Jared's POV

Estava tudo acabado. Isso era um fato.

Não havia motivo para viver, não havia motivo para continuar. Tudo o que eu mais amava se foi. O que eu devia fazer?

Chad, Misha e Katie... Eu sabia o quanto eles sofreriam, mas eu já havia feito a minha escolha. Não podia voltar atrás.

Há alguns anos eu me perguntei: o que leva uma pessoa a cometer suicidio? Dor, raiva, amor? E agora eu tenho a resposta.

Não há emprego no mundo, não há casa, carro, nenhuma jóia ou dinheiro, nada faz você desistir. Você sente como se essa fosse o seu destino. Se jogar de um prédio, cortar os pulsos, tomar veneno. Tudo tão simples, mas tão perigoso.

O que me levou a pensar que essa era a única saída? Amor... Dor... Sandy morta em meus braços, talvez.

Ela era a única coisa que eu tinha. Era meu hoje, meu amanhã e meu ar. Era meu sim, o meu não e meu talvez. Era meu motivo para sorrir, para chorar ou para fazer os dois ao mesmo tempo. Ela era o alimento que eu precisava, a força que me movia e a sanidade que me mantinha na linha. Sandy McCoy. Linda, morena, sorridente. A garota da minha vida. E que estava... Morta.

Entendam, ela era meu verdadeiro amor e não havia vida sem ela. E aquela agonia estava me matando aos poucos, então por que adiar algo que logo virá? Uma hora ou outra eu iria morrer. Não havia porque viver.

Eu costumava a orar, a pedir pela vida dela. Mas nada adiantou. "Deus" a levou de mim mesmo eu lhe implorando com todo o meu ser que não deixasse o câncer vencer. Sabiam que câncer de mama é raro em mulheres tão jovens como Sandy? Mas mesmo assim esse foi o motivo de sua morte.

Já havia ligado para meus irmão e meus amigos. Chorei ao telefone e me desculpei por algo que eles nem sabiam que eu iria fazer. Eu já havia tomado a minha decisão.

Pensei por um ultimo momento em Katie, Chad e Misha. Nunca haviam saído do meu lado, nem mesmo quando eu virei um porre e os maltratei. Nem mesmo quando agi como um filho da puta e expulsei-os de casa. Nem mesmo quando joguei na cara deles todas as coisas que mais feriam. Eles sempre ficaram ali, esperando por mim. Mas eu nunca iria voltar. Nunca.

Pensei em toda a minha vida. É verdade, quando está prestes a morrer você vê toda sua vida passar como um filme diante dos olhos. Lembrei da minha infancia, coisas que eu nem sabia que tinha vivido, lembrei do meu primeiro amor, Joanna, pensei nos rostos que vi durante minha vida, nas vozes que eu ouvi, lembrei do colegial e sobre minhas duvidas sobre minha sexualidade, lembrei da faculdade e de um beijo que eu havia dado em Matt que me odiou pelo resto do semestre, lembrei de ter trancado a matricula e ter achado Sandy trabalhando na secretaria. Seu olhos brilhavam com tanta intensidade... Lembrei de ela me ajudar e de seu toque gentil. Tudo passou tão rápido em minha mente e quando vi já estava no meio da avenida. Um carro me acertou em cheio.

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Eu estava morto. Não havia como não estar. Não com a força daquela batida. Havia me jogado longe. Eu senti uma forte dor na cabeça e então tudo se escureceu. Bem menos doloroso do que eu havia imaginado. E bem mais satisfatório também.

Eu voltei a sentir meu corpo e percebi que estava deitado. Então era como Nem Por Cima do Meu Cadaver? Eu ia acordar e converçar com um anjo? Simples assim?

Abri os olhos e senti eles queimarem pela luz do lugar. Meu corpo todo doía, mas principalmente a cabeça. Ela parecia que iria explodir. Tentei abrir os olhos de novo e logo me acostumei com a claridade. Respirei fundo e levantei um pouco a cabeça, mas me arrependi e a deitei de novo.

Um anjo. Era ele ali na minha frente. Eles eram realmente lindos, porque aquele que estava me olhando era o ser mais bonito que eu já havia visto em toda minha vida. Nem Sandy era tão... O que estou dizendo? Comparar um anjo com um humano é idiotice. Claro que eles seriam mais belos. E esse devia ser o mais belo de todos. Tinha os olhos verdes tão profundos que fazia eu me sentir nu. A pele era clara e sem imperfeições, sem falar nas sardas tão magnificas que se espalhavam pelo rosto. O cabelo era um tom de loiro e caía suavemente em sua testa. Os lábios eram cheios e rosados... Beijáveis. O contorno de seu rosto era perfeito. Sua face era uma mistura de detalhes másculos com femininos, como seus enormes cilios. Era... Perfeito.

Eu queria falar, mas minha cabeça pesava tanto que decidi que era melhor ficar calado. O anjo se aproximou de mim e seus olhos verdes me fitaram de uma maneira que me tranquilizou. Não havia porque falar. Eu estava morto. Ponto final. Literalmente.

"Jared?" O anjo tinha uma voz tão melodica que me fez estremesser dos pés a cabeça. "Está me ouvindo?"

"E-estou." Eu falei com dificuldade por conta da dor em minha cabeça. "Eu... Morri?"

Ele riu. Deve ter achado engraçado o fato de eu estar feliz por isso. "Não." Senti o mundo rodar. Como assim não? Eu estava vivo?

"Mas, mas..." Eu não achava a palavracerta para expressar o que eu sentia então gritei, mas parei sentindo uma dor horrivel.

"Acalme-se, senhor Padalecki." Era um médico, alto e moreno, com os olhos frios e azuis. Ele sorriu de uma maneira forçada. "Sou o doutor Welling."

"Foda-se quem você é! Eu devia estar morto!" Eu quase gritei, mas evitei, afinal aquilo era um hospital.

"Calma, Jared." Foi o "anjo" que falou e eu bufei.

"Era mesmo para o senhor estar morto." Welling falou e eu respirei fundo tentando me acalmar. "Mas o senhor Ackles o trouxe a tempo."

"Me trouxe?" Eu disse a ultima palavra com nojo. Ele havia me levado ao maldito hospital?

"Sim, eu te atropelei, mas você não devia andar daquele jeito no meio da avenida." Ele parecia constrangido por ter me machucado. Devia estar constrangido por não ter me matado! "Vi que estava sangrando muito então te enfiei no meu carro e te trouxe imediatamenre." Chegava a ser engraçado vê-lo tentar se desculpar.

"Se Jensen não o tivesse trazido, Jared, você estaria morto." O médico disse e eu senti tanta raiva daquele loiro na minha frente que toda sua beleza pareceu sumir diante de meus olhos.

"Por que me trouxe?" Eu perguntei sentindo meus olhos marejarem. "Por que não me deixou morrer em paz?"

A boca dele formou um pequeno O como se ele finalmente tivesse me entendido. "Ah... Você tentou suicidio..." Seus olhos se focaram em um ponto acima de minha cabeça. Ele estava processando as infromações. "Eu não..."

"Pois é. E agora estou nessa maldita maca. Obrigado, senhor Ackles. Pode ir embora agora." Eu cruzei os braços e virei o rosto para a parede. Infantil ,mas eu não conseguia olhá-lo mais. Ele havia estragado tudo!

"Eu sinto muito. E mesmo que soubesse que estava tentando se matar, Jared, eu iria salvá-lo." Jensen disse e eu tive que olhá-lo incrédulo.

"Iria me impedir de realizar algo que eu queria?" Eu não o entendia. Não entendia como podia ser tão irritante.

"Iria. Porque não era sua hora, Jared. Se você chegou vivo nesse hospital, Deus queria que eu o tivesse salvado!" Ele sorriu de uma maneira terna e eu tentei não pensar em como eu me encantei com seu sorriso.

"Deus? O mesmo que me tirou a única razão da minha existencia? Esse Deus, Jensen?" Eu o encarei, mas ele manteu a postura. Irritante.

"O mesmo. A não ser que você seja de outra religião." Ele abriu mais o sorriso e eu queria socá-lo naquele momento. Ele ainda conseguia fazer piada da situação.

"Eu queria mesmo deixá-los continuar com a troca de farpas, mas tenho que fazer alguns exames em você, senhor Padalecki." O doutro disse e eu dei ombros. Nada me importava. Nada. "Tenho que ver se há danos internos, algo que passou despercebido."

"Eu já vou indo." O loiro disse e eu o ignorei. Afinal, ele era responsável pela minha infelicidade. "E Jare, pensa no que eu disse."

Eu o observei sair com os olhos arregalados. Ele ousava me chamar de Jare? Tão... Metido! Tão confiante! Tão seguro! Eu não acreditava que alguém pudesse ser tão... Tão irritante!

"Vamos começar?" Welling perguntou anotando algo.

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Depois de uma bateria de exames a enfermeira veio me dar um remédio que me faria dormir, ou seja, eu não sentiria mais dor. Ela era bonita, mas me lembrava muito Sandy. Baixinha e morena.

"Agora você vai dormir." Ela parecia que estava falando com uma criança e eu a ignorei. Ela me irritava por lembrar Sandy. Idiota, eu sei. "Amanhã já vamos tirar seus curativos, menos o da cabeça."

"Ok." Eu disse na esperança que ela parasse de falar. Senti o sono ir me tomando ao pouco e me deixei levar pela leveza.

Eu estava num campo florido. Era um lindo lugar. Eu sentia que nunca havia ido lá, mas já havia o visto de longe. Aquela paisagem me acalmou e eu me senti com dez anos de novo. Como uma criança que não teme a morte, nem a dor, nem tem medo. Só se deixa levar.

Eu vi que alguém estava sentado entre as flores. Devia ser a única pessoa que me traria paz naquele momento. Sandy. Eu corri e pensei que ela iria se afastar mais, como em todos os os meus sonhos. Mas eu consegui seguir até ela.

"Olá." Eu fiquei em choque por um momento reconhecendo aquele sorriso tão envolvente. Não era Sandy. Não era uma baixinha morena de olhos meigos. Era o anjo... Quer dizer, Jensen. O meu "salvador". Ele vestia uma camisa azul marinho e uma calça jeans clara. Sorria como se eu fosse tudo o que importava. E não posso dizer que não gostei disso. "Sente-se, Jare."

Eu só consegui obedecer aquela voz tão calma e suave. "Porquê?" Eu perguntei e pensei que ele iria ficar confuso, mas o loiro respondeu prontamente.

"Porquê eu? Você me vê como um anjo. Então eu acalmo você, goste ou não." O mesmo tom seguro que fazia eu odiá-lo. Mas eu não o odiei naquele momento. "Pensou que seria Sandy." Não era um pergunta. "Ela é a razão para você ter tentado se matar, Jared. Ela não te acalma. Nem um pouco."

Percebi que ele tinha razão e sorri contagiado pelo seu sorriso. Suas sardas estavam distacadas pela luz do Sol que tocava sua pele. "Você é mesmo um anjo?"

Jensen riu de uma maneira tão gostosa que eu esqueci porque ele me irritava. "Não. Mas talvez tenha a ver com um."

"Você parece um." Eu murmurei e vi ele se levantar me estendendo a mão. "Que?"

"Está na hora de acordar, Jare." Ele me puxou pela mão e eu acordei. Estava no hospital e as luzes já havia sido apagadas. E toda a minha raiva de Jensen voltou.

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"Daqui uns dias já terá alta! Teve sorte de não ser nada grave!" Welling parecia bem mais animado. Vi o chupão em seu pescoço. O que uma boa noite de sexo não fazia, huh?

"Ótimo." Eu murmurei. Eu tentaria de novo. Eu sabia disso.

"Quer que eu ligue para algum de seus parente?" O moreno me perguntou e eu neguei com a cabeça. Meus pais não se importavam comigo. Talvez Meg e Jeff, mas meus pais não. Eles gostavam mais dos filho verdadeiros deles. Talvez Sharon sentisse algo por mim, mas Gerald não.

Eu era adotado. Eles me levaram para sua casa quando eu tinha 8 anos. Sharon me queria, mas Gerald não. Nunca quis. Assim que Meg nasceu Sharon se arrependeu de ter me adotado. Eu era bagunceiro, mas não o suficiente para fazê-la se arrepender. Acho que ela nunca me amou.

"Ei, campeão." Aquela voz mandou arrepios por todo meu corpo. Era raiva, só podia.

"Vai embora." Eu disse entre dentes. Não queria vê-lo. Não mesmo.

"Eu só vim deixar umas coisinhas aqui." Jensen entrou no meu quarto e colocou dois livros na mesa ao lado da minha maca. "É do Sydney Sheldon. Se houver Amanhã e Nada Dura para Sempre*."

"Eu odeio ele." Eu não odiava, na verdade gostava de seus livros, mas não queria dar o braço a torcer.

"Tudo bem. Mas ele ajuda a pensar na vida." Ele era insistente, tenho que admitir que quase cedi ao seu argumento.

"Não vai me impedir de tentar de novo." Eu falei e vi seu rosto ficar zangado. Como eu queria.

"Não, não vai. Você é uma pessoa movida por impulso, Jared. A adrenalina já se foi. Não vai tentar de novo. Já sabe a sensação." Ele parecia muito clinico daquela maneira. Fiquei com mais raiva.

"Não foi por isso que eu tentei suicidio!" Eu gritei e a dor na cabeça não foi tão forte.

"Eu sei que não. Perdeu alguém que amava, sua mãe, ou namorada. Então tentou sentir dor, mas não era maior do que a dor em seu peito. Aí tentou suicidio. Não via motivo para viver."

"É psicologo?" Eu franzi o cenho e cruzei os braços. Odiei o fato del estar certo.

"Naah! Só conheço um pouco a mente das pessoas." Ele deu ombros. "Eu sou seu responsável."

"Que?" Eu perguntei confuso.

"Eu assinei o termo de responsábilidade por você. Tenho que cuidar de sua saúde agora." Ele sorriu de um jeito tão lindo que eu esqueci de novo o porque de odiá-lo.

"Não precisava." Eu baixei os olhos. Ele se importava comigo e eu o tratava mal. Eu era um idiota.

"Tudo bem. Sei que vou gostar de cuidar de você."

Tentei sorrir, mas minha cabeça doeu e eu fechei os olhos. "Está tudo bem?" Ele perguntou se aproximando e pegando em minha mão. Eu me afastei do seu toque. Primeiro porque me causou arrepios que não devia ter causado e segundo porque eu ainda tinha raiva dele ter me salvado.

"Está." Eu disse mais rude do que devia, mas não pude me controlar. Eu queria ser grato, mas não conseguia ver bondade em seus atos. Ele me tirou a única chance de sair da vida sem sentido e vazia que eu estava vivendo.

"Desculpe se invadi seu espaço pessoal." Ele me deu um sorriso torto e eu suspirei pesadamente. Ele só se preocupava comigo e sem motivos. O quão boa uma pessoa pode ser?

"Não, eu sou um idiota. Você só quer me ajudar." Eu estava dizendo mais para mim mesmo do que para ele. Jensen só queria me ajudar quando ninguém mais dava a minima.

"Naah! Está tudo bem, Jared, só me deixe te ajudar." Ele me deu um piscadela e eu senti meu rosto corar. He's such a charmer, oh no!

"Sabe que sou problema, né?" Eu murmurei. Eu só trazia problema. Isso era um fato. Nem meus pais me queriam. Ninguém me queria por perto. Só mesmo um estranho iria querer ficar ao meu lado.

"Gosto de problemas." Nessa hora Tom entrou e sorriu para mim.

"Jared, tenho boas noticias, se quiser pode sair daqui amanhã." Haveria um motivo para eu querer ficar num hospital? Imediatamente meu olhar foi para Jensen. Ele não devia ser um motivo, ele não era!

"Por que ele iria querer ficar, doutor?" Jensen perguntou e sorriu de uma maneira sarcástica.

"Porque precisa de supervisão. Não médica, mas de alguém que possa ampará-lo se for desmaiar, e dar os remédios na hora certa." Tom disse olhando de mim para Jensen. "Sei que vai ajudá-lo, Jensen. Mas ele quer ser ajudado?"

Os dois olhares estavam sobre mim e eu me senti constrangido. "Quero." O sorriso de Jensen apagou qualquer duvida de que eu queria que ele cuidasse de mim. Se fosse para vê-lo sorrir daquela maneira, valeria a pena. Me senti tão babaca pensando isso, mas o sorriso de um anjo é a coisa mais linda que se pode ver, certo? Porque sim, Jensen era um anjo. Meu anjo da guarda. Queria eu goste ou não.