A madrugada quase se findava, quando Milo e Shina chegaram na vila das Amazonas, mais precisamente na casa que a prateada ocupava, há pouco eles haviam retornado de uma festa em Atenas, onde eles tinham ido festejar com os amigos. No caminho de volta, o grego percebeu que a italiana estava brava, impaciente, inquieta, ele só não sabia o porquê.
– Shina, quer me dizer o que houve? – o escorpiano perguntou assim que entraram na casa, ele se apoiou em uma das paredes da sala, com os braços cruzados e a olhava sério.
– Ainda pergunta? – Shina que estava caminhando em direção ao seu quarto, ao ouvir a pergunta, parou e se voltou para ele, seu tom de voz era de sarcasmo e ironia.
– É lógico! – fez uma expressão de obviedade, depois apoiou o queixo em uma das mãos e olhou para cima – Que eu saiba, ainda não tenho o dom de adivinhação. – concluiu também com um certo sarcasmo.
– Pensa que eu não vi você olhando para aquela sirigaita? – a prateada falou possessa, enquanto se aproximava perigosamente dele – Mas que droga Milo, você acha que sou trouxa?
– Calma aí! – levantou as mãos para cima – Do que você está falando, mulher? Seja mais clara, por favor! – se antes, Milo estava confuso, agora estava mais ainda.
– Calma é o caralho – os olhos verdes de Shina faiscavam de raiva – Você não vai mudar! Boba fui eu em acreditar que você realmente me amava, você é tudo o que falam: mulherengo, cafajeste – ela gritava mais e mais.
O escorpiano sentiu o sangue ferver ao escutar todos esses impropérios que a Amazona dirigia a si e, por essa crise de ciúmes, que para ele era sem fundamento algum, cerrou o punho e trincou os dentes em um claro sinal de raiva. – Do que está falando sua louca? – vociferou
– Daquela uma lá que tava no bar se insinuando e você não tirava os olhos. Vai negar isso? Acha que sou cega? – Shina estava com ganas de pular no pescoço de Milo e torcê-lo.
O dourado a olhou confuso, tentando buscar em sua memória a tal sirigaita que a namorada falava, logo veio um flash e se lembrou da moça com curvas sinuosas que estava praticamente se jogando em cima de seus companheiros e dele, de fato a olhou, a moça era bonita, mas para seu gosto, era vulgar demais.
– Quer saber Shina? – falou assim que suspirou fundo para tentar recobrar a pouca calma que tinha – Pra mim já deu! Não aguento mais essas tuas crises de ciúmes – passou a mão nos cabelos em um gesto nervoso - Cansei de você ficar me julgando dessa maneira. Está tudo acabado. – se retirou da casa sem esperar resposta.
– Volta aqui seu… seu – ela gritou ao ver o dourado sair de sua casa, mas foi em vão. Ele já estava longe.
A esverdeada deixou seu corpo cair pesadamente sobre o sofá e, se pôs a refletir sobre tudo o que havia dito e, principalmente nas últimas palavras de Milo, "Será que exagerei? Será que deixei o ciúme me cegar?", foram as perguntas que se fez mentalmente. Arregalou os olhos esmeraldinos "O que será que ele quis dizer com está tudo acabado?" – Droga! – deu um murro no sofá enquanto cuspia essas palavras, por que tinha que ser tão impulsiva?
Os olhos da Amazona se encheram de lágrimas, pensou em ir atrás dele, pedir desculpas, dizer que mais uma vez havia colocado os pés pelas mãos, mas seu orgulho foi maior. Por fim, acabou se dirigindo ao seu quarto onde deitou e chorou de tristeza e raiva até adormecer.
No outro dia, acordou com certo custo, mesmo com as lembranças do ocorrido durante a madrugada, levantou, se arrastou até o banheiro onde fez sua higiene matinal, foi até a cozinha, tomou seu desjejum e finalmente se dirigiu à arena. Shina sentia-se uma tola, uma estúpida em ser tão ciumenta, mas a experiência de não ter sido amada por Seiya, fez com que sempre mantivesse o pé atrás com os homens porque não se achava merecedora do amor de ninguém.
A esverdeada precisava descontar sua raiva e o treino era a melhor forma para isso. No caminho ela passou pela arena onde os dourados costumavam treinar, parou por um instante e com os olhos procurou por Milo, mas não o encontrou. O escorpiano era sempre o primeiro a chegar, ele levava seu treinamento a sério, podia estar chovendo, sol de rachar, com trovoadas que lá estava o guardião da Oitava Casa treinando. A ausência dele só confirmou para Shina o quanto ele estava chateado com tudo o que havia acontecido e, que suas últimas palavras haviam sido sérias.
Seu coração apertou, a vontade de chorar voltou e para que ninguém a visse assim, se dirigiu até um lugar afastado do Santuário, onde passou o dia inteiro treinando sozinha, preferiu assim, pois sabia que se treinasse com alguém era capaz de descontar todo seu mau humor na pessoa errada.
No final da tarde retornou para sua casa, tomou um banho reconfortante e durante este ficou pensando em tudo que havia acontecido na noite anterior, sabia que tinha exagerado nas acusações e ciúmes. Por isso, engoliu o seu orgulho e foi procurar Milo, mesmo que ele não quisesse reatar o namoro, mas ao menos se desculparia, porque se tem uma coisa que detesta, são situações mal resolvidas.
Shina assim que chegou nas escadarias que davam acesso ao Templo de Áries, suspirou fundo. Ela usava uma calça jeans e uma camiseta num tom de verde escuro, decidiu não usar nada mais ousado, caminhou até a entrada da Primeira Casa e assim que obteve permissão do guardião, prosseguiu, repetiu o processo até chegar em Escorpião. Antes de entrar, suspirou de novo e pediu forças mentalmente, entrou no salão de lutas, telepaticamente chamou pelo seu guardião e como não obteve resposta foi a procura dele, encontrou-o no quarto deitado em sua cama, assistindo algo na TV, mas seus olhos parados e seu semblante demonstravam que seus pensamentos estavam longe. Se encostou no batente da porta e ficou ali sem saber o que fazer, se recriminava mentalmente porque nunca fora indecisa, pelo contrário, seu jeito decidido era sua marca registrada.
– O que você quer aqui? – Milo perguntou rispidamente ao notar a Amazona parada, o que fez com que ela despertasse de sua briga interna.
Ao ouvir a maneira seca que ele se dirigiu, fez com que italiana respirasse fundo para não perder o controle, ou colocaria os pés pelas mãos novamente e não tinha ido até ali para brigar. Estava decidida a fazer qualquer coisa para que ele lhe perdoasse. – Eu vim me desculpar pelo que disse ontem, eu exagerei...
– Você acha que é simples assim, né? – Milo falou enquanto levantava da cama – Xinga, esbraveja, ofende, como sempre, age sem pensar – ficou de frente para ela com um semblante sério – Acha mesmo que um simples pedido de desculpas vai resolver tudo?
Shina balançou a cabeça com veemência em negação. Por um momento teve vontade de sair correndo dali, mas não era uma covarde. As palavras dele a atingiam como se fossem facas, mas no fundo sabia que era verdade.
– Shina... – ele prosseguiu – Você acha que eu sou um moleque? Que iria assumir um relacionamento com você e ficar saindo com todas as mulheres da Grécia? – soltou um riso anasalado. – Acha que sou um cafajeste, mulher!?
A ariana emudeceu diante da perguntas, tinha plena consciência de tudo o que ele havia dito, de tudo que ele era, o dourado de Escorpião era conhecido por seu grande senso de justiça, por sua lealdade e fidelidade à tudo o que acreditava, todavia seu ciúme e o medo de sofrer novamente a cegavam, fazia com que enxergasse chifre em cabeça de cavalo.
– Não – ela finalmente respondeu, com uma voz quase inaudível – Não vou ficar aqui tentando justificar meus erros, Milo. Tenho consciência do meu exagero, mas tente me entender…
– Tente você me entender – ele passou as mãos sobre o cabelo, tentando inutilmente afastar a franja que caía sobre seus olhos – Você sabe desde quando eu a amo? Shina eu te amo desde sempre, antes de saber definir o que era amor, eu já te amava, sem nunca ter visto seu rosto, eu te amava. – Foi a vez dele suspirar profundamente para tentar se acalmar, após alguns segundos, prosseguiu – Sabe quantas vezes quis te consolar quando te via sofrer pelo Seiya? Você parece não se lembrar disso.
As lágrimas espessas rolavam em abundância pelo rosto alvo da prateada. Sim, ela sabia disso tudo. Milo havia se declarado à ela logo após ter retornado à vida, tinha dito estas mesmas palavras na ocasião e isso fez com que se sentisse mais estúpida ainda, mas tinha ido até lá para tentar consertar seu erro, não é? Pensando nisso, passou as costas das mãos no rosto, para limpar as lágrimas, olhou fundo nos olhos azuis-esverdeados de Milo. – Eu te amo e faço qualquer coisa para você me perdoar. Eu vou mudar, vou fazer um esforço para isso acontecer, não só por você, mas principalmente por mim.
O dourado ficou estático por um breve momento, mal acreditou nas palavras da esverdeada, pois conhecia muito bem o gênio difícil e arredio da Amazona. Por um momento achou que havia ouvido mal. Mas, ao ver a confirmação das palavras estampada nos olhos verdes, ver que ela estava disposta a se redimir amoleceu seu coração, por que não tentar mais uma vez?
– Qualquer coisa? – o grego perguntou por fim, meio hesitante
– Sim! – a ariana respondeu com convicção, porque sentiu suas esperanças renovadas.
Continua…
