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A inspiração para essa estória veio da fic "Awake" de Natasha-von-lecter postada aqui no Fanfiction.
Eu adorei a temática, mas achei que o desenvolvimento era sombrio demais, então resolvi criar a fic da fic e dar um novo enredo para a estória.
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Capítulo 1
Ela abriu a porta quase sem fôlego. O dia estava quente, mas ela não tivera coragem de tirar a capa, não podia arriscar que alguém a visse. As tarde eram preciosas demais para que ela fosse descoberta. Ele saía todos os sábados após o almoço e jamais retornava antes do pôr do sol. Aos poucos ela se acostumou com essa rotina e passou a fazer pequenas jornadas pelos arredores durante a ausência dele. Os poucos momentos ao ar livre lhe davam a impressão de ser novamente livre.
A capa foi depositada no gancho perto da porta, mas ela não largou a cesta que trazia. Olhando para a capa percebeu que estava manchada. A mão chegou a fazer o movimento apropriado para um "Evanesco", mas ela sabia muito bem que a varinha estava trancada em algum lugar no porão. Ele ao menos não a quebrara como era de se esperar, mas garantira que a manteria fora de alcance. Escravos não podiam usar magia. Assim como escravos não podiam andar por aí sem autorização de seus donos.
Hermione Granger estava naquela casa há três meses. Ela lembrava bem do dia em que chegara lá. Depois de meses como prisioneira em Azkaban ela havia sido levada a um grande galpão. Não foi preciso muito para ter certeza de quem vencera a guerra: o lado errado.
O galpão onde ela estava era amplo e iluminado. Sob um palco ela e mais duas dezenas de mulheres aguardavam em fila. Nenhum rosto conhecido entre elas. Mas não era possível ter certeza, porque era preciso manter os olhos baixos o tempo todo e ela apenas vira as outras de relance. Foi então que ouviu claramente:
- Hermione Granger, 18 anos, 60 quilos.
E logo depois ouviu o primeiro lance:
- 200 galeões!
Ela então compreendeu que aquilo era um leilão e ela era uma peça em exposição. Sua surpresa não a permitiu acompanhar o desenrolar dos lances e só foi acordada do seu transe ao ouvir o leiloeiro anunciar:
- Vendida por 2.300 galeões para Severo Snape.
E foi assim que ela passou a ser propriedade do temido Mestre de Poções.
Ao entrar na casa pela primeira vez seu dono deixou bem claro quais seriam as atribuições dela. Ele também a informou que deveria ficar muito grata por ter sido poupada de um destino cruel nas mãos de qualquer outro Comensal. Severo Snape parecia mesmo esperar que ela se ajoelhasse e beijasse seus pés em agradecimento. Os sentimentos da bruxa eram muito mais próximos da revolta do que da gratidão, mas seus instintos a fizeram baixar a cabeça e concordar.
As tarefas que ele descreveu pareciam muito com as de um elfo doméstico, ou para uma nascida-trouxa, como ela, eram muito semelhantes as da Gata Borralheira: lavar, passar, cozinhar, dormir em uma caminha de armar ao pé do fogão...
Apenas a última frase não coincidiu com o conto de fadas trouxa:
- E eu a avisarei quando a quiser em minha cama – afirmou o bruxo sem deixar dúvida sobre o real objetivo de tal visita.
O dia da visita veio pouco mais de uma semana após a chegada de Hermione. Até aquele dia eles não haviam trocado mais do que meia-dúzia de palavras. Hermione havia servido o jantar e esperava que ele terminasse, sentada em um banquinho na cozinha. Todas as noites ela esperava ouvir os passos dele subindo as escadas para então voltar à sala e tirar a mesa. Mas aquela noite foi diferente. Snape entrou na cozinha, sua figura ameaçadora preencheu todo o espaço do pequeno cômodo e dirigindo-se mais a parede do que a ela disse simplesmente:
- Eu a espero em meu quarto em meia-hora.
Hermione continuou sentada no banquinho mais alguns minutos até perceber a dimensão da frase. Então se levantou, lavou a louça, foi até o banheiro e olhou-se no espelho. Fazia meses que não fazia isso e o rosto que a fitava era quase o de uma desconhecida. A cabeleira vasta resumia-se a uma massa castanha desordenada, as faces antes rosadas agora estavam magras e os olhos, os mesmos olhos que sempre brilharam intensamente, resumiam-se a duas esferas sem vida.
- Hermione Granger, 18 anos, 60 quilos, propriedade de Severo Snape.
E dizendo isso trocou sua única roupa pelo camisolão que usava para dormir.
A batida que a jovem deu à porta foi tão fraca que foram necessárias mais duas tentativas antes que ele a abrisse. Mandando-a sentar-se na cama ele virou-se para uma mesa ao lado, pegou um frasco e o entregou a Hermione.
- Beba – ele ordenou.
As mãos da bruxa tremiam tanto que Severo precisou tomar o frasco outra vez da mão da jovem e ele mesmo abrí-lo antes de devolvê-lo a ela. Ele ficou de pé enquanto ela ingeria a poção.
- Deite-se – foi a última palavra que ela ouviu.
Ao acordar na manhã seguinte ela estava deitada em sua própria cama na cozinha e os acontecimentos da noite anterior pareciam um sonho. Ao levantar-se ela percebeu que estava nua e o camisolão pendia na cadeira ao lado. O que teria acontecido? Ele a mantivera desacordada? Por quê?
Naquela manhã foi difícil servir o café sem saber o que realmente havia acontecido dentro daquele quarto. Talvez a agitação que ela demonstrou, ou o fato de ter derrubado a travessa de torradas tenha feito Snape falar.
- Pergunte logo o que quer saber, Srta. Granger.
- O que aconteceu ontem à noite?
- Eu lhe dei uma poção para dormir. Não me traz nenhum prazer ter uma garotinha chorona na minha cama. A outra opção era colocá-la sob "Imperius", mas o Ministério ainda controla sua utilização e eu não quero nenhum intrometido se metendo com meus assuntos domésticos.
- Então eu dormi durante...
- Sim, você dormiu e quando eu acabei eu a trouxe para a cozinha.
Hermione sentiu raiva por ter perguntado. Por ouvir descrito o ato abjeto de ter sido usada como uma boneca e depois ser descartada como uma coisa sem valor. Ele não ia vê-la chorar. Ela voltou para a cozinha e sentou-se no banquinho.
Ele terminou o café em silêncio.
Houve muitas outras noites como aquela, em que ele a chamava ao quarto e oferecia a poção. Ela sempre acordava no dia seguinte nua, em sua cama na cozinha.
Uma estranha rotina se estabeleceu entre eles. Ele passava a maior parte do dia no laboratório, onde ela não tinha permissão para entrar, normalmente saindo apenas para as refeições. Todas as manhãs ele lia o Profeta Diário à mesa do café e depois o deixava ao lado da xícara usada, como uma oferta para que ela o lesse também. Foi assim que ela ficou sabendo do que acontecia fora daquela casa. Não havia menção a nenhum de seus amigos, nem entre os procurados, o que a fez acreditar que estavam todos mortos. Pelo que pode entender Voldemort havia morrido juntamente com Harry em um confronto sangrento. O Ministério continuava nas mãos dos Comensais, só que agora abertamente. Belatriz Lestrange era a nova Primeira Ministra e todos os de seus assessores eram Comensais, velhos conhecidos de Hermione.
Essa rotina incluía a saída semanal aos sábados, Snape deixava a casa logo depois do almoço e só voltava depois do anoitecer. Muitas vezes ele chegava de mau humor e a tratava mal, reclamava do jantar e a chamava de imprestável. Outras vezes ele chegava bêbado, cambaleando e com as vestes amassadas. Nesses dias ele se sentava na sala, se servia de mais um uísque e não jantava. Ele nunca a chamava para o quarto aos sábados.
Depois de quatro sábados consecutivos, ela tomou coragem e saiu logo depois de vê-lo desaparatar. Não foi muito longe, mas a meia-hora que passou andando pelos arredores foi um alento que a sustentou durante toda a semana. E então surgiu uma nova rotina, assim que ele saía, ela fugia.
Naquele sábado ela trazia um regalo na cesta, com o qual pretendia se presentear. Ao passar pelo vestíbulo ela parou em frente ao espelho e voltou a ver a menina que um dia fora feliz em Hogwarts. A comida farta na casa havia feito suas maças do rosto retomarem a forma e o exercício a deixara corada, até mesmo o cabelo voltara a ser tão impossível como no tempo da escola. Hermione estava quase feliz ao entrar na casa de Severo Snape e ir para a cozinha saborear os morangos que colhera.
- Com quem você estava? – rugiu uma voz profunda vindo da sala.
O susto fez Hermione sobressaltar-se e antes que ela pudesse responder Snape já estava à frente dela. Olhos negros fuzilando-a. Seu hálito cheirava a bebida e ele a segurou com as duas mãos, meio para manter-se em pé, meio para ameaçá-la.
- Com quem você estava? – ele perguntou mais uma vez.
- Eu estava sozinha.
- Mentirosa. Diga o nome do seu amante – o bruxo exigiu empurrando-a contra a parede e quase caindo junto com ela.
- Eu estava... eu só queria... eu não – ela tentava explicar mas ele não a ouvia e continuava a sacudí-la.
- Você é minha – ele gritou enfurecido.
Hermione desvencilhou-se das mãos dele e correu para a cozinha, mas não havia onde se esconder. Ele rapidamente a alcançou imobilizando-a e arrastando-a novamente para a sala. A cesta caiu e seu conteúdo se esparramou pelo chão, o corpo de Hermione esmagou os morangos caídos que agora pareciam manchas de sangue em seu vestido.
Enquanto Snape a empurrava escada acima ele continuava esbravejando.
- Eu deveria tê-la deixado nas mãos dos Malfoys, assim você saberia o que é escravidão. Eu salvei você.
- Você me comprou – gritou Hermione não conseguindo controlar-se – Você é um monstro igual a eles.
- Eu não sou igual a eles – ele retrucou com fúria abrindo a porta do quarto e quebrando vários objetos ao mesmo tempo – Beba isso.
Ele estendeu o frasco de poção tão conhecido. O ódio que ela via nele a fez pensar que talvez ele quisesse matá-la em silêncio. Ela não podia dormir e deixar-se ficar à mercê daquele louco. Enquanto ele puxava as cobertas ela despejou o conteúdo em um canto e deitou-se fingindo dormir. Ela contava com o fato de que ele estava bêbado demais para perceber que ela fingia.
Sem poder abrir os olhos Hermione ficou imóvel. O quarto ficou em silêncio por alguns minutos e então ela sentiu a mão dele passear sobre o corpo dela. O toque era gentil e ela o ouviu dizer baixinho:
- Eu não sou como eles.
Junto com as palavras Hermione pensou ouví-lo chorar.
Ele passou as mãos novamente sobre o vestido e disse:
- Morangos. É época de morangos.
- Por que você tinha de fugir de mim?
Ele reclinou-se e a beijou forte, nos lábios.
- Quando você será minha?
Nesse momento a bebedeira deve ter-se apoderado dele, pois Snape caiu inerte ao lado do corpo de Hermione que não arriscava mover-se.
Já era quase manhã quando Hermione percebeu movimento na cama. Ela também adormecera. Ele a apanhou no colo e a carregou até a cozinha. Com a varinha fez a cama montar-se e tirou o vestido que ela vestia, depositando-a nua, na cama ao pé do fogão.
