O Fim de uma Era

Looking out from underneath,
Fractured moonlight on the sea
Reflections still look the same to me,
As before I went under

O dia era branco e frio como devia ser um dia de inverno. As cartas abertas em suas mãos contavam um segredo guardado a sete chaves por anos e agora muitas de suas perguntas tinham respostas concretas.

Jon observava os flocos de neve dançando na noite escura. Uma visão apaziguadora até certo ponto. Nostálgica e dolorosa também. Lembranças de dias mais simples povoavam a sua mente e agora tudo o que ele desejava era voltar ao início, quando ainda era o bastardo de Ned Stark. Nada além de um bastardo do Norte.

Quão abençoados eram aqueles dias simples. Dias em que escolhas podiam ser adiadas.

- Ficar olhando a neve não vai ajudar de nada, mas acho que já sabe disso. – a voz masculina familiar soou atrás dele. Tyrion caminhou até onde Jon estava, bamboleando até conseguir se acomodar numa das cadeiras da sala.

- Acho que até o senhor tem de concordar que é muita coisa para uma cabeça assimilar. – Jon respondeu.

- Família...Uma das maiores bênçãos na vida de um homem e também uma maldição. – o anão respondeu – Talvez eu não seja a melhor pessoa para aconselha-lo agora, mas acho que devia se sentir grato. Mesmo com esse segredo terrível, você foi amado. Tão amado que Ned Stark preferiu levar o segredo de sua origem para o túmulo só para protegê-lo. Isso é mais do que alguém tem o direito de querer da vida.

- E o que eu faço agora? – Jon perguntou com a voz grave e o peito apertado – Eu não sou...Eu não sou o que achei que era, também não sou o que essas cartas dizem.

- Você é o que sempre foi. – Tyrion respondeu – Um bastardo com uma boa dose de sangue Stark correndo nas veias, a única diferença é que agora você sabe que esta não é a parte importante. Você tem o sangue dos dragões, e que os deuses sejam bons, esta pode ser a única chance de manter os Sete Reinos unidos.

- Está sugerindo que eu me erga como uma pretendente ao trono? – Jon encarou o anão escandalizado – Não. Eu não posso fazer isso. Eu sou um bastardo. Só um bastardo. O Lorde Comandante da Patrulha da Noite e fiz um juramento.

- E este mesmo juramento diz que é seu dever defender o reino. Todos precisam de esperança agora que o inverno chegou. O reino sangra, aquele que você chamava de irmão está tão morto quanto Eddard Stark. Bran está limitado por suas pernas e Rickon é muito novo ainda. Como rei poderia fortalecer a Muralha outra vez e por fim a uma guerra que já dura cinco anos.

- O que está me pedindo é absurdo. – Jon disse com a voz insegura.

And it's peaceful in the deep,
Cathedral where you cannot breathe,
No need to pray, no need to speak
Now I am under

- É? – Tyrion ergueu uma de suas sobrancelhas – Então me diga o que o levou a Patrulha da Noite se não a ambição de se tornar alguém. Você sonhava com o dia em que lorde Stark o nomearia defensor de alguma fortaleza menor, ou o dia em que todos olhariam para você e veriam alguém importante e não apenas o bastardo de Ned Stark. – a voz do anão era severa – É a sua chance, Jon. A chance de ser o equilíbrio entre as velhas tradições do Norte e o poder da casa Targaryen. A chance de se sentar no Trono de Ferro e provar para o mundo que você é mais do que um filho ilegítimo.

- E como eu tomaria este lugar? Quem me seguiria nesta loucura? Eu não tenho vassalos, não tenho poder algum além de algumas cartas com selos importantes. – Tyrion pousou a pequena mão sobre o ombro do rapaz e sorriu um sorriso grotesco, com sua boca deformada.

- Eu o seguiria. – ele disse – Ou se esqueceu de que eu sou um Lannister? Sou o melhor amigo que um pretenso rei pode ter.

- Por que? – Jon perguntou confuso.

- Por que eu tenho um fraco por bastardos, aleijados e coisas quebradas. Por que eu sei que é capaz de inspirar as pessoas, capaz de conquistar o respeito delas por suas ações a palavras. É inteligente e capaz de liderar. – o anão respondeu satisfeito – E eu estou certo de que Bran o apoiará também.

- Por que o Norte abandonaria sua autonomia enquanto reino pra se tornar uma parte de Westeros outra vez? Isso não vai acontecer. Jamais seguiriam um bastardo. – Jon insistiu.

- É compreensível que não saiba muito de política, Jon. – Tyrion riu – Felizmente nisso eu posso te ajudar de forma mais efetiva. Alianças podem ser construídas, rapaz. A forma mais fácil de fazer isso é pelo sangue e, os deuses são bons, você pode ter o que precisa bem de baixo do seu nariz.

- Do que está falando? – ele perguntou.

- Dá oportunidade de levar o Norte, as Terras do Rio e o Vale com você. – Tyrion disse satisfeito – Eu tomei a liberdade de falar com Bran e, apesar da resistência inicial, ele concorda que a ideia tem seu mérito. Agora me diga você, Jon. Está disposto a levar suas ambições adiante?

Jon respirou fundo e ponderou as palavras do anão e seus próprios desejos. Sentiu o coração acelerar e a adrenalina correndo em suas veias, pulsante e quente. Era um golpe baixo, era cruel...Era tentador.

Nada mudaria o que ele viveu, nem traria Ned Stark, Robb, Lyanna e Rhaegar de volta. Não mudaria a verdade, nem a tornaria mais fácil de aceitar. Aquela era a chance que ele procurou quando proferiu seus votos da Patrulha e agora se apresentava de forma inusitada diante dele.

- Sim. – a resposta era tão certa quanto às palavras que ele havia proferido no bosque sagrado do outro lado da Muralha.

- Estou certo de que o tempo como Lorde Comandante serviu pra lhe ensinar que liderança requer decisões difíceis, assim como sei que a minha sugestão não lhe agradará nem um pouco, mas quero que considere tudo com muito cuidado.

- Diga, Lannister. – Jon disse sério.

- Case-se com Arya Stark.

Por um momento, Jon sentiu o ar deixar seus pulmões e seu mundo girar mais uma vez.

And it's breaking over me,
A thousand miles onto the seabed,
Found the place to rest my head

Nota da autora: O Inverno está chegando e cá estou eu escrevendo mais uma Jon e Arya, mas com uma abordagem ligeiramente diferente. Tudo está ligado a política e dever, nada de paixões alucinantes. Nada de grandes declarações. O que resta para os dois é o conforto de uma amizade e o que restou de uma ligação que um dia foi muito forte. Drama a vista. Espero que gostem.

Bee