Annie
"Annie?"
Ela parecia a mesma Annie de sempre, doce e saudável, alegre e ingênua, perante a paisagem paradisíaca que dominava todo o Distrito 4. As ondas revelavam sua força nas pedras que cresciam imponentes, separando a liberdade da prisão. Os ventos balançavam seus cabelos castanhos, ainda bem cortados do Capitol, embora isso não impedisse os fios de se embaraçar. Ela era sua Annie.
"Pensei que estivesse na Capitol, Finnick..." a voz suave que ninguém mais escutava senão ele ou a velha Mags. O tom de criança, apesar da idade, (ora, sempre esquecia que ela era a caçula da família!) o encantava tanto... Tanto, tanto, tanto era simplesmente o mundo em que vivia.
"Queria saber se está tudo bem".
Ela sorriu. Ele se sentou ao seu lado, encarando o mar.
"Parece não ter fim..." ele imaginou se algum dia suas frases voltariam a ter fim. Se algum dia ela voltaria a ser a doce e saudável, alegre e ingênua Annie.
"Parece" concordou, ainda sem olhá-la.
"Velejar..."
"Para sempre. Eu sei Annie" pensou em Wiress, e em como Beetee sempre tinha que finalizar suas sentenças. Johanna os chamava de Faísca e Pancada, e ele não queria isso para sua Annie.
Annie virou-se para ele, os olhos castanhos, grandes e redondos, encarando-o curiosos, os lábios comprimidos num sorriso infantil. Tirou uma risada dele, uma dos poucas verdadeiras, mas então o rosto inocente desmanchou-se em questão de segundos e um grito agudo escapou dos lábios agora trêmulos.
"Na- não Annie, eles não estão mais aqui, não precisa ter medo. Sou eu, Finnick, seu Finnick, Ann."
Ele a puxara para seus braços, a cabeça enterrada no cabelo castanho, palavras gentis sendo murmuradas suavemente para ela. As mãos hábeis esquentavam o corpo pequeno, que aos poucos transformaria os gritos em choro. Com o tempo demoraria ainda menos.
"Sean ¹?" não passa de um engasgo, de uma alucinação que ela sabia não ser verdade, mas é o suficiente para fazê-lo suspirar. Odiar.
"Não Ann. É o Finnick. Sean está longe" ele não gosta de mentir para ela, embora constantemente prefira fazê-lo a acabar com sua inocência. É o melhor dela, em todos os sentidos, e se sobreviveu aos jogos, sobrevive à vida.
"Sean... Está longe?"
"Sim Ann, ele está. Um dia você o verá de novo, tudo bem?" ela balança a cabeça, como uma criança de cinco anos ouvindo uma bronca. Ele odeia tanto o que fizeram com ela! A sua doce e saudável, alegre e ingênua Annie não merecia aquilo.
Porque no fim, ninguém vence. Uma vez da Capitol, para sempre da Capitol. Essas são as regras, matar ou morrer é apenas uma conseqüência. E Finnick odiava isso. Ele lutaria por isso. Por sua Annie.
¹ Sean seria, no caso, o parceiro de distrito da Annie que foi decapitado. Eu imaginei que as feições do Finnick fossem parecidas com as dele, porém, nunca em hipótese alguma, digo que para mim eles eram apaixonados. Sempre foi o Finnick.
NA: Escrever Annie/Finnick é mais interessante do que procurar sobre Mao Tsé-Tung para a aula de Religião. Então, apesar de ser um tanto fluffy e clichê, espero que gostem! Imaginei a cena sendo logo após a vitória dela (:
