AN: Por favor, note que há duas linhas narrativas distintas nessa história. Edward nos conta o desenrolar do relacionamento até o momento em que a narrativa de Bella começa. Eventualmente as duas linhas narrativas se encontrarão.
Bella
A ausência de profundidade em suas aparentemente suaves palavras foi profundamente sentida, mas jamais dita. Ao contrário, aquela envolta em sombras escolheu permanecer silente, murmurando lacônicas respostas apenas quando requerido pelos ditames das boas maneiras. Pelo o que pareceu ser uma eternidade ela impassivelmente ouviu sobre beijos roubados e carícias – a maravilha de se reencontrar o que se pensava perdido e de se seguir em frente. Sua substituta era descomplicada claridade e ela amaldiçoou os raios de sol descendo do céu, pois a lembravam do calor que sempre lhe faltara e que sempre almejaria.
Por algum insondável motivo ele escolheu cortá-la fundo, aprofundando o ferimento ao amar alguém que ela sempre suspeitara significar mais que uma amiga. Não há dignidade ao se sentir ciúme, os últimos farrapos de sua compostura ameaçando esvaecer deixando Bella ferida e exposta. Rugindo em indignação sua besta interior ameaçava vir à superfície, gritando acusações que não mais mereciam ser respondidas. No entanto, o fardo de ser verdadeira era pesado demais para a coisinha cordial que ela aprendera a ser, portanto ela pacientemente suportou a dor da rejeição.
E ele regozijou-se em contar-lhe sobre sua nova vida, a que construíra sem ela. Perversamente, ela perguntou-se se ele teria se importado se ela tivesse declarado seus sentimentos. E ainda que se importasse, será que teria sido o suficiente para mudar o resultado? Se o resultado fosse afetado será que isso faria diferença? Afinal, ela ainda era a mesma pessoa e não era essa a falha fundamental que sempre levaria à destruição do amor que partilhavam? Ela sabia que os sentimentos dele haviam sido reais, disto ela tinha certeza. Será que haviam realmente acabado? Ou será que ainda ardiam ainda que mascarados pela dor que ela lhe causara? Infundada esperança desabrochou no deserto de seu coração quase levando-a a acreditar que tudo havia sido um teatro destinado a induzi-la a manifestar seus sentimentos por ele.
A romântica escondida em seu peito sentiu-se repleta por um abençoado momento de incontida alegria. Mas logo se calou, anos de inanição submetendo-a à quase inexistente autoestima. Seu reflexo na janela implacavelmente lembrou-a de que não existem finais felizes para pessoas como ela. Destinada a sempre repetir os mesmos erros, a parte dela que ainda teimava em sonhar lentamente desintegrou-se e retornou à única parte de sua alma que ainda poderia ser machucada. Respondendo em monossílabos, ela corajosamente foi capaz de agregar algum entusiasmo às felicitações que sussurrou ao final da fala do animado homem que um dia a amou.
Logo, as pausas na conversa tornaram-se mais longas até que a ensurdecedora falta de som levou ao temido adeus. Seu coração, que há tão pouco havia se aberto completamente ao amor, murchou sob o peso da inevitável verdade. Era o fim. Não o que ela havia imaginado, planejado e o feito aceitar, mas o irrevogável ponto final em uma história que ela não mais controlava. Solene aceitação chocou-se com devastador desespero, deixando-a indefesa perante a tormenta de emoções trovejando em seu corpo que permanecia curiosamente inerte. Por um segundo, ela voltou seus olhos ao céu implorando para um deus no qual não acreditava por uma resposta que já tinha, mas recusava-se a aceitar.
As intenções com as quais o procurara já não eram mais relevantes. Ela viera procurá-lo com o coração transbordando de amor, pronta para um recomeço. O destino tinha outros planos. O insistente beijo dado no rosto de seu amado poderia ser considerado levemente impróprio, mas ela decidiu permitir-se um minuto de fraqueza já que teria de ser forte por uma vida inteira. Emoções sob seu estrito controle, ela despediu-se prometendo manter contato.
O imperativo de seu adeus não foi por ele percebido, talvez ele nunca perceberia o peso daquele momento. Com uma graciosidade forçada e fingida normalidade ela cumpriu seu papel e logo estava longe. Tão longe, mas ainda não longe o suficiente.
