Título: Rivendell - ano 2941
Personagens: Bilbo, Estel, Elrond, Elladan Elrohir, Gilraen.
Retratações: Os personagens não são meus, nenhum lucro é pretendido, só existe o desejo de contar uma história e demonstrar meu amor aos personagens do Professor Tolkien.
Sumário: Toda jornada possui um início e Bilbo tem um papel importante nos sonhos de um pequeno menino.

Créditos: Agradecimentos eternos ao meu Tolkien Group.

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Rivendell - ano 2941

Bilbo Bolseiro acomodou-se no banco de madeira e suspirou longamente. Fazia uma magnifica tarde de sol, embora nas duas últimas semanas houvesse descoberto que dias agradáveis eram regra naquele vale encantado, cheio de alegria e descanso.

Desde sua chegada com Gandalf e os anões à casa amiga de mestre Elrond, quase conseguira se esquecer de sua louca aventura e se alguém lhe dissesse que deveria morar ali para sempre, com anões e tudo, não teria se incomodado em absoluto.

Estava assim, quase adormecido depois de uma refeição bastante satisfatória, quando o farfalhar dos arbustos às suas costas lhe deu um sobressalto assustado. Ergueu-se ansioso e esquadrinhou o arbusto até que seus olhos se deparam com uma criança élfica, parcialmente oculta pelos galhos. Ela espiava Bilbo com bastante curiosidade. O hobbit sorriu.

"Oi amiguinho. Você está sozinho?"

O pequeno, que ainda observava o hobbit com desconfiança e espanto, como se não compreendesse que tipo de criatura pudesse ser Bilbo, saiu do meio das folhagens, aproximando-se com cautela.

Ele aparentava ter não mais que dez anos, com cabelos castanhos abundantes caindo por sobre os olhos inteligentes e curiosos.

"Que criatura é você?" Perguntou numa voz límpida, se elevando acima do hobbit. "Você é uma criança?"

Bilbo riu, dando um tapinha no banco ao seu lado, convidando-a para que se sentasse. Era a primeira vez que via uma criança desde que chegara ao vale.

"Não sou uma criança. Sou um hobbit adulto e me chamo Bilbo Bolseiro."

"O que é um hobbit? Nunca vi um por aqui! Por que você é menor do que eu? De onde você vem?" E sem parar para tomar fôlego, observou espantado os lanudos pés do hobbit. "Você tem pelos nos pés!"

Bilbo ficou um pouco atrapalhado com tantas perguntas, mas recompondo-se resolveu começar a responder logo, não sem antes retirar dos bolsos duas suculentas maçãs que trouxera consigo para o caso de sentir fome. Ofereceu uma ao elfinho, ficando bastante satisfeito quando ele a aceitou e começaram a comer juntos.

"Hobbits é como chamamos a nós mesmos..." Começou a responder entre bocados de maçã. "Somos pessoas pacíficas, respeitáveis e nada dadas a aventuras. Somos menores que os anões. O mais alto de nós nunca ultrapassando a metade da altura de uma pessoa grande, que é como nos referimos aos homens."

O elfinho ouvia tudo com grande atenção, entre seus próprios bocados.

"A maioria de nós mora em um lugar muito longe, chamado o Condado, na Vila dos Hobbits. Minha casa é uma aconchegante toca chamada Bolsão e fica localizada na Colina. Todos nós, hobbits adultos temos pelos nos pés, de solados grossos e não necessitamos usar sapatos de qualquer espécie."

Terminou esperando que tivesse satisfeito a curiosidade da criança.

"Nunca imaginei que houvesse criaturas como hobbits! Os escritos de meu pai não mencionam vocês..." A voz do elfinho exibia uma ligeira desaprovação, obviamente achando que aquilo era uma grande falha. "Mas estou feliz que tenha vindo até aqui, mestre hobbit, porque gostei de conhecer você e saber sobre os hobbits."

"Também apreciei conhecê-lo, entretanto eu me apresentei e você ainda não me disse o seu nome." Bilbo sorriu-lhe.

"Eu me chamo Estel e sou filho de mestre Elrond." O elfinho respondeu orgulhosamente, fazendo crescer o sorriso de Bilbo.

"Mestre Elrond deve ser um pai orgulhoso, já que possui um filho tão educado como você."

"Meu pai é um grande Senhor." Ele informou. "E me conta histórias de guerreiros e heróis de antigamente, ele mesmo tendo sido um grande guerreiro!"

"Não duvido que tenha sido. E além de tudo ele é mesmo muito gentil, pois acolheu a mim e meus amigos para que nos refizéssemos do cansaço de nossa viagem e também estamos buscando seus sábios conselhos para que possamos prosseguir."

"Você me disse que não são dados a aventuras e, no entanto parece estar fazendo uma viagem longa." Ele observou astutamente. "Estão indo para longe, não estão?"

Bilbo suspirou, lembrando-se que longe era o menor dos problemas quanto a essa viagem.

"Tem razão... estamos indo para bastante longe." Estremeceu intimamente. "Meus companheiros anões possuem um negócio inacabado no leste e necessitam de minhas habilidades de hobbit." Esperou que o elfinho não pedisse detalhes de tais habilidades. Ladroagem não era lá muito educativo.

"Então está junto com os anões? Eu não o tinha visto com eles ..." Examinou Bilbo com interesse renovado. "Anões raramente aparecem por aqui. Eles e os elfos não são muito amigos. Anões são muito gananciosos."

" Mas meus amigos são anões bastante decentes e, além disso, estamos atrás de um tesouro de família, que foi roubado de Thorin Escudo de Carvalho, um anão muito importante."

Bilbo se viu na obrigação de defender Thorin e Cia., mesmo que fosse a contragosto, contudo estava desprevenido pela admiração instantânea no rosto do elfinho.

"Deve ser muito emocionante sair por aí procurando tesouros escondidos em lugares distantes. Como eu gostaria de fazer o mesmo!"

"Emocionante, mas muito desconfortável." Tratou de informar. "E eu admito que prefiro continuar neste lugar tão agradável a ter que enfrentar os perigos que nos aguardam além das montanhas."

Apesar de ser absolutamente verdadeiro, sentiu-se envergonhado quando a admiração no rosto de Estel metamorfoseou-se em desapontamento, por isso tentou consertar o estrago.

"Mas os anões necessitam de minhas habilidades para quando encontrarmos o dragão e o tesouro que ele usurpou..."

Se não queria se sentir envergonhado conseguiu, pois o elfinho ofegou diante da menção do dragão e novamente olhou para o pequeno hobbit com o mesmo respeito que demonstraria perante um guerreiro de armadura. O que por sinal lhe deixou um tanto encabulado, já que estava longe de ser audacioso como pareceu. Muito pelo contrário.

"Vocês são as pessoas mais corajosas que já conheci. Um dragão de verdade! Eu mesmo gostaria de participar de uma aventura como essa, mas nunca me deixam sair do vale..."

"Porque você é apenas uma criança e há perigos enormes para além destas terras." Bilbo explicou seriamente. "Aqui no Vale você está seguro e protegido."

"Não sou mais uma criança." Aprumou o corpo, tentando parecer altivo, mas só conseguiu fazer Bilbo se divertir. "E estou aprendendo a manejar a espada e o arco e fecha."

Em seguida readquiriu o ar de curiosidade infantil, no rostinho bonito.

"De que perigos você fala? Além do dragão é claro."

"Bom..." Não pretendia assustá-lo, mas decidiu ser sincero. "Existem os terríveis trolls das montanhas, animais selvagens e além deles, segundo eu soube, uma quantidade enorme de orcs cruéis vagando pelos ermos."

"Orcs!" O elfinho fez uma careta de repugnância. "Não tenho medo deles, e logo serei um guerreiro tão destemido quanto Elladan e Elrohir e vou expulsar todas as criaturas más destas terras. Vou usar uma grande espada como meus irmãos e as pessoas farão canções sobre minhas aventuras."

"Não duvido." Divertiu-se Bilbo, bastante impressionado com tanta audácia. Procurou parecer pesaroso. "É mesmo uma pena que Gandalf não possa aceitar membros novos em nossa companhia..."

"Gandalf? O velho de vestes cinzentas?"

"Ele mesmo. Mas não é só um velho, e sim um grande mago. Muito renomado também!"

"Eu o vi conversando com meu pai..." Hesitou um pouco. "Ele me pareceu um tanto assustador ."

Bilbo riu.

"Temo que ele possa parecer assim às vezes. Mas possui um grande coração e tenho certeza que gostaria de conhecer um elfinho inteligente como você."

Estel riu subitamente, olhando para Bilbo com um arzinho matreiro.

"Eu ficarei honrado em conhecê-lo, mas não posso aceitar o elogio já que não é verdade."

Bilbo franziu o cenho, espantado.

"Você não se acha um elfinho inteligente?"

"Posso ser inteligente, mas não sou um elfinho."

O hobbit perdeu a compostura de vez, pois Estel ainda se parecia um elfinho em sua opinião.

"Mas você mora aqui com os elfos e se parece muito com um deles!"

"Sou o filho adotivo de mestre Elrond e vivo aqui com minha mãe." Ele contou, ainda divertido. "Após a morte de meu pai, que era um grande guerreiro dos homens, viemos morar aqui, para nos proteger dos orcs que o mataram..."

Bilbo achou que aquela era uma história bastante triste. Entretanto procurou sorrir ao menino.

"Oh, mas você me enganou direitinho!" Os dois riram da confusão do hobbit, que ainda achava que seu amiguinho possuía o grande talento de se parecer um elfo.

"Estel... Estel..." Quem chamava era uma jovem elfa, postada no final da clareira. Ela acenou e sorriu, enquanto aguardava.

"Aquela é Laurë. Deve ter vindo me buscar para minhas lições." Não pareceu muito disposto, mas ergueu-se assim mesmo, logo seguido por Bilbo.

"Não podemos negligenciar nossas obrigações, não é verdade? " O hobbit o consolou. "Mesmo quando estamos nos divertindo."

"Imagino que não..." O menino concordou relutante, antes de fazer uma reverência para Bilbo. "Foi uma tarde muito agradável mestre hobbit e lhe agradeço pela companhia."

Bilbo devolveu a reverência e contou ao menininho que estariam de partida na manhã seguinte, logo cedo.

"Acredito que todos nós desejaríamos continuar no Vale por mais tempo, mas já nos demoramos o máximo que seria sensato ." Não pôde impedir a melancolia que a ideia da partida já lhe causava.

"E eu vou pedir que minha mãe ajude-me a compor uma canção sobre sua aventura e prometo cantá-la para você quando retornar." Após essa promessa solene ao novo amigo, correu ligeiro pela clareira e assim que chegou próximo da elfa, se voltou e acenou numa última despedida, antes de os dois seguirem de mãos dados pelo caminho ensolarado à frente.

Bilbo tomou a direção de onde se encontravam os companheiros, achando que, se continuasse a conhecer pessoas encantadoras como Estel, sua aventura poderia ser bastante suportável afinal.

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Após a partida da companhia de Thorin no dia seguinte, no início do solstício de verão, Elrond chamou Estel a sua presença.

Após ouvir impaciente todas as recomendações que sua mãe lhe fez, e que invariavelmente fazia sobre como se comportar perante o senhor da casa, correu até o salão onde ele se encontrava.

Elrond estava de pé, diante de uma grande janela que se abria para o vale esmeralda de sua casa. Os raios do sol coloriam o salão através dos vitrais das janelas, dando ao senhor élfico um aspecto majestoso, como se a qualquer momento ele fosse fundir-se às cores e voltar para dentro da lenda.

Estel olhou para o pai adotivo com grave reverência.

"Adar. Eu recebi seu recado..."

Um sorriso adornou o rosto de Elrond, enquanto ele estendia as mãos.

"Estel, aproxime-se meu filho."

Foi o que bastou para que o menino se esquecesse de todas as palavras sobre bons modos e corresse pelo salão, jogando-se nos braços do pai.

Elrond o apertou num abraço carinhoso e depois o afastou para que pudesse examiná-lo. Já havia alguns dias que não o via, desde a chegada de suas visitas.

"Pelo visto você continua crescendo rumo à lua." Brincou ele. "Por onde tem andado que não tem vindo me ver?"

O menino fez um grande ar de abatimento.

"Eu tenho tantos estudos que passo todo o tempo entre livros e escritos."

Elrond riu do exagero de suas queixas e sentou-se numa cadeira para que pudesse ficar da altura dele.

"Sua mãe é uma mulher sábia e o conhecimento é tão importante quanto à habilidade com armas."

"Mas quase não me sobra tempo para aprender a manejar a espada." Teimou ele, com um muxoxo infeliz.

"Eu tenho certeza que aprenderá tudo no tempo devido meu filho, inclusive a dominar a impaciência." Elrond ralhou suavemente.

Estel concordou a contragosto e sentou-se aos pés do pai, que sorriu indulgente para a criança que amava como se fosse uma das suas.

"Soube que travou conhecimento com um de meus hospedes."

O rostinho iluminou-se ao lembrar o novo amigo.

"Um hobbit! Uma criatura das mais interessantes e corajosas. E ele vai enfrentar o dragão para recuperar o tesouro dos anões! Por que nunca se houve falar deles?"

"Hobbits são criaturas pacatas, e os pacíficos raramente ganham lendas. Eles preferem viver tranquilos em sua terra natal, pouco se aventurando fora dela para que se tornem renomados."

"Ele me disse, e mesmo assim saiu em sua própria aventura!" Estel insistiu entusiasmado. "E vão percorrer um longo caminho até lá!"

"E isso lhe causa tamanha admiração? Gostaria de viver aventuras como a dele?"

"Sim e ser renomado e saudado em muitas canções." O menino afirmou prontamente.

"Isto está certo para uma criança com a cabeça povoada por sonhos e cheia de energia, mas quando for mais velho aprenderá a apreciar o sabor da paz e a quietude de uma tarde de sol."

"Mas o senhor também viveu aventuras e elas são cantadas por todos no Salão do Fogo!" Não conseguia compreender como ficar sentado ao sol, pudesse ser prazeroso.

Elrond suspirou, mal notando a leve petulância na voz do menino. Havia coisas que só o tempo podia ensinar.

"De qualquer maneira eu tenho boas novas para você." Isso conseguiu a atenção do menino, que aguardou ansioso. "Recebemos da patrulha das bordas a notícia de que seus irmãos regressaram."

"Regressaram?" Estel gritou entusiasmado. "E quando eles chegam aqui?"

Elrond riu, acariciando os cabelos macios do filho.

"Estão a cavalo, então você não terá que esperar demais..."

Como se em obediência às palavras de elfo, soou uma batida na porta ornamentada, que se abriu para a entrada dos filhos gêmeos.

"Bem vindos meus filhos, alegra-me ver que retornam bem de sua jornada." O lorde elfo saudou. Havia evidente satisfação em sua voz, visto que os filhos estavam ausentes já há algum tempo.

Cada um abraçou o pai, antes de se voltarem para o menino ao lado dele.

"Oi irmãozinho." Disse Elrohir sorrindo, quando a criança o abraçou com entusiasmo.

"Elrohir! Que bom que esteja de volta." Disse ele, com a voz abafada pela túnica do irmão. " E muito enfadonho por aqui, sem vocês!"

Rindo, Elladan pousou as mãos em seus ombros, também trazendo o menino para si num abraço caloroso.

"Bom saber que tem minha presença e a de Elrohir em tão alta conta." O examinou com carinho. "Se continuar a crescer assim, irmãozinho, em breve estará acompanhando nossa patrulha..."

Estel suspirou deliciado às palavras do gêmeo mais velho e estaria pronto para acompanhá-los naquele instante se assim o houvessem dito. Mas eles desviaram a atenção novamente ao pai, a quem queriam reportar sobre sua recente viagem, então ficou quietinho, escutando com assombro a narrativa dos dois.

Após ouvir todas as notícias que o filhos tinham para dar, Elrond contou da visita de Gandalf e de suas dúvidas sobre o necromante.

"O Ermo tem-se enchido de criaturas cruéis, atacando os viajantes e moradores das aldeias." Elladan informou. "Criaturas que se multiplicaram desde que o necromante surgiu..."

"Alguma coisa tem que ser feita quanto à presença dele adar." Elrohir urgiu. "E deve ser rápido, antes que seu poder aumente!"

"Gandalf e eu decidimos reunir o conselho. Estamos decididos a atacar sua fortaleza." Neste momento Elrond se lembrou da presença do menino, que ouvia tudo com grande atenção. E decidiu que era um assunto sério demais, para tais pequenos ouvidos.

"Estel, é tempo de voltar para seus estudos. Não deve deixar seu tutor esperando."

Ainda tentou protestar, mas ante a seriedade no semblante do pai, soube que não haveria como convencê-lo. Infeliz, dirigiu-se resignado à porta.

"Estel espere!" Elrohir o chamou de volta. "Estava me esquecendo. Trouxe algo para você... Achei que iria gostar." O elfo jovem sorria, lhe estendendo um embrulho de tecido marrom.

O menino desfez rapidamente o pacote e descobriu um pequeno e afiado punhal, com o cabo ricamente trabalhado em pedras preciosas, com suas gemas verdes refletindo loucamente a luz do sol. Era tão esplêndido que Estel achou que deveria ter pertencido a um rei.

"Oh, Elrohir é magnífico. Você o retirou de algum tesouro perdido?"

"A cabeça dele está povoada por tesouros e feitos heroicos." Disse Elrond examinando o punhal. "Mas é realmente uma peça magnífica."

"Elrohir não precisou saquear nenhum tesouro alheio para consegui-lo irmãozinho, embora tenha custado algum esforço." Disse Elladan rindo. "Ele pertenceu mesmo a um grande rei de outrora, mas agora é seu."

"E você vai me contar como o conseguiu Elrohir?" O menino perguntou excitado.

"Claro que sim irmãozinho." Prometeu o gêmeo caçula, embrulhando o punhal novamente e passando o braço pelos ombros do menino, para conduzi-lo em direção à porta. "Vou lhe contar essa e muitas outras histórias e você vai me mostrar como estão suas habilidades com a espada." Abriu a porta. "Agora deve mostrar o presente à sua naneth."

"Eu irei imediatamente." Disse o menino, virando-se e correndo tão depressa que num instante havia sumido por entre as colunas do salão, provocando uma risada divertida em Elrohir.

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Estel correu como uma flecha pelos caminhos e passagens que conduziam aos aposentos da mãe, causando certa confusão, esbarrando e derrubando coisas. Mas apesar disso, sua passagem tumultuosa causava mais risos que reprimendas.

Só parou para tomar fôlego enquanto abria a porta e chamava por ela, que estava sentada próxima ao fogo da lareira, segurando um bordado que deixou de lado após a entrada intempestiva do filho.

Era tão bela quanto uma elfa e muito jovem também. Estava com os longos cabelos castanhos, parecidos com os do filho, presos numa trança que lhe descia pelas costas, enroscando-se nas dobras da túnica.

"Nana... Nana... Você não sabe o que aconteceu!" Disse ele, arfando um pouco.

"E não saberei se não respirar fundo e começar a me dizer." Olhou ao filho amorosamente, sentindo uma pontada de nostalgia ao perceber como ele lembrava Arathorn, sempre tão impetuoso. Estendeu as mãos para ele, fazendo com que se sentasse ao seu lado e retirou o cabelo que lhe caia nos olhos, devido à agitação da corrida.

"Estou vendo que a visita a lorde Elrond foi muito agradável..."

"Naneth, eles voltaram! Elladan e Elrohir quero dizer!"

"Oh, eis o motivo de tanta excitação." Ficou feliz, pois também gostava dos gêmeos, que nunca conseguia distinguir um do outro, embora Estel pudesse fazê-lo sem qualquer dificuldade. "Provavelmente todos devem estar muito contentes com a chegada deles. E imagino que isto será motivo para mais festejos, embora nem sempre motivos sejam necessários."

"Eles sempre tem muitas aventuras para contar." O filho afirmou contente.

"E veio me pedir para ser liberado dos estudos para que possa ficar na companhia deles." Ela adivinhou.

"Eu posso?" Ele sorriu entusiasmado.

"Estel, certamente os dois tem afazeres mais importantes..."

"Mas eles vão contar-me suas aventuras e me ensinar a treinar minhas habilidades com a espada. E veja, Elrohir me trouxe um presente."

Mostrou o precioso punhal entalhado, que ela examinou admirada.

"Se eles não se importam, não vejo como recusar." Concordou por fim. "Entretanto não deve ficar perseguindo os dois por todo lado." Mesmo enquanto falava sabia serem inúteis suas recomendações. O filho adorava os gêmeos, a quem considerava irmãos, e há muito se resignara ao fato de que logo estaria saindo em companhia deles pela Terra-média. E como poderia ela, lutar contra o chamado do destino dele?

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Continua...

Notas:

Rivendell: Um dos últimos redutos élficos na Terra Média, localizado em um vale, por onde corre o rio Bruinen, é um local de paz e beleza, onde muitos conhecimentos e histórias dos elfos e dos homens foram preservados. Situa-se a norte da Terra Média, próximo ao norte das Montanhas Nebulosas.

Necromante: Uma das formas assumidas em segredo por Sauron, enquanto mantinha sua procura pelo anel governante.

Arathorn: Foi um dos líderes dos Dúnedain, os guardiões do norte, sucedendo seu pai Arador. Casou-se com Gilraen, a bela. Teve um único filho, Aragorn. Morreu em 2933 da Terceira Era, aos sessenta anos, pouco depois de ter levado uma flechada no olho em uma batalha contra os orcs.