Pequeno Rei
Bruna black
Ele não nasceu para matar. E talvez por isso tenha pintado sua loucura e necessidades em tons de grafite e negro. Olhos e cabelos. Sirius Black. Do cinza ao nada.
Uma casa vazia e um ar pesado demais. Você está no quarto que prometeu nunca mais entrar, olhando para a cama que jurou nunca mais fitar, lembrando aquele que nunca mais retornaria. E então você morde seu lábio e passa as mãos nos cabelos tão negros quanto os dele e sente uma enorme vontade de gritar. Por perdão, uma segunda chance, uma continuidade.
Mas você está sozinho, não é mesmo?
Você nasceu para ser sozinho. É por isso que ele te deixou. Um olhar no meio do corredor, os lábios que tantas vezes beijaram os seus formando palavras eu estou indo embora. Para nunca mais voltar. A voz baixa falou estou te deixando, porque você é covarde demais. E você quis chorar como o covarde que era, mas ele deu as costas e bateu a porta. E você jurou nunca mais pensar, nunca mais sentir.
Mas você sabia quebrar suas promessas.
E você seguiu o caminho que ele chegou a implorar que você não seguisse. Por rebeldia, por ódio, por amor. Para ser o filho perfeito, o irmão renegado, para tentar ser alguém importante naquela tapeçaria do segundo andar, para não ser mais uma estrela perdida em meio às constelações. Você queria provar seu valor não para você, mas para ele.
Pois você não tem amor-próprio.
Fraco. Covarde. Solúvel. Você era tudo numa escalada de palavras que tinham tanto valor quanto o ódio dele por você. E você sentia dor no meio da madrugada. Sentia frio e medo e a sua Marca queimava e você pensava nele e matava por ele. Como alguém covarde poderia matar alguém? Isso não existia.
Mas você odiava o cheiro de morte em suas mãos.
E foi o que ele disse, quando vocês se encontraram uma última vez, num lugar qualquer. Bonito, sempre bonito demais. E você? Uma simples sombra imperfeita demais. E ele te olhou com repudia e segurou seu rosto entre as mãos com força demais, perto demais. Você me dá nojo, Regulus. Foi o que ele disse, sempre machucando, sempre Black demais para seu próprio bem.
E ele te deixou sozinho pela segunda vez.
Agora você está aí, as costas de encontro com a parede, a luz da lua oblíqua desenhando uma decadência de tons até o negro. Até você. E você tem vontade de chorar (de desespero, de angústia, de não-amor), mas você não pode ser covarde. Um barulho e Kreacher lhe entrega o medalhão. E você pede para a criatura, sua única companhia, acompanhá-lo.
E a última coisa que você vê é ele. A última coisa que você grita é perdão por ser covarde. E então o nada.
Talvez essa seja a única razão de você ter nascido, Pequeno Rei. Para viver como uma sombra desfigurada, trair, quebrar promessas, ser esquecido e morrer sozinho. E não ser lembrado. Ter o brilho quase nulo da estrela que carrega o seu nome. Você não nasceu para matar, você nasceu para morrer.
