Eu vou-me vestir. E a propósito, bela marca essa aí no pescoço."
Draco levou ao pescoço irritado. Maldição! E viu a ruiva olhá-lo claramente triste saindo da sala em seguida.
Só fazia asneira. Mas…espera lá. Ela tinha sentido ciúmes. Ela sentia ciúmes dele. Sorriu, deixando-se cair para os sofá. Conseguira fazer com que ela sentisse ciúmes, e isso era realmente óptimo.
….
"-Onde é que tu vais? Posso saber?"- perguntou ela sentada no sofá olhando para o loiro que acabava de sair do quarto.
"-Vou sair."
"-Mais um encontro?"
"-Vou apenas a um bar, com colegas do trabalho. Até te perguntava se querias vir, mas não vale a pena, afinal ainda não sais à rua, pois ainda falam de ti, mesmo já tendo passado um mês desde que abandonaste o Potter." – Respondeu ele olhando para a ruiva que ainda não se tinha designado a encará-lo.
"-É, um mês."
"-Não me digas que estás arrependida!"
Ginny levantou-se e caminhou até ele, ficando frente ao loiro que a encarava, e em seguida murmurou:
"-Não. É algo de que não me arrependo. Há coisas de que arrependo, mas nenhuma tem haver com o Potter."
"-Tem a ver com quem então?"
"-Contigo Draco Malfoy."
"-Tenho que ir."
"-Vais fugir de mim para sempre?"
"-Tenta entender, não é fácil para mim."
"-E para mim? Julgas que é? Julgas que é fácil saber que eu sou a única culpada por estarmos assim? Julgas que é?"
Ele suspirou sentindo-se cada vez mais nervoso. Podia continuar magoado com ela, mas tinha tanta vontade de acabar com aquilo de uma vez por todas. Ambos queriam ficar juntos outra vez, então o que é que o impedia? Caminhou até ela e pousou os lábios na testa dela, dando-lhe um beijo e em seguida disse:
"-Amanhã, eu vou viajar. Vou estar 6 meses fora, não seria justo voltar-mos agora. Vamos esperar, quando eu voltar logo veremos o que fazer."
"-Ok." – Concordou ela simplesmente, vendo-o aparatar em seguida.
--/--
O som do despertador era estridente, mais do que o costume. Mal se ergueu, sentando-se na cama, sentiu a sua cabeça latejar. Tinha dormido pouco e bebido muito, sabia disso, e naquele momento de pouco se lembrava além de entrar em casa e cair na cama.
Levantou-se lentamente e parou de imediato. Faltava ali qualquer coisa, e foi ao ver-se ao espelho que reparou o quê. Faltava-lhe a roupa. Ele não dormia despido, não a menos que estivesse acompanhado. E ele não via nenhuma mulher estonteante deitada na sua cama.
Ao sair do quarto, bastante tempo depois tropeçou n'algo que não devia estar ali.
"-Ginevra?" – Chamou entrando na sala.
"-Estou na cozinha!"
Ele caminhou até à cozinha para a encontrar sentada à mesa a tomar o pequeno-almoço.
"-Ginevra, o que estava a fazer a tua sweater Weasley no chão do meu quarto?"
Ela olhou espantada para ele, depois para a sweater e novamente para ele.
"-Eu…hum…" – Pareceu pensar um pouco – "…eu fui ver se… se tinhas roupa para lavar… devo ter…hum… deixado cair a sweater quando saí. Foi só isso."
"-Tudo bem. Podias ter-me acordado."- Ela olhou para ele um tanto confusa, mas nada disse – "Aconteceu alguma coisa?"
Ela engasgou-se com o sumo.
"-Não… nada… hum… porquê a pergunta?"
"-Pareces estranha…A minha cabeça está a matar-me." – Murmurou sentando-se à mesa.
"-Deve haver alguma poção para isso… Queres que te prepare?"
"-Não vale a pena. Vou sair daqui a nada."
"-Já só voltas daqui a seis meses, não é?"
"-Vais ficar meio ano com a casa só para ti. Era o que querias, não?"
"-Hum-hum…"
"-Tens a certeza que está tudo bem contigo?"
"-Vai estar…"
"-Ginevra, tu estás estranha."
"-Eu estou bem." – Respondeu levantando-se da mesa e saindo da cozinha –"Boa viagem!" – Ouviu-a gritar antes de ouvir a porta do quarto a bater.
--/--
6 Meses. Tinham-se passado 6 longos meses desde que ele saíra de casa, desde que ele viajara. Ele devia de estar quase a chegar, ou assim lhe dizia ele no único postal que lhe escrevera três dias antes. Sentou-se no sofá suspirando fundo. Como iria ele reagir? Pessimamente, ela sabia. Muito mesmo.
….
Inspirou o ar de Inglaterra assim que saiu do avião. Tinha saudades daquele país, mas principalmente tinha saudades dela. Sorriu. Estava na hora de voltar para casa, de voltar para ela. Estava decidido, nada nem ninguém os iria separar, ele não iria permitir.
Ou pelo menos assim ele pensava antes de aparatar na sala do apartamento.
"-Cheguei." – Disse pousando o casaco e a mal em cima do sofá. – "Ginevra, cheguei."
Caminhou até ao quarto dela, e quando ia abrir a porta esta abriu-se e Draco engoliu em seco olhando para a ruiva que o olhava.
"-Olá Draco."
Ele abriu e fechou a boca várias vezes. Andou para trás alguns passos e levou as mãos ao cabelo, apertando-o, abanando a cabeça completamente em pânico.
"-Draco estás bem?"
"-Solta-me. Tu….tu…" – murmurou ele apontando para ela.
"-Draco…eu sei….deixa-me explicar…"
"-Explicar o quê Weasley? Eu sei bem o que aconteceu!"
"-Sabes? Então porquê que estás a agir assim?"
"-Weasley tu estás…estás Grávida." – Disse ele apontando para ela com cara de decepcionado.
"-Se tu sabes….o que é…eu não entendo."
"-Sai daqui! O que estás tu ainda a fazer aqui? Já devias de estar com o Potter não achas?"
"-Como?"
"-Ora achas que sou burro? A não ser que na minha ausência tenhas ido para a cama com o primeiro que apareceu."
Ginny elevou a mão e no segundo seguinte Draco sentia a mão dela contra a sua face, fortemente.
"-És nojento."
"-Não sou eu que vou ter um filho. Ao menos sabes quem é o pai?"
"-SEI! Deixa-me em paz!" – gritou ela voltando para o quarto e fechando a porta em seguida.
"-Espero que saias desta casa rapidamente, sua…sua….ah…"
"-Esta casa também é minha. Vai embora tu se quiseres." – Disse ela do outro lado do quarto.
"-Não, vais tu e esse futuro filhote do Potter."
"-Tu és um imbecil." – Disse ela voltando a abrir a porta.
"-E estás de quanto tempo Weasley?"
"-6 Meses." – Respondeu ela.
"-Uh! Foi só necessário, eu sair cá de casa."
"-Estúpido. Tu…tu és…tu, és o pai."
Fim do capitulo 1
N/A: Bem, depois de um tempo sem aparecer o Trio Sublime voltou à carga…..apesar de não termos recebido muitos reviews nas outras fics, mas tudo bem…..
Comentem! E é se querem o segundo capitulo….um capitulo com algumas surpresas…..
JINHOS!
REVIEWS!
