Ela estava parada diante da casa dos Sohma, com uma expressão nada amigável. Não gostava deles por natureza e só de ouvir o maldito sobrenome, seu sangue fervia. Então por que logo ela tinha sido escolhida para ir até lá? Por que logo ela tinha que ir falar com Akito (que ela não sabia ainda se era um homem ou uma mulher) sobre a proposta de sua família?
Ela era Amaya Ryuu, uma garota de longos cabelos negros e lisos, olhos verdes e brilhantes, corpo bem desenvolvido e humor instável. Tinha entre dezesseis e dezessete anos e estudava na mesma escola que Yuki. Não que a garota o conhecesse direito, só o tinha visto de longe. Mesmo assim, não gostava do rapaz. Amaya respirou fundo e cerrou os punhos. Então, um pouco mais calma, ela tocou a campainha.
Um empregado veio atender, logo reconhecendo a visita.
- Ah, Amaya-san. Kouji-sama nos avisou que você viria. Entre, por favor. – o empregado deu passagem à garota, que entrou na propriedade sem cerimônia.
O empregado logo começou a andar, guiando Amaya para o cômodo onde se encontrava Akito. Quando chegaram, ele avisou a presença da garota e ela conseguiu ouvir a voz de Akito dando permissão para que entrasse. O empregado abriu a porta e Amaya entrou no quarto.
- Amaya-san… Quem diria que você chegaria a entrar nessa propriedade um dia… – Akito tinha um sorriso zombeteiro no rosto.
- Akito-sama, eu trago um recado de Kouji-sama. – Amaya cerrou os punhos ao falar.
- Diga de uma vez, então. – Akito ficou séria.
Amaya respirou fundo e logo começou a falar.
- Ele quer propor…
Longe dali, a família Ryuu estava tendo algumas dificuldades. As crianças mais novas não paravam de correr por toda a extensa propriedade, dando dor de cabeça às mães. Não importava o quanto eram chamadas, ou quantos gritos ouviam, as crianças simplesmente não paravam quietas. Foi quando estavam chegando no fundo da propriedade que uma voz autoritária as parou.
- Shaoran! Kotori! Voltem aqui! – era Sakura, a médica da família. Por estar na casa dos vinte anos e uma profissão bem sucedida, muitos a respeitavam. Ela tinha os cabelos castanhos naturalmente rosados e os olhos cores de mel eram profundos e penetrantes.
- Sim, senhora! – Shaoran, um garotinho de cabelo loiro escuro e curto, olhos da mesma cor, sorriu largamente, indo até a médica.
- Ah, Shaoran! – Kotori foi logo atrás dele, com uma expressão chorosa. Ela tinha o cabelo castanho escuro na altura dos ombros e seus olhos eram azuis como o céu de verão.
Os dois não tinham mais de dez anos e viviam correndo pela propriedade, sumindo algumas vezes, se perdendo em outras. Quando se aproximaram de Sakura, ela lhes afagou a cabeça e os acompanhou até onde suas mães estavam. Elas agradeceram e logo Sakura tinha retomado seu caminho. "Deixei Kouji-sama esperando…"
Ela suspirou, encarando a porta a sua frente. Do outro lado, um garoto de dezesseis anos a esperava. Provavelmente ele estaria sentado diante de um retrato de seu pai pendurado na parede, com um incenso de canela aceso. Seu longo cabelo prateado, liso e fino estaria preso em um rabo de cavalo baixo e seus olhos também prateados estariam fitando a foto.
- Kouji-sama, me desculpe pelo atraso. – ela entrou no cômodo educadamente, encontrando o garoto exatamente como previra.
- Sakura-san… Essa é a terceira vez que você deixa o patriarca esperando… Não acha que tem sido muito desleixada com sua função? – ele tinha um tom severo na voz e não se virou para ela ao falar.
Ela abaixou a cabeça, apoiando as mãos nas coxas. Por ser uma casa tradicionalmente japonesa, todos os móveis eram baixos e sempre se ajoelhava, o que facilitava a posição de humildade em momentos como aquele. Ela não ousou encarar Kouji por alguns instantes, até que o ouviu soltar uma risada.
- Desculpe, desculpe… Eu não resisti. – ele sorria gentilmente para ela.
Sakura levantou a cabeça, sorrindo de canto, aparentemente aliviada.
- O senhor tem uma saúde quase impecável, não sei porque preciso vê-lo tantas vezes. – ela sorriu e se aproximou do rapaz, que já havia aberto o kimono, exibindo o peito nu. Ela logo pegou o estetoscópio e se pôs a ouvir o batimento de Kouji – Regular como sempre…
Kouji sorriu animadamente.
- Bom, Kouji-sama, tem sentido qualquer coisa estranha esses dias? – ela guardou o aparelho e voltou para o lugar em que estava antes.
Ele parou para pensar um momento.
- Tirando que tenho me sentido meio sozinho… Não, acho que nada. – ele sorria mais largamente do que antes.
- Sozinho? E por qual razão? Há tantos membros da família morando nessa propriedade que eu imaginava que essa seria a última coisa a se passar em sua mente.
Kouji ficou com um olhar triste, apesar do sorriso no rosto.
- É… Mas são poucos os que entendem… Mesmo Shaoran e Kotori, que já apresentam sinais, não entendem ainda… Não pela idade, mas por ainda não ter acontecido totalmente com eles…
- Entendo. – Sakura ganhou um ar triste ao falar. Era verdade, todos que poderiam entender o patriarca da família, preso àquela terra, moravam fora da enorme propriedade da família Ryuu – Bom, como o senhor não tem sentido nada, creio que minha visita acaba por aqui.
Sakura ia se levantar, mas Kouji o segurou pela mão.
- Faça com que ela volte para cá depois de terminar o que foi fazer. – ao terminar de falar, Kouji soltou a médica e se pôs a olhar pela janela.
Em um primeiro momento, Sakura não entendeu, mas não demorou muito para a ficha cair. Ela logo concordou e se retirou. Quando estava no quintal da casa, uma voz masculina a fez se virar. Era Raiden, um rapaz alto para seus dezessete anos, de olhos e cabelo loiros, meio amarelados demais na opinião da médica. Ele queria saber como estava Kouji-sama. Sakura se apressou em responder que não havia nada de errado e se retirou.
"Nada, é…?" Raiden olhava para a janela do quarto de Kouji.
