Disclaimer: os personagens de Naruto não me pertencem.

Um Trago para a Rainha

Last night I had a dream about you and it looked like everyone was having fun. The kind of feeling I've waited so long...

(Noite passada eu tive um sonho sobre você e parecia que estávamos nos divertindo. Um tipo de sentimento que eu estava esperando há tanto tempo...)

Digital Love – Daft Punk

Capítulo 1: Flores do Campo

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Os cabelos loiros caíam sobre meu rosto. Eles cobriam minha visão e seu cheiro impregnava meus pensamentos.

Por que eu, tão vazio, me sentia agora tão inexplicavelmente cheio? Talvez cheio de ar? Oh, e eu sentia aquela opressão no peito, que indicava que minha mente não estava mais tão vaga quanto um dia estivera. As coisas à minha volta me impeliam a pensar, a tentar compreender, a vivenciar e então eu estava sinceramente fraco demais para poder lidar com elas.

A vida é tão fácil se simplesmente nos deixamos levar.

Diabos, quem imaginaria alguém como eu filosofando sobre as peculiaridades do mundo? Por que alguém aparentemente tão distante como eu de repente se mostrava uma criatura tão sutil, tão inteligente? Jamais poderia compreender o que era aquela minha mente cheia de dúvidas.

Tudo que ela me impele a fazer, dificilmente eu faço. O que eu estava fazendo ali? Quando comecei a fazer parte dessa realidade nova e distante?

O que aconteceu com meus ideais, meu desinteresse, meu fútil mundinho sem emoção?

Eu ergui os olhos e percebi que estava pensando em coisas que jamais deveria pensar. Eu havia ultrapassado meus próprios limites. As fronteiras já estavam atrás de mim e, pensando assim – como odeio tal idéia –, estou a mercê de um milhar de sensações.

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"Gaara..."

O tom doce e melodioso ecoava pelo silêncio, suavemente.

Ele manteve seus olhos fechados, incapaz de formular uma resposta. Ainda sentia os cabelos sobre sua face, fazendo cócegas no seu nariz, e deles exalava um aroma de flores que lhe lembravam a flores do campo.

Nunca havia reparado no quão bem podiam cheirar os cabelos. Não, o correto seria dizer que nunca havia reparado no quão bem cheiravam aquelas madeixas loiras e compridas que volta e meia acabavam tocando em seu braço, enquanto caminhavam.

E pouco a pouco aquele torpor inicial foi dando lugar a uma irritação crescente, até que ele lembrou-se de que não gostava de flores.

"O que raios você fez?" perguntou, friamente.

Obteve um silêncio aborrecedor como resposta.

"Desculpe." Por mais que ele desprezasse a idéia, sabia que, no fundo, acabaria perdoando. Não fazia diferença. Aquela timidez não aparente, o rubor de raiva e o desviar de olhos estavam se tornando tão comuns que Gaara já se sentia um dos mais profundos conhecedores dela. "Jamais tive a intenção...ahh...você sabe."

Seus orbes inquisidores perscrutaram-na, sem nada dizer.

Gostaria de erguer-se e bater as mãos nas vestes, com a idéia de que nada havia acontecido. Mas tal coisa seria impossível, já que ela ainda estava por cima dele e seus cabelos caiam-lhe no rosto.

"Ino...Yamanaka, saia." Ordenou.

O cheiro de flores do campo se afastou com o vento.

Então a garota ergueu-se num pulo gatuno, tentando disfarçar. "Bem, sinto muito."

"Apenas olhe por onde anda." Gaara foi ameaçador até certo ponto.

"Olhar?" Ela franziu as sobrancelhas, como se estranhasse o pedido dele. Mas não se demonstrava acuada, de forma alguma. "Foi exatamente você quem me aconselhou a andar de olhos fechados por aí, para que pudesse treinar minha percepção de chakra. Você se recorda disso?"

Oh, Gaara sentiu-se aborrecido.

A memória rapidamente voltou-lhe à cabeça e ele aparentou insatisfação. "Pelo visto não anda funcionando muito."

"Ora," Ino postou as mãos na cintura, batendo pé. "desculpe se não sou tão boa quanto você, ó todo poderoso."

Ele perguntou-se internamente quando é que haviam passado a ter tanta intimidade daquele jeito, para chegar a conselhos de treinamento e tratamentos pessoais. Mas não se recordava com precisão de todas as cenas que desencadearam aquele arroubo de familiaridade.

Decidiu deixar aquilo de lado, por hora.

Deu as costas, tomando rumo na direção da sua sala.

Como KazeKage, infelizmente era acometido pro milhares de compromissos desagradáveis, dos quais se forçava a comparecer. E, na margem do possível, sempre repassava a responsabilidade a algum subordinado desafortunado.

Infelizmente – coisa que lamentava com sinceridade – Gaara nem sempre podia adiar ou mandar representantes. Ele precisava se forçar a ir, para que apenas fingisse prestar atenção e, no fim, desse algum tipo de resposta relevante. A Suna, invariavelmente, progredia em nome daqueles que trabalhavam arduamente para tal. Não podia dizer que tinha sobre si os méritos daquele avanço.

"Ei!" A exclamação lhe trouxe de volta dos seus pensamentos.

Gaara parou de andar, mas não se virou para ela.

"Gaara," ela tocou seu braço, suavemente. "eu gostaria de ficar na sua companhia hoje."

O que era aquilo?

Como se num estalo, percebeu que passava tardes inteiras acompanhado dela, quando não havia nada a mais para ser dispensado. Ela simplesmente grudava no seu pé com aqueles sorrisos e olhares, que não despertavam nele absolutamente nada, mas que deixavam muitos outros de expressões admiradas.

Mas, até certo ponto, admitia que Ino não era desagradável. Ela fizera de tudo para mostrar-se hábil, inteligente e sensual, reforçando ainda mais sua beleza natural.

"O que você está fazendo?" Ele lhe perguntara uma vez.

"Te seduzindo."

Não. Não havia sentido nas suas palavras. Gaara não compreendia o que seria a sedução e, se assim fosse, não estava surtindo o menor efeito sobre ele.

Maneou a cabeça, tornando a caminhar. "Não."

"Ora, Gaara!" Veio a exclamação irritada. "O que você tem de tão secreto assim que não possa compartilhar comigo!"

"Suma, Ino."

Por mais fria e distante que aquela ordem pudesse parecer, ela conformou-se, satisfeita. Observou-o afastar-se, sumindo do seu campo de vista. Apesar de tudo, ele a havia chamado de Ino.

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"Ei, Yamanaka!"

A loira virou-se, dando um sorriso.

"Oi, Temari." Acenou, pulando da beirada da janela, de onde observava o movimento da rua lá embaixo. Seus cabelos já cobriam a cintura, sem qualquer ondulação, e, pelo menos na Suna, eram motivos de grande admiração por parte dos moradores.

Ela gostava da atenção que recebia por lá. A Suna se mostrara um novo lar, um lugar repleto de novas descobertas e novas aventuras. E, se dependesse dela, Ino aproveitaria cada pedacinho daqueles momentos.

Temari deu um sorriso malicioso, postando as mãos na cintura. "O que está fazendo que não está atrás de Gaara?"

"Resolvi deixá-lo sozinho por uns tempos, para que ele sinta a minha falta." E Ino deu uma piscadinha.

As duas garotas riram, numa grande cumplicidade.

Quando o silêncio tornou a reinar, nenhuma delas sentiu-se acuada ou desconfortável. E deixaram-se entreter por seus pensamentos por segundos seguidos, antes que se operasse algum movimento.

Temari estreitou um pouco seus olhos, observando a loira.

Escorou-se na parede e cruzou os braços. "Você sabe, ele está caído por você."

Os olhos azuis da cor do céu piscaram continuas vezes, juntos do sorriso divertido que despontava nos lábios. Jogando seus cabelos sobre os ombros, Ino não pode deixar de sentir um pouco de satisfação diante daquelas palavras. E sorriu ainda mais. "Eu sei." Disse.

Mas aquela não fora a parte mais difícil. Tirar Gaara da sua aparente apatia, interromper seus pensamentos, marcar sua presença ao lado dele haviam sido tarefas relativamente fáceis.

"Quando tempo será que ele demorará a admitir isso para si mesmo?" perguntou pensativa, olhando pela janela.

Temari ficou em silêncio.

Ela havia lhe segredado todos os hábitos de Gaara. Mas não sabia o que se passava por sua cabeça.

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A noite estava nublada e um vento frio corria.

Gaara sentou-se no terraço e apenas escorou-se a parede, pondo-se a observar o céu. De alguma maneira, ele se sentia aborrecido pelo tempo. Analisar as estrelas era uma das suas atividades preferidas e o silêncio, reconfortante.

Gostava de ficar pensando no nada, lembrando das pessoas e de suas expressões. Não recordava do passado, apenas dos olhares, dos sorrisos. Ficava se perguntando sobre a sua sorte, em ter nascido assim tão abominável e, principalmente, fazendo conjunturas sobre sua mãe. Ele teria sido alguém melhor com ela por perto, talvez?

Era irônico que ele fosse uma pessoa assim nostálgica. Seus olhos eram tão frios.

Olhou para as próprias mãos. Muito sangue manchava seus dedos. Quantas haviam sido as pessoas mortas? Não se importava, na realidade. Dor ou lágrimas, o que era aquilo? O que era o amor?

"Gaara!" a exclamação interrompeu seus pensamentos.

Ele olhou para Ino.

Ino era o amor.

Ela tinha os cabelos loiros balançando fortemente pelo vento e um sorriso divertido despontando nos lábios. E seus olhos...bem, Gaara não gostava deles. Eram brilhantes e simplesmente amorosos. Ela exalava amor. Mas afinal o que era o amor? Ouvira sobre essa palavra e reconhecia-a apenas pela existência de Ino. Então, o amor era uma pessoa?

Gaara passara já várias horas tentando descobrir o que era aquela tal sensação que abatia os tolos e simplesmente chegara à conclusão de que não era vulnerável ou atingível por ela.

"Gaara," a mão de Ino tocou seu ombro. "o que está fazendo aqui sozinho?"

"Ino, por que você sempre vem me infernizar?" indagou ele, aborrecido.

"Gosto disso."

O simples silêncio foi sua resposta.

Gaara observou-a, sem qualquer traço de satisfação. E Ino só sorriu, sentando-se ao seu lado. Ele ficava se perguntando quando ela iria embora.

"Gaara..." sussurrou ela, apoiando gentilmente sua cabeça sobre o ombro dele.

"O que você quer?"

O cheiro de flores do campo invadiu suas narinas por um pequeno período de tempo, até que o vento levou-o para longe, junto do balançar das árvores.

"Fazer você entender o que eu quero e o que eu sou." Disse Ino, numa voz suave.

Você é o amor...?

Ele piscou os olhos, fechando-os por um segundo para sentir o vento que batia contra sua face.

"Gaara..."

"Pare de repetir meu nome."

"Gaara," Ino deslizou os dedos pelo braço dele, sem dar atenção às suas palavras. Os olhos azuis dela estavam brilhantes, embora a noite estivesse escura. Passou a língua pelos lábios, ainda mantendo sua pele quente em contato com a dele. "gosto de ter você por perto."

Ele sentia os dedos dela acariciando-o e não fez nenhum movimento para impedir seu toque.

Seus corpos estavam gelados pelo vento frio, mas ainda assim Ino parecia tão quente. Os cabelos dela roçavam sua bochecha, deixando o cheiro de flores no ar.

"Ino." Disse, abrindo os olhos. "Afaste-se."

Ela riu.

A risada alegre surpreendeu-o e Gaara foi obrigado a encará-la.

A garota levantou-se habilmente, os cabelos loiros balançando sobre seus ombros. Tirando-o dos olhos, empurrou uma mecha para trás da orelha.

Ino abaixou-se, acocorando-se ao lado dele.

"Gaara." chamou ela de novo, irritando-o.

"Pare." Resmungou.

"Você é tão frio." E os lábios dela tocaram sua bochecha, esquentando-a.

Ino deu mais um sorriso e deixou-o.

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N/A: Como enchi um pouco o saco de AU, resolvi fazer uma fic Gaara/Ino no universo de Naruto mesmo. Espero que tenham gostado deste primeiro capítulo e espero também que ele seja digno de comentários! o/ Deixem reveiws e continuem acompanhando, please! n.n