Na Contra Mão

Capítulo 1: O acidente

Jensen Ackles suspirou profundamente e se sentou na poltrona da sala de seu apartamento, chateado. Aquela estava sendo mais uma briga, mais uma discussão, e isso já o estava deixando profundamente cansado e confuso em relação ao seu relacionamento com a moça que estava à frente dele. Ela gesticulava furiosamente e falava num tom de voz alto, e ele lutava para manter a calma e terminar tudo ali mesmo.

- Loren… - ele chamou num tom baixo, tentando manter a calma. – Loren, por favor…

- Ah, é claro, Jensen, claro, pra você tudo é fácil, e simples! Toda vez que vamos a essas malditas festas tenho que dividir você com todo mundo, no começo ainda deu pra agüentar, mas agora!!!

- Faz parte do meu trabalho, Loren, e você sabe…

- É, claro, faz parte do seu trabalho também ficar se esfregando com qualquer uma que aparece na sua frente!

Aquilo já era demais! Agora ela o estava acusando de tê-la traído! E isso era uma coisa que ele não faria, por mais que ela estivesse deixando sua vida tão confusa.

- Loren, já chega, está bem? Acho melhor você ir pra casa, sabe, eu tenho que gravar amanha e preciso mesmo dormir. Talvez depois a gente possa voltar a esse assunto depois, tudo bem? Agora por favor… vai pra casa…

- Agora é assim?! Você me expulsa quando quer?! A gente ia passar a noite juntos caso não se lembre! – Ela falou furiosa.

- Não tem mais clima… - Jensen disse baixo. – Pode ir por favor? Eu não quero brigar com você.

Ela pegou a bolsa e sentiu as lágrimas descerem pelo rosto enquanto ele ficava lá parado, esperando que saísse. Outra noite estragada.

- Eu ligo pra você depois. – ele assegurou. – Boa noite.

Assim que Loren foi embora sem se despedir, ele se jogou de volta na poltrona e passou as mãos pelo rosto, imaginando que devia estar vivendo um enorme pesadelo ou algo assim: quando conheceu Loren, há uns três meses, o relacionamento deles era um mar de rosas. Mas depois que começaram as crises de ciúmes, Jensen não sabia se conseguiria manter aquele namoro por muito tempo por mais que gostasse dela. Estava se tornando pesado, parecia que ele estava remando sozinho contra a maré, e isso estava começando a prejudicar sua vida profissional, suas atuações no seriado, e até mesmo o relacionamento com as outras pessoas. Jared vivia dizendo que ele estava azedo como limão nas últimas semanas. E era verdade.

Resolveu, mais uma vez, dar uma chance. Esperava ainda que ela pudesse compreender e aceitar as coisas que cercavam seu trabalho.

Cansado, Jensen achou que era hora de tomar uma ducha e cair na cama. Devia estar no set bem cedo amanha, e já havia combinado também de tomar café da manhã com Jared antes do trabalho.

****************

- Pela sua cara, não foi uma noite de amor muito proveitosa não é mesmo? – Jared riu assim que avistou o amigo se aproximando dele. Estavam indo tomar o café da manhã, eram oito horas.

- Preciso mesmo responder? – Jensen o alcançou e foi acompanhando o mais novo com passos vagarosos.

- Por que simplesmente não termina com ela, Jen? Caramba, se te faz tão mal assim…

- Talvez ainda dê pra consertar, Jay. Além do mais, se eu terminar com ela assim vai pensar que eu só quis usá-la ou sei lá o que. Ela está ate achando que eu estou traindo ela…

- E você não está. – Jared pensou melhor e encarou o amigo. – Ou está?

- Claro que não. – Jensen revirou os olhos e abriu a porta, deixando que Jared entrasse primeiro na lanchonete. – Mas ela bem que merecia por estar falando esse tipo de coisa.

- Acho que essa garota já passou todos os limites em relação a você, meu amigo! Gosta dela tanto assim é?

Jensen deu de ombros. Loren era legal quando queria ser, mas definitivamente não era o amor da sua vida. Mas a grande verdade, era que não queria ficar sozinho, queria ter alguém pra dividir sua vida… era uma coisa que o estava incomodando a algum tempo.

- Se acha que vale a pena continuar, vai em frente! Sabe que eu te apoio! Mas acho que está te fazendo mal… quando você briga com ela sempre fica tão mal humorado com os outros, e isso não é uma coisa legal. Deixa uma impressão ruim.

- Eu sei… acho que devo desculpas a você também, pela semana passada.

- Que nada! – Jared lhe lançou um sorriso, indo ate o balcão para pedir. – Está tudo bem. Mas já que tocou no assunto e se sente arrependido, eu deixo você pagar pelo meu café!

Jensen sorriu e pensou que era muito grato por ter um amigo como Jared, que sempre estava ali disposto a lhe dar um bom conselho. Era uma pessoa e tanto aquele cara… que bom que estava em seu caminho, era realmente como um irmão.

Quando Jared voltou para a mesa com os cafés, foi o primeiro a puxar a conversa:

- Mas me diz aí, Jen, já achou um novo assistente pra você?

- Como? Ah, sim… bom, eu acho que sim… na verdade pedi pra um colega fazer isso por mim. Não estava com muita cabeça pra isso.

- Depois não vai reclamar que não gostou…

- Ah, que nada. Eu acho que o cara deve começar hoje ou amanha, ainda não sei. – Jensen deu de ombros. – Espero que seja eficiente pelo menos, de resto…

- Vamos ver!

O café foi tranqüilo, e Jensen achava que teria um dia normal, pelo menos assim esperava. Havia decidido não ligar para Loren naquele dia, pois queria que ela pensasse melhor sobre o que havia acontecido nos últimos dias.

Sendo assim, seu dia de gravações foi tranqüilo e bem proveitoso, sendo que conseguiram até mesmo adiantar algumas cenas, o que deixaria o próximo dia de trabalho um pouco mais curto.

Por fim, deu uma carona para Jared em seu carro, e o deixou em seu apartamento pouco antes das sete da noite. Depois, seguiu dirigindo até o seu próprio, que era algumas quadras mais longe.

Dobrou uma esquina com cuidado, e continuou seguindo tranquilamente. Resolveu ligar o rádio. Tirou os olhos da pista por um só segundo e foi o bastante… quando virou-se novamente para olhar a rua, era tarde demais para desviar do carro que vinha de encontro ao seu, na direção contrária.

**************

- Ah meu Deus!!! – foi tudo que a moça conseguiu dizer antes de sentir a forte pancada do seu carro se chocando com o outro que vinha na direção oposta.

Por um instante, ela não enxergou muita coisa, e agradeceu a Deus por estar com o cinto de segurança ou provavelmente teria se machucado. Estava saindo um bocado de fumaça do motor do carro da frente, e ela não conseguia ver nada com aquilo tudo. Depois de se recompor por alguns breves minutos, ela decidiu sair do carro e ver se estava tudo bem com a outra pessoa.

Quando ela saiu do carro, notou que algumas pessoas curiosas já estavam observando do outro lado da rua, para ver se havia acontecido algo de muito grave. Ela caminhou cautelosa, pensando também em quanto azar estava tendo: logo no seu primeiro dia em Vancouver, ela já havia se metido em um acidente! Devia ter visto que aquela rua era contramão.

Ao se aproximar da porta do motorista, teve um sobressalto ao ver que o homem estava desacordado, com a cabeça caída sobre o volante. Ele também tinha um corte perto da sobrancelha, que estava sangrando um bocado, e ela começou a se preocupar.

- Ei… - ela o chamou, cuidadosa, encostando de leve em seu ombro. – Ei, senhor…

Não houve resposta. Ela estava começando a ficar nervosa com aquele sangue todo que saía do corte na cabeça dele.

- Pelo amor de Deus, moço, acorda! – ela chamou mais alto, sacudindo-o com um pouco mais de força. Estava quase ligando para os bombeiros ou algo assim.

Jensen abriu os olhos devagar, com a visão turva. Ela agradeceu a Deus por ele estar vivo.

- Graças a Deus, nossa… você está bem?

Jensen olhou para ela sem enxergar direito. Mas assim que se lembrou do que havia acontecido, do carro, do acidente… foi tratando de se levantar, mesmo sem conseguir se sustentar direito. Estava muito tonto.

- Vai com calma aí, você está bem mesmo?! – A moça perguntou, segurando o braço dele ao ver que ele ia tombar para o lado.

- Quem diabos bateu… no meu carro?!

- Ah… me desculpe… eu não vi que era contramão…

Jensen arregalou os olhos e caminhou ate a frente do seu carro, vendo que estava bem avariado. Passou a mão pelo rosto e só então percebeu que estava sangrando.

- Droga… - ele disse, cambaleando afim de virar de frente para a moça. – Você por acaso é MALUCA?!

- Desculpe, eu não sabia que…

- Pro inferno! – ele berrou, tocando sua cabeça onde estava machucado. Estava sentindo uma dor horrível. – Merda…

- Você precisa de um médico, ok, olha, eu vou levar você pra um hospital.

- Podia me fazer um favor e sumir da minha frente… droga… meu carro!

Ela ficou observando o acesso de raiva que ele estava tendo, esperando que uma hora ele simplesmente parasse de falar e visse que realmente precisava de um médico. Enquanto ele falava, o sangue sujava seu rosto e escorria pela camisa dele. A moça já estava tendo calafrios.

Quando ela viu os olhos dele se fecharem enquanto ele ainda falava, percebeu que o cara não estava mesmo bem. Ele caiu no chão de uma vez, finalmente parando de reclamar.

****************

Ela ainda estava na sala de espera do hospital, aguardando por alguma noticia. Ficou preocupada depois de ver tanto sangue assim sair do rapaz, e resolveu ficar esperando. Afinal, ainda devia a ele o conserto do carro, afinal, a culpa do acidente havia sido toda dela.

- Muito bem, Srta. Stewart… - O médico se aproximou dela com um sorriso. – Ele já está ok. Teve que levar alguns pontos, mas está bem.

- Ah, que bom. – ela sorriu aliviada. – Eu posso…

- Se pode vê-lo? Claro, vamos, por aqui…

Ela acompanhou o médico até o quarto onde Jensen estava e viu que ele ainda parecia nervoso, mas agora estava acordado. Ele olhava para o chão com a cara fechada, e tocava seu machucado com freqüência, como se estivesse indicando que sentia dor. O doutor os deixou a sós.

- Sente-se melhor? – ela perguntou cautelosa.

- Você ainda está aqui? – ele perguntou de volta.

- Sou Samantha Stewart… - ela se apresentou, ignorando a hostilidade dele. – E você deve ser Jensen Ackles, o médico me disse. Eu sinto muito pelo seu carro, e eu queria dizer que vou providencia tudo, foi culpa minha.

- Claro que foi.

Jensen sabia que estava sendo rude com a moça, mas também, não se importava muito. A culpa havia sido dela, e agora, ali estava ele com um baita machucado e uma dor de cabeça enorme.

- Bom, eu… acho que agora que você está melhor, vou indo. – ela suspirou e deu um pequeno sorriso. Estava fazendo tudo para ser simpática, mas aquele sujeito já a estava cansando. – Aqui tem meu telefone, eu pedi pra mandarem seu carro pra oficina… mas pode me ligar se tiver alguma dúvida. Espero que fique bem.

Jensen não respondeu. Apenas colocou o casaco e esperou ela ir embora antes de se levantar. Ainda estava um pouco tonto, mas não era nada demais. Depois de ter tomado aquele remédio pra dor, ate que estava um pouco melhor.

***************

- Puxa vida, Jen, que droga foi essa?! – Jared arregalou os olhos ao ver o amigo chegar no dia seguinte ao set de filmagem com aquele curativo. Estava um pouco vermelho ao redor do machucado.

- Uma maluca que fez o favor de entrar na contramão e bater no meu carro.

- E ai, você está bem? Teve que levar muitos pontos?

- Um bocado… estou sentindo um pouco de dor ainda, mas ta tudo bem.

- Puxa, você devia tirar o dia de folga hoje. – Jared falou pensativo. – Tem que se recuperar.

- Eu estou bem, cara… sério.

Jared deu de ombros e disse:

- Bem, parece que seu novo assistente chegou… - e apontou para uma porta. – Na verdade, sua "nova" assistente. É uma tremenda gata…

Jensen acompanhou com os olhos a direção que o mais novo havia apontado, e encontrou quem menos esperava, e quem menos queria que estivesse ali. A moça encontrou os olhos dele e ele pode notar uma ponta de desgosto nos olhos dela.

- Ah, droga… - foi tudo o que Jensen pode falar ao ver ela se aproximando.

- Oi. – Samantha cumprimentou com um sorriso amarelo. – Bom ver que está mais bem disposto hoje. Eu já estou com seus compromissos anotados aqui… - ela balançou sua agenda em frente a ele. – Bom, pelo menos os de hoje. Tem certeza de que não quer desmarcar nada? Talvez ainda não esteja bem o suficiente pra…

- Se eu for desmarcar alguma coisa eu aviso você. – ele disse seco, o que fez Jared lhe cutucar, indicando que não estava sendo educado.

- Ok. – ela disse, fechando os olhos brevemente. Seria um trabalho fatigante se ele continuasse com aquele péssimo humor pra cima dela.

- Vou tomar um café. Vem, Jared!

E Jensen saiu puxando o mais novo, que no caminho virou para trás e fez um gesto para que ela não se importasse com a atitude do outro. Samantha sorriu para ele, assentindo com a cabeça.

E suspirou. Que droga de trabalho foi arranjar!

Continua…