Para Rebeca;

Este é o sétimo pergaminho, se agora não der certo, eu desisto. (Espero que dê, sete sempre foi o meu número da sorte) O fato é que eu não fazia a menor ideia de como começar isso. Com um clichê "Olá Caroline. Como você está"? Não. Com um "Oi, Carol." não, muito íntimo. Não estávamos em um clima tão bom há alguns meses, certo? Mas, já que eu criei coragem para lhe escrever, vamos só por um momento fingir que nada daquilo aconteceu então eu poderei começar minha carta normalmente, ok? Ok.

"Querida Vagabunda."

Ah, agora sim. Está bem melhor.

"Querida Vagabunda. Como você está? Como tem passado? Quantos caras gostosos você já encontrou por aí? Lembra-se do combinado quando íamos as festas? Os loiros sempre seriam seus, contanto que os cabelos passando do queixo pertencessem à mim. Nunca tivemos um gosto parecido para garotos (as vezes me pergunto como é que aquilo foi acontecer) mas não é sobre nossas preferências sexuais que eu lhe escrevo. Na verdade, eu queria te contar algo. Mas demorou um bom tempo para que eu conseguisse criar coragem. Eu já estava me intitulando "Annabelle Wood; a azul." Você sabia que em algumas culturas, o azul-escuro se associa a uma certa falta de coragem? Mas voltemos ao ocorrido e propósito desta carta; semana passada Abigail finalmente (muito finalmente, diga-se de passagem) acertou em cheio a mão na cara de lua cheia de Delilah Finnigan. Demorou, mas foi épico! Bem, você conhece as garotas Wood, Abby não parou no primeiro tapa. (Delilah está na ala hospitalar, meus pais foram chamados aqui e Abby está suspensa do próximo jogo, então você pode imaginar que eu estou dividida entre lhe parabenizar e pedir à Oksana para promover uma festa em comemoração à isso, ou esganar aquele belo pescocinho com minhas proprias mãos e fazê-la dividir o leito com a Finnigan) O fato é que, assim que a briga acabou e Abby foi levada pelo Professor Longbottom à diretoria, a primeira coisa que eu fiz, foi correr até as masmorras. Você pode imaginar o quão ofegante eu cheguei lá após descer todos os lances de escadas do sétimo andar? Bem, por alguns gloriosos momentos, eu corri com toda minha força, dando gargalhadas ocasionais, imaginando sua reação ao saber do ocorrido e a garrafa de firewhisky que provavelmente abriríamos em comemoração aquilo. Assim que cheguei na frente do retrato, um primeiranista saia do Salão Comunal esmeraldino e eu lhe disse "Pode por favor, chamar Carol para mim?" "Que Carol?" ele me perguntou, franzindo o cenho. "Caroline Chevalier oras! Qual outra seria?" E ele me olhou como se eu fosse louca. "Não tem nenhuma Caroline Chevalier aqui" "Como não? Ela está no sétimo ano seu tapado, é a minha melhor..." então a ficha caiu. Onde diabos você está, Carol? Você deveria estar aqui, sua diabrete da cornualha! Você deveria ter visto a briga e deveria estar aqui para brindar à isso. Melhores amigos não se abandonam, sabia disso? A verdade é que está tudo horrível sem você, Caroline. Sabe à que mais o azul é representado? Pela monotonia. Quando estamos todos reunidos, tem um buraco azul enorme que parece sugar à todos nós; esse buraco é o que você deixou na vida de todos nós, sua maldita vagabunda! Não existe trio de duas pessoas, Carol. Oksana e eu sentimos tanto a sua falta. É claro que a loira expressa melhor que eu, e na maior parte do tempo que digo "Ainda bem que ela foi" ou "Já foi tarde" mas eu sinto sua falta Carol. Aconteceu tanta coisa que eu quero te contar. Christopher e eu ainda não estamos "namorando" mas posso dizer que, no nosso limite, estamos simplesmente bem. E isso já dura há duas semanas, então tem algum tipo de record acontecendo aqui. Dexter e Carson apostam todo dia, coisas como "Hoje eles brigam" ou "Hoje Annabelle fará alguma capirotagem e Christopher há esganará, você verá!" mas há alguns dias eu tenho estado um tanto quanto nostálgica. Não vou dizer que isso é por que é a semana do seu aniversário (mas na verdade você sabe que é.) Ah, Aaron também não encontrou ninguém (como se aquela criança fosse achar alguém melhor que você) mas às vezes, eu dou algum suborno para aquele diabrete loiro da Charlotte Creevey, em troca de algumas informações da vida amorosa dele. Semana passada, ele ia se encontrar com Ninna Longbottom. Pode acreditar nisso? Aquela tola maravilha mal deixou as fraldas! Bem, o fato é que, talvez e só talvez, alguém tenha atrapalhado os planos dele, e a pobre garota ficou presa em um banheiro com a Murta-Que-Geme. (Ok, admito, eu dei à ela o novo horário de banho de Christopher. Mas se aquele espectro safado tentar qualquer coisa pra cima dele, eu vou encontrar um ovo de basilísco só pra petrificar e quebrar aquela piranha centenária!) Bem, nem mesmo Abby sabe disso então, bico fechado! Mas eu o fiz, por que por mais que estranha que seja sua escolha (sério, ele parece que está no quarto ano, Carol! E não vou nem começar a falar sobre os dois pés esquerdos ou o fato de que ele deve ser péssimo de cama...) eu sei que um dia, você e essa sua bunda ossuda vão voltar para cá, para sua família. E quando isso acontecer, eu, no direito de sua melhor amiga e futura madrinha dos seus catarrentos, não posso deixar que o paspalho Sparrow esteja com qualquer outra.

E agora eu vou me apressar e tentar finalizar isto aqui, pois já está ficando sentimental demais, e nenhuma de nós duas é tão água com açúcar assim. Como é mesmo que você dizia? Ah sim; seja homem!

Tem sete coisas, que eu me lembrarei até o fim da vida. E eu te ordeno, que se lembre delas também. E como esta carta é minha, estou no meu completo direito de dar ordens e se você ainda tiver um mínimo de bom senso, irá obedecer.

A primeira delas, quando nos conhecemos. Eu estava à procura de Abby pelos vagões, mas a locomotiva começou a se mover à todo vapor e eu entrei na primeira cabine que encontrei. Você estava lá, com os olhos verdes em puro êxtase. "É demais, huh? Ser bruxa!" você disse quando eu me sentei à sua frente. "Oh, sim. Descobriu à duas semanas, certo?" eu lhe perguntei, com empatia. "Sim. Você não?" "Ah, não. Pais bruxos" eu te disse, dando de ombros. Você pulou para o banco ao meu lado, colocou suas mãos em meus ombros e seus olhos estavam tão perto de mim, que eram grandes como esmeraldas. "Por favor, me conte mais!" Você pediu. Então eu lhe contei sobre os animais, sobre as aulas, os feitiços, e principalmente; sobre a copa de quadribol. Alguns minutos depois, Oksana se juntou à nos, nos contando sobre costumes búlgaros enquanto eu lhes contava sobre os irlandeses. Dividimos sete pacotes de varinhas de alcaçuz naquele dia, sete sapos de chocolate e sete tortinhas de abóbora. Você se lembra qual eram as cores das embalagens das varinhas de alcaçuz e dos sapos de chocolate? Azuis.

A segunda delas, no seu primeiro vôo de vassoura. Eu estava habituada à elas desde os meus sete anos, e quando lhe contei sobre a copa mundial de quadribol, você praticamente vibrou. Estávamos no castelo há três semanas, era um domingo, às quatro da manhã e o seu ainda estava de um completo azul profundo quando eu roubei uma vassoura do estoque e te encontrei nos portões da escola. "Suba" eu lhe ensinei, e a vassoura foi para sua mão com uma habilidade incrível. Primeiro, eu te ensinei sobre o goleiro, que era a profissão do meu pai e a qual eu pretendia seguir. Você não se interessou muito e disse que era extremamente tedioso. "Veja os balaços e bastões então, senhorita sabe-tudo" eu lhe disse de má vontade, empurrando-lhe o bastão de madeira. Eu me lembro que tive que pular à metros, e rolar mais alguns, para escapar do balaço que você havia rebatido na primeira tentativa. "Wow, calma lá Gwenog Jones" eu caçoei, porém levou um bom tempo para que você aprendesse todas as piadas do mundo bruxo.

A terceira delas, quando nós demos nossos respectivos primeiros beijos. Eu realmente não quero me lembrar desta parte, então vou à uma síntese rápida e não aprofundada sobre isso. O que? Você não pode querer me culpar, eu dei meu primeiro beijo com Damien! O quão detestável isso pode ser em uma escala de zero à cem? Mil! Merlin. Eu me lembro que você dizia não ser mais bv, que tinha muita experiência com um trouxa de olhos azuis como o mar que morava na rua da sua casa, mas momentos antes de ter os seus "sete minutos no paraíso" com Jeremy Boot você veio apavorada, me perguntando o que você fazia com a sua língua. Como se eu pudesse te explicar! Havia acabado de passar pela pior e mais traumática experiência de toda a minha vida. Então eu lhe dei uma balinha azul e disse "Primeiramente use isso, você está com um mal hálito terrível" e você me deixou com um belo hematoma arroxeado em troca do meu ótimo conselho. Você sempre teve uma personalidade terrível, Chevalier.

A quarta delas, admito ser a minha favorita. O nosso Primeiro Porre! E Merlin, aquilo foi memorável. Lembro-me que foi no depois do meu aniversário de quinze anos, estávamos comemorando na casa dos meus avós na Irlanda, e estavam lá James, Dakota, Austen, além de você e Abby. Se me pedir para detalhar o que aconteceu naquela noite, eu não me lembrarei da metade. O que eu realmente me lembro, foi dos meus pais e avós saindo para algum jantar beneficente e de estar em uma partida no x-box com James e Austen, Abby deitada de cabeça para baixo em um dos sofás extremamente entediada enquanto Dakota folheava uma revista qualquer quando você chegou com um brilho travesso nos olhos. "Gente, olha essa bebida irlandesa! Devem cobrar uma identidade de trinta anos para ter acesso à isso!" Era algum tipo de bebida caseira azul, pertencendo ao meu avô, um beberrão de fama reconhecida. 3O minutos, Austen bebia seu achocolatado enquanto eu dançava sobre a mesa de jantar, pisando sobre a porcelana centenária da minha avó, James tentava convencer Dakota a lhe mostrar "algo" lá atrás e Abby tentava travar algum tipo de stripper poker com Austen que ria com gosto enquanto você entornava a garrafa. Não vou dizer explicitamente que voc um líquido azul no troféu de Melhor Jogador de Quadribol de 2OO7 do meu pai, mas posso dizer que até hoje, eu sinto dor de cabeça quando olho para aquele troféu.

A quinta delas, a nossa primeira dança sobre mesas. Tínhamos dezesseis e eu havia brigado com James por algo tão banal que nem ao menos consigo me lembrar. Você veio me procurar, dizendo que Oksana estava dando sua primeira festa, sob supervisão de Fred. (E o que realmente aconteceu foi que o gafanhoto superou o mestre) Eu não faço ideia de quanto firewhisky já havíamos ingerido, mas quando Fred focalizou aquele jogo de luzes trouxas azuis encima de uma mesa qualquer para testar e Oksana nos puxou pelos braços. "Eu tenho uma ideia genial!" Ela disse com aquela tentativa de olhar angelical, porém os chifres e rabo estavam apontando. Muito modéstia parte, eu não sei como é que Godric e Salazar não se levantaram de suas tumbas milenares para nos aplaudir, por que minha amiga, aquilo sim foi uma verdadeira dança sobre mesas.

A sexta delas, a maior das brigas épicas que Hogwarts já presenciou. Sabe, nem a inquisição de Dolores Umbrigde foi tão inesquecível como quando eu apareci careca, apenas com um lenço azul (que ironicamente você havia me dado à dois anos) enrolado na cabeça para realizar os exames. Ah sim, inesquecível foi você aparecendo no mesmo dia com a pele verde e escamosa como a de uma cobra, para o exame de poções. Eu ainda consigo me lembrar da expressão do aplicador de exames. Entre tantos tapas, socos, puxões de cabelo, hematomas e palavras cuspidas para causar dor uma à outra, em algum momento daquela confusão, nós amadurecemos Carol.

A sétima coisa que eu não quero que você se esqueça, é de mim Carol. Mesmo que nós nunca voltemos a nos falar, que nossos caminhos não se cruzem mais e que nossos destinos sejam tão opostos, eu quero te pedir que se lembrer de mim com carinho; pois é como eu me lembrarei de você. Daquela garotinha tão entusiasmada em descobrir um novo mundo que eu conheci naquele grande expresso avermelhado. Da minha melhor amiga, que de tão parecida comigo, é tão oposta. De uma garota forte e corajosa, que nunca exita em perseguir seus sonhos e não se deixa ser calada facilmente. De uma mulher com uma ferocidade incrível, destemida e que ao mesmo tempo é frágil como cristal.

Está tudo uma droga sem você, Carol. Tudo está mergulhado em um nostálgico, profundo e depressivo azul escuro, mas eu sinceramente espero que você encontre tudo o que procura na sua busca. Que o seu Deus (e o meu Merlin) esteja com você em cada passo que você der e que a felicidade seja sua companheira quando estiver longe de casa. Que você nunca ame em vão e continue corajosa, pois no meu coração você sempre permanecerá eternamente jovem.

PS; você deve estar se perguntando o por quê de junto com esta carta, eu ter enviado uma Rosa Amarela. Bem, ela representa doçura, carinho e amizade. Nunca fomos uma poço de doçura tão menos carinhosas, mas algum momento desses sete anos de amizade, houve tanto carinho e doçura quanto tapas, palavrões e varinhas de alcaçuz.