Dois mundos
Obs: Universo alternativo... Rosette não é freira, Chrno não é demônio. Chrno Crusade como você nunca viu.
Resumo: Rosette e Satella são irmãs, completamente opostas, e tratadas de modos diferentes por seus pais. O resultado disso é...
Chrno e Azmaria também são irmãos. Unidos até o fim, sempre ajudando um ao outro.
Capítulo 1
"Já não agüento mais ser tratada assim. Eles ainda pensam que sou criança! Vigiam meus passos, meus horários, telefonemas, amigos...".
Uma garota andava pelas ruas escuras e sombrias da cidade, perdida em seus pensamentos, não sabia aonde ia, mas isso não importava. O que ela realmente queria era fugir dali, daquele mundo onde se sentia constantemente vigiada.
"Eu odeio essa vida, odeio as pessoas, odeio tudo!", seus pensamentos já não podiam mais ser controlados, logo eles extravasariam.
* * *
Rosette vem de uma família muito rigorosa, seu pai era general aposentado, com aquela pinta de militar manda-chuva. Queria tudo em ordem e no seu devido lugar. Sua mãe por sua vez, quase se tornara freira. Era extremamente religiosa, não fazia nada que fosse considerado pecaminoso. Sua irmã, ah sua querida irmã... Querida para os pais. Ela era a perfeitinha, fazia tudo que mandavam, além de ser bela, decidida, inteligente e prestes a fazer um belo casamento arranjado por seu pai.
Não era isso que ela queria para si, um casamento arranjado e viver sempre seguindo regras malucas. Ela queria conhecer o mundo, viajar, viver seus próprios sonhos. Numa noite, após uma discussão muito violenta, ela saiu correndo de casa, decidida a fugir e nunca retornar.
* * *
O céu estava tão escuro e uma fina chuva começou a cair, molhando-a toda, que não havia encontrado um abrigo para se proteger. Mas parecia que nada a incomodava naquele instante, ela estava sozinha, sem ninguém lhe obrigando a fazer o que não quer.
Como que para contrariá-la, ela ouviu o barulho de uma moto vindo em sua direção, mas não queria saber quem estava ali, queria apenas ir pra qualquer lugar longe de tudo que a cercava. Ele estava acelerando muito e acabou parando bem próximo, quase derrapando em cima dela. Um pouco de lama molhou seus pés e assustada ela virou para encará-lo, com uma fúria enorme no olhar, pronta pra gritar.
Até que seus olhos se cruzaram. Ele sorria timidamente, como que num pedido silencioso de desculpas. Ela olhou-o friamente.
Ro: Chrno seu maluco! Não vê por onde anda? – e chutou um pouco do barro para o lado do garoto.
Chrno: Claro que olho, senão teria parado em cima de você. – ele desceu da moto para conversarem, nenhum deles parecia se importar com o tempo – O que está fazendo na rua essas horas?
Ro: Fugi de casa. – falou calmamente como se fosse a coisa mais normal do mundo – Cansei de ter que escolher entre ser freira e realizar o sonho da minha mãe, ou me casar e realizar o sonho do meu pai.
Chrno: Você e suas loucas manias. – passou a mão tentando tirar um pouco de água dos cabelos – Por que não conversa com eles? Suas decisões precipitadas podem prejudicá-la.
Ro: E você acha que estou ligando pra isso? Se eu pudesse pegava um ônibus e viajava agora! Quero sair pelo mundo!
Ele a encarou longamente. Ela sempre fora impetuosa, tomando decisões do nada. Mas ela tinha um espírito livre que não se podia tentar segurar, pois seria em vão.
Chrno: Ei, essa chuva está piorando, vamos sair daqui? – estendeu o capacete pra ela.
Ro: Pra onde estava indo? – pegou o capacete e colocou na cabeça, sentando na garupa da moto.
Chrno: Pra casa. – ligou a moto e partiram – Estava com uns amigos, mas vi o tempo piorando e vim embora. Já estou ensopado mesmo, vou te deixar em casa e depois vou pra minha.
Ro: Nem pensar, me deixa na praça mais próxima. Quero pregar um susto neles.
Chrno: Ro, eles vão ficar preocupados com você. – disse em tom de apreensão.
Ro: Chrno, se quer me ajudar, não me leve de volta, por favor! – pediu fazendo beicinho – Que tal a gente dar umas voltas?
Chrno: Nessa chuva? Não, sinto muito, mas não quero ficar doente.
Rosette fechou a cara emburrada. Olhou ao redor... Para onde iria? Sua casa estava fora de cogitação.
Ro: Posso ficar na sua casa hoje?
Chrno: Que? – assustou-se – Seus pais não vão gostar nada disso, eles não vão com a minha cara.
Ro: E quem disse que eles precisam saber? – abraçou-o quando sentiu o frio machucar sua pele – Caso eu volte amanhã, falo que dormi na casa de uma amiga.
"Como o cheiro dele é bom" pensou esboçando um sorriso.
Chrno: Você não tem jeito mesmo... – parou num sinal vermelho – Ok, vamos pra minha casa. Mas amanhã bem cedo, você liga pra avisar que está bem. Seu pai é capaz de mandar a polícia atrás de você.
Ro: Com certeza, há essa hora ele já mandou! – riu baixinho.
Chrno: Já vou avisando, não quero ser acusado de seqüestro! – os dois riram muito.
Minutos depois pararam à porta de uma bela casa. Não era grande, mas inspirava serenidade.
Ro: Parece que estão dormindo – falou baixo com medo de acordar alguém.
Chrno: Já é bem tarde. Vamos entrar em silêncio. – já tirava a chave do bolso – Eu chamo só a Az e amanhã falo com minha mãe.
Ro: Será que não tem problemas?
Chrno: Ah, agora você se preocupa com isso? – elevou um pouco a voz - Mas é claro que não tem problemas! E mesmo se tivesse, não vou enfiar debaixo da chuva de novo – e entrou sendo seguido pela garota.
Passaram pela sala pouco iluminada àquela hora pelas luzes da rua. Entraram num pequeno corredor e pararam frente a uma porta entreaberta.
Chrno entrou, acendeu a luz e chegou perto da cama, enquanto Rosette observava tudo da entrada.
Chrno: Az... Azmaria. – ele chamava e balançava levemente seu ombro – Maninha acorda.
Az: Hum -.-
Ela sentou ainda sonolenta, esfregando os olhos e tentando acordar.
Az: Já é de manhã? – perguntou bocejando.
Chrno: Não, mas eu preciso de um favor – sentou ao seu lado.
Az: Amanhã eu faço... – deitou de novo e virou para o canto.
Chrno: Vai ser na chantagem mesmo. – coçou a cabeça, duvidoso – Se você acordar eu pago seu curso de canto...
Mal terminara a frase e a garota sentou já bem acordada por sinal.
Az: Canto? O que você precisa?
Chrno: A Ro precisa de roupa seca e um lugar pra dormir. – gota enorme na cabeça.
Az: Ro? – finalmente ela viu a garota parada à porta. – O que vocês dois estavam fazendo juntos na chuva?
Os dois coraram furiosamente. Era conhecido que tinham uma quedinha um pelo outro. Quedinha não, eles realmente se gostavam, mas como sempre, tinha a família de ambos no meio.
Chrno: Ahn... nada! Ela teve problemas em casa.
Az: Ah, sim... – ela acreditou, mas ainda assim levou na malícia. – Vem aqui Ro.
Enquanto Rosette entrava no quarto, Azmaria pulou da cama e se dirigiu ao armário. Tirou um pijama e uma toalha.
Az: Se quiser tomar um banho quente pode usar meu banheiro. – entregou sorridente.
Enquanto a garota se banhava, Azmaria foi buscar um colchão e Chrno foi preparar um lanche. Tudo arrumado e todos acomodados, Chrno vai para seu quarto, Az pula de volta na cama e Rosette também se deita. As luzes se apagam e o silêncio predomina...
Az: E então? – perguntou curiosa – O que vocês dois estavam fazendo?
Ro: Az! – exclamou furiosa – Eu estava andando e seu irmão me encontrou. Ai eu vim pra cá – limitou-se aos fatos.
Az: Claro... acredito... – riu baixinho – Ainda estão afim um do outro não é?
Ro: AZMARIA! Pára já como isso! – se tivesse luz, seu rosto estaria vermelho.
Az: Ele fala de você. Acho que vocês deviam tentar ficar juntos...
Continuaram a discussão até que o sono chegou.
* * *
Enquanto isso, em outra casa...
Sat: Calma, mamãe, ela deve estar na casa de uma conhecida esperando a chuva passar pra poder voltar.
Kate: Mas já está tarde, ela devia ter ligado – ela chorava desesperada, esperando notícias da filha.
Rem: A polícia só pode começar a busca depois de 24 horas – acabava de desligar o telefone. – Agora só podemos esperar.
Sat: Por que não ligam para as amigas dela?
Os pais se entreolharam, como se guardassem um segredo. E precisavam medir as palavras que seriam usadas.
Kate: Bom, não conhecemos bem as amigas de sua irmã – olhou receosa para a filha.
Sat: Como não conhecem? Eu sempre trouxe minhas amigas aqui, vocês tinham o telefone de todas!
Rem: É que sua irmã não é tão responsável como você. Tentamos mantê-la sob nossa vigilância.
Sat: Ah, suas manias de novo papai! Querem saber, eu vou dormir, tenho muito que fazer amanhã. Boa noite!
Continua...
