Sara tinha passado por uns maus tempos.
A traição depois a separação.
Nos primeiros meses sentia-se vulnerável, incompleta.
Não saia pra fazer nada.
Quando seus amigos tentavam falar com ela sobre o acontecido, Sara mudava de assunto.
Tinha arrumado uma atividade pra ocupar a cabeça enquanto estava de licença maternidade.
Estava grávida de oito meses.
Olhou pro quadro que tinha acabado de pintar. Horrível.
Mesmo não sendo boa, era uma boa forma de expressar o que estava sentindo.
Nas primeiras semanas tudo que pintava era escuro e triste. Mas agora as cores variavam um pouco.
Violeta e laranja, mas a essência ainda era o preto e marrom. Estava sentada em um banco sem apóio.
Como estavam grávida, suas costas ficavam muito doloridas, mas ela sempre fora mestra em ignorar dor.
Quando sentia que não conseguia mais, ia pro sofá descansar.
Pensou em como usa vida mudou em apenas alguns anos. No começo, tudo parecia perfeito, sólido como rocha. Quando isso acabou.
Ela perdeu-se em uma solidão tão profunda que toda vez que falava com alguém se sentia enjoada.
Suspirou sem saber exatamente onde estava emocionalmente em sua vida.
Tinha ficado viciada no silêncio e odiava qualquer coisa que o atrapalha-se.
Sentiu um chute forte contra sua barriga. Colocou a mão acariciando de leve, tentando acalmar o bebê.
Deitou no sofá, pensou que não ia dormir. Não era hora e nem estava cansada.
Ficou tão envolta em não pensar nos últimos acontecimentos que não pensou em nada além do bebê cochilando de leve.
Uma musica leve começou a tocar. No começo Sara pensou que era seu subconsciente já começando a trabalhar.
Mas lembrou que na verdade tinha trocado o toque de seu telefone.
Abriu os olhos bem devagar e se moveu o suficiente pra pegar tatear a mesinha de centro a procura do celular. Nem se importou em saber quem era.
GG: Sara? Você tá bem? Eu estou tentando te ligar faz uns dois dias. Fiquei preocupado.
SS: Não fique. É só pro mês que vem.
Disse desligando na cara dele.
Iam completar 4 meses de separação e ele ainda agia como se ela fosse sua esposa.
Decidiu deitar na cama, era mais confortável. Dormiu e não lembrou de nada do que sonhou.
Não soube o porquê, mas sentia uma vontade louca de sair de casa.
Tomou um banho, dando uma olhada no seu corpo.
Já era difícil ficar no páreo com uma ex-dominadora sadomassoquista, ainda mais agora.
Tinha prometido quando soube que estava grávida que não ia ser uma daquelas mulheres obsessivas em manter o corpo de antes que acabavam nem amamentando.
Estava se sentindo gorda e diferente em um jeito ruim. Durante o longo banho morno lembrou do dia que tinha contato pro Grissom que estava grávida.
GG:A corrida vai começar a qualquer momento.
Ele olhou pra Sara curioso.
GG: Porque você tá insistindo em ver uma corrida de formigas?
SS: É importante pra você.
GG: Obrigada... Eu te amo.
Ele disse enquanto plantava um suave beijo em seu cabelo.
Voltou pra realidade tentando não pensar naqueles momentos.
Eram falsos. Ele era falso. Era tudo falso.
GG: Eu... eu não sei ainda. Acho que não caiu a ficha, mas... sem racionalizar. Eu... Eu fiquei feliz.
GG: Quero dizer... Eu vou ser o pai mais velho em todo lugar que eu for...
Sara virou os olhos. A história do "eu sou muito velho pra isso".
SS: Você vai ser um ótimo pai. Eu tenho certeza.
GG: É? Você realmente acha?
SS: Sim, mas... Eventos como o que acabamos de participar... Muita violência...
Disse se referindo ao 'pânico' causado pelas baratas.
GG: Típico de amadores. Deviam saber que são as formigas que comem as baratas. Mas sobre esses eventos... Ah... Depois dos 8 anos?
SS:10.
GG: Combinado.
Eles entraram no carro.
GG: Você vai... Voltar pra Paris comigo?
SS: Não nos primeiros meses.
Ele ficou desapontado e ela percebeu.
SS: Mas é porque eu prometi pro pessoal que eu ia ficar até acharem alguém pra me substituir.
GG: Isso... Meu amor. É impossível.
Disse sorrindo.
Saiu do banho se enrolou em um roupão-toalha e deitou-se na cama sem ao menos se secar.
Ficou parada com a grande barriga pra cima.
Quando percebeu que ia começar a chorar virou metade do corpo pro lado.
Como se mesmo sozinha tivesse vergonha de chorar tanto.
Então mesmo contra sua própria vontade começou a lembrar daquele dia.
GG: Trouxe mais alguém comigo.
SS: Eu vi o frasco. Quem é?
GG: Parte da minha coleção.
SS: São... Baratas.
GG: Sim, sim.
SS: Mas eu pensei que hoje fosse dia das formigas.
GG: Trouxe elas comigo pra não ficarem com ciúme.
Ele abriu uma fresta do frasco e Sara controlou com muita força de vontade uma onda de náusea que passou pelo seu corpo.
SS: Grissom?
GG: Uhum?
Disse ele sem nem levantar a cabeça, enquanto acariciava uma de suas crias.
SS: Eu... Eu estou grávida.
Não soube se era porque ele parecia tão feliz, ou a náusea que estava sentindo... Não conseguiu definir o que estava vendo.
Surpresa, com certeza. Medo, talvez? Não. Ele tava sorrindo.
Grissom ficou tão preso ao momento que a mão que estava no pote foi pra sua cabeça.
Como se daquele jeito ele fosse conseguir pensar melhor.
Ele estava olhando pra ela, mas ela não estava olhando pra ele. Seus olhos fitavam o pote deixado de lado no canto e as "crias" de Grissom começando a fugir.
SS: Gil, querido? As baratas!
Ele não prestou atenção.
GG: Nós vamos ter um bebê?
SS: Sim, mas olha... Suas baratas tão fugindo!
GG: Um bebê!
SS: As baratas!
Era uma pequena arquibancada. Nem podia ser chamada desse jeito. Eram somente alguns bancos jogados perto da "pista de competição."
Pra má sorte de Grissom Sara tinha gritado "Baratas!" muito alto, fez os donos das formigas ficarem com medo que suas preciosas competidoras fossem comidas.
Grissom recolheu algumas que estavam ainda por perto pegou a mão de Sara e saiu correndo.
Quando estavam na esquina quando chegando ao local onde ele estacionou.
Sara estava rindo. Outro momento importante da vida deles cercado por insetos.
Ela não teve coragem de olhar diretamente pra ele e perguntar o que ele achava. Ele não tinha coragem de falar o que ele queria.
Então os dois ficaram no meio da calçada, rindo, rindo, rindo até não poder mais.
Até que Grissom colocou suas mãos no rosto dela.
Tornando o contato visual impossível de não ser feito.
Ele não sabia o que dizer, então ele começou a beijar Sara, tinha uma parede perto deles.
Ele viu o apóio necessário. Quando ele encostou os dois ali. Sara suspirou.
A rua estava vazia, então eles ficaram ali por um tempo.
SS: Então, o que achou?
Sara voltou ao presente jogando um velho jarro que Grissom tinha lhe dado pra longe.
Naquela tarde, Prometeu a si mesma que ia sair de casa.
Abriu a porta do seu armário...
Admirou por um instante sua coleção de calças jeans... Depois seus olhos passaram pros três vestidos que tinha.
Um de noite e dois de passeio. Só tinha usado um deles.
A pedido de Grissom, ela fez o papel de "esposa troféu" em um coquetel em Sorbonne. Teve vontade de rasgar. Mas não conseguiu.
Pegou uma calça larga jeans e uma blusa moletom de Harvard.
Se olhou no espelho e quis desesperadamente voltar a dormir.
Mas conseguiu fazer o caminho pra fora da porta de casa.
Passou na farmácia e comprou uma barra de chocolate natural.
Depois andou um pouco e achou um banco vazio em um park de criança.
Sentou e comeu sua barra bem devagar, como se aquilo fosse a única coisa do mundo.
Começou a olhar as pessoas que passavam em volta, mas não reparou que tinha uma moça sentada ao seu lado.
Ela também estava grávida. O nome dela era Esther Aldrin
EA: Mãe, solteira e desesperada?
SS: Nã... Sim. Solteira e desesperada.
Disse continuando a olhar pras pessoas, na maioria crianças.
EA: Eu faço parte... De um grupo de apóio pra mães solteiras.
SS: Não, obrigada...
EA: Olha, eu sei como é. Vou ter que entrar na justiça pra fazer meu ex namorado assumir esse filho.
SS: Você acha que o seu filho vai se sentir bem perto de uma pessoa que não o quer?
Ela viu uma onda de tristeza no rosto da moça.
SS: Desculpa. A gravidez me deixa, muito emotiva e ao mesmo tempo insensível.
EA: Não, você está certa. Ele não vai ficar por perto. Eu vou engolir o meu orgulho e processar ele, porque eu realmente não tenho dinheiro pra cuidar de uma criança sozinha.
EA: O que você faria?
SS: Eu não sei. Bem, eu tenho condições financeiras, mas não emocionais.
Disse olhando pra baixo em sinal de vergonha.
EA: Você parece equilibrada.
Sara mudou de assunto rápido.
SS: Quantas semanas você está?
EA: Eu conto os meses. 6 caminhando pra sete e você?
SS: Bem, Oito meses caminhando para o assustador nono mês.
EA: Vai ser normal?
SS: Sim e você?
EA: Meu médico disse que eu vou ter que fazer cesárea.
SS: Vai ter alguém com você?
EA: Minha mãe. Meu pai não fala comigo desde quando eu contei que eu estava grávida e você?
SS: Não. Não quero ninguém me vendo tão vulnerável. Por isso vou ter que enganar o meu ex-marido.
EA: Enganar por quê?
SS: Porque ele me fez prometer que ele ia poder ficar na sala comigo.
EA: Então ele quer participar.
SS: Até demais. Ele age como se nós ainda estivéssemos juntos.
EA: Porque vocês se separaram?
Sara sentiu uma dor no peito, não era comum contar coisas tão íntimas para estranha, mas ela precisava desabafar.
Não tinha conversado com ninguém do trabalho.
Porque se sentia vulnerável e também com medo de suas inseguranças e tristezas chagassem aos ouvidos de Grissom.
O grupo todo ficou do lado, mas ainda falavam com ele. Exceto Greg.
SS: Ele... Ele me traiu.
EA: Traição não é lá essas coisas.
SS: Como?
EA: Bem, eu costumava a ser romântica. Idealizar o cara perfeito. Acabei de envolvendo com um imprestável que vivia me enrolando.
EA: Ele falava algo doce e eu esquecia completamente de tudo de ruim que ele tinha feito antes. Eu... Eu gostaria que ele me traísse e pelo menos fosse honesto em outros aspectos.
EA: Agora aqui estou eu, 26 anos... Morando com a minha mãe e aturando os desaforos do meu pai.
SS: Você é bem nova.
EA: Eu pareço mais velha, não é?
SS: Não... Não foi o que eu quiser.
EA: Eu envelheci uns 10 anos com essa gravidez. Pessoas dizem que quando você tá grávida tudo parece cor de rosa. Mas pra mim, tudo aparenta ser escuro e pesado. E você?
SS: Eu o que?
EA: Quantos anos você tem?
SS: Vou fazer 38.
EA: Parece menos. Primeiro filho?
SS: Sim e último.
EA: Primeiro e último também...
Disse apontando pra barrida.
EA: Meu nome é Esther.
SS: Sara.
EA: Trabalha aonde?
SS: C.S.I.
EA: Nossa! Você é uma cientista e policial. Deve ser legal.
SS: Não tanto.
EA: Eu tava no último ano de direito, trabalhando como garçonete, mas tive que trancar.
Sara ia perguntar qual faculdade ela freqüentava. Quando Grissom apareceu no monitor do seu celular.
Sara ia se levantar, mas não conseguiu. Decidiu atender ali mesmo.
SS: O que é?
GG: Eu... Eu quero ver como você está.
SS: Não precisa ver, estou bem. Muito bem.
GG: Sara? Podemos conversar? Esse gelo não faz sentido nenhum.
SS: Faz sentindo pra mim.
Disse desligando na cara dele de novo.
SS: Então, você estudava em que faculdade?
EA: Columbia. Conheci James e vim pra Vegas nas minhas férias de verão, quando eu voltei. Descobri que estava grávida.
SS: Sinto muito.
EA: Não precisa. Eu pelo menos vou poder contar pra ela que eu que a mamãe quase virou advogada.
SS: Não tem como... Terminar em outra faculdade... Quero dizer uma pública?
EA: Eu sei que uma vez mãe eu não vou ter tempo pra nada, então pra que estragar?
EA: Eu quero isso intacto. Eu tinha ótimas notas em uma ótima universidade.
SS: Eu sei que isso vai parecer estranho, mas posso anotar seu número?
EA: Claro. É bom conversar com você.
Com o passar das semanas, elas conversaram sem parar.
Dia e noite e de vez em quando madrugadas.
Se encontravam quase diariamente para exercícios respiratórios que mulheres submetidas a parto normal devem ter.
Eram para Sara...
Mas Esther estava sempre lá como ajudando.
