Ele sabia que a encontraria ali. E infelizmente, ela realmente estava lá, com lágrimas transbordando pela sua frágil pele e soltando soluços incontroláveis.

O rapaz caminhava vagarosamente até ela, não queria atrapalhar o momento. No entanto, um pequeno galho o dedurou quando ele pisou nele, o partindo ao meio, fazendo a garota se virar.

– Eu sinto muito - Disse o rapaz, evitando encará-la.

– N-N... - O choro tornou-se ainda maior e a frase ficou incompleta. Provavelmente, ela diria: não quero seus pêsames, muito menos suas desculpas. E ele apenas assentiria. Afinal, os sentimentos dela não mudariam, independente de qualquer pedido de desculpas.

O jovem homem de cabelos pretos se aproximou um pouco mais da garota à sua frente, já imaginando que ela tentaria se afastar. Porém, ela continuou ali, tentando enxugar a tristeza.

– Aquele dia... - Ele sussurrou e ela colocou as mãos sobre o rosto, deixando seu corpo mole e quase caindo de joelhos sobre a grama molhada do cemitério: ele havia a segurado, havia a envolvido com seus braços enquanto fitava o céu escuro e pesado, imaginando o que poderia existir além daquelas nuvens. Se realmente existia algum tipo de paraíso...

– Ele não iria querer que você desistisse assim... - A garota balançou a cabeça num sinal positivo, como se dissesse: você tem razão.

– Aquele dia... Falávamos sobre amizade - Ele sentiu um líquido conhecido escapar dos olhos dele.

Era realmente difícil se lembrar daquele fatídico dia.

"Vou lhe emprestar meu poder, então... Mate Gajeel"

Naquela hora, Rogue sentiu sua força aumentar 10x, assim como o poder mágico. Além disso, ele não havia notado, porém Gajeel e Frosch sim: os olhos dele haviam ganhouma vontade assassina, capaz de assustar qualquer um, inclusive o próprio Dragon Slayer do Ferro.

Enquanto a luta brutal entre os dois ganhava vida, uma garotinha assustada e com um mau pressentimento, afirmava para o mestre:

– Alguma coisa ruim está acontecendo - Makarov também conseguiu sentir essa energia maléfica e negativa rondar a arquibancada, adquirindo uma enorme preocupação e ordenando a todos que estavam assistindo aos jogos e eram da Fairy Tail, procurar pelos membros da guilda. E assim foi feito.

A garota de cabelos azuis sentia uma pontada violenta em seu coração, e por mais que estivesse cansada de tanto correr, não desistiria, mesmo com suas forças parecendo estarem sendo sugadas, mesmo com suas pernas querendo fraquejar. Ela não desistiria até encontrá-lo.

Levy ergueu a cabeça e o corpo simplesmente parou, seu olhar passou a ganhar um ar de perplexidade e vazio. Tudo ao seu redor pareceu silenciar. E dos lábios da doce garota de cabelos azuis, apenas uma única palavra ousou escapar. Palavra essa carregada de dor, súplica e incredulidade:

– GAJEEL! - Um homem estava prestes a dar o golpe final e tudo o que ela conseguiu fazer foi estender a mão, querendo alcançá-lo, querendo ser forte o suficiente para salvá-lo.

Ela o viu olhar em sua direção. Ela o percebeu tentando esticar o braço, como que querendo dar apoio a ela. Ela entendeu as últimas palavras vindas daquele brutamontes:

– Baixinha... Não foi dessa vez... - Ele estava prestes a esboçar um sorriso. Contudo, o golpe acertara em cheio o coração do Dragon Slayer, e seu quase sorriso se foi. Assim como a sua vida. Assim como o brilho daqueles olhos cheios de si.

O braço da Levy caiu com tudo ao lado do corpo. Ela não conseguia acreditar. E nem sabia o que fazer: estava em completo estado de choque.

Balbuciara palavras, o rosto ficara vermelho de tanto chorar e se xingava mentalmente por ser tão fraca. Tão incapaz. Levantara o rosto e passara a mirar o corpo todo ferido do Gajeel.

O sangue ao redor dele. O sangue escorrendo do corpo dele...

O olhar aberto e vazio, como se querendo dizer algo...

Finalmente conseguira se aproximar um pouco mais: os passos incrivelmente lentos e ainda sem acreditar no ocorrido. Completamente derrotada.

O homem que matara Gajeel estava inconsciente e um exceed choramingava ao lado dele.

"Sabertooth..." Levy pensara, sem dar muita importância.

Finalmente chegara até o corpo inerte, ajoelhando-se perto dele e apoiando sua cabeça sobre o peitoral do mesmo, desejando poder ouvir e sentir o coração dele bater.

Nada...

Com o rosto molhado e as roupas encharcadas de sangue, ela fechou os olhos do idiota delicadamente e completamente, sussurrando um agradecimento qualquer, carregado pelo vento, tocando finalmente os lábios de Gajeel com um pequeno selinho de despedida.

Um beijo frio...

Ela realmente esperava que a magia do amor o fizesse abrir os olhos novamente. Mas, como já era de se esperar, nada ocorreu. Ela continuava sozinha, continuava sem ter alguém para chamá-la de irritante, pirralha ou baixinha.

E naquele dia, toda a Fairy Tail chorou.

Ganhar os jogos mágicos não fazia mais sentido.

A perda havia sido grande.

Tão grande, que o coração de uma pequena garota havia ficado em pedaços. Assim como os sonhos da mesma.

Não haviam palavras para explicar aquela dor.

Mas haviam palavras que ela gostaria de ter dito para ele antes de partir.

Eu te amo era uma delas e foi levada pelo vento juntamente com o agradecimento.

– Se eu pudesse voltar no pass... - Levy finalmente conseguira pronunciar algo, o interrompendo.

– Mas você não pode! E se voltasse, aconteceria o mesmo... E eu teria que sofrer mais uma vez! - Ela ainda estava nos braços dele. E sabia que se o soltasse, cairia ali mesmo - A culpa não foi sua... - Os olhos de Rogue arregalaram, surpresos, ao ouvir tais palavras - Você estava sendo dominado por magia negra, então... A culpa não foi sua!

– O Gajeel... Tinha sorte de ter alguém como você! - Rogue a abraçou forte e não conseguiu conter as lágrimas de felicidade. Todo dia, o remorso lhe assombrava, o consumindo por inteiro. E sempre faltava coragem para falar com ela. Mas, hoje... Encontrou o perdão. E um peso lhe fora retirado.

– Eu gostaria de tê-lo conhecido melhor - Levy finalmente conseguira se afastar um pouco e permanecer de pé, mesmo tendo que se apoiar nele para conseguir realizar tal proeza.

– Vocês seriam grandes amigos... O simples fato dele te dar outra chance para lutar... - Dessa vez, Rogue conseguia olhá-la sem sentir vergonha. E escutava cada palavra atentamente, deixando um leve sorriso escapar ao ouvir o final - Mostra o quanto ele te admirava.

Levy olhou para o céu e Rogue fez o mesmo.

É verdade, era complicado olhar para o rapaz ao seu lado e não lembrar daquele dia. Afinal, ele realmente não tinha culpa. Todavia, possuía o rosto do "assassino" e aquilo lhe causava calafrios, ainda mais quando se lembrava do olhar sombrio do mesmo. Da sede de sangue...

Mas, ela não poderia e nem conseguia não perdoá-lo, vê-lo chorar após ouvir as palavras dela... Realmente causou certo conforto.

– Aquele dia... - Levy acordou de seus devaneios e passou a escutá-lo - Falávamos sobre amizade. Ele contou que a Fairy Tail era impossível de se derrotar. E mencionou algo sobre admirar uma pirralha irritante. Falou que a protegeria sempre... Mesmo estando distante.

Um pequeno sorriso se formou nos lábios da pequena, que ergueu o braço para o céu e fez o sinal da Fairy Tail, fazendo Rogue sorrir também.

Os dois sentiam-se mais leves agora.

E para Levy, ter a admiração do Gajeel era suficiente no momento.

"Gajeel... Ficarei ainda mais forte. Por você"

"Gajeel... Não é como se ela precisasse de ajuda. Mas, você sempre quis estar lá por ela, não é?"

E dessa vez, o vento foi incapaz de levar os pensamentos embora. Foi incapaz de retirar a admiração e determinação que emanava dali.