• DANÇANDO DENTRO DA MÚSICA .


Nós vamos dançar dentro da música.

— The All-American Rejects.


oneshot


X

Queria que fossem iguais.

As mãos estavam juntas e geladas e quentes e paradoxais. E os pés se moviam de um lado a outro, de um lado a outro, e era um dois três, um dois três, um dois três, mas os seus se arrastavam e Shion os olhava. Ordenava que se movessem. Mas não dava. Eles arrastavam. Repuxavam. Arrastavam. Os de Nezumi flutuavam nas nuvens, na imensidão dourada e lilás do dia, na imensidão do tempo e Shion queria acompanhá-lo para que fossem iguais, mas as mãos quentefrias era tudo o que iria conseguir. Não dava.

E os olhos do outro pareciam condenar, olhar de cima para baixo e Shion perguntava a si mesmo quem era o rato ali. Um dança nas nuvens, outro arrasta os pés. Um dois três.

— An, chu, tree. An, chu, tree. — Naquele sotaque engraçado expulso entredentes, com a língua batendo no céu e retornando à terra.

Língua, ahn.

— An, chu, tree. — Shion repetiu na imitação e ganhou uma risada de presente. E a sua, para fazer companhia.

Iguais.

E a risada o impulsionou num salto, num ballet, num passo único e suas mãos foram para outros ombros e ficaram por lá. O rosto fez questão de aproximar. E as bocas de unir, calando as risadas, calando o compasso, calando a canção.

Dançando dentro da música.

X

As pernas se perderam entre outras pernas, os braços se perderam entre outros braços e os gemidos se misturam cacofônicos, sinfônicos, melódicos. Os corpos se cruzavam devagar (iguais) e o compasso seguia na pulsação, batida, pressão. Pressão. E Shion respirava pelos dois, o ar entrando e saindo, indo e vindo, golfadas e golfadas de ar engolido e expulso, engolido e expulso e o peito batia como um tambor. E estava tudo bem porque o tempo havia parado. Só havia Nezumi. Nezumi Nezumi Nezumi, Shion perdido em algum lugar entre eles e eram iguais. Iguais. Um no outro e iguais. Cada toque em dedilhar, cada centímetro de pele coberto como teclas de piano e passos e valsa e os sons iam e vinham creak creak creak moan creak moan creak sem poder parar. Canção de fogo e gelo. Canção de puro desejo, escorrendo para o dia e para o tempo e para o nada. Para o nada.

E tudo estava bem.

Estavam dançando

dentro.

Música.

Dançando na canção.

X

— Então você sabe dançar.

Nezumi dizia e sua voz era uma risada.

— Dentro da música.

O sangue escorreu da boca mordida. E Shion queria dançar outra vez.