Eu não conseguia acreditar, mas era verdade e estava bem diante dos meus olhos. Seus olhos ainda estavam abertos, a boca também, talvez para lançar o feitiço que teria lhe salvado a vida.
Eu sabia que a guerra ainda estava acontecendo bem ao meu redor, para eles nada havia mudado, muitos nem haviam percebido o corpo que estava bem aos seus pés. Mas eu havia, e por isso não podia continuar, seria um desrespeito fazê-lo, ver meu irmão jogado na sarjeta com os olhos vidrados e a boca entreaberta e simplesmente deixa-lo ali.
Lentamente eu comecei a me mover, tinha que tira-lo dali, não iria deixa-lo para trás, para que quem houvesse feito aquilo voltasse e se vangloriasse. Eu já havia começado a me mover para tira-lo dali quando senti a varinha na minha garganta. Provavelmente eu já estaria morto a essa altura, mas usei toda a raiva que estava dentro de mim e lancei um feitiço. O comensal voou em direção à parede, pelo baque soube que ele havia morrido o impacto fora muito grande.
Bom, muito bom. Alguém havia pago por Fred, mesmo assim não me senti satisfeito. Fred valia a vida de todos aqueles comensais imundos. Senti-me tentado a pegar a varinha e ir atrás de todos, pega-los um por um. Mas meu irmão ainda precisava de mim, comecei a retirar o corpo dele com cuidado, o levei para dentro do castelo.
Quando cheguei ao Salão Principal encontrei minha mãe. Pude sentir a dor em seus olhos quando viu Fred nos meus braços, achei que nunca havia visto alguém tão abalado. Olhei-me em uma bandeja de prata que fora jogada em um canto qualquer, querendo saber se parecia tão arrasado quanto me sentia. Quando encontrei meu olhar não me reconheci de súbito. Vi alguém com uma expressão vazia e olhos selvagens.
Acho que teria ficado a noite inteira lá, encarando o meu reflexo e segurando meu irmão como se minha vida dependesse disso, quando ouvi uma voz. Eu nunca havia sentido tanta raiva como naquele momento em que ouvi a voz que havia causado tudo isso. Voldemort estava falando, mas somente parte do significado entrava na minha mente. Entendi que ele estava recuando, nos dando tempo para cuidar dos mortos e feridos, e... Uma trégua, ele nos oferecia uma trégua, tudo que teríamos que fazer era entregar Harry e tudo acabaria.
Por um rápido momento cheguei a considerar a proposta, mas de repente, como um filme, vi todos os momentos que Fred e eu havíamos passados juntos. Vi desde a nossa infância, nós pregando peças no Rony, nossa primeira viagem no expresso de Hogwarts, a primeira travessura, a primeira vez na sala do Filch. Nós entrando para o time de quadribol, a primeira vitória, a vez em que colocamos bosta de dragão na caixa de correio de Percy, o ano em que Umbrige foi para Hogwarts, esses e vários outros.
Tudo isso passou na minha mente, e então percebi. Não importa o que Voldemort dissesse, não haveria nenhuma trégua esta noite, não depois de Fred.
