Minha cabeça rodava, eu olhava as ondas se chocando furiosamente com a areia. A sensação de ser abandonada, de ser traída era tão agonizante. Confiar em alguém e ser dispensada com tamanha indiferença... Não é a toa que existem tantas lésbicas, como confiar nesses homens? Entregar o coração com tanta paixão só para sofrer.

Olhei a hora no meu relógio e vi que era hora de voltar para casa. Levantei-me e sorri para o mar... Meu maior consolador. Era um milagre achar uma praia tão deserta no Rio de Janeiro, mas por ser tarde da noite e ser uma praia bem isolada eu consegui encontrar um pouco de sossego. Fui saindo da areia, caminho em direção ao calçadão onde eu havia deixado minha moto, muitas pessoas acham um escândalo uma jovem mulher como eu dirigir uma moto, mas veja bem, não sou uma "motoqueira", sou uma motociclista, sou responsável no transito, sigo as leis e não fico costurando por aí.

Depois de 30 minutos cheguei em casa, sem fazer barulho, peguei minha chave e entrei em casa, me surpreendi ao ver todas as luzes ligadas e meus pais com expressões de funeral. Já que meu plano de chegar à La soturna havia falhado, me aproximei.

- O que houve? – Perguntei.

Os lábios da minha mãe tremeram e ela me olhou arrasada, antes de cair em um choro de profunda tristeza. Meu pai suspirou agoniado e só então percebi que ele estava arrumado e que tinha duas malas aos pés.

- Estou indo embora, Laly. – Meu pai disse, o choro da minha mãe cessou, mas seu corpo ainda tremia com seus soluços silenciosos. – Lilian e eu vamos nos divorciar, é o melhor a fazer.

Um bolo se formou em minha garganta e a raiva queimou em meu peito.

- Qual dos dois? – Perguntei, eles me olharam confusos. – Quem traiu quem?

Meu pai lançou-me um olhar culpado.

- Você já é uma adulta e entende que há muito tempo nosso casamento não ia bem e então eu conheci a Gabriela e...

Balancei com força a cabeça.

- PARA! – Gritei. – SE QUER IR EMBORA VÁ! MAS PARA!

Ele olhou para baixo, pegou suas malas depositou um beijo na testa da minha mãe que olhava apática para a janela e depois veio me abraçar, o empurrei com força. Assim que ele saiu pela porta uma lagrima quente e grossa escorreu pela minha bochecha, fui até minha mãe e me lancei em seu colo, novamente abandonadas.