Capítulo 1 — Começo de um desastre

Sempre sonhei com o meu final feliz, sempre sonhei em ter alguém com quem compartilhar minha vida, tanto os momentos alegres quanto os tristes. Acho que tudo começou quando eu tinha meus seis anos de idade e acabei sendo a daminha de honra de minha prima, muito bela na época. Não, não foi exatamente ali, acho que fora mais para trás quando li meu primeiro livro sozinha: A Bela e a Fera. Tudo naquela história me fascinava. Ambos passavam pelas dificuldades juntos assim como passavam pelos dias felizes, e no final viveram felizes para sempre. Depois disto não parei mais de ler contos de fada, logo depois passando para romances de verdade. Gostava mais do que acabavam com uma simples frase doce e clássica:

"... e eles viveram felizes para sempre."

Parecia ser tão simples, achar alguém com quem você se apaixonasse, namorar, casar e viver feliz com essa pessoa. Meu sonho por muito tempo foi isso, foi ter alguém ao meu lado. Quando entrei no colégio até consegui amigos que me protegiam acima de tudo – talvez pelo fato da minha altura não ser avantajada eu era alvo de gozações. Os dias passavam e logo se tornavam semanas, meses e até anos. Tudo que estava comigo eram amigos, ninguém que fosse o príncipe da vida que eu esperava chamar de conto de fadas logo. Até pensei que na verdade minha história seriam aquelas cantigas clichês em que melhores amigos começam a se amar, mas descartei essa possibilidade quando os meus dois amigos se declararam para mim e acabei vendo que na verdade não sentia nada além de amor fraternal por eles.

Deixei um pouco de lado essa minha paranóia de achar logo um namorado e me concentrei nos estudos e em meus amigos, boas notas que antes eram bem vindas agora passaram a ser uma obrigação para mim. Tudo ótimo. Mandava para meus pais os resultados que obtinha e ganhava muitos elogios – o que me deixava muito feliz, além de muitos comentários positivos do pessoal de meu dormitório. Enquanto meu dia ficava reservado principalmente para meus estudos, a minha noite era cheia de aventuras proporcionadas pela literatura. A cada romance que lia meu coração pulava uma batida, eram simplesmente incríveis as tramas que se desenvolviam diante de meus olhos.

Mas infelizmente o sol ainda não se pôs, ou seja, deveria me dedicar aos estudos por enquanto.

Olhei para o relógio de meu celular por um breve segundo apenas checando a hora no instante em que o sinal de nosso colégio toca liberando todos para que pudessem ir para suas casas, trabalhos ou seja lá o que esse pessoal iria fazer assim que passassem pelo portão da escola. Suspirei e guardei meu material calmamente já com os fones de ouvidos no meu bolso para colocá-los depois. Antes que me isolasse para ouvir música Jet e Droy vieram correndo em minha direção já brigando. — "E lá vamos nós de novo..." — pensei sorrindo nostalgicamente, era sempre deste jeito e talvez nunca mudasse.

— LEVY-CHAN, QUER QUE EU TE LEVE PARA CASA? — os dois falaram um uníssono. — EI! EU PERGUNTEI PRIMEIRO! — disseram mais uma vez juntos e começaram e brigar entre si. Apenas dei uma risada e eles olharam para mim encantados pelo sorriso esboçado na minha face.

— Podemos ir todos juntos — passei meus curtos braços pelos ombros de meus amigos ficando na ponta dos pés, quase não tocando o chão. — Que tal? — rapidamente eles concordaram.

Tudo como deveria ser e como nós fazíamos todo santo dia. Era até que engraçado ver os dois brigando por minha atenção durante o percurso até meu dormitório já que meus pais viajam pelo mundo todo (como eu ainda estudava tinha de ficar fixa aqui em Magnólia). A única coisa que eu não entendia era que ao mesmo tempo em que Jet e Droy eram melhores amigos eles disputavam por minha companhia sabendo que na verdade não supria nenhum sentimento que não fosse amizade por ambos. Assim que demos um passo para fora da propriedade da escola Erza, Lucy, Natsu, Gray e Loke vieram falar conosco, pareciam estar muito animados por algum motivo (bem, tirando o fato de que Natsu e Loke não paravam de brigar pela minha melhor amiga).

— Boa tarde, Levy — cumprimentou Erza ignorando as brigas atrás de si. — Jet, Droy — falou assentindo com a cabeça para os meninos que sorriram em resposta.

— Olá Erza, Gray — disse sorridente e inclinei-me um pouco para ter visão do trio atrás dos dois, Lucy que tentava prestar atenção enquanto ao mesmo tempo tentava acalmar Natsu e Loke. — Natsu, Loke — os dois não me deram ouvidos. — Lu-chan — terminei sorrindo para a loira que me respondeu com um olhar que dizia "falamos mais tarde, primeiro tenho de domar estes animais brigando entre si".

— Já estavam indo para casa? — perguntou a ruiva um pouco surpresa com isso.

— Sim, meu plano era estudar mais um pouco de tarde — falei um pouco sem graça. Estudar não era lá algo muito interessante de se falar em uma conversa casual, mas melhor falar a verdade do que dizer algo muito interessante e acabar envolta em uma teia de mentiras.

— Poxa Levy, pare de ser um rato de biblioteca pela menos uma vez na vida — brincou Gray tentando me fazer mudar de ideia, sabe-se lá o que eles estavam tramando de fazer comigo hoje, mas confiava neles, eram meus amigos de infância afinal.

— O que o Gray quis dizer... — Erza cerrou os dentes e lançou um olhar assustador para o moreno que já engoliu suas palavras com medo do que a ruiva faria a seguir se ele não a obedecesse. — É que nós adoraríamos se você fosse até a sorveteria conosco — ela voltou sua atenção para mim e esboçou um lindo sorriso. — Seria muito divertido ter a sua companhia, Levy. Ah, e claro, Jet e Droy também estão convidados.

Olhei para os meninos que pareciam muito animados com essa proposta, já estavam babando nos sorvetes que ainda nem compramos. Fitei a ruiva que estava esperando uma resposta definitiva enquanto Lucy tentava ao fundo me dizer algo como "Por favor, vá", mas infelizmente ainda estava no meio da briga do rosado e do ruivo.

— Por que não? — falei finalmente. — Vai ser divertido — disse sorridente para todos ao meu redor que ficaram ainda mais entusiasmados. Até mesmo Natsu e Loke haviam parado de discutir para comemorarem.

Fiquei feliz em deixar minhas notas em segundo lugar por pelo menos uma única tarde, seria bom descontrair e conseguir ter uma conversa decente com a Lucy sem seu dragão e seu leão entrarem no meio já disputando sua atenção. Era engraçado ver essa rixa, quase tanto quanto ver Jet e Droy se declarando ao mesmo tempo para mim. Enquanto caminhávamos para a tal sorveteria já tão conhecida na região tentava trocar algumas palavras com minha melhor amiga logo sendo cortada por Natsu ou Loke, por fim desisti e fui falar com Erza e Gray que sairia ganhando mais. Ambos, que antes estavam falando sobre carros, me incluíram imediatamente na conversa começando outro assunto do qual eu entendia. Bons amigos, isso era o que eles eram tanto para mim quanto para Jet e Droy. Não podia desejar algo melhor, mas sabe quando você simplesmente quer... Mais? Minha paixão por romances faz com que minha vida não esteja completa sem um namorado, marido, alguém ao meu lado.

O caminho até essa tal lanchonete, quer dizer, Buffet de Sorvetes, não era muito longo. Para falar a verdade chegamos ao recinto depois de apenas vinte minutos a pé. Tinha de admitir que era um estabelecimento muito bem arrumado e aconchegante, além de que a comida parecia ser realmente boa. Sorte a nossa que Erza é perita em doces, sobremesas, bolos e qualquer coisa que envolva açúcar, sendo assim sempre lanchávamos nos melhores lugares, quer dizer, quando eles me convidavam e eu aceitava, é claro. Enquanto a ruiva contemplava os sabores quase infinitos à amostra nós escolhemos uma mesa debaixo da janela, e que bela vista nós agora tínhamos. Olhei pela mesma com um ar sonhador e suspirei sorrindo para o nada (isso era muito comum).

— Levy-chan, sonhando com seu príncipe, é? — disse Lucy tirando-me de meus devaneios. Pelo jeito finalmente Natsu e Loke haviam parado de brigar e agora eu e minha melhor amiga poderíamos ter uma conversa sensata sem nenhuma intervenção.

— Ah, Lu-chan, já estou começando a achar que ele nunca vai vir — disse sorrindo melancolicamente enquanto a loira tentava me animar, ah, sim, Lucy era quase tão fã de romances quanto eu, estava até escrevendo seu próprio livro com essa pouca idade que tínhamos.

— Não fique assim! — ela sorriu realmente colocando meu astral lá em cima. — Sabe o que eles dizem? — aproximou-se de mim como se fosse contar um segredo. — Quando você para de procurar você acha — a loira piscou como se tivesse dado uma dica valiosa para resolver um mistério.

Um brilho surgiu nos meus olhos como uma última esperança tentando sobreviver em meu coração resistente ainda a me deixar cair de cabeça em uma paixão. Queria ainda ficar focado nos estudos, em coisas que tenho certeza, respostas certas e exatas. Lucy tinha esse efeito em mim, ela tinha o dom de achar luz nos lugares mais escuros, e amor nas situações mais trágicas. Por isso eu era sua amiga e a amava. Ela me dava esperanças para continuar o caminho até meu final feliz, mesmo que as probabilidades ainda sejam mínimas.

— Acho que você está certa, Lu-chan — suspirei desistindo de tentar convencê-la de que minha vida amorosa era um caso perdido. — Espero que ele venha antes que minhas esperanças se esgotem.

— Pode ter certeza que sim! — falou com um sorriso confiante esboçado.

Antes que pudéssemos continuar nossa conversa que finalmente tomaria um rumo mais descontraído, Erza chegou com sua tigela cheia até mais do que deveria de sorvete. Incrivelmente ela ainda conseguia carregar mais algumas pequenas taças que deduzi serem nossas, já que a ruiva era uma pessoa muito gentil e geralmente fazia tudo por todos sem querer nada em troca – com exceção de Jellal, ela sempre pedia algo em troca para ele. Óbvio que ela pegou nossos sabores favoritos já que os sabia de cor. Peguei a minha tigela contendo o mesmo sorvete que o de Lucy – outra coisa que compartilhávamos era o nosso paladar em comum – e comecei a comer vagarosamente enquanto conversava com os outros sentados do meu lado entretidos no assunto em discussão.

De repente as risadas antes predominantes no local pararam sem nenhum aviso prévio. Fiquei realmente perdida. Apenas observava Erza que compartilhava do mesmo olhar assassino e de ódio que Natsu, Gray e Loke. Olhei para a Lucy que me fitou da mesma maneira confusa, pelo jeito ela sabia tanto quanto eu, ou seja, nada. Direcionei meus olhos para o ponto que todos miravam com fúria, algo deveria estar acontecendo. Um grupo composto por quatro principais pelo que imagino e mais algumas pessoas interesseiras os rodeando passava pela sorveteria com sorrisos convencidos estampados. Mesmo assim não entendi o motivo de tanto ódio por parte de meus amigos, claro, esse grupo parecia ser arrogante, mas para eles odiarem alguém tanto assim deveriam ter feito algo muito ruim para a Fairy Tail. Achei melhor não perguntar agora, era melhor deixar com que o clima ficasse descontraído de novo assim pelo menos saíra inteira da conversa.

Quando os olhares de ódio se dissiparam devido ao grupo que finalmente sentou-se em qualquer lugar da sorveteria, todos voltaram a comer sorvete e a conversar como se nada tivesse acontecido – o que foi particularmente muito estranho. Erza parecia até mais animada do que antes enquanto falava com um sorriso que dificilmente iria desaparecer do rosto da ruiva. Comia vagarosamente ainda perdida no que havia acontecido assim como a Lucy que me olhava quase tão confusa quanto eu mesma estava. Depois de ficar alguns minutos trocando olhares com a loira achei que finalmente era a hora certa para perguntar sobre o incidente de momentos atrás.

— Hum... — comecei um pouco acanhada para ganhar a atenção de todos, o que funcionou. — Ér... Quem era aquele grupo que entrou agora há pouco? — perguntei com um ar de confusa e logo todos pararam de falar dando lugar para o silêncio incômodo e do qual eu tinha medo de quem quebraria ele.

Todos olharam para Erza que continuava a comer calmamente, mas logo que percebeu os olhares sobre si, suspirou e largou a colher sobre a mesa. Todos estavam muito sérios e esperavam para que a ruiva começasse a falar sobre algo que eu não tinha a mínima ideia do que seria.

— Você deve já deve saber que existem muitas escolas como a Fairy Tail, certo? — perguntou retoricamente, mas mesmo assim assenti com a minha cabeça. — Aqueles eram os alunos da Phantom Lord — ela apontou para a mesa em que se sentaram. — Nossos colégios têm muito rivalidade desde... Bem, desde que alguns incidentes aconteceram — omitiu quais foram os motivos que levaram a tamanha briga entre as instituições, eu sabia muito pouco sobre aquilo, apenas sabia que nunca mais de ouviu o nome Phantom Lord em Fairy Tail. — O grupo que passou por aqui eram os alunos mais problemáticos, ou seja, os quatro mais populares de lá — tinha de concordar, o cheiro de bebida alcoólica junto do de cigarro podia ser sentido por todo o ambiente. — Por isso me escute bem, Levy — fitei Erza confusa, mas muito séria em relação ao que iria ser dito. — Nunca, eu repito, NUNCA se envolva com um daqueles alunos.

Senti-me pressionada, mas se a ruiva dizia que eles fariam mal a mim então era verdade. Concordei com um pouco de medo do que poderia acontecer se não seguisse os conselhos de Erza, afinal, ela sempre estava certa em tudo que fazia ou dizia. Logo, o clima descontraído voltou e todos voltaram a rir e a comerem seus sorvetes em paz. Mas diferentemente deles eu estava quieta em meu canto pensando no que me fora dito segundos atrás, por sorte a única que percebeu foi Lucy, entendendo também que precisaria me deixar sozinha pensando, sem interferir. A loira voltou a conversar com Natsu animadamente me olhando rapidamente algumas vezes, nem sequer Jet e Droy haviam notado como eu estava, pelo jeito a conversa com Gray estava mesmo muito divertida. Por fim eu já estava envolta em pensamentos, hipóteses do que poderia ter acontecido e de quem eram esses alunos. Como será que seus pais se sentiam? Será que sabiam sobre o cheiro de vodka e cigarro impregnado neles? Muito provavelmente que não, e ainda mais, será que eles tinham pais? Muitas perguntas para serem respondidas com poucos certezas, para falar a verdade, nenhuma certeza por minha parte.

De jeito algum conseguia me concentrar novamente em meu sorvete, muito menos na conversa que acontecia ao meu redor. Aquele grupo de delinqüentes realmente mexeu comigo, me fez parar para repensar algumas ideias desorganizadas em minha mente. Meu desinteresse não passou despercebido por Lucy, ainda entendendo minha situação, não disse nada para ninguém de nossa mesa. Finalmente a loira parou de se preocupar comigo e aproveitou mais, começou a conversar animadamente com Natsu – mesmo que seu amigo, Loke, brigasse com o rosado pelo amor de minha melhor amiga, sabia que quem ela realmente amava era o Dragneel – e, ao mesmo tempo, Gray e Jet falavam algo sobre a nossa futura excursão até a praia, para a qual todos estavam ansiosos, afinal, não era todo dia que toda a escola ficaria cinco dias em um Resort. Tentei prestar atenção em alguma das conversas ao meu redor: Natsu e Lucy discutindo aonde iriam jantar hoje, Erza distraindo Loke para que a loira ficasse em paz, e por fim o stripper e um dos meus melhores amigos debatendo a viagem, apenas Droy que comia seu sorvete sem dizer uma palavra, apenas dando algumas risadas no meio da alguma conversa. Mesmo se eu quisesse não me encaixaria ali no meio, minha cabeça estava voando nas nuvens de mais para ficar ali. Tinha de me concentrar em algo, e se algo com toda certeza eram os estudos. Resolver problemas de matemática fazia com que perturbações da minha cabeça sumissem em um piscar de olhos. Larguei a colhei sobre a mesa e levantei-me sorrindo sem graça.

— Desculpem-me, mas acabei de lembrar que tenho de fazer algumas coisas em casa — falei um pouco mal por deixá-los ali. — Obrigada pelo convite, agora se me derem licença — fiz uma breve reverência sendo educada e já ia me retirando dali.

— Levy, eu te acompanho até em casa! — disseram Jet e Droy em uníssono.

— Não precisa, podem ficar e aproveitar mais um pouco — disse sorridente tornando praticamente impossível que eles recusassem minha proposta.

— Já que é assim... — Jet falou um pouco desanimado e logo voltou a comer seu sorvete enquanto Gray tentava o animar.

— Até mais, Levy-chan! — despediu-se Lucy logo sendo seguida por adeuses de Erza, Natsu, Loke e o moreno consolando meu amigo.

— Até! — acenei saindo pela porta da sorveteria.

Finalmente sozinha. Suspirei aliviada, agora tinha mais tempo para pensar e menos barulho me atrapalhando. Meus pés andavam sozinhos tomando o caminho de casa, enquanto minha cabeça estava uma confusão. Resumindo meus pensamentos em uma coisa, eu diria que são os delinqüentes de mais cedo. Provavelmente eles praticavam bullying com os menos favorecidos da escola deles, e até talvez por causa disto mesmo fossem os populares. E mesmo que no colégio se sentissem o máximo, havia uma grande possibilidade de em casa terem sérios problemas, até mesmo problemas envolvendo traumas durante a infância, como: estupro, violência doméstica, ausência dos pais. Trágico como o mundo têm mudado. Geralmente as pessoas que sofrem quando pequenas são as que mais sorriem e fazem o bem quando maiores, porque não querem que ninguém passe pelo o que elas passaram. Mas, claro, havia exceções, muito provavelmente aquele grupo fazia parte dessa minoria.

No momento estava passando por um local mais perigoso perto de meu bairro, tentava evitar vir por este caminho, mas era o mais curto e o usava quando estava com pressa – o que era a situação neste exato segundo. Parei de divagar em minha mente e tentei prestar atenção em sair dali o mais rápido possível. Segurei forte minha bolsa contra meu corpo e acelerei o passo. Agora estava sozinha, quando eu passava por aqui geralmente estava acompanhada de Jet ou Droy, mas agora não. Eu estava totalmente vulnerável. Qualquer um poderia atacar uma baixinha como eu sem o menor pingo de piedade, eu era um alvo fácil e essa era a dura verdade a ser encarada. Faltavam apenas alguns metros para sair dali quando senti um cheiro de cigarro e bebida impregnado no ar. Tampei meu nariz e, por idiotice, parei de andar voltando minha atenção para a origem deste nada agradável aroma. Era o grupo de delinqüentes que passou na sorveteria. Sim, todos estavam ali totalmente bêbados e alguns com cigarros na boca. Deus! Quantos anos eles tinham? A mesma idade que eu, imagino, e já estavam entrando para o caminho sem volta dos vícios. Trágico.

— Ei, você — chamou um rapaz alto com um corpo de dar inveja, longos cabelos negros e olhos vermelhos penetrantes. — Você mesmo — falou novamente para mim com um sorriso malicioso estampado em sua face. — Venha cá, não seja tímida, eu não mordo... Não em público — ele disse ainda mais pervertido analisando meu corpo inteiro.

Os outros alunos a sua volta estavam ocupados demais fumando, bebendo e dando alguns amassos para reparar em minha presença, só aquele garoto mesmo. Ele tinha uma garrafa de vodka em uma das mãos e algumas garotas ao seu redor faziam manha e se esfregavam nele, podia ver olhares de ódio direcionados a mim pelo fato do moreno ter me chamado para perto. Analisei bem o ambiente, olhei para os lados vendo se alguém iria vir me salvar. Talvez fosse agora que meu príncipe em um cavalo branco chegaria e me salvaria desse mundo de drogas e alcoolismo. Mas não. Ninguém veio, nem mesmo um sinal de outra pessoa chegando ali foi visto. Estava sozinha sendo chamada por eles. Olhei novamente para o rapaz que ainda fitava-me com um sorriso malicioso e agora uma mão estendida – a que não tinha a garrafa de bebida – para mim. Seus olhos vermelhos, a sensação de perigo iminente, ver o quanto os outros estavam tendo prazer, tudo ali agora me atraía. Eu queria estar ali, eu queria não ser mais a menina boazinha. Quem ligava se eu quebrasse algumas regras? Minha mãe não estava ali no momento para me impedir, muito menos Erza ou Lucy. Meu príncipe não iria chegar ali mesmo, para quê fingir que eu era uma princesa então. Dei um passo na direção do tal rapaz que abriu um sorriso maior ainda e mais pervertido por sinal.

Esse foi o meu primeiro erro. Foi ali que começou o desastre que me atormenta até hoje.

Gajeel Redfox. Aquele rapaz que me corrompeu.