Domo pessoal

Sei que vocês devem estar pensando "Poxa, essa menina só escreve", mas confesso, desde que descobri que posso passar todos os meus sonhos para o papel eu não penso mais em parar. Antes eu assistia uma cena de um filme ou anime em especial e pensava "Detestei isso, poderia ser diferente, ou fulano não precisava sofrer tanto", ai num belo dia eu resolvi colocar isso no papel, confesso que hoje tenho vontade de jogar aquela historia no lixo e escrever outra, mas valeu a pena, eu descobri que poderia transformar cada desejo meu de ver um personagem agindo de determinada forma em uma historia. E depois de um bom tempo escrevendo sobre outros animes, resolvi aceitar o desafio de escrever uma historia bem grande que iria exigir muito de mim. Assim nasceu a Troca Equivalente, e por fim acabei descobrindo um grande prazer que é escrever e estou aqui de novo com mais uma fic.

Inicialmente eu pensei em fazê-la parte das Crônicas de Amor e Confusão em uma nova edição. Mas como novas idéias surgiram para complementar essa fic, resolvi postá-la à parte das crônicas.

Eu sei, quem gosta de passado é museu, então, podem me chamar de um, porque sou canceriana e adora falar sobre o passado. Laços de Ouro só vem pra confirmar isso mais uma vez.

Essa fic é totalmente voltada para o meu canceriano favorito que virou uma das minhas grandes paixões depois que foi flechado pelo Eros em Tempestade de Verão, enfim, nessa fic vou falar sobre o passado dele e muitos segredos a serem desvendados. Vocês já se perguntaram porque o cavaleiro que eu tão carinhosamente auto denominei de 'Guilherme' tornou-se o tão temido colecionador de cabeças 'Mascara da Morte de Câncer', logo vocês vão descobrir.

Sinceramente espero que gostem dessa fic. Então, vamos ao que interessa agora.

Boa leitura!


Nota: Os personagens de Saint Seya não me pertencem. Apenas Guilhermo e Helena são criações minhas para essa fic.


N/a: O personagem Giovani é uma criação minha, mas o dedico a grande Juliane-chan que transformou esse nome em referencia ao Cavaleiro de Câncer.


Laços de Ouro

Capitulo 1: De Volta Pra Casa.

I – Retornando as raízes.

Itália/ Sicília...

Como era difícil depois de tantos anos pisar novamente ali, mas tinha em mente apenas uma coisa, não estaria ali se não fosse ela; Guilherme pensou. Com a mão tremula tocou a maçaneta da porta de ébano.

Agora estavam em frente a grande mansão da família Firenze. Uma das mais conhecidas e respeitadas em toda a Itália. E ele, era o que muitos conheciam como Mascara da Morte de Câncer, mas somente aquelas paredes sabiam o que aquela casa tinha a ver com todas as transformações que ocorreram em sua vida ao longo dos últimos dezoito anos.

-Amor, tem certeza que quer entrar? –Yuuri perguntou, enlaçando-o pelo braço, conseguia sentir toda a tensão que o envolvia.

Apesar de estarem a pouco tempo namorando seus laços eram cada vez mais estreitos, o que fizera com que em meio a uma conversa casual, Yuuri viesse a perguntar o motivo que o fizera a tornar-se o cavaleiro que era, de imediato o namorado não respondera, mas afirmara, que se ela fosse com ele a Sicília poderia lhe explicar. Sabia que era difícil para ele estar ali, notava a guerra interna que ele travava entre o que deveria fazer e o que sentia que precisava, por isso decidira que não sairia de seu lado por nada.

-...; Ele assentiu, voltando-se para ela como se pedisse apoio.

Yuuri tocou-lhe a face carinhosamente, vendo-o fechar os olhos e suspirar. Tocou-lhe os lábios com os seus numa leve caricia, abraçou-lhe em seguida. Um abraço protetor e terno, o sentiu aconchegar-se entre seus braços e enlaçar-lhe pela cintura.

-Estarei sempre a seu lado, não importa o que aconteça; ela falou-lhe ao pé do ouvido.

-Obrigado; ele respondeu quase num sussurro.

Afastou-se lentamente, o cavaleiro voltou-se para a porta, a chave dourada brilhava no buraco da fechadura, quando ele envolveu-lhe com os dedos e ouviu o clique do trinco. A porta afastou-se lentamente, quando ele deu um passo à frente e terminou de abri-la.

Caminharam para dentro da casa, deparando-se com o hall de entrada, a sua frente erguia-se à longa escada que levava ao segundo andar, ao lado esquerdo o escritório.

Fechou os olhos lembrando-se da ultima vez que os vira saírem juntos dali. Helena, tão linda como a mais bela das divindades, caminhando calma e como sempre senhora de si ao lado de Guilhermo, um casal perfeito, apesar dos pesares; ele pensou com um brilho triste no olhar.

A sua direita o caminho para a cozinha e a sala de jantar. Sentiu uma brisa quente envolver-lhe o corpo, ergueu a cabeça novamente deparando-se com a escada, o tapete vermelho ainda parecia intacto. Sabia o que havia em baixo dela, lembrava-se perfeitamente, como se ainda visse aquilo novamente.

Um estalo em sua mente fê-lo subir as escadas correndo, deixando as malas caírem no chão, sem saber o que estava acontecendo, Yuuri correu atrás dele. Encontrou-o parado em frente a uma porta de madeira entalhada.

-Essa é a sala de musica; ele falou, encostando a cabeça sobre a madeira fria, eram como se pudesse novamente ver Guilhermo sentar-se em frente ao piano e lhe ensinar as primeiras notas e Helena prendendo os longos cabelos Royal em um coque, sentava-se em frente a lareira nos dias frios para cantar-lhe uma canção.

-Foi aqui? –Yuuri perguntou, aproximando-se dele. A única coisa que sabia sobre o cavaleiro era algo meio por cima sobre a morte dos pais, mas agora entendia que para ele estar tão abalado tinha algo a ver com aquela sala.

-...; Ele assentiu, afastando-se da porta.

Não podia mais hesitar, se chegara até ali tinha de continuar. Abriu a porta. Estava como antes, o piano de calda, as cortinas de seda jaziam fechadas, a lareira apagada. O sofá em forma de L, a poltrona que Helena normalmente se sentava. Na parede o brasão da família Firenze, era incrível como só agora notara que no centro do brasão havia o símbolo do signo de câncer. Um caranguejo dourado.

-Parece que eles sempre souberam; Guilherme falou de forma enigmática, sentando-se em frente ao piano, retirando a capa do teclado.

Yuuri caminhou até ele, parando a suas costas, sentou-se a seu lado no banco.

-Foi aqui que tudo começou? –Yuuri perguntou, cautelosa.

-Parcialmente; ele respondeu, deixando os orbes correrem por todo o ambiente. –Meu pai costumava-se sentar aqui para me ensinar a tocar;

-Faz muito tempo que você não faz isso? –ela perguntou, apontando para o piano.

-Dezoito anos; Guilherme respondeu com um olhar perdido. –Nem lembro mais se sei fazer isso ainda; ele falou com um meio sorriso, deixando os dedos correm pela superfície de marfim.

-Toca pra mim; ela pediu, encostando a cabeça sobre o ombro dele, fechando os olhos.

Deixou os dedos afundarem-se com delicadeza sobre as teclas, no começo algumas notas saíram mais graves ou mais agudas, porém agora soavam pela casa com mais vigor e segurança. Sentia o corpo vibrar junto com as notas que eram retiradas das teclas de marfim com eximia maestria.

-Acho que agora posso lhe contar tudo; Guilherme falou, fechando os olhos, enquanto deixava que todas as lembranças viessem à tona novamente.

-o-o-o-o-

Abriu a porta de ébano procurando não fazer barulho. Observou atentamente o hall de entrada, fazia um bom tempo que não entrava ali; ele pensou. Retirou o sobretudo preto das costas, pendurando-o em um cabideiro ao lado da porta.

Os longos cabelos azuis agora com algumas mechas prateadas caíram sobre os ombros numa cascara lisa e perfumada.

-"Finalmente você voltou"; ele pensou, notando que algumas malas estavam caídas no chão do hall. Fechou os olhos, ouvindo uma suave melodia correr por toda a casa, impregnando nas paredes.

Era como se pudesse ver novamente aquele garotinho teimoso de cabelos azuis correndo pela casa. Helena tentando alcançá-lo. Dando-lhe infinitos motivos para que ele não fugisse de novo de sua própria festa de aniversário. E Guilhermo, apenas divertindo-se com a situação, ao reconhecer na face inocente da criança, seus bons e velhos dias de juventude.

Tomou o devido cuidado de fechar a porta, antes de caminhar até a escada, desviando das malas. Embora fossem antigas, era um milagre que aquelas escadas não rangessem com seus passos. Sabia qual o caminho a seguir, mesmo que o fizesse de olhos fechados.

II – Herdeiro.

Sicília / 18 anos atrás...

Quem é aquele que nunca ouvira falar da Sicília, uma das mais belas cidades italianas, porém uma das mais perigosas. Pais, filhos, irmãos e primos, famílias inteiras que durante muito tempo e até hoje formam o que muitos conheciam como a máfia. Uma organização muita bem coordenada pelas pessoas mais importantes e influentes das famílias sicilianas. Enfim, a Itália em si era conhecida por isso e Firenze não seria uma exceção.

Nos últimos seis anos a família Firenze vinha reunindo amigos e família para celebrar o aniversário daquele que não só daria continuidade ao nome, como também era o motivo de maior orgulho daquele jovem casal.

Guilherme era um garoto ativo, transpirava vitalidade. Embora ainda com pouca idade, demonstrava uma maturidade surpreendente para sua geração.

A grande mansão da família estava cheia, para comemorar seu sexto aniversário. Helena, uma bela mulher em seus vinte e oito anos, longos cabelos Royal e orbes verdes, inspecionava atentamente o andamento das coisas.

Caminhava imponente pelos corredores bem decorados. O longo vestido florido vez ou outra tinha de ser erguido por suas delicadas mãos ao subir alguns degraus.

Virando a esquerda no segundo andar, chegaria a sala de musicas, porém onde estava conseguia ouvir o delicado e harmonioso som que seu menino prodígio extraia das teclas de marfim. Helena abriu um largo sorriso.

Dali a alguns anos ele já não seria mais um menino; ela concluiu, deixando o sorriso morrer em seus lábios, um brilho triste passou por seus olhos ao lembrar-se que com a idade viriam as responsabilidades e como com qualquer outra pessoa, ela não mais poderia protegê-lo entre seus braços, tendo de deixar que muitas coisas a vida mesmo se encarrega-se de ensiná-lo.

O criara como uma jóia rara e intocável, porém Guilhermo não compartilhava da mesma opinião, dizendo que o menino deveria arriscar-se sozinho, somente assim satisfaria aquela curiosidade que demonstrava ter desde pequeno. Super proteção de mais apenas o faria sofrer quando eles não mais estivessem a seu lado.

Embora soubesse que Guilhermo estava certo, era difícil aceitar...

Helena abriu a porta da sala devagar, para não lhe tirar a concentração, o viu de olhos fechados, com a face serena. Dedilhando precisamente sobre as delicadas teclas daquele piano de calda.

Era uma bela melodia, ainda lembrava-se dos dias que Guilhermo chegava em casa e sentava-se com o filho no colo. Ensinando-o as primeiras notas. Eram tempos tão bons; ela pensou.

-Guilherme querido, vá se arrumar, logo os convidados vão chegar e você não pode se atrasar; Helena falou, assim que o garoto terminou sua peça e notara a presença dela ali.

-Tenho mesmo, mãe? –ele perguntou manhoso.

-Sabe que sim pequeno; ela respondeu com um sorriso, era incrível como ao mesmo tempo que Guilherme se parecia muito com Guilhermo, era praticamente a miniatura do avô materno.

-Mãe sabe que não precisa fazer essas festas; ele falou amuado. –Só queria passar o dia com a Sra e o papai; Guilherme completou, abaixando a cabeça.

-Oh meu anjo; Helena falou, aproximando-se e fazendo-o sentar-se em seu colo. –Seu pai é um homem muito ocupado, mas se pudesse ficaria o tempo todo com você; ela falou carinhosamente.

-Eu sei; ele falou suspirando cansado, mas ainda descrente.

Embora o pai estivesse em casa, ainda tinha muitos negócios a tratar, trabalhos a fazer e alguns sócios que também estaria presentes hoje para uma reunião, não ignorando a possível presença de alguns familiares.

-Seu pai lhe ama muito e sei que fará de tudo para passar um pouco mais de tempo com você, só o deixe resolver os problemas que tem no momento; Helena falou, afagando-lhe as melenas.

Embora com o pensamento contrariado, não queria magoar a mãe com suas desconfianças. Helena procurava sempre estar presente a seu lado, tentando suprir a falta que o pai fazia, mas ainda sim, não era suficiente.

-Então meu pequeno herdeiro esta aqui? –a voz bem humorada de Guilhermo soou vinda da porta.

-PAI! –o menino gritou animado, desvencilhando-se dos braços da mãe e correndo até o pai, porém foi capaz somente de abraçar-lhe as pernas devido ao próprio tamanho.

Guilhermo era um homem alto, de face serena, porém extremamente perspicaz e não se intimidava por pouco. Era um líder nato. Sabia sempre o que fazer e o fazia bem. Sempre. Fator eu influenciara na opinião do sogro ao conceder-lhe a mão de Helena.

Afagou os cabelos rebeldes do pequeno, antes de pegá-lo nos braços e joga-lhe para cima, numa brincadeira infantil que sempre lhes proporcionava bons momentos de divertimento.

-Espero que não esteja dando trabalho a sua mãe; Guilhermo falou com um olhar cúmplice ao garoto que sorriu maroto.

-Ele estava só tocando; Helena justificou com um olhar carinhoso.

-Bem, não esqueça de se arrumar, logo sua festa ira começar e não quero ver sua mãe tendo que correr atrás de você pela casa, para vê-lo vestido; ele comentou, com um olhar cúmplice para a criança, que riu animado com a possibilidade, mas logo fechou a cara, ao lembrar-se da festa.

-Mas pai;

-Já conversamos sobre isso; Guilhermo o cortou, com um olhar compreensivo.

Entendia a necessidade que o filho tinha em estar junto de si, mas temia por sua segurança. Queria deixá-lo o mais distante possível de alguns negócios um tanto quanto escusos da família, embora Giovani o estivesse pressionando cada dia mais para deixar o garoto a par de tudo.

-Ontem conversei com Giovani; ele falou de repente, assustando Helena, nem sempre a menção ao nome do pai lhe era agradável, normalmente a jovem preferia ignorar os possíveis negócios que seu pai tinha a tratar com o marido, para não entrarem em conflitos quando Guilherme estava perto.

-O que tem o vovô? –ele perguntou inocentemente.

-Pedi que ele tomasse conta dos negócios para mim esse mês, para que possamos viajar; ele respondeu ao ver o brilho nos olhos do filho.

-Só a gente? –Guilherme perguntou cauteloso.

-Só nós três; ele confirmou. –Eu, você e sua mãe, o que acha?

-É o melhor presente que eu poderia ter ganhado; ele respondeu, jogando-se em cima do pai, enlaçando-o pelo pescoço.

Helena e Guilhermo trocaram um olhar tranqüilo, conversariam sobre aquilo depois, eles decidiram silenciosamente.

-E nós vamos quando, querido? –Helena perguntou.

-Amanhã; ele respondeu.

-E vamos para onde? –o garotinho perguntou, sem ver o quão pálida de preocupação sua mãe ficou.

-Para a Grécia; Guilhermo respondeu ficando sério. –"Giovani estava certo, lá é o único lugar mais seguro para vocês"; ele concluiu em pensamentos.

-Eu vou trocar de roupas agora; Guilherme falou descendo do colo do pai e correndo para o seu quarto.

Guilhermo viu o filho se afastar. Seria melhor assim, para ambos. Helena e Guilherme, um dia eles entenderiam.

-Querido, algum problema? –Helena perguntou, chamando-lhe a atenção.

-Sente-se aqui Hel; ele pediu, indo até um sofá no canto da sala.

Helena o olhou curiosa, o marido só lhe chamava assim quando o assunto ou problema, só poderia ser discutido entre eles e não com qualquer outro membro da família.

-Conversei bastante com Giovani essa semana; ele começou. –Sei que você não gosta das atividades escusas da família, nem eu, por isso a decisão que tomamos é muito importante; ele falou num pesado suspiro.

-Decisão? –ela perguntou hesitante.

-Você sabe o que Giovani faz toda vez que vai para Atenas, sabe também que esse é o mesmo caminho de Guilherme, por isso o protege tanto; ele falou, fitando-lhe diretamente. Colocou suas mãos entre as da jovem, sentindo-as frias e tremulas, sabia perfeitamente que ela entendera aonde ele queria chegar.

-Mas ele é tão novo; Helena falou, num tom sofrido e voz.

-Você não entendeu; ele falou paciente. –Ainda é cedo para isso, mas quero que você e Guilherme vão para Atenas ainda esta noite, lá será mais seguro para vocês, daqui a diante; ele explicou.

-Seguro, o que esta acontecendo? –ela perguntou, exaltando-se.

-Pedi a Giovani que me ajudasse a parar com esses negócios, ele esta fazendo o possível para convencer os demais de que isso não vai afetar as coisas, mas da mesma forma que temos aliados, também temos inimigos; ele falou, não querendo referir-se especificamente a um certo primo, que desde muito sedo, desenvolvera uma antipatia natural.

-O que quer dizer com isso?

-Para alguns minha saída não é conveniente e possivelmente pode haver represália, por isso quero vocês dois longe daqui;

-Mas e você? –ela perguntou, preocupada.

-Vou ficar bem, não se preocupe; ele lhe tranqüilizou. –Qualquer coisa, Giovani estará com vocês para dar algum suporte que for preciso.

-Papai vai com a gente? –Helena perguntou assustada.

-Vai para a segurança de vocês, me desculpe Hel, queria ter te contado antes, mas essa semana foi um verdadeiro inferno; ele explicou, passando a mão nervosamente pelos cabelos curtos.

Helena sentiu as lagrimas banharem seu rosto, tinha medo, medo de que partisse e nunca mais o visse vivo. Ou sabe-se lá o que viria a acontecer em meio aquela fuga para Atenas.

-Não fique assim, quando resolver as coisas por aqui, irei encontrá-los em Atenas; ele falou, abraçando-a ternamente.

-Promete?

-Claro que sim; ele respondeu, depositando um beijo suave em seus lábios.

Continua...