Rory

Foram quase nove meses de uma correria eletrizante, muito trabalho duro, noites e noites mal dormidas, desafios que ela contava e esperava com prazer. Acompanhar uma campanha presidencial foi uma das experiências profissionais mais recompensadoras da sua vida. Apesar da exaustão ela buscou cobrir todos os pronunciamentos, debates e eventos. Era um verdadeiro alivio poder fazer isso, pois o trabalho era a única coisa que a ajudava a preencher o vazio que tomou conta do seu peito nos últimos tempos. O que era para ser um dos dias mais felizes da sua vida transformou-se numa lembrança de dor e profunda tristeza. A raiva que ela sentiu por semanas já havia passado há tempos. Nem mais ressentimento existia. Restava apenas um profundo vazio, que nada, nem ninguém foram capazes de preencher, por mais que ela tentasse. O que a ajudou a não pensar no vazio e evita-lo foi o trabalho, por isso ela mergulhou de cabeça, dedicando todo o seu tempo escrevendo, pesquisando, e correndo atrás de noticias.

Nos primeiros meses foi fácil evitar o assunto, ela mal tinha tempo para conversar com a sua mãe. A Lane estava ocupada demais com os gêmeos e a Paris... Bom, a Paris era a Paris. O contato com elas era esporádico por mensagens rápidas. Com o fim da campanha, ela sabia que não suportaria retornar para casa, onde tantas lembranças gozariam da sua cara, por isso ela decidiu que o melhor a fazer seria conhecer o mundo e buscar novas oportunidades o que acabou a afastando de vez das conversas com sua mãe sobre o tema Logan.

O fato é que ela evitava a maioria dos contatos, sempre com a desculpa de trabalho, então as conversas eram rápidas, normalmente com comentários sobre os artigos que ela estava escrevendo. Vez ou outra sua mãe questionava se ela tinha conhecido alguém, no inicio as respostas eram sempre automáticas com um não quase gritado, mas com o passar do tempo, até ela mesma já se sentia patética. Ela dedicou um tempo para fazer novos amigos conhecer algumas pessoas. Ela até namorou por alguns meses o Tom, um cara doce e educado, com uma carreira brilhante no mercado financeiro. Eles se conheceram logo que ela chegou a Londres em um dos eventos que ela foi cobrir. Até hoje ela não entendia direito como eles chegaram a se aproximar naquele dia. A conversa foi agradável, ele era muito charmoso e ela não via uma razão para não se envolver. Ela quis desesperadamente se apaixonar e sentir aquele carinho incondicional, uma necessidade de cuidar, proteger e ser cuidado o desejo sem fim de estar perto o tempo todo, mas não aconteceu. Ele era atencioso, cuidadoso e doce. Ela até se sentia cuidada, mas faltava àquela faísca, aquele desejo incontrolável, que apenas a presença dele causava, nem mesmo o Dean ou sequer o Jess foram capazes de fazer o corpo dela se acender como o Logan fazia. Mesmo quando ela conscientemente não sabia que ele estava por perto, seu corpo o sentia e a avisava de sua presença. Ela ainda o amava de todo o seu coração e ela sabia que jamais amaria outra pessoa. Então o mais sensato foi terminar com o Tom quando ele a propôs um relacionamento sério demais naquele momento e pensado bem, talvez em qualquer momento. Por mais que ela tenha tentado ele não foi capaz de preencher as lacunas ocas do seu peito e não era justo com ele nem com ela levar adianta um relacionamento que só os machucaria no final, sendo que ela só conseguia pensar em um único loiro de olhos castanhos extremamente charmoso que ela havia conhecido 6 anos atrás.

O mais inteligente então foi dedicar-se às oportunidades de trabalho que lhe batiam a porta. Seu trabalho foi combustível para manter o foco em evitar a dor e levar a vida da melhor forma possível. Após o fim da campanha ela aceitou mudar-se para Londres, numa oferta de trabalho, para ter um blog político hospedado no portal da revista inglesa The Economist. Parecia até irônico, que o sonho de uma vida, num passe de mágica virou sua única opção de fuga.

No começo viver em Londres era fabuloso, a cidade não carregava tantas lembranças, ela conseguiu fazer novos amigos, mas ninguém para preencher aquele vazio. Após alguns meses a rotina já não era mais tão fabulosa, e sua carreira não seguia o rumo que ela esperava. Por mais incrível que fosse ter um blog hospedado em uma revista respeitada mundialmente e escrever sobre política, um assunto que ela gostava e dominava, não era exatamente o que ela esperava quando escolheu ser jornalista. O mercado de comunicação já não era mais o mesmo. Até mesmo os jornais mais respeitados do mundo estavam encolhendo o staff das redações, contratando mais freelas. Um boom de blogs como o dela e sites independentes estava abalando a hegemonia dos grandes conglomerados da comunicação em todo o mundo. Estavam todos pisando em ovos, meio perdidos sem saber direito como lidar com todas essas mudanças. Ela estava frustrada, vendo sua carreira patinar, sem muita perspectiva do que iria acontecer.

Não que ela precisasse trabalhar para sobreviver. Quando ela completou 25 anos ela teve acesso aos fundos fiduciários que seus avós haviam feito quando ela nasceu. Não que em algum momento ela tenha contado com isso, mas jornalismo definitivamente não era uma carreira que pagava tão bem em tempos normais. Com toda essa crise e com ofertas limitadas os seus fundos foram uma grande ajuda para que ela conseguisse se manter até seu blog ter audiência suficiente para aumentarem seu salário. O seu blog agora, depois de dois anos de muito trabalho era um dos mais respeitados e conhecidos de Londres quando o tema era política. Ter trabalhado na campanha de um presidente americano alavancou sua credibilidade. Além do mais ela era a neta mais velha dos Hayden. Seu falecido avô era um brilhante advogado dono da Hayden Association e Promotor de justiça. Sua família, por mais que distante, era ligada a política e ela temia que sua carreira tivesse sido direcionada para esse caminho propositalmente. Sem dúvida este era um tema que ela conhecia e gostava, mas pela primeira vez na sua vida ela sentiu-se como o Logan. Inúmeras vezes ela quis ligar e até começou a escrever alguns e-mail para ele, apenas para compartilhar suas conquistas e frustrações, mas no fim das contas era desistia. Quando ela recebeu a oferta de trabalho na campanha do Obama, ela não hesitou, nem sequer parou par pensar nas motivações por ter sido chamada. Entretanto nos últimos dias ela vinha notando que toda e qualquer oferta de trabalho sempre estavam vinculadas à política. Por mais que ela quisesse escrever sobre cotidiano, cultura ou comportamento todas as ofertas que ela recebia eram para colunas sobre política.

Já fazia algum tempo que ela tentava se estabelecer em outras áreas, ela chegou a enviar para outras revistas, jornais e até blogs independentes artigos sobre comportamento e cotidiano, noticias em geral, mas nenhum chegou a ser publicado. Ela conseguiu publicar alguns artigos de política em mídia impressa, mas sempre como freela. E isso a irritava muito, porque seu sonho era ser editora, opinar sobre diversos assuntos, transitar em diversas áreas. Seu blog estava se especializando cada vez mais e todas as tentativas para redirecionar sua carreira eram frustradas. No final ela passava horas tentando entender o mercado e googlando oportunidades de emprego nas mais diversas empresas de comunicação e acabava sempre se deparando com a Huntzberger Publishing. Até mesmo o grande Mitchum Huntzberger foi abalado pelo crescimento exponencial da internet. Mas eles se adaptaram rápido, pelo que ela ouviu dizer o Herdeiro, que ainda não havia tomado a frente dos negócios totalmente, estava focado em uma nova iniciativa da HPC. Eles foram a primeira grande empresa a investir em blogs e revistas digitais. Grande parte do seu conteúdo impresso era um complemento do conteúdo online. Eles estavam trabalhando em multi-plataformas para atingir todos os públicos. Ela já tinha notado até que grande parte dos seus editoriais eram em vídeo como um noticiário online. Era realmente brilhante.

Ela sabia que era uma questão de tempo para o Logan assumir definitivamente os negócios. Não que ela buscasse saber sobre a carreira dele, mas como ele era o herdeiro dos Hunzberger era meio difícil não ficar sabendo ao menos das noticias principais, e tudo dava indícios que era uma questão de tempo para o grande Mitchum Huntzberger entregar de vez a condução do grupo nas mãos do seu herdeiro. Ele provavelmente estava esperando os projetos inovadores do Logan se estabelecerem e estabilizarem. A HPC estava muito a frente das outras empresas, inovando constantemente.

Para ser franca, ela não tinha cortado todo o contado com o Logan, ela ainda falava em rápidos telefonemas, que recebia esporadicamente, de um Finn e Colin amistosos. Era uma verdadeira surpresa que eles ainda a procurassem, afinal eles eram os melhores amigos dele. Eles eram sempre calorosos, suas conversas despretensiosas e divertidas e os dois jamais comentavam sobre o Logan, o que era um alívio. Eles eram uma agradável lembrança de dias mais felizes e ela os amava como dois irmãos bobos. Era reconfortante que eles não se afastaram após todo o fiasco da sua formatura.

Na borda da sua consciência ela ouviu o seu celular trocando – Oi mãe! – ela atendeu melancólica.

- Hey! Que voz é essa Rory? O que aconteceu? Ah.. você está de ressaca? – Disse a Lorelai animadamente.

- Não aconteceu nada mãe. E não, eu não estou de ressaca, eu não passei a noite em uma festa, mesmo porque aqui ainda é noite. Alias o que você está fazendo acordada há esta hora? – ela questionou intrigada, tentando tirar dela o foco da conversa.

- Hoje o Luke recebe entrega de fornecedores muito, muito cedo. Então eu acabei acordando com o barulho e já que eu não consegui voltar a dormir eu pensei... Por que não ligar para minha adorável e linda filha, que não aparece em casa por o que? Um ano? Para informa-la que nós teremos uma knit-a-thon neste fim de semana. Levando em conta que você pode escrever de qualquer lugar, já que você é uma blogueira de sucesso e está com muita saudade da mamãe, você poderia pensar em gastar um pouquinho do seu dinheiro para comprar uma mísera passagem e visitar a mamãe que está com muita saudade. O Luke prometeu que lhe receberá com hambúrgueres e batata frita e o melhor café da cidade e também reservará a sua torta favorita. – após um breve silêncio a Lorelai reiterou - E então, topa? – após um longo tempo sem resposta dela sua mãe perguntou – Rory? Você está me ouvindo?

- Estou. – Ela respondeu secamente.

- E então?

- Eu não sei, eu tenho que entregar alguns posts essa semana que vão me exigir um bom tempo de trabalho. Eu não sou uma blogueira mãe, eu sou uma colunista política, e escrevo para um blog da The Economist. - ela ainda tinha dificuldades para lidar com o rótulo de blogueira - E outra coisa eu não tricoto, então não entendo qual seria o meu interesse em participar de uma Knit-a-thon de qualquer forma. O que nos leva a pergunta, do porque Stars Hollow está fazendo uma Knit-a-thon?

- Desde quando você precisa de uma desculpa para visitar a sua mãe? – Lorelai respondeu indignada

- Mãe...

- Rory?

-Mãe!

- Rory...

- Ok isso está parecendo conversa de louco. Eu não preciso de uma desculpa para visitar você, eu não estou arrumando desculpa, só estou dizendo que estou muito ocupada para ir para Stars Hollow. Quem está arrumando desculpa para eu ir é você e não eu,.

- Você não me da outra opção filha. Todas as vezes que eu sugiro uma visita sua você se esquiva.

- Mãe por favor!

- Não Rory, faz meses que eu não te vejo, e quase a mesma quantidade de meses que nós não nos falamos.

- Nós nos falamos! Eu te ligo ao menos duas vezes na semana.

- Pufff.

O que significa esse puff? Nós nos falamos regularmete.

Rory, por favor!

O que foi?

Eu preciso realmente falar?

Desistindo de discutir e escolhendo a verdade ela jogou – Ok... Sinceramente, eu não consigo ok? É demais para mim! - Ela ouviu a sua mãe dando um profundo suspiro do outro lado da linha.

- Escuta, Rory, eu sei que você não está nos seus 100% vamos dizer assim, já há algum tempo, mas até outro dia você parecia bem. Não que o seu parecer bem fosse bom, porque não é Rory. Não é nada bom, eu tenho visto você deixar a vida passar sem saber exatamente o que fazer para te ajudar. Eu achei que te dar espaço fosse ajudar, que você superaria e tocaria a sua vida. Mas parece que evitar o assunto não está ajudando.

- Mãe eu estou bem ok?

- Não está tudo bem e eu estou preocupada. Você evita todas as oportunidades que aparecem de voltar para casa. Você evita conversar comigo. Nós só nos vimos no natal porque resolvemos nos encontrar em Paris. Desde então você se esquiva, no começo eu podia entender, mas isso já durou tempo de mais. Você não fala de amigos, ou de pessoas que tenha conhecido, só falamos sobre artigos, matérias e trabalho. Eu não sei nada sobre você Rory, o que você está sentindo, se você está bem. Mas é claro que você não está bem. Você mal fala comigo, nossas conversas parecem mais um monologo. Você mal procura os seus avó, você não os vê desde quando? Ok eu sei que eles foram a Londres de visitar algumas vezes, mas não é a mesma coisa. Por favor, Rory, volta pra casa, juntas nós vamos resolver isso. – Ela ouviu o desespero na voz da sua mãe

Ela esperava por isso, ela sabia que uma hora sua mãe romperia o silêncio, mas ainda era muito doloroso falar sobre o Logan, lembrar dele, relembrar suas palavras. Então ela logo repetiu - Mãe, eu estou feliz ok? Eu tenho amigos, nós saímos de vez em quando, damos risadas. E eu até namorei, eu falei para você do Tom, mas não deu certo. Eu... eu... só tenho nesse momento me dedicado a minha carreira, você sabe que as coisas estão diferentes, e eu moro em Londres, eu não posso simplesmente largar tudo e passar alguns dias em Stars Hollow.

– Rory, para de mentir para você mesma! – ela ouviu sua mãe irritada.

Sem saber o que dizer ela ficou quieta, deitou na cama, colocando o braço sobre os olhos – Eu estou particularmente hoje num mal humor. Eu tenho alguns posts bem interessantes para escrever para o blog, mas você sabe que não era isso que eu achava como as coisas seriam. Eu quero dizer, trabalho tem, porque as noticias estão ai, mas a forma como as coisas são não é o que eu sonhei. Eu me via trabalhando na redação de um grande jornal, com pessoas a minha volta, aquela adrenalina. Até mesmo ser editora cobrir diversos acontecimentos e fatos do mundo. Mas eu essencialmente trabalho de casa e escrevo sobre política. Ou estou cobrindo debates, ou escândalos políticos, ou eventos políticos, política, política, política... Os meus artigos raramente saem em mídias impressas, é frustrante você entende? Eu estou me adaptando, e eu tenho que me adaptar. Depois eu sempre acabo pensando que minha carreira arbitrariamente foi direcionada para política por eu ser neta de Straub Hayden. E então eu começo a procurar vagas em outras revistas e mandar artigos sobre outros temas e fazer pesquisas para saber o que de novo vem por ai e o que esperar e me preparar e eu acabo sempre lendo milhões e milhões de noticias sobre o brilhante herdeiro dos Huntzberger, que vem acumulado ainda mais poder ao império de sua família, porque saiu à frente anos atrás, que seu pai deve estar muito orgulhoso do grande executivo que seu filho se tornou. Hum orgulhoso... como se eu não conhecesse o Mitchum. Aposto que ele acha que o Logan não está fazendo mais do que sua obrigação... Olha ai. Está vendo? Todo o trabalho que eu faço por meses para não pensar nele se perde em uma única linha que seu nome aparece – ela desabafou e ouviu sua mãe suspirar. Antes que ela pudesse ouvir o que quer que sua mãe fosse dizer ela continuou. – Isso é bobeira ok? Logo vai passar, foi só um dia ruim. A sensação deve ter se potencializado porque hoje cedo recebi uma ligação do Finn, e sempre que eu falo com os meninos eu sou tragada para lembranças felizes que já não existem mais e eu acabo ficando um pouco melancólica. – ela terminou.

- Rory, se você sente tanta falta do Logan assim porque você não o procura? Ou então se afaste logo dos amigos dele, peça para que eles não te procurem mais.

– Mãe eu não posso fazer isso.

- O que? Procurar ele ou se afastar dos amigos dele?

- As duas coisas.

- E por que não?

- Vou ligar para ele e dizer o que? Mãe eu conheço o Logan... No momento em que eu disse não e terminei nosso relacionamento eu aposto que no minuto seguinte ele já estava com outra mulher na cama.

- Eu não acredito que você tenha tão pouca fé nele Rory.

- Desde quando você é uma Fã do Logan?

- Eu não sou uma fã dele Rory, mas eu vi como ele te fazia feliz. Ele pediu minha benção para lhe pedir em casamento e então dias depois vocês romperam. Sem a menor justificativa. Um homem que quer casar não se separa assim sem mais nem menos. Você não quer falar sobre o que aconteceu. No começo eu respeitei sua vontade, e depois você passou a me evitar, fugindo de qualquer conversa mais pessoal. Eu até agora estou sem entender o que aconteceu. Vocês passaram meses separados, ele ai em Londres e você aqui e vocês deram um jeito, vocês eram felizes. Ele deu um jeito de voltar para ficar perto de você, vocês estavam bem, ele te pediu em casamento, meu Deus do céu. Eu não achava que fosse o momento, mas isso era entre vocês e então você terminou com ele Rory. Ele te pediu em casamento e você terminou, sendo que alguns meses atrás você já havia me falado que pensava nele num possível futuro juntos. O que aconteceu? Eu até achei que você pudesse ter descoberto que não o amasse mais, mas não é o que parece. Olha só como você está!

– Naquele dia ele deixou bem claro que ou eu me casava com ele e seguia-o para a Califórnia ou nada. Eu escolhi o nada. – ela disse com um nó se formando na garganta.

- ohhhhhh! – ela ouviu a exclamação de compreensão da sua mãe. – E agora você mudou de ideia!

- Eu não mudei de ideia. Mas eu sinto falta dele, miseravelmente. – Ela disse chorosa.

- Você mudou de ideia Rory, você mudou de ideia no momento em que ele foi embora. Mas você foi orgulhosa para dar o braço a torcer. Não que eu ache que isso foi ruim, você precisava se dedicar a sua carreira, mas vocês tinham que ter conversado antes de tomar uma decisão tão arbitraria que afetaria a vida de vocês dessa forma.

- Ele não me deu essa chance mãe.

- Você tinha que insistir, e se você não tentar agora você nunca vai saber Rory.

- Eu não sei... Além do mais eu não tenho mais nenhum contato dele. – Ela respondeu tentando colocar um fim nesta conversa estúpida.

- Você pode não ter especificamente o dele, mas você tem e ainda fala com os melhores amigos dele Rory. Você não quis se afastar dos amigos dele, como você mesmo disse, você não pode fazer isso. De alguma forma, nenhum dos dois se distanciou um do outro. Propositalmente ou não, vocês se mantiveram conectados através dos amigos dele. Você aceitou com alegria todos os contatos do Finn e do Colin, por mais que isso te ferisse. Ele por outro lado, não pediu para os amigos se distanciarem de você. De alguma forma vocês dois nutrem esperanças de ficarem juntos em algum momento. Porque prolongar esse sofrimento Rory? Para de deixar a vida passar, não cometa os mesmos erros que eu cometi filha. Não arrume desculpas para lutar por quem você ama. – ela ouviu a suplica na voz da sua mãe.

Ela nunca tinha pensado dessa forma. Sim claro, ela podia ter se distanciado do Colin e do Finn, não atendendo as ligações, não encontrado o Finn para a festa de St. Patricks Day, pedindo para que eles não a procurassem mais, mas ela não o fez, porque ela simplesmente não suportaria cortar esse laço. Assim como provavelmente o Logan não pediu aos seus amigos para que se distanciassem dela. Se ele tivesse pedido eles teriam atendido, por mais que isso os machucasse. Mas ele não o fez, e esse reconhecimento engolfou seu peito de uma esperança renovada.

– Rory você ainda está ai?

- Ahhhh, sim... Estou só processando o que você me disse. Ok mãe, eu realmente preciso desligar. Diga ao Luke que estou com saudade, mas a visita fica para a próxima ok? – Ela respondeu dando um fim a conversa.

- Está bem Rory! Eu te amo. – ela ouviu a sua mãe desligando o telefone.

Com o telefone ainda na mão, ela repassou as palavras de sua mãe e entregando-se a esperança ela resolver ligar para o Finn e tentar sondar sobre como estão às coisas com o Logan. Foi quando ela se lembrou do horário e que talvez não fosse uma boa ideia.

Maldito fuso horário! - Ela pensou, mas conhecendo bem o Australiano, essa hora ele ainda estaria farreando em alguma festa por NY. Não seria uma má ideia ligar agora, ele provavelmente não estaria mais sóbrio e seria mais fácil tirar algumas informações dele sem que ele percebesse e pudesse lembrar no dia seguinte. Procurando o telefone dele nas últimas chamadas ela tocou no nome dele para iniciar a chamada e aguardou. Após dois toques ela sorriu ao ouvir a surpresa na voz de seu amigo.

– Love? Está tudo bem?

- Ah... Oi Finn, tudo bem? Desculpe o horário, mas eu achei que não seria um problema ligar agora já que você costuma dormir tarde... Ou cedo dependendo do ponto de vista... – ela disse meio desconcertada, dando uma risadinha.

- Está tudo ótimo e não se preocupe com o horário Love, eu acabei de chegar de um vernissage incrível, tivemos um coquetel fantástico que você adoraria me acompanhar. Eu ainda vou trabalhar em alguns contratos para uma exposição então temos tempo de sobra... Mas... me diga, qual a razão da honra desta ligação nesta ótima noite? Estou surpreso, ainda mais porque nas poucas vezes que nos falamos, eu que te liguei. Você sabe é sempre muito bom falar com você, mas o fato de você ter me ligado, sendo que já nos falamos hoje, num horário não muito habitual para uma pessoa como você, me deixa um pouco nervoso. Está tudo bem? – O Finn disse preocupado.

- Está tudo bem sim Finn, eu só estive pensando que eu não tenho sido uma pessoa muito agradável com você e com o Colin ultimamente, vocês são sempre tão gentis comigo, me ligando e muitas vezes me animando. Eu acho que devia um pedido de desculpas pela forma como tenho tratado vocês.

- Love? De onde vem isso tudo? Você não tem que pedir desculpas por nada, nós entendemos que deve ser difícil para você, você sabe, nos ter por perto. Nós te ligamos esporadicamente porque nós te amamos Rory. Você podia ter pedido para nos afastarmos, mas você sempre foi gentil demais para pedir isso, então nós respeitamos e te procuramos somente quando a saudade é muito grande. – ele disse docemente. – Você sabe que independente do que acontecesse com você e com... bom, você é nossa amiga, antes de qualquer coisa. Você é uma de nós... você sabe disso certo?

As palavras doce dele a pegaram de guarda baixa, e a emocionaram mais do que devia. Sem conseguir esconder a voz embargada ela respondeu – Obrigada Finn, vocês são os melhores, mas vocês não precisavam fazer isso.

- Fazer o que? O que está acontecendo Love?

- Evitar me procurar. Você não precisavam fazer isso. Eu nunca quis que vocês se afastassem de mim. Eu precisava desse contato, mais do que você pode imaginar. E eu me sinto patética porque não é justo com vocês, porque eu usei vocês para me sentir perto... - ela respondeu

Mudando bruscamente de assunto ele questionou animadamente - Bom e o que o Finn aqui pode fazer por você?

Uma das coisas que ela adorava no Finn era como ele conseguia transformar qualquer conversa pesada e séria em algo leve e divertido. Sorrindo com a familiaridade ela resolveu abordar o assunto logo de uma vez. – Finn, como as pessoas estão? – Ela ouviu o Finn engasgar e um breve silêncio até obter uma resposta.

– As Pessoas? Ahhh... As pessoas estão... caminhando, Love.

Caminhando? O que isso significa? O que ele quer dizer com 'as pessoas estão caminhando'? Que ele seguiu a vida? Que ele encontrou outra pessoa e que está tudo bem?

- Love? Você está ai?

Saindo dos seus devaneios ela respondeu – Ahhhh...Estou... Ah, ok então Finn... Foi bom falar com você. Desculpa mais uma vez o horário... – Ela começou a se despedir quando foi interrompida por um Finn cauteloso. – Rory, você realmente quer falar sobre o Logan?

- O que? Ahhh... Não, eu não estava falando dele, quer dizer...Eu não sei! – Ela respondeu confusa. Mas desistindo de lutar ela inteirou – Eu sinceramente tenho medo do que possa ouvir, mas eu já não aguento mais não saber Finn.

- Eu não acho que você tenha o que temer Love. Ao passo que eu também não acho que essa conversa deva acontecer por telefone. Vamos fazer o seguinte, eu vou te encontrar. A próxima exposição da galeria será só daqui um mês, me dando tempo de sobra para um pausa. Eu vou pra Londres e passo esse fim de semana com você o que acha? Eu acredito que chegue a tempo para tomarmos um drink em algum Pub amanhã assim nós nos divertimos um pouco e conversamos sobre 'as Pessoas'. – O Finn respondeu animadamente. Ele sempre dava um jeito de fazer festa de tudo – Além do mais eu estou morrendo de saudade de você. – ele complementou.

– Parece um plano. – Ela respondeu.

- Parece não Love, é! – ele disse e desligou o telefone, deixando-a com uma esperança de que talvez as coisas pudessem voltar a ser como eram antes.