Lead me


Notas da Autora:

Yo, people!

Eis que lhes apresento: LEAD ME!

Mais uma vez, uma fic em universo alternativo e, obviamente, SasuHina.

Essa fic nasceu de um poema que eu li em um livro antigo da época da escola "Mais um de Marcos Caiado". Em um dos poemas havia uma frase "Bailarina enfurecida pisoteando os próprios pés". Essa frase ficou por anos na minha mente como o embrião de alguma coisa até que, um dia, nasceu na forma dessa fic.

Já para a outra metade dessa história, me inspirei no conto "Berenice de Allan Poe" que de tds as histórias de Poe que eu já li, foi o que mais me impressionou.

Essa, junto com Roommate e Livrai-nos do mal, é uma das minhas histórias mais recentes e acredito que meu estilo de escrita tenha amadurecido bastante, principalmente quando comparamos com DS ou IBL. Espero que vocês gostem e comentem bastante, pfv!

Beijos e boa leitura^^


1. Bosquejo

"Kuso!" Sasuke praguejou atirando seu pincel língua de gato em um canto qualquer do atelier. Não importa o quanto tentasse, nada vinha a sua mente! Definitivamente este era o pior bloqueio criativo pelo qual já havia passado em anos.

Uchiha Sasuke, a criança prodígio, o príncipe artista, um gênio que só nasce a cada 1000 anos, entre outras alcunhas. 23 anos recém completados e diversos prêmios mundiais como artista plástico. Seu nome estampava as capas de revistas especializadas em artes plásticas desde que tinha 8 anos e, a medida que foi ficando mais velho, capas de revistas femininas também. Os cabelos e olhos densamente negros, a pele clara e o ar refiado lhe conferiam uma aparência especial que enlouquecia as mulheres.

Durante a infância, Sasuke fora diagnosticado com um transtorno obsessivo de características raras: Quando interessado por algo, nada mais era capaz de entrar em sua mente. Ficava horas perdido em pensamentos, devaneando, examinando cada detalhe e possibilidade. Uma espécie de ideia-fixa que lhe assombrava noite e dia e o deixava ausente do mundo real.

Para sair desse labirinto de pensamentos, o pequeno Sasuke desenvolveu um método próprio: Materializar tudo em telas. Pintando, desenhando e trazendo para a realidade o que assolava sua mente. Então, depois de expurgar a obsessão através de pincéis e carvões, conseguia voltar a viver como uma pessoa aparentemente normal. Quando seus primeiros trabalhos foram divulgados, os críticos classificaram como geniais e, assim que a história por detrás foi revelada, o nome do Uchiha ficou rapidamente conhecido no meio artístico.

Porém, a vida adulta estava mostrando a Sasuke um mundo que, em seus pensamentos infantis, nunca imaginou existir: Um mundo onde nada lhe interessava. Dessa forma, os dias de crise tornavam-se cada vez mais raros, assim como a inspiração para novas telas. Chegava a passar horas olhando para a tela vazia, desejando com todas as suas forças dar vida a alguma imagem que só existisse em seu subconsciente, mas o resultado era sempre o mesmo.

E era assim todos os dias nos últimos três anos.

Naquela manhã, como de costume, havia levantado de madrugada, com o céu ainda escuro, para conseguir um momento de paz e tentar novamente pintar algo novo. Porém, horas depois, nada havia vindo-lhe à mente.

Levantou-se para pegar o pincel que, depois de arremessado, jazia solitário no canto do estúdio. Estava irritado, mas ainda se lembrava da alta quantia que havia pago por aquele objeto. Não valia a pena perdê-lo em um ataque de fúria. Olhou para o relógio que marcava sete horas da manhã. Já estava na hora de ir para faculdade. Seria outro dia difícil... Derrotado, Sasuke cobriu o cavalete com um lençol branco e foi trocar de roupa.

~x*X* *X*x~

A Konoha Geijutsu Daigaku era a melhor universidade de belas artes do Japão. Caminhando pelos departamentos de seu enorme campus, era possível encontrar vários dos artistas de expressão no país. Não foi nenhuma surpresa que, quando Sasuke chegou à idade de prestar vestibular, o reitor lhe ofereceu uma bolsa de estudos integral, apoio até o doutorado e, consequentemente, uma cadeira no quadro de professores quando a hora chegasse. Como se fosse algo já determinado pelo destino, o jovem gênio aceitou a proposta sem muitos questionamentos ou exigências.

Arte plásticas, Artes cênicas, Dança, Música, Artes tradicionais, Literaturas entre outros cursos relacionados às expressões artísticas faziam parte da oferta de graduações. Uma universidade de ponta com uma grade horária especial que garantia a qualidade de aprendizado dos alunos. Os cursos funcionavam em dois módulos: Durante a manhã, aulas teóricas. Durante o período da tarde, aulas práticas. Projetos, laboratórios, oficinas, etc complementavam a formação dos alunos. Sasuke havia sobrevivido às tediosas aulas matutinas, mas duvidava se conseguiria o mesmo feito com a prática daquela tarde em especial.

"Konnichiwa, Sasuke kun! Estou ansioso para ver que tipo de desenho você fará hoje." O rapaz de pele extremamente clara e cabelos castanhos disse com um sorriso amigável ao Uchiha.

Shimura Sai era um dos colegas de classe de Sasuke na Konoha Daigaku e também o mais próximo daquilo que se poderia chamar de melhor amigo. Sai também era considerado um jovem gênio das artes e sempre estava em evidência nas exposições de arte sob a alcunha de criança prodígio. O estilo de ambos não era exatamente relacionado, afinal, Sai era tido como um gênio do Sumie e Sasuke apelidado de príncipe do surrealismo. Porém, a semelhança física e também a precocidade do talento de ambos sempre era objeto de comparação pela mídia especializada, criando assim, um elo desde cedo entre os dois. Sai sempre estava sorrindo e tinha uma aparência realmente muito simpática, mas isso era só faixada para esconder o demônio que ele realmente era. Apesar da enorme sensibilidade e delicadeza que conseguia imprimir em seus desenhos, era incapaz de entender sobre os sentimentos alheios (e sobre os seus também) e acabava se tornando igualmente incapaz de compreender os pormenores da sociabilização e as minúcias das regras de comportamento. Volta e meia Sai soltava um comentário desagradável que aumentava ainda mais a sua enorme lista de desafetos.

"Vou fazer um desenho assim como o seu. É uma aula de modelo vivo, não?!" Respondeu irritadiço.

"Humm... Estou vendo que alguém está de mau humor hoje, heim?! O que foi? Ontem à noite te deixaram na mão? Se é que me entende..." Sasuke já estava pronto para mandar Sai a um certo lugar quando a porta do estúdio se abriu e revelou um homem de cabelos acinzentados, jaleco branco e um com um ar apressado. Estava, como sempre, atrasado.

"Muito bem pessoal. Preparem seus grafites, pois vamos começar em 10 minutos."

A aula prática daquela tarde era com Hatake Kakashi sensei, um dos grandes especialistas na arte de desenhar o corpo humano na Konoha Daigaku. Apesar de ser relativamente jovem, trinta e tantos anos, o professor possuía uma vasta experiência profissional e várias titulações acadêmicas, todas na área de desenho anatômico. Durante a manhã ministrava aulas de teoria do desenho e à tarde orientava a prática no atelier, onde estava a dupla de gênios. Após a entrada do professor todos tomaram seus lugares e começaram a preparar os materiais. Sasuke e Sai sentaram no canto direito logo na frente. Um lugar de pouco destaque, mas que permitia uma visão clara e com boa iluminação do modelo a ser desenhado.

"Será que hoje vai ser de novo o gordo do bigode? Ele já veio tantas vezes que posso desenhá-lo de olhos fechados." Sai comentou com Sasuke usando um tom de voz enojado.

"Tanto faz. São apenas pedaços de carne com diferentes formatos a serem retratados." O Uchiha respondeu sem prestar atenção no ambiente. Estava procurando pelo estilete para afiar o grafite que usaria.

"Ah! Bem vinda! Por favor, sente-se e fique à vontade... na medida do possível, claro." A voz de Kakashi sensei se dirigia a alguém que não respondeu.

"Opa! Parece que hoje vamos ter um colírio, Sasuke kun..." O amigo disse ao rapaz que apenas reagiu com um "Hum" concordando, mas sem realmente demonstrar interesse. Onde havia se enfiado aquele maldito estilete?!

"Sente-se aqui. Faça a pose que desejar..." Kakashi orientava a modelo. Pelo visto era uma novata. Sasuke detestava novatos. Sempre se mexiam demais ou ficavam tão tensos que acabavam estragando seus desenhos... Ah! Ali estava o tal estilete!

"Isso! Pronta? Todos prontos? Trinta minutos a partir de agora!" Kakashi anunciou o início da seção no exato momento que o Uchiha havia retomado sua posição no cavalete para iniciar o desenho.

Ok, seria um desenho bem simples. Começaria com um esqueleto simples para marcar a pose da jovem. A modelo estava deitada de lado sobre o divã, em uma pose que lembrava as sereias na praia. Um dos braços sobre os seios e o outro sobre os cabelos. As pernas cruzadas cobriam a região pubiana e deixavam a cintura bem marcada. Pronto! Agora seria apenas uma questão de adicionar alguns detalhes. Começaria pelas pernas; longas e esguias, muito bem desenhadas para uma pessoa comum. Não havia mancha ou marcas de nenhuma espécie na pele.

'Que tipo de pessoa não tinha nenhuma cicatriz de infância na pele?' Perguntou para si mesmo em pensamento.

Seguindo a linha das pernas, logo chegou a um quadril farto e arredondado. Uma combinação rara e interessante, já que se tratava de uma modelo bem magra. A cintura fina chamava atenção juntamente com a pele alva das costas. Uma pele clara e delicada que parecia extremamente macia. Subiu o grafite e concluiu uma das linhas do pescoço. Agora se preocuparia com os braços e toda a parte da frente do tronco da modelo. Provavelmente esta jovem deveria ser alguma espécie de atleta, pois, seus braços esguios tinham uma musculatura firme, apesar de delicada. Ela também, provavelmente, deveria parecer mais alta do que realmente era devido a esse biotipo raro entre as japonesas. Os seios eram muito bonitos. Fartos e bem definidos, estavam semi cobertos pelo braço direito. Sasuke teve que se concentrar um pouco mais ao desenhar os mamilos rosados e delicados. Quando terminou a segunda e última linha do pescoço, parou e analisou se valeria a pena desenhar o rosto da moça. Afinal, nunca desenhava o rosto de modelos que considerava abaixo de seu padrão.

Provavelmente tinham a mesma idade, ou talvez, ela seria um pouco mais jovem que o Uchiha. Seu rosto tinha um formato ovalado perfeito: queixo, maças do rosto, testa, tudo em harmonia. Lábios pequenos e bem desenhados e um nariz perfeito, mas o que mais chamou atenção de Sasuke foram os olhos. Nunca havia visto aquele tom antes. Perolados, refletiam suaves nuances de violeta e azul turquesa. O longo cabelo azul índigo estava preso em um coque no alto da cabeça, deixando a mostra a nuca e as orelhas. Definitivamente ela era muito linda. Não falava apenas como homem, mas sim, como artista. Nunca havia visto uma mulher como aquela...

Triiiim! O relógio tocou assustando Sasuke e anunciando que os 30 minutos de pose haviam acabado. Sasuke estava tão perdido em seu devaneio que não finalizou o desenho do rosto da garota.

A garota vestiu o roupão branco destinado aos modelos e desceu do divã. A sala se tornou agitada com os outros alunos levantando, espreguiçando e entregando seus trabalhos ao professor. Porém, Sasuke permanecia sentado totalmente atônito com a situação.

Só queria terminar o desenho.

Só queria olhar mais para aqueles olhos...

~x*X* *X*x~

"Mikoto oba san, Ohayou. Sasuke kun já acordou?" Sai disse com um de seus típicos sorrisos agradáveis após ser conduzido pela governanta até a mãe de Sasuke que tomava café da manhã sozinha na farta mesa em frente ao jardim. Uchiha Mikoto era uma mulher muito bonita e aparentava ser mais jovem do que era realmente era, contudo, naquela manhã, a preocupação em seu rosto e em sua voz fizeram pesar em sua aparência os 50 e tantos anos que tinha.

"Ohayou, Sai kun. Ele já acordou mas, continua no estúdio..."

Sai era uma presença constante naquela casa desde anos atrás, por isso o casal Uchiha o via, praticamente, como um sobrinho. O jovem aproximou-se, sem cerimônias, sentou-se ao seu lado. A governanta colocou uma xícara de café e um prato de panquecas em frete ao rapaz que, ignorando-os, segurou a mão da 'tia' com o intuito de confortá-la.

Após longos três anos, o gênio Uchiha estava novamente ensimesmado em um surto de "ideia fixa". Acordava e ia direto para o ateliê e lá ficava durante horas e, algumas vezes, durante o dia inteiro. Não falava com ninguém, não comia direito. Como toda mãe, Mikoto ficava com os nervos a flor da pele. Preocupada com a saúde física e mental de seu caçula. Provavelmente, acreditou que, depois de tanto tempo sem crises, Sasuke havia se livrado de seu problema e, agora, percebendo que estava errada, era visível a sua tristeza. Sai era péssimo em demostrar sentimentos e entender sobre os outros, mas do seu jeito, tentou consolá-la.

"Não se preocupe, oba san. Logo vai passar."

"Por que você não vai falar com ele? Malucos costumam se entender..." Um rapaz alto com longos cabelos negros presos e olhos tão escuros quanto os de Sasuke disse entrando no recinto dirigindo-se à mesa.

Era Uchiha Itachi, o primogênito da família que, apesar da personalidade implicante, era um ótimo filho e irmão mais velho. Sempre preocupado e atento ao que acontecia com a família. Itachi não morava mais com Sasuke e os pais, então, sua presença ali indicava que havia tentado conversar com o irmão para tirá-lo de seu estado crítico. Porém, o pedido indireto de ajuda indicava a falta de sucesso do rapaz.

"Eu nunca o vi dessa forma..." Mikoto suspirou pesadamente enquanto contemplava a xícara ainda cheia de café preto já frio.

"Não se preocupe, kaa chan! Isso logo vai passar! Vou levar o namorado dele lá e você vai ver como logo, logo ele melhora" Itachi disse tentando animar a mãe e levantando-se da mesa para levar Sai consigo em direção ao estúdio de Sasuke que ficava no Sótão da casa.

"Já se vão 3 semanas nessa loucura. Nunca durou tanto tempo. Quando ele era criança, tinha crises de algumas horas, um dia no máximo. Se continuar assim, vamos precisar interná-lo." Revelou o filho mais velho no caminho enfatizando veladamente a importância da atuação de Sai naquele momento.

Subindo a pequena escada que levava ao ateliê, logo era possível ver a silhueta do Uchiha mais jovem. Sentado em frente à uma tela branca, Sasuke dava os retoques finais em seu desenho: Uma aquarela. O vento soprava jogando os longos cabelos da jovem que olhava fixamente o seu criador. Não era um desenho realista, mas tinha traços tão suaves que parecia querer sair da tela e tomar vida. Parou e contemplou sua criação por alguns segundos. A boca delicada sorria um sorriso leve que parecia esconder alguma coisa. Os olhos eram o destaque. Vazios de cor, estavam fixos no artista e tinham o ar de que sabe de um segredo e desafia o outro a descobrir.

"Devia ter dito que tinha gostado dela. Eu teria conseguido o telefone ou algo do tipo para você." Sai disse segurando uma aquarela pequena em uma das mãos.

Sasuke nada respondeu. Estava com o olhar perdido como se sua mente estivesse fora do corpo.

Pelo chão do ateliê havia várias outras telas. Aquarelas, grafites, pinturas a óleo, boa parte delas com a mesma temática: uma jovem com o aspecto etéreo de fada e olhos sem cor. Então, esse era o motivo da crise do Uchiha...

"Trouxe alguns resumos e os trabalhos da faculdade. Você está trancado aqui a três-fucking-semanas, sabia? Todos estão loucos por sua causa." Sai disse fitando Sasuke com o habitual rosto inexpressivo que sempre surgia quando não estava se forçando a ser agradável com alguém.

Novamente, não obteve resposta. Sasuke parecia estar em um universo paralelo.

A verdade é que Sai nunca o havia visto durante uma crise. Já ouvira relatos por parte do amigo que dizia coisas como não conseguir ouvir nada, ver nada e nem pensar em nada que vinha de fora de si mesmo. As outras pessoas pareciam estar em uma dimensão distante dele. Porém, era, de fato, assustador ver um ser humano naquela condição. O Shimura aproximou-se para olhar melhor o quadro que Sasuke pintava e comentou com os braços cruzados em tom de julgamento:

"Sasuke kun, nos conhecemos há anos, mas nunca achei que você fosse o tipo que sai por aí desenhando qualquer coisa. Muito menos mulheres só porque são bonitas."

Nesse momento percebeu uma leve movimentação nos lábios de Sasuke. Não sabia se o Uchiha tinha consciência de sua presença ali e tentava comunicar-se, ou se estava em uma conversa com seu próprio eu, mas, aproximando-se, Sai pode ouvir bem baixinho:

"Preciso ver de novo..."

Sai bateu no ombro do amigo que olhava fixamente para o pequeno desenho à frente e disse em tom de motivação:

"Sabe, se você fosse uma pessoa normal, eu diria encontrou a coisa mais preciosa que um artista pode ter, meu amigo: Uma musa."

Nesse momento, o toque do Shimura despertou uma reação no Uchiha que, pela primeira vez, fez um contato visual com o amigo. Um olhar ausente e ainda vazio, mas que Sai sabia que era para ele. Suspirou e, segurando os ombros largos do amigo, disse olhando-o no fundo dos orbes negros:

"Se vai te ajudar a sair dessa, eu vou encontrar a garota para você!"


Vocabulário:

Kuso - Droga!

Geijutsu Daigaku - Faculdade de Artes

Konnichiwa - Boa Tarde

Sumie - Pintura tradicional japonesa

Notas finais:

Músicas que me inspiraram a escrever esta história:

Bathroom - The gazette

Lead me - Sistar

Espero que gostem e acompanhem os próximos capítulos. Não pretendo fazer uma fic grande, mas já escrevi ate o cap 3, então... xD