Esse é o primeiro capítulo da microssérie O Último Sonhador, que eu planejo que tenha 3 capítulos. Ela vai contar a história daquele homem morto encontrado em Arris Dome, em 2300 de Chrono Trigger. Aquele que "avisou" sobre o rato que não era uma estátua e que estava segurando uma semente.
Eu inventei a maior parte das coisas que acontecem nessa história, mas está tudo de acordo com a lógica e enredo de CT. Se você perceber alguma coisa errada, por favor me avise pra eu tentar consertar. E fique atento aos próximos capítulos.
O Último Sonhador
Parte I - O Valente
- Acharam mais alguma coisa?
- Nada.
- Nem eu.
- E eu só encontrei algumas raízes.
- Tudo bem. Vamos para o domo agora. Amanhã talvez tenhamos mais sorte.
Os quatro homens andavam juntos em meio à leve e eterna tempestade de areia, sob nebulosos céus negros. Vestiam farrapos sujos e grossos e cobriam seus narizes e bocas com pedaços de pano. Poderiam ser confundidos com marginais desolados ou pobres mendigos de alguma grande cidade, se a realidade não fosse tão mais cruel.
Caminhavam os quatro entre pedaços de concreto jogados ao léu, sobre a terra negra e seca. Três deles iam com as cabeças baixas em passos monótonos. O quarto, chamado Gart, liderava. Ele, ao contrário dos outros, avançava com passos firmes, cabeça erguida e atento tanto a seus companheiros como ao que havia a sua volta.
Em algum tempo, depois de muito andarem, chegaram ao que parecia ser uma cidade completamente devastada. Para onde quer que se olhasse, haveria casas em formatos semi-esféricos destruídas, vidros quebrados, metais retorcidos e enferrujados e prédios inteiros ao chão. E à frente, no centro de toda a destruição, uma monstruosa cúpula se erguia. Via-se sobre a estrutura metálica uma grossa camada de vidro quebrada em diversos pontos. Uma das imponentes torres da estrutura jazia tombada próxima da entrada, enquanto as outras que ainda riscavam o céu ameaçavam cair também.
- Até que enfim chegamos em casa! – disse um dos cabisbaixos, que não mudou muito sua expressão ao dize-lo.
Passaram pela porta automática da entrada, que ainda se mantinha funcional, e entraram no domo. Logo chegaram aonde estavam os outros moradores e foram recebidos.
- Encontraram comida? – perguntou um jovem, meio afoito.
- Não tivemos muita sorte hoje – respondeu Gart, enquanto seus companheiros se dispersavam pelo local – Mas achamos algumas raízes. Pode pedir ao Doan que ele vai distribuir com o que restou dos outros dias.
- Raízes? Hum, ok... – o jovem ficou com uma cara triste e se retirou da sua frente.
Gart ia falar algo para o garoto, mas foi interrompido por uma voz estridente detrás de si.
- Papai! Papai!
Ele mal se virou e sentiu uma criaturinha envolve-lo. Olhou pra baixo e viu a garota baixinha que o abraçava abaixo da cintura. Ela o olhava e sorria, como apenas uma criança inocente e feliz sabe fazer.
- Você demorou! Senti saudade, papai.
- E sabe que eu também senti, Lucile? – Gart levantou-a e a carregou nos seus braços, enquanto ela segurava seu pescoço – Mas me diz, o que você fez enquanto eu não estava?
- Ah, eu brinquei com a mamãe.
- Só com a mamãe? E as outras crianças?
- Elas num são legais pra brincar. As brincadeiras só têm graça com você e a mamãe.
- Hm, se você diz... E você sabe me dizer onde está a senhora Milena?
- A mamãe ta com o tio Doan. – Lucile apontou para a esquerda de Gart, onde a uma certa distância estavam Doan e Milena preparando a comida. O homem foi com a garota nos braços até lá.
Milena estava ajudando Doan a separar a porção de comida de cada um no domo. Não era muito. Tudo que havia eram raízes e alguma carne de mutante encontrado poucos dias antes. Muito longe de um banquete, ou mesmo de uma péssima refeição. Gart se aproximou de Milena.
- Oi gata.
- Oi Gart – ela sorriu.
- E aí, vamos ter aquele banquete hoje?
- Se você chama mutante assado de banquete, vamos ter é uma festa.
- Blerg, eu não quero! Carne de mutante é ruim. – reclamou Lucile, fazendo cara feia – Eu não quero, mamãe.
- Infelizmente, é necessário – respondeu Doan – Se não comermos logo, a carne vai apodrecer e se tornar inútil até pra nós. Agora com licença, preciso ir distribuir a comida.
O velho pegou dois pratos com carne e raízes e foi embora. Logo em seguida Lucile mostrou-lhe a língua.
- Lucile! Que coisa feia – Milena disse, em tom repreensivo.
- Mas ela tem razão – disse Gart – Essa carne ficaria melhor até se estivesse coberta com cera de ouvido.
Milena não gostou nada da resposta de Gart. Ela tirou Lucile do seu colo, disse que "papai e mamãe iam ter uma conversa" e levou-o para um canto do domo longe da filha.
- Gart, você sabe que a Lucile tem que se alimentar. Se você fala essas coisas, só a encoraja a não comer a única comida que nós temos agora!
- Calma amor. Eu só estou tentando ensinar pra ela que não é bom se conformar com essas situações. Ela tem que aprender que pode mudar as coisas quando precisar.
- Sim. Mas isso não se aplica ao jantar!
- Ai ai, ta bom... – Gart suspirou e sorriu de leve – Eu faço ela comer mais tarde, ok?
- É bom mesmo – Milena o beijou e abraçou fortemente
- Eu te amo. – ele disse durante o abraço – Você e Lucile são tudo pra mim... Acho que agora eu preciso de um descanso. Hoje nós andamos muito lá fora.
- Tudo bem. – afrouxaram o abraço para coversar se olhando – Vai usar o enertron?
- Mas é claro que não. Que pergunta.
- É sério, Gart. Eu não sei o que você vê de mal no enertron.
- Essa é a questão, gata. Nele eu não vejo nada. - Gart deu mais um beijo em sua amada e foi procurar onde dormir.
Poucas vezes na vida ele usara o enertron, não via necessidade. Aquela máquina dava noites inteiras de sono em poucos segundos, por isso todos a usavam. Porém, se esqueciam do que as noites de sono podiam dar e o enertron não: sonhos. Novos mundos fantásticos aguardando para serem vislumbrados e explorados. Não simplesmente uma fuga da cruel realidade, mas sim uma nova esperança para a mesma.
Talvez fosse pela falta dessa fantasia que quase todos viviam um marasmo eterno. Quanto a Gart, poderiam priva-lo da comida, da saúde e até da própria vida, mas nunca de seus sonhos.
E aí, o que achou? Deixa uma review, por favor, estou implorando!
Eu já tenho a sinopse dos outros capítulos pronta, então não deve demorar. Mas na velocidade que eu escrevo... é melhor só prometer que algum dia vai sair. XP
