Temporal

Quando você pegou minha mão e disse que as coisas melhorariam, eu acreditei. Acreditei porque era parte de mim julgar que tuas palavras sempre seriam para o meu bem. Acreditei com a mesma voracidade com a qual você me fazia promessas.

E, por mais que você as quebrasse uma a uma diante dos meus olhos, eu continuei acreditando em você.

E disse a mim mesma que era amor.

Quando você olhou em meus olhos e disse que desta vez tinha feito a escolha certa, eu não pestanejei. Simplesmente fechei os olhos e tentei não numerar mentalmente todas as mentiras que você já havia me contado. Para o bem, é claro.

Por mais que eu tentasse ver as tuas palavras caídas ao chão, mortas como nossos heróis, eu não conseguia; a pouca ilusão que elas continham se tornou a minha verdade absoluta.

E eu achei que era amor.

Quando você sorriu e me disse que lutar era só uma conseqüência, eu tomei isso como ideologia. Não questionei, não perguntei e não imaginei mais nada. Éramos, nós todos, apenas conseqüências das circunstâncias.

E não medi meus atos para ficar ao seu lado, porque não existia uma medida cabível, nem uma explicação lógica para tudo.

E eu acreditei cegamente que era amor.

Quando você me disse que tinha um plano, eu não argumentei. Escutei e assenti, porque eu confiava em você e certamente em seus julgamentos.

E o laço que crescia dentro de mim se estreitava tanto ao ponto de tornar real tudo o que nós sentíamos um pelo outro. Não imaginei mais nada que não fosse o rosto daquele pequeno desejo, não fiz mais nenhuma prorrogativa que não tivesse relação com a pequena criança que se tornava cada dia mais real pra mim e pra você.

E desta vez, eu tive certeza de que era amor.

Quando você abandonou tudo numa súplica de dor, eu fiquei ao seu lado e também sangrei. Enquanto nossos olhos passavam por cada rosto que nos desejava felicidade, eu resisti e continuei. Porque agora nós tínhamos um novo significado, algo que tornou o verbo lutar distante e sem sentido; pra mim, a Guerra terminava naquele instante.

E tentei não pensar no que isso representava pra você, tentei ser otimista e imaginar um futuro em que não precisaríamos nos esconder nem lutar e muito menos morrer por causa de nosso sangue.

E esse mundo novo era onde eu queria que Harry crescesse e que aprendesse o valor das coisas que não podemos tocar.

Como o amor.

Quando eu escutei nosso inimigo entrar em casa, a primeira coisa que eu pensei foi em Harry. Pensei nele, porque eu compreendi que a única chance de continuarmos, de certa forma, era nele. E eu sei que você pensou a mesma coisa que eu.

Ao subir as escadas com ele chorando, eu tentei não pensar em nada mais que não fosse a vida dele; tentei não imaginar você caído, como eu sabia que estava, e tentei não pensar que era o fim.

Quando Ele disse as duas palavras que eu jamais queria escutar, apenas respirei fundo. E uma infinidade de coisas passou pela minha cabeça, e todas elas continham você.

Então descobri que tudo o que sempre fizera fora por amor.


N/A: O título não tem nenhuma referência com o fenômeno natural (tempestade); o "Temporal" do título tem relação ao tempo, a um fato finito.