Twilight Town recebeu Roxas mais uma vez naquele dia. Os braços abertos não eram verdadeiramente amistosos, envolviam-no, sim, com indiferença. A cidade não poderia ser sua, ele sabia. Nada poderia ser realmente seu. Mas enquanto o quarto em que dormia na organização era frio e nebuloso, a torre era real. O sol fraco, que se despede, aquecia de leve a pele, alcançando homens e espectros de homens, embora apenas os primeiros pudessem considerar-se participantes da roda da vida, e Twilight Town pertencia à vida.
A ligação de Roxas com o tempo era vaga, remetia aos dias em que havia estado na Organização. 71 dias, era isso. 24 deles, passara dormindo. Qual a razão do sono prolongado? Não sabia. Não sabia de muitas coisas, era uma confusão. Estava sozinho. Oh, não, existia Xion. Por algum tempo existira também Axel. 15 dias, ali no início de tudo. Agora, diziam que ele desaparecera. Que algo o destruíra e que a morte não lhe permitira deixar resquícios. Nada de sua pessoa poderia atravessar a barreira do tempo e tornar-se infinita. As regras eram claras, Nobodies não faziam parte do mundo.
Realizou sua missão, como um gesto natural. Era inevitável. Quando não se sabe de muita coisa, agarra-se ao pouco que se encontra. A organização lhe punha limites, e em um mundo tão vasto, era importante haver quem o guiasse.
Mas Axel também lhe mostrara outra gama de cores, tons que a organização jamais poderia ter lhe proporcionado. Axel ensinara-lhe um caminho ao qual Roxas segurava-se com todas as forças. Sua existência, fosse o que fosse, teria sido tremendamente mais penosa e ainda mais nebulosa se aquela estrada não tivesse lhe sido apontada. Mesmo com a ausência de Axel, mantinha-se nela. O significado minguava, mas atinha-se a torre, ao que lhe fora demonstrado, em um misto de teimosia, confusão e esperança.
Oh, e afinal, Axel apareceu. De repente, como uma sombra que renasce da morte. Não era uma ilusão, Roxas nunca pensou que fosse. Era Axel. Ele sobrevivera. Ao quê? Não perguntou. Sentia-se desajeitado, passaram-se muitos dias desde que vira Axel pela última vez. Sua voz saiu atrapalhada, o pensamento ignorou muito do que poderia ter sido esclarecido, e o coração... Oh, que bobagem. Não havia coração. E, no entanto, a sensação pesada sumira, perdera-se no limbo, como se jamais tivesse existido.
-Você está vivo.
-É, eu não morro tão facilmente.
-... Isso é bom.
Não houve resposta. Axel estava de volta, o significado pararia de minguar. Xion poderia conhecê-lo, e quem sabe, Axel poderia ajudá-la como ajudara a Roxas. Estava contente, ou o que quer que fosse. Os próximos dias seriam diferentes.
