Título: Gotas
Autora: Christine Annette Waters
Classificação: Drama/Angst - PG-13
Pares: Draco/Ginny, Harry/Ginny
Comentários: Minha primeira DG. Em duas partes.

Gotas - Parte 1

A cela em que ela se encontrava não tinha janelas. Era impossível saber se era dia ou noite. No início, ela tentara contar o tempo que estava aprisionada. Mas bem cedo percebeu que seria impossível.

Depois que a jogaram ali, os Comensais não haviam aparecido mais. Não haviam abusado dela, não haviam a torturado. Nada. Apenas aquele silêncio gotejante.

Ela sabia que era importante. Mas o que interessava realmente a Voldemort era outra coisa.

O que estava dentro dela.

Sentia o bebê agitar-se e tremer. Sabia que estavam em perigo, e isso a deixava permanentemente tensa e agoniada pela falta de movimento.

De repente, ela sentiu. Era como um balão de água arrebentando dentro dela.

E, de certa forma, era mesmo.

Deslizou até o chão, trincando os dentes de dor. Podia sentir o bebê lutando para sair.

Mas não tinha forças para empurrá-lo.

Havia começado.


Do outro lado da porta, uma Comensal sorriu. Ela havia cedido sobre pressão. Exatamente como planejado.

Subiu as escadas das masmorras rapidamente, para dar as boas notícias ao Lord.


Draco Malfoy estava entediado, jogando pedrinhas contra a parede para ver se elas quebravam ou não, quando sua tia Bellatrix passou como um raio ao lado dele, disse rapidamente algumas palavras a um Comensal que estava de prontidão por uma porta e entrou a toda por ela.

Curioso com aquele comportamento estranho da tia, Draco foi perguntar o que estava acontecendo ao vigia.

"- Não sei se posso contar" – respondeu o outro, sussurrando, claramente nervoso.

"- Eu vou saber daqui a pouco mesmo. Conte!"

O vigia, não muito mais velho do que ele, olhou umas boas duas vezes para cada lado antes de responder.

"- É sobre Ginevra Weasley" – disse em voz baixa. O estômago de Draco deu um salto.

"- O que tem ela?"

"- Começou" – respondeu o outro quase com reverência. Draco franziu a testa.

"- Começou? O que você está..."

"- Ela está tendo o filho de Potter" – respondeu ele antes que Malfoy terminasse a pergunta. O ritmo cardíaco do mais jovem aumentou consideravelmente, mas ele pôs sua melhor máscara de indiferença.

"- Mas como?"

"- Tendo, oras" – o outro deu os ombros, como se aquilo fosse algo muito óbvio. Alguns segundos depois, acrescentou: - "Mas eu acho que não vão esperar ela ter o bebê naturalmente. Acho que vão cortá-la."

A máscara de Draco caiu por alguns instantes; ele não conseguiu esconder o horror.

"- Cortá-la? Mas ela vai..."

"- Morrer? Vai. Mas eu acho que é esse justamente o plano do Lord. Você sabe... se atinge Potter, é sempre bom para nós."

Parou de falar e assumiu uma postura rígida de vigia, dando a conversa como encerrada. Draco voltou ao seu canto inicial, a compreensão o atingindo.

"Eles vão cortá-la."

Weasley estaria morta muito em breve se alguém não fizesse nada. E o único alguém que poderia fazer algo era ele. Estremeceu.

Morta. Sem volta. Seus pensamentos começaram a voltar-se para encontrarem uma forma de salvá-la. Mas ele a odiava. Era a esposa de Potter. Gostaria mesmo de vê-la morta. Não era?

Apoiou-se na parede. Do seu lado direito, a poucos centímetros dele, a escada para as masmorras aparecia como um abismo. Ele sabia que descer ali seria suicídio. Mas algo lhe dizia, contra toda a lógica e instintos de sobrevivência, que ele, Draco Malfoy, precisava salvá-la.

Ele precisava decidir.

Levou menos de um minuto para isso.


Tropeçou no penúltimo degrau da escada. Não sentiu a dor de um corte no dedão; no momento seguinte, corria pelo corredor como sua vida dependesse disso.

Ele precisava chegar.

Estancou. Havia ouvido um ruído estranho vindo de umas das celas à sua esquerda. Grudou o ouvido na porta.

No início, era muito indistinto; poderia ser qualquer coisa. Mas pouco a pouco foi se definindo. Eram gemidos – mais especificamente, alguém tentando não gritar de dor.

Ele arrebentou a porta, ignorando o barulho agudo que ecoou até o andar de cima.

Estava esparramada num canto da parede, inclinando-se sobre si mesma, segurando a grande barriga como se esperasse manter sua criança ali apenas como o auxílio das mãos. Soluçava e chorava, parecendo agonizar.

Havia algo de muito errado ali.

Draco aproximou-se e se ajoelhou ao lado dele. Weasley levantou a cabeça, parecendo perceber sua presença ali pela primeira vez. Encarou-o com seus grandes olhos castanhos.

"- Malfoy..." – conseguiu balbuciar – "... o quê..."

"- Shhhhhhhhh" – ele fez um sinal para que se calasse. Não havia tempo para dar explicações.

Levantou as vestes rasgadas da ruiva – e foi então que viu a real gravidade do que estava acontecendo.

Ele quase podia ver o bebê. Em alguns pontos, a pele estava translúcida, e ele podia enxergar os movimentos que a criança fazia, agitada. Um pouco mais abaixo, havia uma mancha escura que estava lentamente se expandindo.

Draco não tinha a menor idéia do que era aquilo, mas definitivamente não era uma coisa boa.

Olhou para cima e a viu arfando e respirando com dolorosa dificuldade. Estava quase inconsciente. Ao longe, Draco ouvia os barulhos que os Comensais faziam ao correrem para lá. Pela primeira vez percebia o barulho que tinha feito ao arrombar a porta.

Agora, ele precisava de uma decisão definitiva.

Olhou para o rosto de Weasley, depois para a sua barriga. Debaixo de alguns centímetros de pele, um bebê estava morrendo, assim como sua mãe.

Os ruídos estavam mais perto.

Ela estava quase parando de respirar.

E Draco soube o que teria que fazer.

Um instante depois aparatou, junto com uma mulher agonizante, rumo a um destino desconhecido. Quando os Comensais chegaram minutos depois, encontraram apenas uma cela vazia.


Sentado num banco no saguão vazio do St. Mungus, eleesperava, vigiado atentamente por dois aurores que pareciam armários. Esticou as pernas e bufou, inconformado. Que bela enrascada havia se metido por fazer uma boa ação.

Aparatara com Weasley num beco nas imediações do Beco Diagonal. Como o local era fortemente vigiado desde o início da guerra, sua presença não passou despercebida pelo aurores; um instante depois eles estavam ali e a haviam levado para o hospital. Ninguém perguntara quem ele era e nem o reconhecera – só havia sido pego no próprio St. Mungus, quando Granger, que trabalhava lá, o viu e começou a gritar quem ele era e a apontar. Apenas não fora preso no mesmo instante porque Ginny, que estava sendo levada, havia gritado mais alto que a outra que, de fato, ele a havia ajudado, antes que cair na completa inconsciência. Desde então, haviam o posto sentado ali, sob intensa vigilância.

Isso fora há exatamente seis horas. E ele não sabia se Weasley e seu bebê estavam vivos, mortos ou num estado no meio disso, porque ninguém havia falado absolutamente nada. A única coisa que recebeu foram vários olhares feios de ex-grifinórios. Potter precisara ser segurado para não avançar em cima dele.

Pensou em levantar para beber alguma coisa, mas logo desistiu quando lembrou dos armários. Aquela espera era enlouquecedora.

Uma bruxa surgiu na outra ponta do corredor. Correu até os aurores e falou rapidamente com eles. Logo em seguida, um deles veio até Draco e comunicou, como voz seca e impessoal:

"- Ela quer falar como você."


O quarto era bem iluminado, e os lençóis imaculadamente brancos. Os aurores o colocaram para dentro com pouca sutileza, fechando a porta. Draco ainda ouviu seus passos ecoando nos corredores por alguns instantes antes de desaparecerem.

Ela estava lá.

Quase não parecia que estivera à beira da morte algumas horas antes, tirando o pequeno detalhe que estava ainda mais pálida do que o normal. Deitada na cama e apoiando-se nas almofadas, segurava um embrulho envolvido em mantas azuis – pelo visto tivera um menino. Potter, ao seu lado, parecia absolutamente encantado com a criança. Ambos pareciam muito felizes, embora a ruiva parecesse abatida.

Ginny levantara os olhos do filho assim que o ouvira chegar. Potter também olhara para ele, mas seus olhar feroz contrastava fortemente com o semblante aparentemente tranqüilo de Weasley.

"- Harry... por favor." – lançou um olhar cheio de significação. Potter olhou para ela, depois para Draco, e saiu contrafeito porta afora, fechando-a com um pouco mais de força com que pretendia.

Era claro que ele iria ouvir tudo grudando o ouvido na porta.

Ginny pigarreou uma vez, segurando o filho com mais força. Agora parecia desconfortável.

"- Eu... eu me lembro o que você fez por mim e por Sean."

Draco não respondeu. De repente, a parede levemente azulada parecia muito interessante. Ginny continuou:

"- Eu sou muito grata. Harry também. " – fez uma pausa – "Principalmente pelo nosso filho".

Draco desviou o olhar da parede e encarou-a. Seus olhos transmitiam verdade, mas ele nunca imaginara que uma Weasley fosse um dia agradecê-lo por qualquer coisa. As palavras saíram antes que pudesse segurá-las.

"- Eu precisava fazer aquilo."

Ginny não pareceu surpresa. Voltou os olhos para seu bebê, parecendo hesitante quanto ao próximo movimento.

Silêncio.

"- Agora, o que vai acontecer com... acho que você sabe."

"- Não, não sei."

"- Quanto a você ser... ter sido Comensal."

Draco não precisou pensar muito na resposta. Ele já sabia.

"- Vou para Azkaban. Mas o fato de tê-la salvo deve servir para melhorar alguma coisa. Afinal, você é a esposa de Potter." – fez uma pausa tensa – "Talvez eu esteja livre em alguns anos."

Ele não sabia realmente porque acrescentara a última sentença.

O bebê choramingou. Ginny o balançou com suavidade.

"- Espero que você tenha sorte. Se salvou a mim e Sean, você não pode ser tão ruim assim."

Draco tinha que reconhecer que o raciocínio tinha certa lógica.

Ouviram um estalo. Potter abrira a porta com um ar visivelmente satisfeito.

"- Os aurores vão levar você, Malfoy" – anunciou ele, enquanto lançava um olhar de esguelha a Ginny.

Draco virou-se e encarou os olhos castanhos. Ele sabia que não havia mais nada a ser dito. Saiu. Os aurores o seguiram como dois guarda-costas. Quase no final do corredor, ele ouviu o choro forte do bebê Sean. Permitiu-se um sorriso.

Foi quando finalmente compreendeu porque a havia salvo.