O sono tomava conta da casa dos Becket até a mais nova deles despertar numa manhã de neblina em Vancouver.
-Papai ! - Nancy chamou e se levantou apressada, ainda vestindo seu pijama, correndo até o quarto de seus pais.
Havia um tempo que era apenas do seu pai, mas ainda era difícil se acostumar com a ideia. A mãe de Nancy,Mako Mori, a famosa piloto de Jaeger que havia salvado o mundo uma vez, havia falecido há pouco tempo. Às vezes, a falta da mãe a fazia chorar de repente e de um jeito incontrolável, a pobrezinha mal sabia explicar porque exatamente estava chorando. Seu pai, Raleigh Becket, sabia muito bem como era uma perda antes dessa. Nunca superaria a falta de Yancy, mas a dor tinha se aliviado ao longo dos anos, porém perder Mako daquela forma, quando tudo estava aparentemente bem, depois de lutarem tanto, foi um grande choque que ele também estava tentando superar. Nancy tinha lhe dado forças para continuar com a vida em frente.
-Nancy... - murmurou Raleigh, ainda sonolento - já está de pé?
-Já! - ela conseguiu sorrir - apesar de toda essa fumaça, sei que já amanheceu e você prometeu que iríamos passear hoje, não esqueci.
-Não posso dormir nem mais um pouquinho? - o pai quis apelar para a misericórdia da filha.
-Só mais um pouquinho - Nancy respondeu apontando o indicador seriamente para o pai.
Raleigh sabia que ela tentaria fazer o café da manhã sozinha e transformaria tudo numa bagunça enorme, sendo assim, ele enfrentou o sono e foi atrás de Nancy antes que ela botasse fogo em tudo.
Ele ajudou a filha a fazer waffles, preparou café com leite para os dois e logo eles comeram tudo. A flor no vaso no centro da mesa os distraiu por um momento. Mako escolhia sempre flores diferentes para enfeitar aquele vaso. Pai e filha ainda não tinham conseguido desfazer esse hábito.
-Come logo senão não vou te esperar - ele tentou animar a filha ao perceber que ela pensava o mesmo que ele.
-Não, não senhor - negou ela se animando - vai sim!
Nancy se apressou e Raleigh riu de como ele comia. Logo eles estavam prontos para sair de casa.
Havia um parque na cidade e os Becket criaram o hábito de fazerem caminhadas pela manhã nos fins de semana. Raleigh fez isso pela primeira vez uma semana depois da morte da esposa. Bem depois de a ficha ter caído. Era difícil mas, para sua menininha, parecia tão pior e tão cruel do que jamais seria para ele. Era outra dor que ele conhecia muito bem, perder a mãe sem ainda estar preparado para isso, e nunca ninguém estaria, ainda mais tão jovem. Nancy era muito mais nova que a idade de seu pai de quando a mãe dele se foi. Foi na vontade e compaixão de consolar a filha que Raleigh a pegou no colo, completamente quieta, agarrada ao seu pescoço firmemente, e andou com Nancy até chegarem àquele parque. E agora, andar até ele já não trazia lembranças de imediato tristes.
Nancy propôs uma corrida e Raleigh logo aceitou com um sorriso, correndo mais devagar para deixar ganhá-la de propósito.
-Assim não vale - Nancy reclamou - eu não sou café com leite, corre pra valer da próxima vez, tá pai?
-Tudo bem - ele riu - que tal outra competição?
-Como o que ? - a menininha se interessou.
-Ver quem atira pedras no lago mais longe - Raleigh explicou.
-Beleza - ela lhe mostrou um joinha - que tal jogarmos de lá de cima da ponte do lago?
-Beleza - o pai imitou a filha e ela riu em resposta.
Subiram a pequena ponte sobre o lago e começaram a jogar as pedras. Raleigh jogava mais longe, mas Nancy não se dava por vencida e se esforçava pra jogar ainda mais longe. Depois de um tempo jogando as pedrinhas, ele percebeu algo se movendo na água. Lá no fundo, seus velhos instintos entraram em alerta para esperar por algo muito maior, mas logo de desfez daquela sensação e o peixe que saltou sobre a água tranquilizou seus ânimos.
-Você viu filha? - perguntou Raleigh apontando para onde viu o peixe.
-O que ?O que? - Nancy ficou curiosa.
-Um peixe pulou da água - ele contou - fica prestando atenção pra ver se ele aparece de novo.
Esperaram um instante e o peixe pulou de novo.
Nancy sorriu pelo fascínio, e o sorriso de Raleigh veio por ver o dela.
Continuaram observando até que uma chamada no celular dele interrompeu o momento.
Fazia anos que não via aquele número. Antes de atender, olhou para Nancy temendo pelo que aquela ligação significaria para ela.
