Velas Negras


Observação: UNIVERSO ALTERNATIVO

N/A: Hum, essa história é SLASH. Tentei manter o máximo possível a identidade dos personagens e espero não fugir muito da realidade, a princípio as coisas podem parecer um pouco confusas, mas espero que sejam atraentes o suficiente para que algumas pessoas se sintam interessadas em ler. De qualquer forma, divirtam-se!


Prólogo - A Mulher do Espelho

Sirius se encolheu atrás das pequenas grades que protegiam o buraco na parte mais baixa da parede do porão, ali havia um fosso aberto que dava para as úmidas passagens abaixo da mansão.

Sentia-se ansioso e ao mesmo tempo irritado com as próprias primas, neste caso Bellatrix, que ao em vez de acompanhá-lo naquela aventura preferira permanecer ao lado das duas irmãs. Agora elas tinham um novo projeto mágico que elaboraram para aquela semana, a sincronização de seus poderes, o que para Sirius, claro, acabaria resultando numa discussão acalorada sobre penteados e dicas de moda. Tudo tão patético.

E assim como fizera minutos atrás ao receber uma recusa da amada prima, ele revirou os olhos enquanto alcançava seu esconderijo e colava-se imediatamente as grades espaçadas.

Muitos de seus tios, todos com o sangue Black correndo por suas veias, caminhavam lânguidos e com passos calculados, ocupando um lugar no meio da ampla câmara que de tão espaçosa e refinada conseguia parecer um imenso salão sombrio, iluminado somente por tochas distribuídas de forma irregular. Mas o que mais instigava sua imaginação era como cada um simplesmente chegava e ocupava um lugar no círculo imaginário que lentamente ia se formando. Apenas observando-os parecia não haver lógica nas estranhas posições, mas a cada instante que um parava era como se uma peça fosse encaixada no lugar correto e ele quase que podia ouvir um 'click', como se aquilo não passasse de uma máquina.

Sabia que este seria mais um dos rituais sinistros de sua família, sentia-se atraído pela crescente onda de poder que exalava de todos ali reunidos, uma onda calorosa que acariciava sua própria aura, e por mais que soubesse que se fosse descoberto estaria em apuros, não abria mão de sua insaciável curiosidade.

Entretanto, quando menos esperava, a porta da câmara se abriu e atravessando o umbral ele pode ver seu pai e sua mãe caminhando lentamente em direção a um local privilegiado no círculo humano, sendo que logo atrás deles havia um rapaz que os seguia, este se encontrava completamente tenso e esgotado devido a grande descarga de adrenalina no organismo, provavelmente deveria ter se iniciado no círculo mágico há poucos dias, ficando responsável pelas partes mais mecânicas do ritual.

Não conseguia despregar os olhos da mãe, que neste instante se desfizera da proteção do capuz de sua capa e agora se dirigia até o amedrontado rapaz, puxando-o pela mão e colocando-o no meio do círculo.

- Aqui seu sangue pela primeira vez selará um mago em nome dos Black. – ela murmurou retirando um pequeno punhal da cintura enquanto abria a palma do iniciado e sem piedade cortava-o com a lâmina afiada.

Nenhum som de dor ou reclamação foi ouvido do rapaz, e rapidamente um talho sangrento surgiu na mão do principiante, sendo prontamente apertado por Elizabeth para que grossas gotas de sangue escapassem pela abertura, muitas delas se esparramando pelo chão de pedra.

- Com o nosso sangue ativamos o poder dessa câmara e através da força dos Black exigimos que as correntes mágicas se curvem ao nosso chamado e nos auxiliem nessa noite. – a mulher disse como se explicasse algo muito complicado a uma criança, e neste momento uma estranha brisa para um lugar fechado soprou por todos os lados fazendo as capas farfalharem enquanto causava arrepios em Sirius.

Era por coisas como aquela que ele temia sua mãe, Elizabeth Black, maga suprema de sua família, que de tão poderosa era capaz de realizar feitiços complicados sem o auxílio de uma outra fonte mágica.

No local onde se encontravam, abaixo da mansão, havia círculos esculpidos nas pedras do piso, enfeitados por símbolos, que serviam como ímãs para as energias que guiavam o mundo. Era ali que seus pais, tios e primos entravam em contato pela primeira vez com a magia suprema, e era ali também que quando morressem teriam seus corpos encerrados e cremados.

Enquanto ele observava, até mesmo sua mãe e o rapaz ocuparam um lugar no círculo completamente formado, a porta se abriu dando espaço para dois servos que puxavam pelos braços uma mulher praticamente desfalecida, que tropeçava nos próprios pés e não conseguia nem por um instante manter o próprio equilíbrio. Com plena certeza deveria ter sido enfeitiçada ou envenenada para que não tentasse escapar.

Do fosso onde se escondia ele não conseguia observar quase nada das feições da intrusa. Sabia que seus cabelos eram completamente brancos e que possuía uma estrutura frágil, mas apenas com a luz das tochas era impossível divisar outros detalhes.

Os servos rapidamente se aproximaram do círculo, os dois em total silêncio com a respiração descompassada. A prisioneira simplesmente foi empurrada com brutalidade para o centro da formação caindo no chão de forma desajeitada, permanecendo imóvel enquanto os encarregados de trazê-la até ali andavam rapidamente para a saída e trancavam a porta atrás de si.

Um momento carregado de tensão se fez logo em seguida e Sirius simplesmente não compreendia que perigo aquela mulher poderia representar para que toda sua família se reunisse para julgá-la. Vendo-a na meia luz parecia uma velha indefesa, mas sabia que era errado se precipitar nas suas impressões sobre as outras pessoas.

- Escarlate, você sabe por que está sendo julgada, não sabe? – de repente a voz firme e poderosa de seu pai ecoou no salão e Sirius se encolheu um pouco.

- Injustiça... – ele ouviu a mulher sussurrar em tom baixo, acordando de seu estranho transe e falando quase como se praguejasse.

- Seu crime contra esta família nos dá plenos direitos sobre você. – Edward Black continuou. – E é por isso que ninguém será capaz de revogar nossa decisão.

E neste instante todos do círculo ergueram os braços e num instante milhares de velas negras se acenderam nos cantos da câmara, iluminando-a plenamente e deixando Sirius em estado de choque por alguns instantes.

- Malditos! – ele ouviu a mulher gritar agora, ficando de pé um pouco encurvada enquanto apontava o dedo para sua mãe. – Não ousem fazer nada comigo. Não sabem do que sou capaz.

Elizabeth soltou uma gargalha cruel ao ouvir a mulher e Sirius nunca poderia ter acreditado que sua própria mãe fosse capaz de ser tão fria.

- Acostume-se com seu destino, Escarlate! – ela exclamou com os olhos brilhantes, e a maga julgada ergueu o rosto soltando o que pareceu um leve rosnado, que Sirius escutou amedrontado.

Ao contrário do que ele imaginara, no centro do círculo não havia uma velha, e sim uma jovem, de pele pálida e aparência terrivelmente doentia. Ela permanecia de pé, com os olhos fechados, e ele sabia que ela fincava as próprias unhas nas palmas das mãos, e só de observá-la ele sentia-se entorpecido e temeroso.

Como num sonho, todos os Black se concentraram e começaram a entoar um canto lamurioso, modificando a atmosfera do local e fazendo com que a temperatura caísse.

- Que os céus caiam sobre sua cabeça, Elizabeth! – Escarlate urrou enquanto a mãe de Sirius continuava a evocar o encanto daquela noite. – Bruxa maldita, sua família não terá futuro, seu filho será um desgraçado, um impuro.

Mas ninguém parecia ligar para suas palavras e continuavam a cantar, a chama das velas cada vez mais brilhantes, o ar gelado, a energia do local ainda mais pungente.

Sirius podia sentir que algo grandioso estava acontecendo, no entanto havia aquela estranha sensação de queimação em sua garganta. Mantinha os olhos atentos a qualquer movimento dos presentes, ansioso por ver tudo, mas sua visão lhe pregava peças e por um breve instante ele pode jurar ter divisado ao lado da mulher, olhando para ele, um pequeno animal de olhos amarelados, com os dentes a mostra e o pêlo completamente eriçado.

Ele esfregou os olhos com as pontas dos dedos esquecendo-se do ritual e agora completamente fascinado por sua visão, só que no instante em que tornou a olhar para o mesmo local o animal desaparecera, e agora quem o observava era a bruxa julgada, que finalmente abrira os olhos e parecia ver através de sua alma.

- Que o espelho entre os mundos sele sua alma! – alguém dentre os Black gritou, mas Sirius não deu atenção, estando completamente envolvido pelo que via.

Black... uma estranha voz ecoava em sua mente, Sinto o cheiro de seu sangue, Black! Gosta do que vê?

E Sirius parecia não acreditar no que acontecia, balançando a cabeça fervorosamente.

Você é o herdeiro destes malditos, Sirius Black, você continuara proliferando a semente da magia desta família de ladrões e assassinos. Você não merece viver.

A dor agora em sua garganta parecia ter se proliferado pelos seus membros fazendo sua pele arder enquanto sua cabeça ameaçava explodir.

Eu o amaldiçôo, fruto do pecado! Você não viverá para amar, não tocará ninguém, não sentirá o que as pessoas normais sentem.

E enquanto a voz em seus ouvidos parecia ir e voltar, ele caiu sentado ofegando, as mãos contraídas e os olhos arregalados. Escarlate abrira os olhos voltados na sua direção, eles eram completamente negros, desprovidos de brilho, parecendo um lago escuro que o tragava para que se afogasse.

Neste instante o círculo parecia ainda mais embaçado e no meio uma neblina dava espaço a um espelho que flutuava, e Sirius não conseguia definir da onde ele surgira.

Sente a dor? A agonia? Elas o perseguirão por toda sua vida!

E a bruxa sorria enquanto seu reflexo se dissolvia na superfície espelhada.

- Sua alma não pertence a este mundo! – os Black começaram a dizer em uníssono e Escarlate desviou rapidamente os olhos de Sirius para encarar o grupo. – Sua alma foi vendida, será selada entre os demônios presos as dimensões.

A brisa que antes percorria o salão se tornou um vento potente e Sirius sentiu as primeiras lágrimas de dor escorrerem por suas bochechas. Não podia chorar, se seus pais soubessem que estava bisbilhotando o ritual o matariam, só podia morder os lábios para conter os soluços, sentindo como se sua pele fosse espetada por milhares de agulhas. E foi nessa turbulência que o grito agudo retumbou pelo local. A bruxa gritava, e sua voz ia além das barreiras humanas, parecendo transcender tudo para tocar a alma dos presentes.

- Rezem agora, malditos Black! – ela urrava, e Sirius com os olhos entrecerrados pode ver que ela lentamente era tragada pelo espelho. – Agradeçam pela paz deste instante, pois eu os amaldiçôo, vermes. Que o sangue em suas veias apodreça, que a riqueza de seus cofres sejam tragadas pela terra. Não há futuro para essa família, não há herdeiro para seus propósitos.

E a dor de Sirius atingira o máximo e sem que ele notasse um grito escapou de sua garganta.

Elizabeth que olhava satisfeita para Escarlate se assustou ao ouvir o próprio filho naquele local, e assim como todos imediatamente desviou os olhos para o fosso onde ele se escondera, sem poder se mover para não romper o círculo de magia.

- Eu os prendo aos laços do destino que eu determino daqui por diante. Seu filho, bruxa desgraçada, não terá herdeiros. Sua família irá secar, se extinguir... – e Escarlate apontou o dedo para Elizabeth que com a face lívida a encarou vendo os últimos resquícios de seu corpo serem tragados pelo espelho. – Malditos! – a bruxa gritou mais uma vez, e como num passe de mágica seu corpo desapareceu plenamente enquanto sua gargalhada ficava para trás e ecoava.

Elizabeth abandonou a formação no mesmo instante em que apenas o espelho restava no meio do círculo e correu para o fosso da onde vinham os gritos de dor de Sirius, que agora se contorcia e se debatia com uma quantidade assustadora de sangue escorrendo de seu nariz.

A bruxa não sabia o que fazer para apaziguá-lo e retirando forças do além o puxou para fora por entre as grades, tentando controlar o movimento de seus braços que socavam o ar. Sirius sentia como se seu sangue tivesse sido substituído por ácido, sua cabeça girava, sua mente se turvava e ainda havia o som daquela maldita risada, a imagem dos olhos negros da bruxa que o enlouqueciam.

- Edward, pelo amor de deus o ajude! – Elizabeth gritou entre lágrimas vendo o marido se aproximar igualmente assustado. - Ela o amaldiçôo! Meu menino precioso, ela o amaldiçôo.

E Sirius continuava a gritar enquanto sua mãe o apertava entre os braços. Edward caminhou decidido até a esposa e o filho sendo observado pelo restante da família. Não sabia o que fazer, não tinha idéia do teor da maldição, mas vinda de Escarlate só poderia ser irreversível, e os gritos de Sirius só pioravam a impressão do quão sofrível aquilo parecia.

Sem pensar direito sobre o que fazia, ele se ajoelhou diante de Elizabeth que agarrada ao filho se balançava para frente e para trás murmurando que tudo ficaria bem, e antes mesmo que o menino tornasse a gritar novamente, Edward ergueu a mão e a mirou na nuca de Sirius, descendo rapidamente num golpe preciso que fez o grito de dor morrer imediatamente em sua garganta, restando apenas os soluços de Elizabeth.