A Slytherin's view
CAPÍTULO 1
Eles estavam almoçando em uma segunda-feira. Blaise Zabini se sentia grato por aquele ser o último ano de Hogwarts, ele já não aguentava mais as reclamações de Draco, pior seria se ainda tivesse outro ano por vir.
- Todo mundo pensa que ele é tão especial, o Potter maravilhoso, com sua cicatriz e sua vassoura... – Draco Malfoy dizia em tom sarcástico perante toda a mesa da Sonserina.
- Você já nos disse isso pelo menos uma dúzia de vezes. – Pansy Parkinson respondeu. Ela também já estava de saco cheio do show que Draco fazia todos os dias. - Agora cala a boca.
Blaise rolou os olhos.
- Você quer dizer uma dúzia de vezes só hoje, não é Pansy? – Blaise disse o que pensava. – É provável que essa seja a milésima vez dessa semana.
Todos sabiam que Draco estava obcecado, não parava de falar em Potter por um minuto que fosse. Até mesmo na sala de aula Malfoy achava espaço para sussurrar para eles sobre seu ódio por Potter.
Depois que o Lorde das Trevas se foi, Blaise se sentiu extremamente feliz, apesar de não ter gostado do fato de que todos pensam que o Potter e somente o Potter foi o grande salvador do mundo bruxo. Tudo bem, foi ele quem matou o desgraçado, mas muita gente ajudou.
Quando retornaram para Hogwarts, Blaise acreditava que Draco compartilhasse de seu estado de alegria, mas não foi bem assim. Malfoy estava sim grato pelo Lorde das Trevas estar morto, fato que deixava ele e sua família em paz, porém ter que retornar a Hogwarts para cumprir o último ano não o animou, especialmente pela presença do "Grande salvador".
Desde o dia em que retornaram a escola, Draco não conseguiu controlar a língua, cada vez que via Potter ou pelo menos pensava nele, o falatório começava. Ninguém aguentava mais.
- Eu não tenho culpa se o odeio tanto assim. – Draco tentava se defender enquanto os outros simplesmente o ignoravam. – Eu o odeio tanto... Aquele testa rachada idiota.
E assim continuou pelo resto do almoço.
- Se você não estiver muito ocupado se obcecando pelo Potter, será que a gente poderia ir pra aula de poções? – Pansy perguntou se levantando e puxando Draco pelo colarinho da blusa antes mesmo dele responder.
- Vamos para um lugar onde o incrível Potter vai estar. – Foi o que ele respondeu quando já estavam quase fora do Grande Salão.
- Pelo amor de Merlin! – Pansy deu uma pequena tapa na nuca de Draco, isso fez com que ele se calasse um pouco.
Mas como não foi um feitiço pra calar a boca dele, ao entrar na sala de poções, Draco voltou ao estado normal de reclamações.
- Lá está ele, Blaise. – Draco sussurrou ao ouvido do amigo. – Ele se senta ali como se fosse o dono do mundo.
Por mais que Blaise não gostasse de Harry, ele não podia concordar com Draco. Potter não estava fazendo nada além de estar sentado ao lado dos amigos esperando a aula começar.
- Claro. É ridículo. – Blaise disse só para não contestar Draco.
Blaise se recusou a fazer dupla com Draco, por isso na aula de hoje era ele e Pansy (que também havia se recusado a ficar com Draco). Enquanto isso Malfoy tentava, sem sucesso, fazer sua poção sozinho, mas provavelmente teve seus pensamentos levados de volta para o Potter maravilhoso e acabou fazendo tudo errado. Aquilo fez com que o Professor Slughorn tirasse 10 pontos da Sonserina e os companheiros de Draco ficassem mais irritados com ele.
Quase ao final da aula Blaise reparou que Draco torcia o nariz para os pontos para a Grifinória que a poção de Hermione rendeu.
- Já chega. Não aguento mais isso. – Pansy sussurrou e Blaise percebeu que ela também observava Draco. – Professor? Nós terminamos.
- Oh, sim. Claro que sim, Senhorita Parkinson. Essa poção está muito boa, certamente. – Slughorn avaliou.
- E não vai dar nossos pontos? – Ela perguntou. – Como deu para a Granger?
- A poção da Senhorita Granger foi excepcional... – Ele começou, mas Pansy logo colocou cara feia. – Mas suponho que a vossa estava muito boa também, certamente. Aqui vão 10 pontos para a Sonserina. – E com isso os dispensou da sala.
Pansy saiu arrastando Blaise para fora da sala do mesmo jeito que havia arrastado Draco para fora do Grande Salão. Blaise nem teve a chance de se despedir de Draco ou pelo menos ver que cara ele fazia agora.
- Nós temos que fazer alguma coisa a respeito disso. – Pansy falou no segundo que puseram o pé no corredor fora da sala. – Eu não fiz nada pra merecer um Draco reclamão desse jeito.
- Eu concordo com você cem por cento. Só queria saber de um jeito de resolver esse problema. É nosso último ano na escola e eu gostaria de aproveitar ao invés de escutar reclamações.
- Acontece, Blaise querido, que a garota aqui tem um plano. – Pansy sorriu apontando pra si mesma. Blaise não podia negar que ela tinha um sorriso lindo quando estava determinada.
- E qual seria esse plano, Pansy querida?
- É simples. Nós matamos o Batman. – E riu.
- O que? – Blaise não tinha a menor intensão de matar ninguém.
- Merda, esqueci que você não gosta dessas coisas de Trouxas. Deixa pra lá.
Nesses últimos anos, Pansy começou a ler diversas coisas de trouxas. Segundo ela, como o Lorde das Trevas dizia que era proibido, isso deixava a leitura mais emocionante e perigosa.
- Mas qual é o plano afinal?
- Ok. Primeiro, nós vamos ter que achar um jeito do Draco enfrentar o Potter de uma vez, assim talvez ele cale a boca.
- Você tá pensando num duelo?
- Tá mais pra um ataque surpresa.
- Ah, assim eu aprovo.
- Enfim, eu já pensei em tudo. Primeiro nós vamos entrar na torre da Grifinória, nós dois e o Draco, o Potter vai estar sozinho por lá. Assim, a gente vai deixar que eles resolvam suas diferenças. Tem um pequeno detalhe, mas eu vou deixar como fator de surpresa no meu plano perfeito.
- Ótimo. Maravilhoso. – Blaise se animou com o plano, mas sabia que nunca daria certo do jeito que Pansy pensava. – Exceto que não vai dar. Como é que nós vamos saber que o Potter está sozinho? E como vamos entrar na Grifinória?
- Ah, Blaise, você tem tão pouca fé em mim. – Pansy suspirou. – Eu disse que pensei em tudo, não foi? Eu vou mandar uma coruja pro Potter no nome da Ginny Weasley, pedindo para ele esperar por ela no dormitório dele, pois ela precisa ter uma 'conversa urgente' com ele, a sós.
Os alunos começaram a sair da sala e alguns outros do primeiro ano começaram a chegar para a próxima aula.
Pansy puxou Blaise mais para o canto.
- Brilhante é o que você é. – Blaise disse realmente surpreso, apesar das constantes demonstrações de brilhantismo de Pansy. – E quanto a entrar na Grifinória?
- Essa é a parte mais fácil. – Ela olhou ao redor. – Ei! Você ai da Grifinória. É você mesmo garoto, vem aqui.
- Você nem pense em me bater. – O garotinho disse ao se aproximar.
- Caramba, esses Grifinórios são muito estressados. – Pansy se aproximou do menino. – Na verdade eu estava pensando se você gostaria de ganhar alguns galeões.
- Eu adoraria. – Os olhos do menino brilharam. – O que precisa que eu faça?
- Oh, um Grifinório fácil de ser corrompido. Eu preciso que você me diga a senha da sua sala comunal.
- Me dê o dinheiro primeiro.
Pansy entregou o dinheiro, o garoto sacudiu os ombros e sussurrou a senha ao ouvido da garota.
- É melhor que seja a verdadeira! – Ela gritou para ele enquanto ele entrava na sala de aula. – Amanhã nós podemos agir.
- Um ótimo plano, então. – Blaise disse. – Mas só uma última coisa, nós vamos mesmo deixar que Draco mate o Potter? É possível que ele faça isso, ele tá com muito ódio.
- Olha, eu não gostaria que isso acontecesse, mas também não vou me meter entre eles. Além do que eu acho muito mais fácil o Potter matar o Draco que o contrário. – Ela deu de ombros. – Mas se tudo der certo como eu quero que seja, isso não vai acontecer.
- E o que é que você está planejando?
Pansy não respondeu, apenas sorriu para Blaise, olhou para o lado e viu que Draco estava vindo. Ela deu as costas e foi embora, deixando um Blaise curioso e irritado pela presença de Draco.
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Potter Maldito. Eu preciso fazer isso. Pansy e Blaise estão certos, eu tenho que enfrentar esse idiota de uma vez, não adianta mais apenas reclamar, eu preciso agir. Espero por Merlin que esse plano dê certo.
Era isso que Draco pensava, enquanto caminhava ao lado de Pansy e Blaise em direção à Grifinória. A varinha estava em punho e algumas gotas de suor deixavam transparecer sua ansiedade.
- Você tem certeza que isso vai dar certo, Pansy? – Draco estava mais apreensivo do que gostaria de admitir. – E se a sala estiver lotada de gente?
- Vai dar certo. – Pansy falou calmamente. – Vocês garotos têm que começar a confiar em mim, eu sei o que estou fazendo.
- Ela está certa, Malfoy. – Blaise completou.
- Certo, certo. Se for o que você diz.
Draco caminhou em silêncio até a sala comunal, aquele foi provavelmente o período de tempo mais longo que ele passou sem reclamar de Potter naquela semana.
Ao alcançar o retrato da mulher gorda, Draco pensou em desistir. Se suas reclamações estavam incomodando tanto, talvez ele pudesse parar... Mas Pansy já havia dito a senha para o retrato e a mulher os deixou passar.
Lá dentro era muito estranho para três Sonserinos. Diferente da sala comunal a qual estavam acostumados, aquela era altamente iluminada e brilhante, também tinha uma impressão de ser mais aconchegante, mas as cores fortes incomodaram Draco.
Por sorte eles eram os únicos ali. Pontos positivos para o plano de Pansy.
- E agora? Acho que o Potter não está aqui. – Draco disse.
- Calma querido, eu disse pra ele esperar no dormitório. Digamos que lá vai ser mais... Aconchegante.
- Ok... – Draco franziu as sobrancelhas.
Pansy não tinha certeza qual das escadas levaria ao dormitório masculino, mas Blaise tentou subir em uma delas e a escada o derrubou. Pansy riu e logo descobriu qual caminho seguir.
Draco seguia na frente, com a varinha em punho. Pansy e Blaise vinham logo atrás, mas eles tinham as varinhas guardadas.
A mão de Draco tremia quando ele a esticou para abrir a porta. Potter estava sentado no que presumidamente seria sua cama.
- Ginny? – Ele franziu a testa. – Mas o que...?
- Acho melhor você ficar paradinho ai, Potty. – Draco se aproximou agradecendo a Merlin por Potter estar desarmado.
- Malfoy? Que diabos está fazendo aqui? E vocês?
- Nós viemos para dar um fim na nossa relação. – Draco respondeu.
- Bem, na verdade mesmo, eu e o Blaise só viemos assistir. Nós não temos nada com você, Potter. – Pansy completou.
Lembrando-se da parte surpresa do plano de Pansy, Blaise se manifestou.
- Você não vai atacar um homem sem varinha, vai Draco?
Mas Draco não respondeu e nem teria tido tempo, já que Potter pulou na cama tentando alcançar sua varinha que estava na mesinha do lado oposto a ele. Draco pulou atrás dele e segurou seu calcanhar, impedindo que ele alcançasse seu objetivo.
- Agora, Blaise. Faça agora. – Pansy sussurrou o mais rápido que pôde. – Eu não vou sujar minha varinha com magia negra.
- Eu pensei que isso não fosse magia negra! – Blaise protestou, mas fez mesmo assim para não perder todo o esforço que teve.
Ele nem se deu ao trabalho de pronunciar o feitiço, apenas firmou o pensamento e balançou a varinha. Ele esperou alguma luz, mas isso não aconteceu. Houve apenas uma vibração mínima. Quando tirou os olhos da varinha e os voltou para onde Draco estava, ele se assustou. Não era para isso acontecer.
- Que porra você fez? – Pansy derrubou a varinha da mão dele. – Não era pra fazer isso!
- Você acha que eu não sei?
Onde antes estava Draco e Potter agora era apenas um espaço vazio. A cama de Potter estava arrumada e parada. Blaise não sabia o que ele tinha feito de errado.
- Blaise, você deveria ter lançado um feitiço pra prender eles em uma caixa transparente, não os fazer desaparecer! – Pansy estava muito irritada ou até quem sabe preocupada com Draco ou mesmo Potter.
- Eu sei, caramba! Eu não faço ideia do que aconteceu! Isso é o que dá usar magia negra.
- Ah, me poupe. A magia negra era apenas pra prendê-los permanentemente. Só assim eles mesmos não poderiam se soltar. Mas agora você estragou todo meu plano!
Blaise se aproximou da cama de Potter tentando ver se o feitiço deixou algum vestígio, quando ele tentou tocar no colchão, sua mão foi impedida por uma barreira.
- Mas que porra...?
-Ah, graças a Merlin! – Pansy gritou. – Agora vamos logo embora daqui.
- O que? Você não está nem um pouco preocupada com o que aconteceu a eles?
- Querido. – Ela fez uma expressão de falsa inocência. – O feitiço que você fez deveria prendê-los numa caixa transparente, mas ao invés disso os prendeu numa espécie de caixa invisível. – Pansy tocou a barreira. – Está vendo? Você fez errado, mas ainda deu certo, vamos sair logo daqui.
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Draco não sabia se poderia vencer Potter em um duelo, não com tanto tempo sem praticar. Por isso, quando Blaise falou aquelas palavras ridículas, ele teve que agir. No momento nem pensou que seria mais eficiente usar a varinha e logo pulou no calcanhar de Potter.
Quando ele estava na cama, pensou ter ouvido Pansy dizer alguma coisa e por isso se virou para ver, mas no segundo seguinte sentiu uma corrente de ar estranha. Nem por isso ele soltou o calcanhar de Potter.
Harry também não havia desistido de lutar pela varinha, apesar do peso extra na perna, ele estava quase alcançando, só mais um pouquinho... Mas a corrente de ar chegou e com ela uma barreira cinza. Não era mais possível ver o mundo exterior: era apenas ele e Malfoy.
- O que foi que você fez, Malfoy? – Harry utilizou do espanto do outro para se soltar e se afastar o máximo que a barreira permitia. – Acha melhor me matar em espaços pequenos?
- O que? Eu não fiz essa merda! – Draco se levantou. Bateu na barreira com o punho, passou as mãos por ela e até tentou gritar por Pansy ou Blaise, nada disso surtiu efeito. – Como eu posso saber que não foi você?
- Como é que eu faria isso, pelos sete infernos? – Potter se levantou na cama. – Foi você que armou tudo isso, você que veio me ameaçar e eu estou até sem varinha, por Merlin!
Draco não se sentia confortável, ele nunca tinha ficado tão perto de Potter, apesar de estarem o mais distantes que a barreira permitia. Eles podiam ficar em pé, mas a largura era exatamente igual a da cama de Potter, que não era grande o suficiente para dar uma distância necessária do seu inimigo.
- Então é isso? Você veio aqui me matar? – Potter perguntou. – Porque se for fazer isso, eu prefiro que faça logo, não estou com paciência. – Ele deslizou pela barreira, sentando na cama.
- Eu não vou... te matar, Potter. Não era essa a intenção.
- E qual era a intenção? Me torturar? Agora você perdeu a coragem?
- Você não sabe que eu sou um Malfoy? Eu nunca perco a coragem.
- Olha, Malfoy, eu não estou nada feliz com essa situação, se você puder fazer logo o que quer fazer e me deixar ir embora...
- Você ainda não entendeu que não fui eu quem nos prendeu aqui? A última coisa que eu queria era ficar trancado em um local minúsculo com meu inimigo.
- "Inimigo". – Potter suspirou. – Que droga, hein. Pensei que nós já tivéssemos passado disso.
Draco não soube o que responder.
- Se você realmente não vai me matar, será que você poderia fazer a gentileza de baixar essa varinha?
Draco ainda estava inconscientemente com a varinha em punho, ele a colocou no bolso.
- Porque... Porque você acha que nós não seríamos mais inimigos? – Draco tomou coragem de perguntar.
- Na verdade eu nem pensei em 'mais', pra mim nós nunca fomos inimigos.
- Como é que você pode dizer isso, Potter?
- Escuta, eu sempre achei uma criancice ficar chamando você de inimigo. Ainda mais agora, eu pensei que... Sei lá, talvez você tivesse mudado de pensamento, já que Voldemort está morto e você está livre de novo, mas pelo visto eu pensei errado.
- Então é isso, não é? – Draco cruzou os braços, ainda em pé na cama. – Você só quer que eu agradeça a você por sua "ação maravilhosa", não é? Pode esquecer.
- Do que é que você está falando? Acha que eu gostei de ter matado uma pessoa? Acha que isso tudo foi uma experiência maravilhosa pra mim? Você realmente acha que eu me orgulho disso? – Harry abraçou os próprios joelhos. – Eu mal consigo dormir a noite por causa disso! E deixa eu te falar, quando eu durmo, os pesadelos são maravilhosos. Minha vida tá uma belezura, se você quer saber.
Draco não admitiria nem para ele mesmo, mas naquele momento sentiu empatia por Potter. Talvez ele estivesse sendo mesmo um inconsequente, podia ser que Potter não se orgulhasse tanto do que fez.
Malfoy se sentou na cama também.
- Como você não pode se orgulhar? Ele era o bruxo mais cruel da história, todo mundo queria que ele morresse.
- Eu não estou duvidando do caráter dele, até eu queria ele morto. É só que... – Potter tremeu. – Ele era uma pessoa mesmo assim, por mais animalesco que fosse. E eu o matei.
Houve um momento de silêncio constrangedor em que Draco realmente considerou se aproximar de Potter para confortá-lo, mas o senso de realidade o atingiu e ele recusou aquele pensamento imediatamente.
- Eu nem sei por que estou te falando isso. Agora, se não for pedir muito, será que você poderia me dizer o que realmente está fazendo aqui? E vocês não fizeram nada com a Ginny, né?
- Relaxa, a Weasley fêmea nem sabe que você está aqui. Foi a Pansy que escreveu aquela carta.
- Mas o que é que você está fazendo aqui?
- Eu... Não sei, na verdade. Pensei que eu fosse decidir na hora, mas não esperava que isso acontecesse. Maldito inferno.
- Você veio aqui pra me ameaçar e nem sequer sabe o que mais? Malfoy, você precisa deixar esse ódio de lado, não existe mais motivo pra isso. O que foi que eu te fiz? Eu não consigo entender.
- Quer dizer que você já esqueceu tudo que fez contra mim? Que ótima memória de garoto maravilha você tem.
- Então me diz o que eu fiz, talvez assim eu possa entender esse ódio todo.
- Eu não quero falar sobre isso. Nem sei por que estou falando com você. Eu só quero ficar o mais longe possível.
Draco não queria falar para não remoer mais ainda as mágoas que ele vinha remoendo tanto esses dias. Não era possível entender porque de repente tudo em relação à Potter magoava muito mais do que antes.
Antes da guerra, Draco não gostava nem um pouco de Potter, mas é certo que não era desse jeito. Durante a batalha Draco não entregou Potter aos comensais da morte como poderia ter feito. Draco jogou sua varinha para Potter usar, já que a dele estava quebrada. Draco até mesmo comemorou quando soube que Potter tinha vencido e o Lorde das Trevas estava morto.
Porém, no instante em que o novo ano em Hogwarts teve início, uma ira se apossou de Draco. No começo apenas quando via Potter, mas aos poucos foi crescendo até o ponto onde nem mesmo os amigos dele suportavam. O que provavelmente teve a consequência de ele estar aqui hoje, preso com Potter.
- Olha, você não precisa falar, mas aparentemente nós vamos ficar aqui por muito tempo. Talvez uma conversa fosse boa. – Harry deu de ombros.
- Pra você é tudo tão fácil, não é Potter? Trata essa situação como uma brincadeira. Mas tá certo, se você quer mesmo saber, eu digo o que você me fez. Recusou minha amizade inocente quando nós erámos do primeiro ano. Quando eu estava numa porcaria de momento de fraqueza no banheiro porque o Lorde das Trevas estava me forçando a matar alguém, você me amaldiçoou e me deixou sangrando lá. E agora, mesmo depois do que eu fiz, arrisquei minha vida pra dizer que eu não te reconhecia para os Comensais e como é que você me retribui? Não me retribuindo de forma alguma.
Potter pareceu chocado ao ouvir as palavras de Draco.
Que ele sofra. – Draco pensou. – Não vai ser um terço do que eu sofri.
- Malfoy eu não... Merda, eu não fazia ideia do quão estúpido eu sou. Hm, tudo bem, eu deveria ter agradecido, afinal você salvou minha vida, não foi? Eu também fui idiota em relação ao banheiro, eu estava muito obcecado por você naquele ano, eu nunca pensaria que Voldemort estava te torturando. Mas quanto ao primeiro ano, eu não posso aceitar, você foi muito babaca com o Ron.
- Quer que eu diga o que? Eu tinha apenas onze anos, era uma criança. Meu pai que vivia reclamando dos Weasleys, eu só repeti o que eu escutei. Eu pensava que meu pai era o homem perfeito, sabe, o modelo de tudo, por isso eu o copiava.
- Se é assim, o que você diz dos Weasleys agora?
- Não sou um fã deles. Mas isso não quer dizer que eu trataria o Weasel como o tratei naquele dia, eu tenho consciência das minhas ações.
- Bem, então eu suponho que eu lhe devo uma dúzia de desculpas, não é? Parece que o babaca aqui foi realmente muito babaca com você.
- Sim, você foi.
Draco não queria agir como um cachorrinho magoado, mas não era todo dia que tinha a chance de receber desculpas de Harry Potter e aquilo era algo que ele não estava disposto a recusar.
- Isso quer dizer que passamos a barreira de inimigos, certo? – Potter perguntou com um sorriso idiota no rosto.
Draco gostaria de dizer que não, que ele o odiaria para todo o sempre, independente da quantidade de desculpas, mas não era o que ele realmente pensava. Para Draco foi possível sentir uma redução no aperto que ele tinha no peito desde o começo do ano.
- Certo. – Draco se limitou a dizer.
Potter estendeu a mão.
- Amigos?
- Eu não iria tão longe. – Draco recusou a mão do outro e voltou a pegar a varinha. – Calma, não vou lhe atacar. É só que... Se vamos dividir essa cama Grifinória minúscula eu vou precisar que você fique daquele lado, enquanto eu fico desse.
Draco colocou a varinha no colchão, tentando ser o mais central que os sentidos dele permitiam que fosse. Potter não se manifestou, simplesmente voltou para o cantinho que estava antes, o mais longe que a barreira permitia.
- Mas só lembrando, você também não foi sempre a vítima. Principalmente com a Hermione. Você a chamou de sangue-ruim tantas vezes, que já perdi a conta.
Ótimo, agora eles falariam do que Draco queria evitar. Desde que percebeu como uma Grifinória como a Hermione era inteligente, ele fez o possível para se sobressair a garota, mas como não foi possível, a alternativa foi insultá-la ao máximo. Não era algo a se orgulhar, o que a inveja fazia.
- Granger é brilhante. – Draco disse, baixo demais quase em sussurro. – Não pensei que meus insultos fossem magoá-la. Fiz porque ela é brilhante até demais para uma Grifinória. Não é algo a se perdoar, mas eu... Eu tive sim inveja dela. Pensei que só seria eu de inteligente em uma casa que não fosse a Corvinal. Já que você admitiu seu erro, suponho que eu devo desculpas a ela, sim.
- Isso é... Estranho. – Potter se esticou, tocando a ponta do dedo na varinha de Draco. – Até que essa barreira cinza está funcionando pra alguma coisa.
- Eu suponho. Mas pelo amor de Merlin, fique no seu lado. – Ele tocou o pé descalço de Potter e o empurrou de volta para o espaço dele. Foi uma sensação estranha, tocar seu antigo inimigo para algo que não envolvia violência.
- Eu estou lembrando agora. Acho que devo a vocês Malfoys muitas coisas. Sua mãe meio que me salvou. Não, na verdade foi exatamente isso que ela fez, salvou minha vida.
- Do que você está falando? Ela nunca me disse nada sobre isso.
- Talvez ela não se orgulhe, mas...
Potter explicou a Draco como na noite em que ele havia "morrido" foi Narcisa quem se arriscou mentindo para Voldemort sobre a vida de Harry. Ele explicou também que ela provavelmente fez isso pelo filho, mas Potter nunca poderia retribuir o favor a Narcisa.
- Uau, minha mãe é mesmo incrível. Eu vou dizer pra ela que o grande Harry Potter está agradecido pelas ações dela.
- Se você deixar de lado a parte do "grande Harry Potter" eu ficaria mais agradecido ainda. Nunca entendi por que as pessoas me glorificam tanto. Como se eu tivesse alguma escolha pra fazer o que eu fiz.
- Sabe, a não ser que você esteja mentindo com uma falsa modéstia. Eu ficaria orgulhoso, se fosse você. O Lorde das Trevas era um filho da puta que merecia morrer, você fez a coisa certa.
- Eu sei disso, mas é que ele era o pior humano, mas ainda era uma pessoa. Minha consciência não para de me dizer que eu sou uma pessoa ruim por ter feito isso.
- Uau, você realmente não se orgulha disso não é?
- Nem um pouco.
- Isso significa que você ficou, digamos, traumatizado pelo que aconteceu? Pelo que você fez?
- Eu não sei o que significa exatamente estar traumatizado, mas se for passar noites em claro, ter pesadelos ou até mesmo sustos durante o dia, então acho que isso me traumatizou, sim.
- Isso é terrível. Você faria de novo, se tivesse a chance?
- Provavelmente. Voldemort era um filho da puta, como você disse.
Draco riu, impressionado pelo fato de eles estarem falando civilizadamente um com o outro. Realmente aquela barreira cinza estava servindo para diversas coisas.
- Você acha que a gente tá aqui há quanto tempo? – Draco perguntou ao encostar a cabeça na barreira. Ele já estava cansado e suas costas doíam da posição que se encontrava.
- Uma hora? Talvez duas. Eu não sei muito bem.
- Eu quero sair daqui, não aguento mais. – Foi o que ele disse, mas no fundo, no fundo mesmo havia uma parte dele que estava inacreditavelmente apreciando aquela conversa.
- É.
Draco pensou, mas não fazia ideia do que mais poderia acrescentar a conversa. Suas bochechas ficaram vermelhas por constrangimento. Graças a Merlin Potter tinha uma coleção de falas muito maior que a dele.
- Você acha que se eu tivesse aceitado sua amizade lá no primeiro ano nós seriamos mesmo amigos?
- Eu não sei. – Draco corou mais ainda. – Talvez, se você se esforçasse.
- Vamos apenas dizer se ambos se esforçassem a amizade poderia funcionar. – Harry sorriu e desviou os olhos de Draco, talvez para imaginar como aquela outra realidade seria.
Enquanto isso Draco começou a se perguntar por que diabos ele estava pensando no outro agora com 'Harry' ao invés do usual 'Potter'.
Sua consciência foi se tranquilizando enquanto Harry ainda sorria sozinho. Ele esticou as pernas quando o sono se aproximou e deslizou para o lado. Quando piscou pela última vez só viu um sorriso curto e um brilho verde dos olhos de Harry. Esticou-se um pouco mais quando fechou os olhos e seus pés tocaram alguma coisa quente, não era sua varinha, mas o pé de Harry. Draco não se deu ao trabalho de se afastar.
...
Depois do que pareceram apenas segundos para Draco, ele recobrou a consciência, mas logo percebeu que muito tempo havia passado. Harry também dormia de forma muito dolorida, encolhido no canto da cama. Apesar de ele ocupar um espaço minúsculo, tinha a perna esticada. Draco se manteve imóvel, apesar do rápido calor que atingiu suas maças do rosto. Harry tinha a perna esticada, só uma, a que estava enrolada na de Draco.
Draco fez o possível para permanecer no lugar, deixou de respirar o quanto pôde. Mas o que acordou Harry não foi ele, mas sim a corrente de ar que os atingiu.
Ao acordar, Harry teve o mesmo impulso de Draco de permanecer imóvel. Quando os olhos verdes encontraram os olhos cinzas, Harry também corou.
A barreira foi brutamente levada embora, e como Harry estava apoiado nela, fez com que ele tombasse para trás, batendo a cabeça na parede. Com isso, o contato com a pele de Draco também se desfez.
Draco teve a sorte de não tombar para o chão, que é o que teria acontecido se ele não estivesse completamente deitado na cama de Harry. Ele sentiu que a sorte se foi junto com a barreira, quando a primeira coisa que viu foi a cabeleira ruiva de Ron Weasley.
- Harry?! – Weasley gritou, aparentando não ter visto Draco. – Você está bem, cara? Nós pensamos por um momento que o pior tinha acontecido.
- Ron, nem ouse falar isso! – Granger protestou e se deslocou para ajudar Harry a sair da cama. Só nesse momento que os dois reconheceram Draco, que ainda não tinha se movido, desejando que Harry voltasse à posição que estava antes.
- Que diabos está fazendo aqui? – Foi Granger quem falou.
- Malfoy? Eu deveria saber que isso foi obra sua. – Weasley ignorou Harry e se virou para Draco, agarrando seu colarinho. – O que foi que você fez com o Harry?
- Ron! Para com isso agora! – Harry se manifestou. – Não foi ele quem fez isso. Eu... Eu não sei quem foi.
- Mas o que ele faz aqui? – Granger perguntou.
- É, o que ele faz aqui? Você veio atentar contra Harry, não foi? Já não basta o que ele está sofrendo? – Weasley balançou Draco violentamente. Por mais que tentasse, Draco não conseguia proferir uma palavra.
- Eu já falei que ele não fez nada! – Harry parecia envergonhado com a última frase que o Weasley disse. – Deixa ele em paz, Ron!
Harry pulou entre Draco e Weasley, separando os dois.
- Vai Draco, sai logo daqui antes que o Ron queira fazer mais alguma coisa.
Draco se virou e pegou a varinha. Na correria nem teve tempo de perceber que Harry usou seu primeiro nome, ele não sabia por que seu coração batia tão rápido de forma calorosa. Draco desceu as escadas do dormitório correndo, ignorando o espanto dos Grifinórios presentes na sala comunal. Ele simplesmente correu e não olhou pra trás.
FIM DO CAPÍTULO 1
