7VERSE : VIDA 1
EPILOGO VIDA 1: RASGANDO A FANTASIA
CAPÍTULO 1
ACORDANDO DE UM PESADELO
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SINOPSE:
Se você é daqueles que começa um livro pelo capítulo final, esse é o ponto certo para começar a acompanhar essa fanfiction. CONTINUAÇÃO DE SETE VIDAS-VIDA 1 (ver www fanfiction net/s/9710922/1/SETE-VIDAS-VIDA-1). AVISO: Dean cross-dressing.
ANTES
Em um universo alternativo, Dean é um heterossexual que usa calcinha e pinta as unhas dos pés de vermelho. O Trickster transporta a alma do Dean machão que conhecemos para essa realidade e sua alma toma posse do corpo do Dean cross-dressing daquela realidade (Leia na FIC SETE VIDAS - VIDA 1). Como é fácil de imaginar, isso não acaba bem. Ou melhor, acaba como é mostrado a seguir.
SETE VIDAS se passa no universo ficcional da série Supernatural. Em termos de cronologia, esta fic se situa em algum momento entre o episódio 3x11 (Mystery Spot) e a ida de Dean para o Inferno no episódio 3x16. O ano é 2008.
AGORA
DELEGACIA DE LA GRANDE, OREGON
21:03
A consciência do Dean que tão bem conhecemos abandona o corpo que ocupou nas últimas vinte e quatro horas, seguindo para uma realidade que não era a sua e um destino incerto. Mas, naquele momento, ele aceitaria de bom grado qualquer outro destino, por mais incerto que se mostrasse depois. Aquele que estava vivendo era a materialização de seus piores pesadelos. Uma antecipação das torturas que, tinha certeza, sofreria no Inferno.
O alívio que sentiu ao se desprender do corpo foi muito parecido com o que a alma sente no momento da morte. Tanto que ele acreditou que fora isso que acontecera. Intimamente, Dean agradeceu a Deus, por tirá-lo do pesadelo que estava prestes a vivenciar. Por livrá-lo de viver com a lembrança que teve o corpo violado. Naquele momento, não sentiu culpa por abandonar sua versão daquela realidade ao destino que este sempre soube que um dia teria que enfrentar.
A consciência deste outro Dean reassumiu o controle do corpo. Forma estranha de descrever o que estava acontecendo. Ele não estava no controle de nada. A sensação de desorientação era total. Sua mente tentava desesperadamente entender o que estava acontecendo. Onde estava? Como chegara ali? A escuridão era total e três pares de mãos disputavam espaço em seu corpo.
Suas pernas estavam firmemente seguras e mantidas imobilizadas contra o chão por alguém muito forte. Sua cabeça estava sendo pressionada contra o chão. Seu rosto esfregado contra o piso sujo e agora levemente molhado por seu próprio suor e o do homem que insistia em invadir sua orelha com a língua e sussurrar obscenidades em seu ouvido. Seu braço esquerdo estava dolorosamente dobrado contra suas costas e, ao ser empurrado para cima, transmitia espasmos de dor para o resto do corpo.
Mas, o que mais o apavorava era a mão que deslizava quase carinhosamente sobre suas nádegas, coxas e pelo espaço entre suas pernas. Lágrimas silenciosas teimavam em escorrer de seus olhos. Escutou apavorado o homem repetir baixinho em seu ouvido 'relaxa e goza, garotão, relaxa e goza'. Se sobrevivesse, perseguiria aqueles homens até o inferno e os mataria. Os mataria, nem que fosse a última coisa que faria na vida.
O risco de estupro sempre estivera presente em sua vida. Dean flertara com o perigo por tempo demais. O homem se arriscava muito mais do que o caçador de demônios. Ele não podia culpar ninguém pelo caminho que trilhara até chegar ali. Somente a ele próprio. Quantas vezes prometera que mudaria de comportamento? Primeiro para o pai e o irmão. Tantas, que não podia culpá-los por desistirem de amá-lo. Depois para si mesmo. Ninguém mais que ele próprio sabia que caminhava para o abismo.
Gritou ao ser invadido por um dedo atrevido. Seu grito ecoou pela delegacia deserta e foi com espanto que viu pouco depois as luzes se acenderem e um policial gritar para que fizesse silêncio.
Olhou em volta. Seu grito acordara seus companheiros de cela e eles o olhavam de forma desaprovadora. Tocou o próprio rosto, os próprios braços. Estava completamente vestido. Suas roupas não estavam rasgadas. Não havia nem sinal dos estupradores. Tinha sido tudo um sonho? Se permitiu chorar de alívio.
Gabriel, invisível, o olhava com um sorriso divertido, mas sem o ar maldoso tão característico de quando encarnava o Trickster. Dean já tivera o bastante. Sua intenção nunca fora machucá-lo ou traumatizá-lo de forma definitiva. Pretendia apenas sacudi-lo. Mostrar o quão perto do abismo ele caminhava. E, se tudo corresse como pretendia, livrá-lo para sempre daquele comportamento obsessivo-compulsivo.
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Dean tinha uma missão quase impossível a cumprir e precisava de Sam ao seu lado para ter alguma chance de sucesso. Era necessário fortalecer os laços entre os irmãos. E Dean estava a um passo de perder Sam para sempre. Sam logo desistiria do irmão e Dean mergulharia no abismo, selando o destino daquele mundo.
O destino deste Dean fora o que motivara Gabriel a escolher La Grande como ponto de partida para seu plano. La Grande era o lar secreto das encarnações humanas dos deuses nórdicos da luz e da escuridão. Eles, e somente eles, podiam salvar Dean.
Gabriel era um arcanjo e anjos não têm o poder de mudar a natureza humana. Na verdade, nem mesmo deuses, isoladamente, têm esse poder. Para mudar definitivamente a forma de agir e pensar do mais insignificante dos homens é necessário que deuses de grande poder e naturezas opostas trabalhem em sintonia, mantendo equilibrada a balança entre o bem e o mal. Deuses de naturezas opostas costumam ser inimigos e, portanto, nunca aconteceu de dois deles concordarem em se juntar para uma empreitada dessas.
Gabriel não podia simplesmente se revelar e pedir que Baldur e Hodur o ajudassem. Ou talvez pudesse. Baldur era também um deus da verdade e poderia reconhecer a sinceridade de seus propósitos. Mas, depois de tanto tempo encarnando um trickster, passara a pensar como um. De qualquer forma, o Céu não podia tomar conhecimento do que estava prestes a fazer. Precisava parecer iniciativa dos dois deuses gêmeos.
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Ao chegar na delegacia pela manhã, o policial Hal Levine soube que o preso Dean Winchester aparentemente tivera um pesadelo e acordara todos os presos com seus gritos. Naquele momento, não deu muita importância ao fato. Mais tarde, ao entrar na cela, encontrou Dean em posição fetal ainda tremendo e soluçando. Não lembrava em nada o rapaz atrevido e desafiador que trancara na cela na noite anterior. Algo dentro dele quebrara. Aquilo o deixou mais intrigado do que propriamente preocupado. Mesmo assim resolveu chamar o irmão.
A empatia era um dos aspectos mais característicos de Baldur, como deus da verdade. Mark Levine não precisava ser um deus para saber que algo traumatizante acontecera com o rapaz na noite anterior. Fora o responsável pelo rapaz ter sido preso naquela cela e se sentiria responsável se algo de ruim acontecesse em decorrência disso. Mas, o que podia ter acontecido? Acontecera à noite e sua memória divina só registrava o acontecia sob a luz do sol.
Mark pediu a Hal que conduzisse Dean para o parlatório da delegacia e que o deixasse a sós com o rapaz. Dean se deixa conduzir, apático. Não mostra qualquer reação quando Mark se aproxima e coloca a mão sobre sua testa.
Mark fecha os olhos e vê a vida de Dean, do nascimento até aquele momento, como se fosse ele mesmo a vivê-la. Seus sonhos, seus medos, seus desejos e suas dores. Mark sabia que havia um preço a pagar por se envolver tão intimamente com um humano. Mark já fizera aquilo antes, mas Dean vivera sensações mais intensas e complexas que qualquer outro humano que contatara e encontrava-se emocionalmente muito abalado.
As emoções tumultuadas de Dean invadem a mente de Mark e o desestabilizam mais do que este esperava que fosse acontecer. Naquele momento, Mark era o próprio Dean, com poderes divinos.
Dean tinha uma nobreza trágica e agia imbuído de uma missão. Dean dedicara a vida a proteger o mundo e os homens de forças sombrias. Mas, uma compulsão de natureza sexual ameaçava sua autodesignada missão e sua vida. Isso lembrou Mark do quanto ele e Hal se afastaram de suas responsabilidades com o mundo ao qual estavam tão intimamente ligados.
Uma coisa despertou a atenção de Mark mais do que tudo. Dean tinha um nêmesis perigoso. Dean fora vítima da ação cruel de um trickster. Um maldito trickster como o odioso Loki, que levara seu irmão Hodur a matá-lo. Não ia permitir que esse trickster voltasse a explorar a vulnerabilidade de Dean para quebrá-lo psicologicamente. Ia ajudá-lo a livrar-se daquele comportamento autodestrutivo. Mas, para isso, precisava do irmão.
Mark nunca teve tanta dificuldade antes para convencer o irmão a fazer algo que desejava. Hal não queria nem ouvir falar em usar seus poderes divinos para remover a compulsão de Dean. Por fim, chegaram a um acordo. Não apagariam o gosto por peças femininas da mente de Dean, somente seu componente obsessivo-compulsivo.
Essa operação não podia ser realizada na delegacia, pois não passaria despercebida dos emissários do Deus ora dominante. Precisavam transportar-se e a Dean para o Valhala. Não o corpo físico de Dean, naturalmente, pois o Valhala era uma dimensão espiritual.
Dean é tirado de sua apatia quando vê o policial Levine e o irmão, que sabia ser amigo do namorado da garota que tentara levar para a cama, entrarem juntos na sala, sorrindo de forma cúmplice e vindo decididos em sua direção. O que pretendiam fazer com ele?
Mark e Hal seguram firme os braços de Dean e ele sente a sua alma ser arrancada do corpo.
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ESCLARECIMENTOS:
1) O título não podia ser mais explícito. VIDA 1 EPÍLOGO é a continuação e a finalização da fic SETE VIDAS-VIDA 1, que, por sua vez, é parte de uma história maior (a saga SETE VIDAS).
2) Os personagens Mark e Hal Levine foram apresentados em VIDA 1, mas a revelação de que são deuses nesta realidade acontece somente agora, no EPÍLOGO. É claro que os leitores de SETE VIDAS já sabiam que os irmãos Levine são deuses em muitas realidades, mas também sabem que isso não significa que sejam deuses em todas. A história dos deuses irmãos é contada em SETE VIDAS-VIDA 4 (capítulo 6).
3) Dean acabou preso após se envolver com a namorada do filho do delegado da cidade e os amigos dele. Era para ser uma noite na cadeia para acalmar os ânimos, mas o Trickster deu uma incrementada e Dean acabou sendo acusado de estupro de uma menor de idade e ganhando como companheiros de cela três brutamontes homofóbicos. Para mais detalhes, leia SETE VIDAS-VIDA 1.
4) O que Dean vivenciou não foi um sonho. Audrey (a menina supostamente estuprada) e os brutamontes homofóbicos postos na cela com o Dean eram, na verdade, construtos criados pelo Trickster para desestabilizá-lo emocionalmente. O Trickster fez os construtos desaparecerem após cumprirem os papéis para os quais foram criados. Os construtos apenas parecem agir por conta própria. São, na verdade, extensões da vontade do Trickster. O Dean não sofreu o risco real de ser estuprado porque essa nunca foi a intenção do Trickster. A roupa do Dean foi rasgada pelos construtos e depois reconstituída pelo Trickster. Construtos são ilusões sólidas como as duplicatas de si próprio que vimos o Trickster criar no seriado.
5) O estranho comportamento do Trickster é explicado na fic SETE VIDAS-PRÓLOGO.
6) Dean sofre de um transtorno conhecido como travestismo heterossexual.
DISCLAIMER:
Sam Winchester, Dean Winchester e o Trickster são criações geniais de Eric Kripke, mas serão respeitosamente recriados por mim. SETE VIDAS. Sete diferentes Deans. Todos muito diferentes do que você conhece.
Baldur e Hodur pertencem ao panteão de divindades nórdicas. Suas encarnações humanas aqui apresentadas são contribuição minha. O Baldur que aparece em Supernatural está muito distante das características do personagem no mito.
02.05.2014
