Harry Potter e os demais pertencem a J. K. Rowling.
N/I: Essa fic, tem apenas mais um capítulo e está pronto, mas eu cinseramente gostaria de saber as opiniões de vocês antes de concluí-la. Então por favor, me deixe saber sua opinião.
A chuva cai lá fora e eu ouço cada gota individualmente, o barulho é insistente, mas não é isso que me tira o sono.
Meus vizinhos novamente discutem, seus gritos são completamente audíveis me fazendo sentir inveja da sensação de liberar uma raiva reprimida, mas novamente não é o que me tira o sono.
O cachorro late insistente, clamando por liberdade, acorrentado, e eu me sinto um igual, mas ainda não é o que me tira o sono...
Não! É ele quem causa minha tristeza, quem me traz insônia, quem me faz ansiar pela morte, ou, talvez, por ser reconhecida, amada, desejada.
Muitos dizem que uma mulher não deve viver sua vida dependendo da admiração de alguém, mas provavelmente nenhuma delas, à dois anos vive com o homem que ama, mas que sequer pode tocar, nenhuma delas sentiu o amargo sabor da rejeição.
Ouço o barulho da porta se abrindo e me encolho, ela se fecha e os passos se tornam mais audíveis, solto um suspiro e fecho os olhos, finjo estar dormindo, e é assim todos os dias. Ele abre a porta do quarto, seu perfume inunda meu olfato fazendo com que seja ainda mais doloroso continuar fingindo, quando ele caminha em direção ao banheiro já sei exatamente o que vai fazer, tira o paletó e pendura, desabotoa as mangas, depois a camisa e a tira jogando ao chão, desafivela e tira o cinto, posso até ouvir o barulho do zíper se abrindo, e a calça segue o mesmo percurso da camisa. Sem ao menos fechar a porta do banheiro ele liga a ducha, cinco minutos depois, desliga, pega a toalha, se seca e coloca uma cueca -a maioria preta- borrifa um pouco de perfume no pescoço e se deita ao meu lado, fazendo o possível para não encostar um dedo sequer em mim. E aquilo me doí como lâminas afiadas. A dois anos eu vivo assim. A dois anos eu sinto o cheiro do homem que amo e sequer posso suspirar, vejo seu corpo e não posso tocar, a dois anos tudo que recebo do meu marido é a indiferença, a dolorosa e insana face da indiferença, não há raiva, ou amizade, ou amor, nem mesmo o doloroso ódio, eu simplesmente não desperto nada em meu marido além do desprezo.
Cresci em uma família rica, tanto em dinheiro quanto em pessoas, sou a caçula de sete filhos, em uma família onde tudo o que importa é a posição social. Meu pai sempre foi um grande empresário no ramo das bebidas, conhecido como o Rei do Fogo, um trocadilho pelos cabelos ruivos e a bebida mais vendida 'Firewhisky', sendo assim, eu como filha única acabei sendo, infelizmente, nomeada a Princesa de Fogo -eu odiava aquele apelido- tanto pelos motivos acima quanto pelo meu temperamento hoje findado, por causa dele. Eu nunca me imaginei casada, sempre quis ser livre, conhecer o mundo junto com meu irmão Ronald, sua namorada Hermione e seu melhor amigo Harry, mas aos dezessete anos descobri que as vezes você simplesmente não tem escolhas sobre sua própria vida e destino, as vezes você é apenas uma moeda de troca, infelizmente às vezes você precisa permanecer casada com alguém que te despreza, apenas para livrar sua família, seu nome, da ruína.
Naquele ano meu irmão mais velho Bill adoeceu, seriamente, e depois de esgotarmos todos nossos recursos financeiros sem encontrar resposta alguma minha mãe se rendeu a depressão, meses mais tarde quando Bill não resistiu e faleceu, mamãe começou a viver uma semi vida, e foi aí que nos encontramos a beira da ruína, sem qualquer recurso financeiro, meu pai se rendeu a única saída de nos livrar daquele fracasso, me fazendo casar com um Malfoy, Draco Malfoy. Eles eram uma das famílias mais ricas de Londres, se não da Inglaterra, e já que ele em breve seria o dono de todo o Império, precisava de uma esposa puro-sangue, nascida na 'realeza' e, apesar da iminente falência, eu me encaixava nesses requisitos. No dia do meu noivado eu era a mulher mais infeliz do mundo, todos vieram me prestigiar, todos com um enorme sorriso no rosto, muitas mulheres me invejando por estar me casando com um homem tão lindo, rico e inteligente, besteira! Só estavam assim porque não eram elas que iam se submeter a uma vida inteira com alguém desconhecido, alguém que não amavam.
Eu me lembro exatamente daquele dia, eu estava reclusa em um canto, conversando com Harry, meu melhor amigo, quando ele chegou, acompanhado de seus pais, foi como se o mundo parasse de girar, eu me senti sugada por aqueles olhos cinzas inexpressivos, era como se eles pudessem ler a minha alma. Ele sabia quem era eu, óbvio, ele sempre sabia de tudo, e veio diretamente até mim, olhando apenas nos meus olhos, roubando todo o ar que havia ao redor, eu me senti repentinamente sufocada, quando ele enfim chegou até mim, pegou minha mão e a levou nos lábios, enviando uma descarga elétrica até a ponta dos meus pés, é desnecessário dizer o quanto minhas mãos suavam naquele momento, eu perdi completamente a fala, e eu percebi, naquele momento que minha sanidade estava para sempre perdida. Eu estava inegavelmente atraída por Draco Malfoy. E eu sentia que aquilo seria meu fim.
Durante todo o mês antes do casamento eu não o vi, ele havia voltado para o país onde morava anteriormente para resolver as pendências da transferência da sede da empresa deles para Londres, mas nem sua ausência foi capaz de afastar aquela sensação de dentro de mim, os olhos cinzas me atormentavam todos os dias durante o meu sono, nem mesmo as poções Sono sem Sonho me ajudaram a limpar aqueles olhos cinzas da minha mente, até mesmo retirei a memoria para que não mais me atormentasse, mas ela já estava impregnada na minha pele, como uma maldição. Ele retornou a Londres apenas dois dias antes do casamento, e meu pai nos convenceu a passar aquele primeiro dia do seu regresso juntos, nos conhecendo, e foi só o que bastou pra que eu me apaixonasse, as suas palavras doces, promessas, olhares e um beijo, um único maldito beijo, e eu o entreguei meu coração, apenas para que ele o esmagasse em seus dedos três dias depois. As promessas não foram cumpridas, as palavras doces se tornaram amargas, e o beijo nunca mais se repetiu, eu nunca fui tocada pelo meu marido, e eu nem sei o que fiz pra que isso acontecesse.
Era uma quarta feira, eu estava em casa e ele chegou por volta de sete horas, um pouco cedo para ele, permaneci sentada na sala, lendo, ouvi seus passos cada vez mais próximos, e imaginei que ele iria passar direto como sempre fazia, mas quando estava a apenas um metro de distância ele olhou na minha direção, mas não pra mim, e pronunciou uma única frase antes de continuar o seu caminho até o quarto.
-Temos um Baile de aniversário da empresa para ir as 8 horas no sábado Weasley, não se atrase.
Weasley, mesmo depois de dois anos ele não conseguia se lembrar que eu era uma Malfoy agora, ele simplesmente se recusava a me aceitar como sua mulher, e eu já havia perdido a conta de quantas vezes ele chegava em casa com o perfume de outra mulher, mesmo que sempre fosse um perfume extremamente familiar, ou com uma mancha de batom no colarinho, e todas as malditas vezes eu me sentia insuficiente para ele, era como se eu não fosse digna do seu desejo, sua atenção.
Na sexta-feira fui até o shopping comprar um vestido para ir ao tal baile, esses eventos sociais e os encontros com nossas famílias eram os únicos momentos em que ele agia como se realmente se importasse comigo, colocava as mãos em minha cintura em um falso carinho, dirigia sorrisos e me chamava de Gi, e apesar de parecer contraditório eram exatamente nesses momentos que eu sentia maior vontade de chorar, todo aquele fingimento acabava comigo, mas ele era um ótimo ator, ninguém nunca suspeitou de nosso casamento fracassado, todos nos viam como um casal de recém casados apaixonados, e isso me dava vontade de vomitar às vezes. Escolhi um vestido vermelho estilo sereia, tomara que caia, uma sandália preta de salto fino, e fui pra casa, eu não tinha ânimo algum para ir naquele evento, mas fazia parte das obrigações Malfoy, e mesmo que meu marido não me considerasse uma, era o que eu realmente era.
O sábado chegou e já era hora de me arrumar, quando tínhamos que sair no mesmo horário eles sempre se arrumavam em quartos separados, eu me arrumei em um tempo recorde, mas ainda assim tentei ficar o mais linda possível, queria conseguir chamar a atenção do meu marido, como eu era idiota por ainda tentar. Já estava completamente pronta esperando Draco na garagem, mas quando apareceu ele não esboçou reação alguma, nem surpresa, nem espanto, simplesmente nada, mesmo que eu tenho escolhido o melhor vestido, me maquiado, era como se ele estivesse vendo uma estátua de gesso, e aquilo já fez com que minha noite começasse mal. Fomos em silêncio como sempre, parecia que mal suportávamos a presença um do outro, chegando no salão em que o Baile aconteceria nos sentamos em uma mesa no centro, afinal ele era o dono da empresa, ele sequer tinha ficado sentado por cinco minutos e uma mulher se ofereceu para dançar com ele, e ele aceitou obviamente, eu não esperava nada diferente, mas me doía que ele fizesse aquilo na minha frente, como se nem se importasse. Os observei dançando por um tempo com o coração corroendo de ciúmes, mas eu não ia me abalar, ao menos era o que eu pensava, mas quando vi Draco escorregar uma de suas mãos até a bunda da loira aguada que estava com ele eu não me controlei, levantei e fui em direção a saída sem ao menos olhar pra trás, não notando que alguém me seguia, quando já estava quase na rua ouvi uma voz familiar me chamando, era Harry, meu melhor amigo, o único que sabia de todas minhas dores e tristezas, não me segurei e pulei em seus braços chorando, aquela vida estava me matando, não ter o amor do Draco, e ainda me deparar a todo momento com o desprezo dele era pior que a morte pra mim.
-Eu não aguento mais Harry! Você viu? Ele faz na minha frente! Ele não me ama, nunca amou! Eu não quero mais sofrer por ele, o que eu faço Harry? Me ajuda! -Comecei a soluçar desesperadamente, Harry que já sabia de todas as minhas angústias me abraçou instantaneamente.
-Calma Gi, vamos pra minha casa, vou chamar Luna e você vem com a gente, você sabe o quanto ela gosta de você.
-Eu não quero atrapalhar sua noite com sua noiva Harry, só porque eu não tenho uma vida sexual ativa não significa que você não pode ter também! -Falei sarcasticamente, mas me doía confessar que meu marido nunca havia tocado em mim, me desejado, que aparentemente eu não era uma mulher pra ele.
-Não Gi, você não vai atrapalhar nada, um feitiço silenciador resolve isso, você sabe, e sem contar que teremos outras noites, não vou te deixar sozinha nesse estado. -Eu estava quase me convencendo a ir com Harry quando repentinamente ele é arrancado dos meus braços, foi tão inesperado que eu só vi quando ele se segurou no suposto agressor para não cair.
-Mas que porra...
-Que porra? Sério mesmo? Na festa da minha empresa? Não podia esperar não? -Draco havia retirado Harry do meu abraço e estava gritando coisas sem sentido para nós, eu não fazia ideia do que ele estava falando, mas eu nunca o vira mais furioso.
-Draco eu não estou te entendendo, do que você está falando? Eu...
-Cala a porcaria da boca Harry, se você quer abandonar sua mulher em uma festa pra ir atrás de outra o problema é seu, mas não se aproxime mais da minha, e você -ele virou pra mim e seus olhos estavam soltando faíscas, eu estava amedrontada por ele- vem pra casa comigo, essa merda acaba agora. -Eu nem percebi o que ele falava, só notei quando ele me puxou pela cintura e aparatou dentro da sala da nossa casa. -Você enlouqueceu Weasley? De todos os lugares, você escolhe se encontrar com seu amante justo na minha festa? Não basta zombar na minha cara por esses dois anos? Tinha que me humilhar na minha festa?
-Ele não é meu amante pelo amor de Deus você está enlouquecendo? Eu não sei de onde você tirou isso mas...
-Para de mentir Weasley! Eu vi porra eu vi! Vai dizer que meus olhos me enganaram também? -Ele viu? Como? Isso nunca aconteceu! Draco estava desorientado mas eu estava muito mais, não sabia do que ele estava falando mas não ia deixar nada passar, aqueles dois anos sendo traída sairiam da minha mente sem hesitar, era como ele mesmo disse, aquela merda de vida e a porcaria do nosso casamento acabaria agora.
-É Malfoy, Draco! Meu nome é Ginevra Malfoy! E eu não faço ideia de onde você tirou que Harry é meu amante mas isso não é verdade, e mesmo que fosse que direito você pensa que tem? Você acha que eu não notei as marcas de batom? Os perfumes diferentes? Você me traiu durante todo nosso casamento, então que direito você pensa ter ao exigir fidelidade? -Draco me encarou assustado, provavelmente achando que eu não havia notado nenhuma das vezes, sua boca se abria e fechava repetidas vezes, mas não saía som algum. -Diz Draco! Que direito? Fala! Fala pra mim!
-SEMPRE FOI VOCÊ PORRA! TODAS ELAS ERAM VOCÊ! -Ele gritou me assustando, portanto não entendi palavra alguma do que ele havia dito. -Sempre foi você, você perde muitos cabelos durante o sono sabia?
