- Capítulo 1 –
Um histórico quase perfeito
Sirius equilibrava-se nos pés traseiros de sua cadeira, seus olhos acompanhando com descaso cada singelo movimento da Sala Comunal. Um de seus braços estava largado para trás, enquanto o outro se mantinha levemente erguido, os dedos brincando de girar uma varinha.
-Anime-se, Padfoot, o ano mal começou – disse James, ainda encarando o pergaminho em que fazia suas anotações.
Apesar de Sirius não fazer o mínimo esforço para esconder seu tédio, James era sempre o primeiro a reparar. Mais de seis anos de convivência haviam feito com que eles se entendessem como ninguém.
-É justamente esse o problema, este ano está um saco – resmungou Sirius, bufando. – Você cheio de compromissos de Monitor-Chefe – ele frisou o termo com zombaria – e o Aluado pra lá e pra cá com a Emmeline, além das malditas rondas de monitoria. O Rabicho sem condições, toda hora desaparecendo e falando que tem que estudar, correndo atrás de comida ou dando qualquer desculpa para sumir... Como se não bastasse, nada de azarar o Ranhoso... e tudo por causa da Evans. – Ele revirou os olhos.
-Deixa disso, você que está emburrado. Além do mais, – depois de olhar para os lados e certificar-se de que não havia nenhuma ruiva por perto, James prosseguiu – a Lily não precisa saber que você continua querendo atormentar o Ranhoso.
-Que diferença faz? Eu teria de fazer isso sozinho, já que você amarelou – colocando a cadeira no lugar e guardando a varinha, Sirius levantou-se. – Bom, eu vou procurar alguma coisa pra fazer.
-"Alguma coisa"... – repetiu James, rindo. – Anda atrás de quem, desta vez?
-De ninguém, estou apenas expandindo meu círculo de amizades – Sirius sorriu marotamente e, depois de dar dois tapas no ombro do amigo, atravessou o quadro da Mulher Gorda.
Ele vagou pelo castelo sem rumo definido. Com a cabeça levantada, Sirius procurava alguma diversão, qualquer coisa que espantasse o tédio que tanto lhe assombrava. Foi quando, prestes a fazer a curva do corredor, ele avistou longos cabelos negros, levemente ondulados, inconfundíveis. O lado esquerdo de sua boca ergueu-se em um sorriso divertido.
As palavras já estavam na ponta de sua língua, porém, ao dar mais alguns passos, uma segunda silhueta materializou-se, revelando um rapaz alto que conversava alegremente com a garota. Mark Whimpet, bufou Sirius, revirando os olhos. O que ela tem com corvinais?
O garoto lançou um olhar rápido para o grifinório, mas logo voltou-se para Marlene, murmurou uma despedida, sorrindo, e começou a andar. Ao passar perto de Sirius, cumprimentou-o com um aceno de cabeça, que foi imitado de maneira impecável.
-Pensei que gostasse de caras mais fortes, McKinnon – disse ele, aproximando-se da morena com uma sobrancelha erguida.
-Como você? – zombou ela, iniciando sua própria caminhada. Em instantes, Sirius a alcançou e ficou em sua frente, andando de costas para encará-la com o sorriso característico de um Black.
-Por exemplo.
Marlene revirou os olhos e empurrou-o levemente pelo ombro, obrigando a caminhar a seu lado.
-Deixe-me adivinhar, seus amigos te abandonaram – disse ela, encarando-o de soslaio.
-Assim você me ofende, Lenizinha. Não posso procurar uma amiga?
-Pra você vir até aqui me encher o saco, coisa boa não é. – Marlene riu.
-Encher o saco? Quer dizer que eu te incomodo?
-Sim.
-Minha presença te deixa nervosa? – indagou ele, provocativamente tornando a caminhar de frente para a garota. Ainda rindo silenciosamente, Marlene o empurrou para o lado mais uma vez.
-Você não se cansa dessas mesmas coisas não? Logo você, o senhor do tédio...
-Esse é o ponto. O mundo é um tédio, mas você, McKinnon, ilumina o meu dia – Ele completou a frase com um beijo rápido na bochecha de Marlene. Com isso, levou um tapa fraco no ombro.
-Sirius, de verdade, se você veio até aqui só pra me encher o saco...
-Na verdade, eu tenho uma coisa pra te perguntar.
-Ah, mais uma? – Ela revirou os olhos. Sirius a ignorou e entrou em sua frente, mas, desta vez, parou de maneira abrupta, por pouco não provocando uma colisão.
-Vai pra festa do Slug? – perguntou ele, sorrindo.
-Não com você. – Marlene franziu a testa.
-Vai decepcioná-lo desse jeito?
Ela soltou um riso curto. Como se Slughorn já não estivesse acostumado.
-Eu não fui a primeira, muito menos a última namorada sua, Sirius. Não fale como se fôssemos o romance do século. Agora, se me permite... – Ela empurrou-o fracamente para o lado mais uma última vez, logo em seguida sumindo pelo corredor.
Sirius torceu o nariz quase que imperceptivelmente. Marlene McKinnon nunca mais aceitaria sair com ele. Isso o incomodava. Não que fosse típico dele sair com ex-namoradas, ex-ficantes, ex-casos, ou qualquer outro tipo de ex. Mas ela o incomodava.
Ele tinha ficado com diversas garotas, dos mais diversos tipos, dos mais diversos jeitos. A maioria, apenas tinha beijado em algum canto do castelo ou em alguma festa. Saíra com várias, mas não todas. Com algumas, saíra mais de uma vez. Namorara três. Dessas três, duas por cerca de um mês, uma quase três meses. Na verdade, ele teria orgulho desse histórico, não fosse por Marlene McKinnon.
Acontecera no final do sexto ano. Seu terceiro término de namoro, o mais longo deles. O grande problema? Ela terminara. Por mais que odiasse admitir, Sirius gostaria que tivesse durado mais. Gostaria que tivesse durado o suficiente para que a atração passasse, o suficiente para que ele se cansasse.
Talvez fosse o desafio o seu grande vício. Talvez ele precisasse de uma alguma coisa que desse graça para a vida, que quebrasse regras. Talvez esse fosse o grande motivo de ele estar incomodado. Não que eu precise dela. Provavelmente, aconteceria a mesma coisa se fosse outra pessoa. Ou talvez... talvez fosse apenas Marlene.
N/A: Nos últimos anos, antes sem ânimo para escrever, tendo problemas de terminar histórias. Sendo assim, decidi que só postaria algo novo um vez terminado. Optei por uma short-fic Sirius/Marlene de 5 capítulos, sendo os próximos maiores do que este primeiro, mas também não muito longos. Pretendo postar um por semana. A história é simples, mas gostei muito de escrevê-la. Por isso tudo, se você gostar, não deixe de comentar. Quem sabe isso não me traz mais inspiração? ;P
