Disclaimer: Os personagens de Mighty Morphing Power Rangers não me pertencem, esta fanfiction é totalmente sem fins lucrativos.

Categoria: Drama/ Romance.

Spoilers: Nada como a Neve, Sonhando com o Ranger Branco.

Censura: T.

Comentário: Esse é um dos assuntos que me incomodaramm bastante na série, o fim do romance entre o Tommy e a Kimberly. Sempre que acreditei que ele não desistiria dela tão fácil daquela maneira.

Sinopse: Depois de receber a terrível carta bomba de Kimberly, Tommy resolve ir atrás dela na Flórida, sem contar a seus amigos rangers.

Take me to the place I love

Vôo 780, Alameda dos Anjos-Califórnia/Miami/Flórida

Presente

Sentado na cadeira que dava para o corredor do avião, indo em direção ao leste, Tommy Oliver olhava de relance de hora em hora para seu relógio, tentando saber se ainda faltava muito para chegar. Tinha passado a última semana tomando coragem e tentando arrumar dinheiro para ir à Flórida a procura de uma boa razão para esta confusão e esta angústia que tinham tomado conta de seu ser desde que sua namorada lhe escrevera uma carta terminando tudo, um romance que já durava dois anos. Deveria haver um bom motivo, não importava o que aquela carta dizia. A Kimberly que ele conhecia, que o tinha visitado no último natal não poderia ter emitido uma carta tão fria e mecânica, terminando o relacionamento, apagando todo o passado de ambos.

Não se tratava apenas dela. Afinal quem era ela para questionar como ele se sentia? Pois nos últimos sete dias, ele se sentia no inferno, e a única pessoa que realmente sabia disso era seu melhor amigo Jason. Ele morava na Suíça já há algum tempo, mas os dois nunca deixaram de se corresponder, e ultimamente conversavam bastante pela internet. Seus outros amigos Rock, Adam, Billy, Tanya e Kat tentavam ajudá-lo. Ele inclusive chegou a fazer uma viagem com Billy e Kat, para esquiar nas montanhas, tentando desesperadamente espairecer, mas de nada adiantou. Já fazia três meses que ele havia recebido aquela terrível carta, e se sentia da mesma forma, embora seus amigos não soubessem. A única coisa que faziam era olhá-lo com olhares piedosos. Tommy realmente detestava aquilo. A própria Kat tentou até arrumar-lhe um encontro com uma garota, para que ele se distraísse, mas ele não conseguia pensar em mulher nenhuma.

Procurou então atolar sua cabeça nos estudos e nas atividades de salvação da humanidade como Power Ranger. Mesmo assim a dúvida persistia, e ele tinha que resolvê-la. Um mês depois que recebeu a carta, perguntou a Billy se ele tinha tido alguma notícia de Kimberly, mas na verdade ninguém a tinha procurado. Kimberly já não visitava a Alameda doa Anjos desde o último natal. Aliás, ela começara a se afastar dele desde o dia em que decidira deixar a equipe Power Rangers e treinar ginástica para as Olimpíadas com o treinador Schimdt na Flórida.

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Ginásio de esportes

Alameda dos Anjos, Califórnia

Passado

Seu corpo pequeno movia-se gracioso sobre o cavalete de ginástica, esticando e dobrando-se, formando bonitos movimentos. Seus cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo adornado com presilhas infantis, contrastava com o seu olhar sério e compenetrado, que logo se transformou em um sorriso ao vê-lo entrar e ficar admirando-a.

- Tommy!- ela chamou docemente.

- Ei, princesa!- ele saudou de volta, indo em direção a ela que se jogou nos braços do namorado, que a segurou sem nenhum esforço. Ela colocou seus braços em volta dele e o beijou levemente nos lábios.

Tommy Oliver sorriu deslizando suas mãos em torno de sua cintura pequena, cuja roupa estava um pouco suada devido ao esforço físico. A respiração dela estava ofegante, os olhos voltados diretamente para os dele, os lábios convidativos.

- Sua performance está cada dia melhor!- ele elogiou, referindo-se à ginástica. – Você com certeza deixará todos aqueles jurados olímpicos de queixo caído.

O sorriso dela desapareceu momentaneamente, algo se tornara triste em seu semblante. – Obrigada.- respondeu, a voz soando quase como um murmúrio distante.

Ele a conhecia há dois anos, namoravam quase o mesmo tempo, sabia quando havia algo de errado com ela, por isso questionou: - Está tudo bem? Você não pareceu muito feliz com as minhas palavras, tem algo que eu não saiba?

Kimberly continuou olhando para ele, em seguida seu rosto esforçava-se para sorrir, e por um segundo pareceu a ele que não fosse conseguir, como se temesse que lágrimas fossem escapar dos seus olhos.

- Eu estou bem- disse abraçando-se a ele. – Me deixe apenas trocar de roupa e aí podemos dar uma caminhada pelo parque, o que acha?

- Certo- ele concordou acariciando-lhe o rosto. – Então eu vou comprar um refrigerante no bar enquanto te espero.

Ela concordou balançando positivamente a cabeça, e pegando sua toalha enquanto dirigia-se ao vestiário feminino. Tommy ficou tentando imaginar o que a incomodava enquanto caminhava até o Juice Bar.

- E aí Ernie?- falou acenado para o dono de bar de quem era muito amigo.

- Como vai Tommy?- Ernie saudou de volta, sorrindo. – O que vai ser?

- Me vê um refrigerante- ele respondeu calmamente.

- Certo- Ernie falou enquanto servia um copo de refrigerante para ele. – Veio ver a gatinha?

- Sim- disse Tommy, sorrindo.

Tommy pegou o refrigerante e pôs-se a bebê-lo, indagando porque de repente Kimberly ficara tão estranha, talvez tivesse alguma coisa a ver com o fato de ter passado seus poderes de ranger para outra pessoa, abrindo mão disso. Mas não, ambos tinham concordado, inclusive a equipe, que já estava na hora de ela passar adiante sua missão e correr atrás de seus sonhos. Deveria ser outra coisa, mas o quê? Nesse momento, uma jovem loira, alta, usando uma calça jeans justa aproximou-se dele sorridente. Ernie sussurrou para Tommy:

- Ela está de olho em você rapaz, cuidado, não vá cair em tentação e magoar sua garota. A Kim é muito especial, mas essa novata é mesmo linda.

- Que bobagem Ernie, só tenho olhos pra Kim!- respondeu Tommy, falando seriamente.

- Só tô te dando um toque de amigo, Tommy- falou Ernie, sorrindo e dando um tapinha no ombro dele.

Tommy limitou-se a balançar a cabeça negativamente, e em seguida cumprimentou Kat que já se aproximava, com um aceno de cabeça ao vê-la sorrindo para ele.

- Oi Tommy- ela saudou.

- Kat!

- Está dando uma volta?- ela perguntou puxando um banquinho do bar ao lado do dele.

- Não, eu estou esperando a...

Mas antes que ele terminasse de falar Kimberly voltou do vestiário, agora com os cabelos soltos e usando um vestido rodado e curto de florzinhas cor-de-rosa, exibindo seu melhor sorriso.

- Kat, como vai?- ela falou sorrindo para Kat.

Um desapontamento quase imperceptível passou pelos olhos de Kat.

Eu vou bem, obrigada.

- Vamos então?- perguntou Tommy, levantando-se do banco e segurando a mão de Kim. – Ernie, põe na minha conta?

- Mas é claro- respondeu Ernie.

- Então vamos, bom te ver Kat- falou Kimberly.

- Igualmente- respondeu Kat, mecanicamente.

Os dois saíram caminhando em direção à porta do ginásio. Tommy perguntou:

- Tem certeza que quer ir ao parque, já está anoitecendo.

- Sim- ela disse aconchegando-se a ele. – A esta hora o parque não deve ter muita gente, e eu quero ficar sozinha com você.

- Está bem, sou todo seu!- ele brincou.

Ela sorriu envergonhada, dando um tapinha no ombro dele: - Pára!

Caminharam pelo parque boa parte do trajeto em silêncio, de mãos dadas, observando as famílias que voltavam do trabalho para suas casas. Resolveram sentar-se em um banco embaixo de uma árvore. Ficaram por alguns minutos ouvindo os sons da natureza, até que Tommy quebrou o silêncio:

- Algo te incomoda Kim?

Kimberly estremeceu ligeiramente a pergunta.

- Sim.- admitiu, mas não parecia disposta a falar mais nada sobre o assunto.

- Você quer falar sobre isso?- Tommy insistiu.- Você sabe que depois desta noite não vamos mais nos falar com tanta freqüência. E eu não quero que você viaje sem me dizer o que a perturba.

- Eu sei Tommy- ela disse beijando-o nos lábios levemente. – È que...acho que estou nervosa, só isso!

- Isto é compreensível- ele disse rindo. – Quero dizer, essa é uma nova etapa da sua vida, uma coisa que você sempre quis.

Pegou as mãos dela, e olhou-a fundo nos olhos. – Mas você. é uma atleta, e eu tenho certeza de que se sairá muito bem. Nós todos temos orgulho de você.

- Mas não é só isso, Tommy! Eu amo a ginástica e não estou fazendo isso só para ganhar medalhas...- hesitou por alguns instantes, e em seguida continuou, fechando os olhos, e descansando a cabeça em seu ombro: - Vou sentir sua falta Tommy, amor...vou sentir sua falta demais.

Eu também vou sentir sua falta, Kim, mas jamais vou esquecer você. Vou pensar em você todos os dias, o dia inteiro e as noites também. Nunca poderia esquecer-te. Afundou os olhos nos dela: - Amo você, Kimberly.

Kimberly respirou fundo e abraçou-se a ele beijando-o. Sussurrou em sua orelha:

- Tommy querido, te amo muito, te amarei sempre.

Ficaram em silêncio outra vez por alguns momentos. Kimberly falou finalmente:

- Não queria ter de dizer boa noite hoje. Queria que você pudesse ficar comigo esta noite - ela hesitou por alguns instantes, e em seguida disse, rindo: - Mas não vai ficar todo animadinho não, seria somente para passar mais tempo com você antes de partir.

Ele sorriu maroto à provocação dela, e respondeu: - Não importa, já seria suficiente para mim passar a noite toda vigiando o seu sono.

Depois dessas palavras ele a abraçou calorosamente e beijou-a outra vez. Mas havia algo diferente agora, algo novo. Talvez com receio de não se verem mais, beijaram-se com mais impetuosidade do que de costume. Os lábios entreabertos, as línguas se enroscando, respiração entrecortada. Kimberly beliscou os lábios dele levemente com os dentes, fazendo com que Tommy sentisse um ligeiro frio na boca do estômago, enquanto ela se aconchegava a ele mais e mais, deixando-o um tanto atônito.

- Kim- ele disse afastando-a delicadamente. – Já é muito tarde, Aísha deve estar preocupada.

Ela concordou, e os dois deram as mãos seguindo para a casa de Aísha, onde Kimberly estava morando desde que sua mãe se mudara para a França.

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Vôo 780

Presente

- Posso lhe oferecer alguma coisa pra beber, senhor?- perguntou uma aeromoça loira, vestida impecavelmente e de belos olhos azuis. Tommy já tinha percebido que ela o estava observando desde que ele entrara no avião, e para falar a verdade já começava a se sentir incomodado.

Não era muito comum ele perceber os olhares das garotas, era bastante desligado, mas no fundo sabia que o seu tipo alto e atlético, os cabelos longos e escuros na maior parte do tempo amarrados em um rabo de cavalo, e os olhos castanhos profundos costumavam chamar a atenção das garotas, embora ele dificilmente se apercebesse do momento em que isso acontecia. Certa vez, Kimberly ficara zangada com ele durante dois dias porque foram a uma festa, e ela ficou insistindo que uma determinada garota não tirava os olhos dele, enquanto que ele não tinha percebido nada. Mas era difícil não notar o olhar insistente da aeromoça, admirando seus músculos, perceptíveis mesmo através da camiseta vermelha.

- Não, obrigado. Eu estou bem. – ele respondeu sem dar muita atenção a ela.

- Tudo bem, mas avise-me se mudar de idéia. – suas palavras foram acompanhadas de uma sutil piscadela do olho direito, mas Tommy fingiu não perceber.

Mas ao contrário de Tommy, seu vizinho do lado não aparentava desinteresse. Quando a aeromoça fez a mesma pergunta a ele, respondeu-as com respostas ambíguas e seus olhos não paravam de mirar na direção dos seios fartos da aeromoça. Tommy limitou-se a sorrir, nada passava por sua cabeça naquele momento, só a esperança de reconquistar Kimberly. Assim, desligou a luz que dava para o seu acento e fechou os olhos, esperando que o vôo chegasse logo.

Assim que o avião aterrisasse em Miami pegaria um táxi, pois o dinheiro que tinha conseguido para a viagem não era suficiente para que alugasse um carro, além do mais nunca estivera em Miami, logo, um carro não seria de grande ajuda.

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Quando o avião aterrissou no aeroporto internacional de Miami, Tommy achou que seu coração fosse saltar pela boca. Desembarcou, pegou sua bagagem e saiu caminhando apressadamente para o ponto de táxi do aeroporto, estava muito ansioso e nervoso também. Somente quando chegou até a calçada e se deparou com o céu coberto de estrelas é que se deu conta de que já era noite, ele havia esquecido da diferença de fusos horários. Pensou em pegar o táxi e ir correndo para o centro de treinamento de ginastas onde Kimberly estava alojada.

Mas controlou seu entusiasmo, pois já era por volta das oito da noite, e ele não queria parecer mais desesperado do que já estava. Assim, pegou um dos tradicionais táxis amarelos, cujo motorista era latino e pediu que o levasse ao hotel "Jardim Primavera".

- Miami ocidental, praia ou rota sul, señor?- perguntou o motorista com um forte sotaque hispânico.

- Droga!- ele esbravejou pra si mesmo, e enfiou a mão no bolso da calça preta e retirou um mapa de Miami feito a mão por sua mãe, entregando-o ao motorista.

- Nunca veio à Miami?- indagou o motorista.

-Primeira vez- Tommy respondeu, enquanto tentava relaxar no assento de couro do carro.

- Negócios ou prazer?- indagou o motorista, fazendo a habitual pergunta que fazia aos passageiros.

- Não sei ao certo.

Durante o trajeto, ele se sentia inquieto, imaginando que apenas alguns quilômetros separavam-no de sua amada Kim.

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Eram dez da manhã quando Tommy acordou em sua cama do hotel. Estava tão cansado que dormira quase que imediatamente depois de ter chegado, perdendo a noção de quanto tempo fazia desde que o avião pousara em Miami. Rapidamente levantou-se da cama e tomou um longo banho de chuveiro. A água quente com certeza o ajudaria a ficar disposto pro que teria de enfrentar. Vestiu a camisa que ganhara de presente de Kim durante sua visita a Alameda no último natal, e preocupou-se principalmente em secar bem os cabelos, sabia o quanto Kim gostava deles. Talvez fosse por isso que ainda não os tinha cortado. Sobre a cômoda do quarto, a luz vermelha do celular piscava, indicando que havia uma chamada não atendida. Selecionou a opção no menu do visor e leu: - Kat . Provavelmente ela e seus demais amigos rangers deviam estar se perguntando por onde ele andava. Mas não queria que ninguém o encontrasse, desligara o comunicador e pedira a Zordon que não contasse onde ele estaria. Zordon entendera, e não fizera nenhuma objeção, já que ultimamente as coisas andavam calmas em Alameda dos Anjos.

Deu uma última olhada no espelho antes de sair. Estava impecável. Por alguns segundos ficou imaginado o reencontro entre eles. Como ele queria que ela caísse novamente em sues braços. Deixou então de devaneios e pegou sua carteira e o celular em cima da cômoda, dirigindo-se à porta, tentando não esquecer que ainda teria de dar um alô para os pais aquela manhã, para dizer que estava tudo bem. Na porta de entrada, tirou da carteira a carta que Kimberly lhe escrevera, dobrada em várias partes e surrada de tanto lê-la. Levaria a carta consigo para que pudesse confrontá-la, pedindo a ela que explicasse cada sentença daquele papel. Tudo o que ele sozinho jamais conseguira entender. Também na carteira encontrava-se o endereço do alojamento onde Kimberly estava morando, supervisionada pelo treinador Schimdt. Ele saiu caminhando em direção à recepção do hotel para entregar o cartão chave. Na recepção, uma linda moça asiática de cabelos longos o fez recordar-se de sua velha amiga Trini. Da última vez em que se falaram por telefone, Trini comentou com ele que conversou largamente com Kimberly após o ano novo, mas não quis lhe contar uma palavra do que tinham conversado. Ele quis muito saber, mas não insistiu, jamais confrontaria a sólida amizade entre Trini e Kimberly.

Um carregador de malas do hotel se aproximou dele e perguntou se ele precisava de ajuda.

- Eu preciso de um táxi!- Tommy pediu.

-Certamente. Há qualquer outra coisa que eu possa fazer?

A pergunta parecia bastante simples, mas Tommy não tinha uma resposta exata. "Poderia começar trazendo minha ex-namorada de volta pra mim", pensou consigo mesmo. "Pode me ajudar a reconquistar o grande amor da minha vida? Creio que não".

- Não obrigado. – Tommy respondeu.

Ok então. Há um ponto de táxi na próxima esquina. Tenha um bom dia, senhor.

Tommy então caminhou apressado até a lanchonete do hotel, e tomou rapidamente o café da manhã, indo em seguida apanhar o táxi onde o funcionário havia indicado.

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A estrutura dos alojamentos que serviam de moradia para as ginastas não deu uma boa impressão a Tommy quando desceu do táxi. Imaginava que não seria um hotel cinco estrelas, mas pensava em algo mais confortável, com mais cara de lar talvez. O prédio rústico, sem pintura, coberto apenas com grandes placas de cimento mal rebocado anexado à Universidade de Miami, fê-lo desejar que Kimberly nunca tivesse conhecido o tal treinador Schimdt, ou pensado nas Olimpíadas, afinal ela estava muito bem com a família de Aísha naquela época, não precisava estar passando por aquilo. Treinar duramente e na maioria das vezes não ter nenhuma recompensa. Ele não conseguia entender isso. Era o sonho dela, ele sabia, mas havia tanto a perder. Por que ela não considerara isso? O relacionamento deles, os amigos, os estudos, sua missão como Power Ranger?

Ora, a quem estava querendo enganar, pensou. Estava ali, plantado na frente daquele lugar, com o mínimo de dinheiro no bolso, em uma cidade estranha, nervoso e desesperado. O que fazer? Sua cabeça dizia para ir em frente, mas seu coração estava temeroso. Mesmo assim, ele caminhou pé ante pé, e adentrou o lugar. Seria como tinha der ser.

A estrutura do prédio por dentro era realmente muito simples, mas ao contrário do lado de fora, o lado de dentro era bem mais conservado. Tinha até um certo charme. Caminhou por um estreito corredor que dava para uma porta grande. Na porta, uma seta indicava para frente o ginásio, e para o lado as escadas para o alojamento. Tommy imaginou que àquela hora do dia ela certamente estaria treinando. Ele então se dirigiu para o ginásio, tentando conter o nervosismo e imaginando qual seria a primeira palavra que diria a ela.

Quando puxou a pesada porta que indicava a entrada para o ginásio, se deparou com mais um corredor, seguiu alguns passos e viu uma pequena cabine com vidro reforçado, onde uma mulher morena de cabelos compridos arrumados em tranças rastafari lia concentrada. À frente dele havia uma rampa, com outra seta que indicava o caminho do ginásio, ele resolveu seguir em frente, mas antes que colocasse os pés na rampa, a mulher da recepção falou através de um buraco no vidro.

- Onde o senhor pensa que está indo?

Tommy voltou-se para a mulher, que o observava curiosa, segurando o livro que estava lendo. O olhar inquisidor da mulher naquele momento fez com que Tommy voltasse no tempo, relembrando o olhar da Professora Applebee, quando ele esquecia o dever de casa. Mas assim como fazia com a professora Applebee, a resposta àquela pergunta deveria ser bastante convincente, pois se ainda havia alguma possibilidade de ter Kim de volta, aquela mulher poderia destruí-la em segundos.

- Estou aqui para ver uma das atletas- a resposta saiu um tanto atropelada.

De repente, a expressão antipática da mulher assumiu uma certa delicadeza, e ela sorriu para ele, enquanto abria uma gaveta em sua mesa retirando um pesado livro empoeirado lá de dentro, deixando-o cair sobre a mesa com um estalido.

- Eu já estava começando a pensar que esse livro nunca mais ia sair da gaveta- ela falou, divertida. – O treinador Schimdt tem regras tão rígidas, que as pobrezinhas das meninas passam meses sem ter visitas.

Tommy sentiu um certo desconforto, ao imaginar aquelas garotas privadas de ver suas famílias e amigos. Que espécies de regras eram aquelas?

- E quem é que o senhor quer ver, rapaz?- ela perguntou virando com calma as folhas do livro.

- Kimberly Hartie- ele respondeu, sem perceber a ternura com que tinha dito aquele nome.

- Oh, mas ela é uma ótima menina, eu a adoro. Está conosco desde o último natal.- ela falou virando mais algumas páginas, deixando-o ainda mais ansioso.

Tommy se inclinou sobre o balcão que dava para a janela de vidro e pôs-se a olhar quando a mulher encontrou a ficha de Kimberly. A ficha continha marcado com um x vermelho a última visita de Kimberly à Alameda dos Anjos, no natal.

- Você por acaso é Tommy Oliver?- a mulher perguntou de repente, deixando-o surpreso.

- Sim.- ele confirmou. – Mas como é que você...

Mas antes que ele perguntasse alguma coisa, ela foi logo dizendo:

- Você está registrado aqui no livro como visitante permitido.

- Como?- ele indagou sem entender.

A mulher sorriu para ele e respondeu:

- As meninas só têm direito a pôr um visitante na lista. A maioria é claro, colocam os nomes de suas mães e de seus pais, e a Srta. Hartie, diferente de suas colegas alistou você como único visitante permitido.

Naquele momento, Tommy sentiu o chão faltar-lhe debaixo dos pés. Apenas um visitante era permitido, e Kimberly ao contrário de colocar o nome de seu pai ou de sua mãe pôs o nome dele. Apesar de sua mãe viver em Paris, e seu pai ser um pouco distante, na opinião dele isso não era motivo para escolhê-lo ao invés deles. Devia haver algo mais.

- Vai ser muito bom para ela ver alguém depois de tanto tempo trancafiada aqui treinando. Você pode assinar aqui por favor?- a mulher pediu abrindo uma portinha no vidro que Tommy não tinha notado antes, e passando o pesado livro através dela.

Ao assinar o livro, Tommy percebeu que o quadro de assinaturas de visitantes de Kim estava completamente vazio. Pensou em perguntar algumas coisas mais sobre as regras do técnico Schmidt, mas achou melhor não abusar da sorte, já que a mulher estava sendo tão simpática. Ao contrário disso, preferiu primeiro ganhar a confiança da mulher.

- Eu ainda não sei seu nome, você é a...

- Christine, mas todo mundo por aqui me chama de Baby.- ela respondeu sorrindo.

- Baby é um nome legal- ele falou sendo o mais simpático possível.

Baby sorriu mais uma vez, e sem perceber começou a dizer a ele várias coisas sobre o funcionamento do programa de treinamento do técnico Schidmt.

- Sabe Tommy, quando eu cheguei aqui fiquei muito chocada com a política do treinador Schidmt, ele é bastante rígido com as garotas, principalmente no que diz respeito a visitantes. Pensei até em pedir demissão, isso porque tinha muita pena das meninas, mas aí pensei que seria melhor se eu ficasse aqui para cuidar delas, dar uma ajudinha de vez em quando, entende?- ela deu uma piscada marota para ele.

- Entendo sim. – Tommy sorriu.

De acordo com o que Baby ia contando, Tommy ficava imaginando que certamente Kimberly não sabia dessas regras quando aceitou o programa de treinamento, talvez estivesse um tanto decepcionada com isso, afinal quando o treinador Schmidt apareceu no ginásio querendo contratá-la, ela praticamente o idolatrava. O que estaria sentindo agora? Ele realmente não gostava daquelas regras.

- Ah rapaz, mas você não veio aqui pra ficar escutando as minhas conversas, não é mesmo? Escute...- ela falou se aproximando do buraco no vidro. – Siga aquela rampa e vá até o ginásio ver sua garota, que nesse momento está obviamente treinando com o resto da equipe.

Ele sorriu em agradecimento e saiu caminhando em direção à rampa. Quando chegou ao final dela, na entrada do ginásio, avistou dois grupos de ginastas compostos de seis garotas, mas nenhuma delas era Kimberly. Ele continuou andando, dando uma volta ao redor da grade de proteção da quadra procurando uma garota baixinha, provavelmente vestida de rosa. Foi então que a viu, estava em pé em frente a um banco conversando com outras garotas, enquanto enxugava o excesso de suor provocado pelo treinamento com uma toalha branca. Não querendo ainda que ela o visse, se sentou em um lugar um pouco afastado nas arquibancadas, da onde podia observá-la sem ser notado. Estava um tanto diferente, os cabelos que na maior parte do tempo eram soltos ou presos em um alegre rabo de cavalo, estavam arrumados em uma trança, Tommy pensou que, pelo que Baby dissera, usar o cabelo daquele jeito deveria ser mais uma das exigências do treinador Schimdt.

Por um momento, Kimberly voltou seus olhos na direção dele, e Tommy pensou que seu coração ia sair pela boca. Sentiu até mesmo lágrimas querendo cair aos seus olhos, mas conteve-se. Kimberly apesar disso não o havia notado, estava tão concentrada que seu olhar pareceu perdido a ele. Ela esta se preparando para executar mais uma seqüência de exercícios para o treinador Schimdt, que aguardava sentado em um banco um pouco mais adiante na quadra.

Quando ela subiu no cavalete e começou a se mover, Tommy notou a substancial perda de peso dela. Não achara isso no último natal, talvez porque devido ao frio estivessem todos sempre usando suéteres e pesados casacos. Ela parecia muito cansada também, o que o preocupou um pouco. Tommy tinha sido um dos incentivadores de Kimberly, para que ela viesse correr atrás de seu sonho na Flórida, mas nesse momento sentiu-se um tanto culpado ao vê-la esgotada assim. Será que ela estava feliz? De repente, ao tentar dar um giro seguido de um pulo no cavalete, Kimberly escorregou e manteve-se com muita dificuldade em pé. Tommy ficou apreensivo, instintivamente preparando-se para ajudá-la, como costumava fazer nos velhos tempos.

Sem conseguir mais se manter em pé, Kimberly caiu duramente sentada no cavalete. Tommy ficou observando a reação do treinador, apesar da exaustão perceptível de Kimberly, o treinador parecia muito irritado com ela. Finalmente, ela desceu do cavalete e caminhou resignada na direção do treinador. Não se contendo, Tommy desceu vários degraus da arquibancada de modo que pudesse escutar o que o treinador Schimdt ia dizer a ela. Mas não precisava ter se preocupado tanto, já que o que o treinador disse a ela ecoou por todo o ginásio. O homem não falava, rosnava.

- Srta. Hartie, se você continuar a falhar desse jeito, não conseguindo completar a sua rotina, é melhor que a senhorita faça suas malas e volte para aquela cidadezinha provinciana de onde eu a tirei. Obviamente, a senhorita não tem feito jus às suas habilidades.

- Compreendo. Eu farei melhor da próxima vez- ela respondeu, sem muito entusiasmo.

O treinador assentiu com a cabeça, e em seguida voltou sua atenção para uma outra ginasta que estava se aquecendo para dar início a sua rotina no cavalete. Kimberly agarrou sua toalha e uma garrafinha de água mineral que estavam sobre uma mesinha improvisada, e largou-se sobre uma cadeira. Foi nesse momento que ela o viu. Tommy desceu da arquibancada e aproximou-se lentamente. Seu olhar era de choque, seu corpo inteiro tremia, parecia que a qualquer momento a garrafinha de água escaparia de suas mãos. Ele por sua vez, já não podia esperar mais, contornou a grade da quadra adentrando o portão e a encarou.

Continua...