NdT: "Harry Potter y el fabricante de pociones" é uma fanfic Drarry de autoria da talentosíssima ZAFY, publicada entre 2009 a 2013, em espanhol. Com 65 capítulos + cenas extras, a história inicia-se narrando os eventos posteriores à Segunda Guerra Bruxa, intercalando as vivências pessoais de Draco e Harry, seus desafios e descobertas individuais, passando pelo encontro da dupla e indo muito além... Numa narrativa envolvente e muito – eu disse MUITO – caliente, Zafy apresenta a trajetória e escolhas desses personagens tão shippaveis e queridos, de maneira absolutamente convincente, sensível e tão cativante que quase não dá pra notar a extensão do texto. Espero que desfrutem desta tradução e não deixem de conferir o perfil da autora, porque tem muito mais coisa boa de onde saiu esta pérola Drarry. De agora em diante, a menos que seja sinalizado o contrário, tudo pertence à Zafy e/ou JKR... Eu não tenho nenhum direito sobre a fic nem sobre HP e não ganho nem um nuque furado por isso.


As advertências e os reconhecimentos de costume:

Os personagens (todos sabemos) são de JKR, não ganho nada além de entreter-me ao escrever sobre eles. O que ocorra aos personagens a partir de agora, sim, é por minha conta.

Esta fic é slash, significa rapaz/rapaz em uma relação, se isso não te agrada e caiu por aqui, recomendo não que não leia.

Haverá maus-tratos, intolerância, drama, lemmons, morte de mais de um personagem, romance e algumas partes muito melosas, assim que estejam advertidos


HARRY POTTER E O FABRICANTE DE POÇÕES

PRIMEIRO LIVRO: VERÃO

CAPÍTULO 1:

A CONDENAÇÃO DOS COMENSAIS DA MORTE


"Cada guerra é uma destruição do espírito humano".

Henry Miller


20 de julho de 1998, celas do Ministério inglês, construídas nas masmorras para albergar a grande quantidade de comensais da morte esperando condenação pela sua participação na tentativa de Voldemort de tomar o poder da comunidade mágica...

Seu coração batia rapidamente, mas rápido do que jamais havia batido. O medo que agora o embargava era superior a qualquer outro que pudera haver sentido. Nem sequer quando estava perto do Lord das Trevas, ou da louca de sua tia Bella, havia sentido tanto pânico. Aqui estava, com apenas dezoito anos, perto de enfrentar a um tribunal, sabendo de antemão o resultado de suas ações, sabendo de antemão que seria condenado. Seu pai não estaria ali para ajudá-lo, Snape tampouco, ninguém poderia jamais defendê-lo. Não mais. Sentiu como seu corpo inteiro tremia, os olhos começaram a picar-lhe.

Não, chorar não, isso não — se disse firmemente enquanto levantava um de seus braços, mais pesado agora pelas correntes que o sujeitava. Baixou sua cabeça ligeiramente, até que o dorso de sua mão pode, por fim, limpar o par de lágrimas que tentavam escapar dos seus olhos.

Chorar não é ruim, o fazemos porque sentimos, devemos agradecer que ainda podemos sentir — disse-lhe uma voz em sua cabeça, uma que não havia escutado em algum tempo, e da qual sentia falta neste dia mais do que nunca.

Deu um suave suspiro — Yarik — disse quase sem voz, pensando em como as coisas seriam diferentes se tivessem fugido como ele tanto havia pedido... Mas não, não o haviam feito, e agora estava ali, nesta fria cela, esperando.

Inspirou, tratando de que o ar que chegasse a seus pulmões lhe desse certa tranqüilidade. Observou ao redor novamente, como havia feito tantas vezes desde que estava preso ali; as paredes cinzas e sujas, aquelas grades que o separavam da liberdade, sua túnica de Hogwarts parecendo agora pior do que o que vestiam os elfos domésticos na Mansão.

Não tinha um espelho por perto, mas não o necessitava para saber como aparentava. Agradecia não tê-lo para evitar ver-se, para evitar ver o derrotado que estava: sozinho, sentado em meio a uma cela nojenta, contando os dias, as horas, os minutos que faltavam para que alguém entrasse pela porta e o levasse ante aquele tribunal... Aquele tribunal que finalmente acabaria com ele. Quase podia escutar suas vozes alegres, condenando-o ao pior que um bruxo pode sofrer: o beijo do dementador.

Como já havia feito muitas vezes antes, amaldiçoou o momento em que Potter o resgatou daquela sala em chamas; haveria sido melhor para ele ficar ali, deixar que as chamas o consumissem como havia acontecido a Crabbe... Seu amigo Crabbe. Já não recordava desde quando se conheciam, talvez de toda a vida, por isso não lembrava. Apesar de que a guerra, e tudo o que passou, de alguma maneira os havia afastado e mudado, estava seguro de que, no fundo, seguiam sendo os mesmos meninos que brincavam na Mansão enquanto seus pais falavam de negócios e suas mães tomavam chá no jardim. A guerra tinha destruído isso, sua amizade, sua união... Mas, ainda assim, pensou que talvez por ele fossem justificáveis as lágrimas.

Um ruído o tirou de seus pensamentos. Diante dele, dois aurores o encaravam, sorrindo triunfantes.

— Malfoy, o mais novo e mais rasteiro dentre os comensais da morte, por fim é sua hora — disse um deles, com um tom de deboche na voz, ao passo em que as correntes que sujeitavam suas pernas e mãos se soltavam.

Draco tratou de não soltar um suspiro de alívio por se ver finalmente livre daquelas ataduras. Em vez disso, dedicou-lhes a melhor mirada de ódio que pode, colocou-se de pé e, com ar digno, caminhou até eles.

— Mas, olha que criança... — murmurou o segundo auror.

— Espero que este não grite tanto quanto seu pai quando morra.

Draco sentiu aquela informação fazer um buraco profundo em seu coração; seu pai já havia sido julgado, seu pai já estava morto. Evitou mostrar algum sentimento, enquanto sentia como suas pernas começavam a tremer. Logo seus pulmões resistiriam a deixar entrar o ar e seu coração continuaria batendo muito aceleradamente. Ergueu ainda mais a cabeça e, com dignidade que já não sentia, caminhou com passos que tentavam parecer firmes. Os aurores o sustentavam em cada braço. O corredor escuro pelo qual havia entrado algum tempo antes — já nem sequer era consciente de quanto —, se via agora muito mais aterrorizante. Obrigou-se a seguir caminhando, a enfrentar, por fim, seu destino.

Foi empurrado com força através de uma grande porta e um novo salão, muito mais iluminado, o recebeu. Havia pequenos bancos ao redor, mas ele não foi convidado a se sentar, pelo que se manteve de pé. Diante dele havia mais outra porta, podia escutar murmúrios e tratou de entender algo do que se dizia, mas foi impossível. Um dos aurores segurou uma pequena garrafa com um liquido transparente e o obrigou a bebê-lo. Veritaserum — pensou Draco, antes de tragar aquele líquido.

— Agora sim você dirá toda a verdade... — Murmurou o auror que lhe havia dado a bebida.

— Sem mais mentiras nem desculpas, Malfoy — disse, com ar de superioridade, o segundo auror. Ainda que aquele comentário tenha pegado a Draco desprevenido, não deixou que a surpresa se refletisse em seu rosto.

A porta de imediato se abriu e o barulho no outro salão se deteve. Um jovem ruivo e sardento — Weasley, pensou Draco — o olhou por uns segundos antes de fazer um assentimento em direção aos aurores, que o tomaram pelos braços e o puxaram até o interior da nova sala.

Draco logo se viu sujeito a uma cadeira. As correntes que prendiam suas mãos ajustaram-se ainda mais, marcando-lhe a pele, e nas suas pernas também colocaram um par de correntes, fazendo com que estas se colassem ainda mais às pernas da cadeira. Levantou a cabeça e observou a um grande tribunal diante dele, todos vestiam túnica de tom vermelho profundo... Surpreendeu-lhe que a maioria deles o olhava com piedade, sentindo pena dele.

Recompôs seu olhar; não o veriam frágil, nem agora nem nunca. Mesmo se esses fossem os últimos minutos de sua vida, ainda que estivesse aterrorizado, não lhes daria a satisfação de contar que Draco Malfoy se mostrava derrotado ou morto de medo.

— Lhe deram veritaserum? — perguntou o ruivo aos aurores e ambos assentiram.

— Diga-nos seu nome — disse a voz de um dos bruxos.

Draco teve a sensação de que as palavras brotavam sozinhas, sem que sua mente participasse do processo.

— Draco Malfoy.

— Bem, senhor Draco Malfoy, o senhor entende que se encontra aqui para ser julgado por haver participado nas fileiras de Tom Marvolo Riddle1, também conhecido como Voldemort — o som de alguns suspiros e pequenos gritos preencheu o local por alguns segundos, no entanto, o homem continuou falando, ignorando-os —, por haver deixado entrar, em junho de 1996, os comensais da morte na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts, participado do planejamento do assassinato do ex-diretor Albus Dumbledore e haver participado da última batalha, tratando de ajudar aos comensais da morte? — Disse a voz de um bruxo que Draco, por fim, acreditou reconhecer como Kingsley.

— Sim.

— É o senhor culpado de todo o mencionado anteriormente? — perguntou novamente Kingsley.

— Sim.

— Bem, senhor Malfoy, temos testemunhas e provas de que sua participação em todas essas ações foi de alguma maneira... Coagida pelos fatos; que havia uma ameaça de morte sobre sua família e sobre você mesmo. Estes dados são corretos?

Draco não pode evitar seu assombro. Alguém havia testemunhado aquilo? Isso era impossível! Talvez seu pai, ou sua mãe, tratando de salvá-lo, haviam confessado...

— Sim, são corretos — murmurou sem sequer notar o momento em que as palavras saíram de seus lábios.

— O senhor não porta a marca no braço. Qual a razão para isso?

— O Lord só põe a marca em seu braço se mata alguém em nome dele e eu nunca fui capaz de fazê-lo — Draco se assombrava com suas próprias respostas, era impossível controlá-las.

— O senhor foi de alguma maneira torturado por Voldemort para fazer-lhe assassinar alguém?

— Sim, em mais de uma ocasião.

— Então o senhor nunca pode assassinar ninguém, apesar das torturas... Qual foi a razão?

— Não sou um assassino, não sou capaz de fazer isso.

Um novo murmúrio encheu a sala. Kingsley levantou as mãos, pedindo silêncio antes de continuar falando.

— Houve castigos posteriores a estas falhas tentativas de assassinato?

— Sim.

— Quais eram exatamente estes castigos?

— Em geral, a maldição cruciatus, embora algumas vezes tenha usado feitiços que eu não conhecia.

— O senhor teve alguma conseqüência posterior a esses castigos?

— Sim, passei alguns dias de cama, devido aos vários castigos.

Internamente, Draco se amaldiçoava pelas respostas dadas, mas estava já resignado a que não haveria nada que pudesse fazer a respeito.

— Dumbledore lhe ofereceu proteção, a você e toda a sua família, antes que o grupo de comensais da morte o interrompesse na torre de astronomia de Hogwarts, em junho de 1996. O senhor iria aceitar tal ajuda?

— Sim — Draco não pode evitar se perguntar como era que eles sabiam aquilo. Nessa torre só esteve ele e Dumbledore, ninguém mais havia ouvido aquilo.

— Quando Harry Potter foi capturado junto à Hermione Granger e Ronald Weasley, e levado à Mansão Malfoy, o senhor negou reconhecê-los diante de seus pais e de sua tia Bellatrix. Sabia que se tratava deles?

— Sim, o sabia desde o início.

— Por que não os delatou?

— Se os delatasse, o Lord viria e os assassinaria. O que eu menos queria era que o Lord voltasse para casa para seguir nos torturando e humilhando...

— Durante a última batalha, tratou de capturar Potter na Sala Precisa?

— Sim.

— O que ocorreu a seguir?

— Crabbe... — A garganta apertou-se de uma maneira conhecida e rogou para não se por a chorar diante deles. — Crabbe morreu e Potter me tirou da sala que estava se incendiando.

— Por que tratou de capturar Potter? Queria levá-lo até Riddle?

— Era a única forma de me deixarem sair da escola e abandonar a batalha; só queria que tudo acabasse e me reunir com meus pais. Temia por eles e pelas condições em que estavam.

— Assim que Potter o deixou no corredor, depois do incêndio, o senhor participou da batalha?

— Não.

— Por quê?

— Eu não queria participar nem estar ali, só queria ir para casa, que tudo terminasse — Draco percebia como suas palavras se notavam ligeiramente sufocadas e tratou de respirar para acalmar-se um pouco.

— Então, o que foi que fez?

— Tratei de sair da escola, de escapar. Não tinha varinha nem forma de me defender, e muitos dos comensais que estavam ali lutando não me deixaram sair...

— Que foi que ocorreu a seu companheiro sobrevivente, Gregory Goyle2?

— Ele... — Draco tratou de recordar, mas não podia. Depois de serem salvos por Potter, havia arrastado o corpo de seu amigo até atrás de uma das colunas derrubadas. No momento em que este despertou, discutiram, protestando sobre a morte de Crabbe, e finalmente se separaram; Goyle jurando se vingar de Potter e seus amigos, apesar de que o haviam tirado do incêndio, ainda que Draco soubesse que, no fundo, Goyle acreditava que o único responsável pela morte de seu amigo era Draco. — Ele decidiu participar da batalha e nos separamos — doeu dizê-lo, lhe soou a traição, mas não havia nada que pudesse fazer para evitar responder. Abaixou a cabeça, tratando de não olhar mais até os jurados.

— Senhor Malfoy, diga-nos agora os nomes dos comensais da morte que você conhecia, aqueles que você sabia que levavam a marca e que trabalhavam em nome de Tom Riddle — pediu Kingsley, enquanto extraia um longo pergaminho de uma grande pilha de pergaminhos amontoados um sobre o outro, em precário equilíbrio, e o olhava atentamente.

Draco tragou saliva de novo antes de começar a falar. Iniciou mencionando seu pai, ao que Kingsley disse que já havia sido julgado, continuou com o Sr. Crabbe, Gregory Goyle e o pai deste, com o Sr. Nott, e todos que alguma vez havia visto aparecer na Mansão, convocados pela marca negra. A cada nome que mencionava, Kingsley ia murmurando: "julgado" ou "morto em batalha".

Quando Draco pensou em Theron Forsyth, o nome do pai de Yarik, e Kingsley disse "morto em batalha", Draco não pode evitar sentir um alivio no peito. Ao menos esse sujeito estava morto, não havia se safado. Continuou falando durante muito tempo mais, durante um tempo que lhe pareceu interminável, até que sua mente pareceu ficar vazia, sem nada mais que pudesse dizer.

— Bem, creio que temos o suficiente — disse Kingsley, parecendo satisfeito e dirigindo-se aos demais bruxos — Não vejo por que continuar com o interrogatório, já temos tudo o que queríamos, a menos que alguém queira acrescentar algo...

Houve um murmúrio de aceitação na sala e Draco inspirou uma vez mais, o final já estava próximo. Perguntou-se se sua alma, ao ser absorvida pelo dementador, por fim poderia descansar e deixar de sentir, porque seu corpo se converteria numa casca vazia, carente de sentimentos... Depois de tudo, aquilo não se mostrava tão ruim; contanto que não doesse mais, tudo estaria bem. Levantou a cabeça e esperou a sentença com a mirada mais digna que pode.

— Senhor Ministro — disse a voz de uma mulher rechonchuda e de cabelo branco, a um lado do tribunal —, eu só quero dizer a meus companheiros da Suprema Corte que este rapaz só era um menino quando o obrigaram a fazer parte das fileiras de Voldemort e pelo que tenho escutado, é mais do que óbvio que, tal como nos disse Potter, não devemos confundi-lo com Lucius.

Draco não pode evitar a expressão de surpresa em seu rosto. De que estavam falando? Potter havia ido ali interceder por ele?

— Entendo o que diz, Irina — disse outro bruxo ao lado direito de Draco —, mas ele já era capaz de escolher, não acha?

— Ora, vamos, Pierre — respondeu a primeira bruxa, a quem Draco olhava agora com mais atenção —, você sabe que aos dezesseis anos não se tem muitas opções.

— Ainda mais quando seus pais podem morrer por suas decisões — apoiou um terceiro bruxo, mais jovem que os dois anteriores. Draco acompanhava a conversa que mantinham, girando o rosto de um lado a outro, ainda sem poder acreditar ou entender o que era que estavam discutindo.

— Talvez a decisão que deveria tomar fosse a de se afastar de seus pais — quase gritou o bruxo que haviam chamado de Pierre e Draco não pode se conter ao escutar as palavras que este disse.

— Abandonar meus pais? — Gritou Draco, enquanto puxava as correntes que lhe retinham os braços, tratando de se colocar de pé. — Quem poderia trair seus pais dessa maneira? — Sentiu como as correntes cortavam a pele de seus pulsos, mas isso não lhe importou. — Se não o fizesse, eles morreriam e já disse que não sou um assassino!

Um murmúrio muito mais forte surgiu na sala, enquanto os aurores tratavam de fazer com que Draco se sentasse corretamente.

— Silêncio, por favor — disse Kingsley, enquanto golpeava a mesa. Pouco a pouco os demais bruxos foram ficando em silêncio.

— Não sou um assassino, nem um traidor — seguiu gritando Draco. Um dos aurores lhe deu um golpe no estômago e este sentiu como perdia o fôlego e se deixou cair sobre a cadeira novamente enquanto respirava fundo, tratando de se recompor.

— Vejam... Isso é o que querem deixar em nossas ruas? — Disse Pierre, colocando-se de pé e apontando-o com um dedo. — A um homem... Sim, um homem, Irina. Isso é o que ele é: um homem, não um menino. — Continuou falando e girando até a bruxa para fitá-la acusadoramente. — Um homem que não sabe se controlar, que à primeira coisa que não lhe agrada, reage dessa maneira tão violenta.

— Eu também reagiria assim se me dissesse que deveria abandonar meus pais para que morressem — disse o bruxo mais jovem, pondo-se de pé. — E creio que bater nos prisioneiros tampouco esteja permitido — acrescentou, chateado, em direção aos aurores, os quais deram alguns passos atrás, afastando-se de Draco, com olhares envergonhados.

— É por isso que os que são tão jovens como Bonaccord não deveriam fazer parte da Suprema Corte dos Bruxos — disse Pierre, agora para Kingsley —, não têm muitas experiências.

— Ora, vamos Pierre! O garoto que venceu Voldemort apenas completará dezoito anos em uns dias, não sou tão jovem comparado a ele, ainda que seja um elogio vindo de você — disse Bonaccord, com um sorriso bastante zombeteiro para Pierre.

— Além de desrespeitosos — murmurou Pierre com a cara vermelha pela raiva. Seus olhos escuros e brilhantes fitavam alternadamente a Bonaccord e a Kingsley, como que esperando alguma resposta ou desculpa.

— Bem, creio que isto é suficiente — disse Kingsley, pondo-se de pé. — Isto está se transformando num circo — A sala inteira se colocou em silêncio. Kingsley lhes deu um olhar de aprovação antes de tomar assento e continuar falando. — Já escutamos tudo o que tínhamos para escutar, agora só devemos decidir; não quero mais opiniões pessoais.

Draco sentiu seu coração bater com força novamente: depois de toda discussão e confusão que armaram, havia chegado o momento de sua sentença, apesar de que ainda lhe dava voltas na cabeça o que escutou; que Potter tinha falado com eles, mas... Sobre o que? Ou por quê? Reconheceu que o mais provável era que, lamentavelmente, iria ao túmulo com essas perguntas.

— Dada a natureza deste caso, optaremos por votar em segredo, assim que, meu assistente Percy se encarregará de fazer levitar uma pequena urna para seus votos — um murmúrio de aceitação foi escutado, enquanto Percy caminhava à frente com a pequena taça, muito parecida à que usaram no torneio Tribruxo. — Os que estiverem de acordo com a reinserção do jovem Draco Malfoy à comunidade mágica, sob as normas e disposições já conhecidas, devem dar seu voto positivo; os que não estiverem de acordo com isso e desejem condenar a Draco Malfoy à prisão perpétua em Azkaban pela sua participação nas fileiras de Riddle, devem dar seu voto negativo.

Draco piscou e esteve a ponto de levantar a mão para exigir uma explicação. Não havia, entre as opções, ser condenado ao beijo do dementador, aquilo era pior do que poderia esperar, lhe condenariam a uma vida inteira na prisão. Lembrou como seu pai havia voltado da prisão, as curtas conversas que pode escutar às escondidas entre seus pais sobre esse tema, sobre o quão horrível havia sido tudo, e Draco intuiu que era melhor estar morto que ter que passar o tempo rodeado de dementadores e outros bruxos gritando e pedindo a morte. Engoliu em seco enquanto via como a urna flutuava de lugar em lugar, pelos cinqüenta bruxos que integravam a Suprema Corte. O jovem bruxo, a quem haviam chamado Bonaccord, lhe deu um sorriso quando depositou seu voto, mas Draco estava tão nervoso que não foi capaz de corresponder.

Passaram alguns minutos, que a Draco lhe pareceram horas, enquanto Percy terminava de fazer percorrer a urna para logo parar no meio do salão, o mais afastado possível de Draco, e começar a contar os votos em voz alta, para que estes se marcassem no ar:

Sim, não, sim, sim, não, não, não, sim, sim, sim...

Draco tinha um nó no estômago enquanto escutava a contagem, fechou os olhos e tratou de fazer com que os zumbidos em seus ouvidos desaparecessem. Deveriam considerar todo esse processo como uma tortura; escutar um a um os votos, a desesperadora lentidão com que Weasley os faziam levitar até dar-lhes um lugar na lousa imaginária em meio ao tribunal, o som distante de um relógio que acabara de notar, os suspiros e ruídos de pequenas conversas entre os membros da Corte... Se tivesse a liberdade de fazê-lo, Draco se colocaria de pé a gritar pelo desespero, pela necessidade de saber...

Era de sua vida que estavam falando, era sua vida que estavam decidindo. Sua vida! Uma vida que talvez já não existiria, que já não teria... Será que alguma vez teve? Talvez não, sempre ligado ao que seus pais queriam, ao que seus amigos e a sociedade queriam, ao que o Lord das Trevas e os comensais decidiam. Sim, talvez, depois de tudo, não era sua vida, era de todos eles. Imediatamente, perdê-la não se tornou algo tão perturbador. Abriu os olhos no tempo exato para ver como Weasley levitava o último dos votos até o lado do quadro que dizia "sim", tentou fazer uma contagem rápida, mas Weasley foi mais veloz.

— Temos vinte e oito "sim" e vinte e dois "não", senhor Ministro.

Um grande murmúrio e uma bagunça irromperam-se no tribunal novamente, enquanto pequenos pedaços de insultos como "Comensal", "Trapaceiro", "Assassino" chegavam a seus ouvidos, mas ele não lhes prestava atenção e olhava a lousa sem entender: vinte e oito a vinte e dois, isso queria dizer... Realmente, isso queria dizer...? Era tão bom que nem se atrevia a pensá-lo.

— Senhores — gritou Kingsley —, isto é inaceitável — a sala inteira ficou em silêncio novamente. Draco a percorreu com a vista, vendo como alguns o miravam com o mais temível dos ódios, outros só o olhavam inexpressivamente. Bonaccord e outro bruxo que estava ao seu lado lhe sorriam abertamente. Apartou o olhar, sentindo-se ligeiramente envergonhado, enquanto Kingsley seguia falando.

— Agora que recuperamos a compostura, passaremos a você, senhor Malfoy — Draco levantou a vista até o novo Ministro, o qual lhe pareceu bastante imponente.

— Sim, senhor — disse quase em um sussurro. Sentiu-se envergonhado pela falta de confiança em sua voz, mas pensou que, dado o caso, o melhor era parecer humilde diante de todos esses que o olhavam como se fosse a pior das desgraças em pessoa.

ººººº

Draco removeu-se incômodo na cadeira enquanto apertava as próprias mãos. Decidiu que era impossível seguir sentado, estava muito nervoso, assim que se pôs de pé. Os dois aurores que o vigiavam (que não eram os mesmos que o levaram durante o juízo) lhe deram uma olhada desconfiada, mas Draco os ignorou, sabendo que não podiam lhe dizer nada por levantar-se. Alçou a vista até o pequeno relógio que estava pendurado em uma das paredes perto da porta, marcava as 10:50h da manhã... Em mais dez minutos, alguém viria por ele e o levaria à casa de sua mãe.

Alisou desnecessariamente a túnica escura que sua mãe havia enviado para ele essa mesma manhã. A princípio, esteve contente por poder deixar de usar a nojenta túnica de Hogwarts — suja, rasgada e, inclusive, queimada em algumas partes —, mas, enquanto pôs a que lhe haviam dado, se sentiu desalentado. Estava certo de que nem sequer os pobretões dos Weasley vestiam algo de tão má qualidade. Pelo que lhe informou o ministro Kingsley durante o julgamento, sua fortuna, propriedades, empresas, ações e qualquer coisa que pudesse haver pertencido a ele ou sua família, foram expropriadas pelo Ministério. Até tomar conhecimento disso, não havia acreditado que as coisas pudessem ser tão graves, nunca havia pensado na possibilidade de ficar sem ouro. Era estranho... Havia se imaginado morto em mais de uma ocasião, dementado ou encerrado por toda vida em Azkaban, porém jamais sem uma fortuna com a qual pudesse comprar qualquer coisa ou se abrir as portas até uma vida melhor. Realmente, estava tão ou mais assustado que em sua cela no dia anterior, ante a perspectiva de tudo o que poderia passar desse momento em diante.

Meteu a mão dentro do bolso e pegou a cópia do contrato que havia firmado depois do julgamento, no qual se detalhavam todas as ações que lhe estavam proibidas de realizar, assim como todas suas obrigações. Devia tê-lo sempre à mão, pois se é que houvesse alguma mudança na lei ou alguma informação ou intimação que enviar-lhe, o fariam por esse meio. Quando o assinou no tribunal, esteve em tal estado de choque que não havia sequer tentado passar-lhe a vista, só havia rabiscado seu nome em cada parte que lhe indicaram para logo sair dali com o pergaminho apertado entre as mãos, rumo a sua cela. Não foi até depois de algumas horas em que permaneceu naquela cama, que se deu conta que tinha algo entre as mãos. Tratou de ler o que puseram ali, mas foi impossível; tudo estava muito escuro. Sabia mais ou menos o teor do contrato, pois o ministro havia destacado vários dos tópicos, mas — devia ser honesto —, sua cabeça seguia dando voltas enquanto assentia como se realmente estivesse prestando atenção. Alisou um pouco o pergaminho com uma mão e começou a ler:

1 – Tem a obrigação de concluir seus estudos na Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. A intenção do Ministério é reinseri-lo na sociedade e, para tal, é necessário que esteja completamente qualificado como bruxo.

2 – No caso de não contar com os meios necessários para fazê-lo, o Ministério se encarregará de cobrir ditos gastos.

Draco deixou de ler, o estômago lhe dava voltas pela espera e aqueles dois primeiros compromissos que firmou lhe causavam um mal-estar pior. Como supunham que devia voltar a estudar em um lugar onde era mais do que certo que o odiariam? Pior ainda agora que não tinha dinheiro nem nada que o respaldasse. Nem sequer sabia se Goyle estaria ali para ajudá-lo como antes... Tomou um instante relembrando que antes haviam sido três e que agora Crabbe não estaria mais com eles. Ainda doía.

Dobrou novamente o contrato e o meteu no bolso para lê-lo logo, quando estivesse com sua mãe, longe daquele lugar. Passou as mãos pelo cabelo, tratando de desembaraçá-lo. Naquela manhã, antes de vestir-se, lhe permitiram banhar-se em um chuveiro sujo e meio destruído, que só contava com uma água tão gelada que passou a maior parte do tempo tremendo de frio. Também lhe haviam dado um pequeno sabão e uma toalha desfiada. Pese a essa tentativa de banho, se sentia bastante sujo e incômodo, não podia esperar mais tempo para enfiar-se numa banheira com água quente e deixar que seu corpo descansasse finalmente, talvez por uns dois dias pelo menos.

Olhou o relógio uma vez mais: 10:59h. Deu um suspiro. Ali estava, já havia chegado a hora de sair. Manteve-se em pé, mirando a porta com atenção, como se desta maneira pudesse obrigar a que tudo terminasse mais rápido.

A porta se abriu e uma mulher bastante jovem, com uma túnica de cor celeste, lhe lançou um olhar de fastio. Atrás dela veio um par de aurores.

— Senhor Malfoy — disse com certo desprezo na voz —, sua varinha — agregou, entregando-lhe a varinha que ele acreditava já perdida. Esteve a ponto de perguntar como a haviam obtido, mas a mulher seguiu falando com voz imponente. — Os aurores farão um encantamento de localização sobre ela e limparão todos os feitiços feitos até o momento.

Draco assentiu e entregou a varinha aos aurores, não sem certo sentimento de perda, agora que já a recuperou, por ter que separar-se tão rápido dela novamente. Um deles murmurou umas quantas palavras e uma pequena centelha prateada iluminou a varinha por um momento. O outro também agitou sua varinha e dela emergiu uma luz vermelha. Ambos aurores assentiram, satisfeitos, e a entregaram de volta. — Em trinta dias o esperamos para a revisão, de acordo ao estipulado em seu contrato.

— Está bem — respondeu Draco, enquanto tomava em suas mãos, com certa ansiedade, a varinha novamente. A familiaridade e segurança que lhe deu esse ato o fez sorrir.

— Pode ir agora, há uma chave de portal esperando lá fora para levá-lo à sua mãe — disse-lhe o segundo auror, enquanto apontava a porta que Draco havia olhado com tanta insistência.

— Minha mãe não veio? — Perguntou Draco, um tanto confuso, em direção à mulher que nesse momento já lhe dava as costas.

— Coitadinho, precisa da sua mamãe! — Disse a mulher, em tom debochado, à um dos aurores, que sorriu amplamente antes de girar-se até Draco, que, por sua vez, apertava a varinha com mais força entre os dedos, tratando de dominar a vontade de responder com algum comentário mordaz.

— Após a porta, há uma chave de portal esperando por você, Senhor Malfoy — repetiu a mulher, pronunciando as últimas palavras com muito mais desprezo que antes.

Draco suspirou. Isso não era mais que um pequeno aperitivo do que o esperava a partir desse momento e o sabia, não tinha mais opção que adaptar-se ou morrer tentando... E não estava muito disposto a deixar-se vencer.

Um Malfoy não se deixa vencer, repetiu para si uma e outra vez, enquanto caminhava até a porta que lhe indicaram, com a cabeça erguida, da maneira como seus pais lhe haviam ensinado a caminhar.

ººººº

Esperava — ultimamente só esperava —, era o melhor que podia fazer, o único que podia fazer. Sua utilidade havia sido reduzida a nada nesta ocasião, não havia nada que pudesse fazer para ajudar a sua família, para ajudar a seu filho. A sorte já estava lançada e esperava, rogava e suplicava para que esta vez a sorte lhes sorrise.

Havia sido a primeira dos três Malfoy a ser julgada. Nesse momento não sabia, mas o novamente publicado "O Profeta Diário" fez toda uma festa disso, inclusive havia instalado um contador mágico para que os bruxos estivessem ao tanto da quantidade de dias faltantes antes do "Grande julgamento da família Malfoy", que era como o denominaram. Realmente, teve que agradecer por estar suficientemente isolada como para não interar-se disso e de todas as demais coisas que diziam sobre eles — e, inclusive, das apostas que se faziam acerca de suas condenações — porque aquilo haveria terminado por destruir o pouco de sanidade que lhe restava, estando trancada nesse lugar. Nesse horrível lugar.

A cela era completamente cinza e apenas iluminada pela luz de uma lâmpada no corredor. Acorrentada de pés e mãos a uma das paredes, com comprimento suficiente para que pudesse se mover ao redor da cela... Claro, se é que queria carregar o peso que as correntes significavam. Pareceu-lhe um tratamento injusto demais, não tinha varinha, não havia nada que pudesse fazer dentro dessa cela. Sabia que o único que buscavam com isso era humilhá-los, fazê-los sentir-se como a escória que agora representavam para a sociedade. E o haviam conseguido.

Passou todas aquelas noites em vigília, esperando, soluçando em seus momentos de maior fraqueza, sempre pensando neles, sempre pedindo para que eles estivessem bem. Pensando em Draco e no cruel que havia sido o destino, condenando um menino à prisão por seguir os ideais de seus pais. Pensando em Lucius e quase resignada a que, se havia alguém que não sairia bem daquela situação, este seria ele. Ainda recordava o culpado que ele se sentiu durante os últimos dias, quando haviam obrigado a Draco a voltar à escola, quando não puderam falar com ele pela última vez, perdendo a oportunidade de fazer as pazes com seu filho. Também recordava aquele momento, durante a batalha final...

*Flashback*

Narcissa retorcia as mãos e caminhava de um lado a outro, detendo-se unicamente quando, desde o castelo, se escutava uma explosão, cada uma mais forte que a anterior. Então apenas sussurrava, sem atrever-se a olhar "Que não seja Draco. Draco não!" antes de voltar a caminhar de um lado a outro.

O som amortecido dos passos de Lucius a fez girar rapidamente. Viu seu esposo caminhando com lentidão, coxeando ligeiramente de uma perna, com a túnica totalmente destroçada e com os golpes ainda visíveis do último castigo do Lord. Os havia proibido usar a magia para curá-lo.

O que ele te disse? — Exigiu, alcançando Lucius e aferrando-se à sua esfarrapada túnica. — Parará logo com isto?

Lucius negou suavemente com a cabeça, não sendo capaz de pronunciar palavra alguma — o golpe que recebeu no rosto não lhe doeu tanto como a dor que sentia por não poder fazer nada por seu filho —, simplesmente abaixou um pouco a cabeça, envergonhado.

Você tem a culpa! — Rugiu Narcissa. — Você meteu essas ideias na cabeça dele, lhe disse que obedecer ao Lord era o correto! — Narcissa se afastou alguns passos, sentindo-se incapaz de permanecer perto dele um instante mais.

Devo ir por Snape — balbuciou Lucius, após uma nova explosão e vendo como uma das torres do castelo se derrubava.

Traga meu filho de volta! — Exigiu Narcissa, quando Lucius já havia dado a volta, afastando-se com passos cansados. O homem se deteve um momento, mas não se virou, apenas fez um assentimento antes de afastar-se completamente.

Narcissa seguiu seus passos até que o perdeu de vista. Sabia que Lucius estava sofrendo, sabia que estava arrependido de muitas coisas, da última briga que havia tido com Draco e, mais ainda, de havê-lo metido em meio àquela batalha que parecia não ter fim, mas também sabia que, se Draco não voltasse, que se Lucius não o trouxesse de volta são e salvo... Jamais o perdoaria e tampouco perdoaria a si mesma. Devia ter feito com que Draco escapasse, devia tê-lo ajudado a fugir com ele. Agora era tarde demais...

*Fim do flashback*

A rádio, que até então soava muito suavemente, com uma melodia melosa e até certo ponto exasperante, deteve a transmissão e Narcissa saiu de seus pensamentos, enquanto aumentava muito mais o volume. Já sabia o que aconteceria a seguir, esteve escutando essas reportagens durante os últimos quinze dias — os quinze dias que levava livre —, enquanto informavam acerca das condenações impostas aos ex-comensais...

— Em uma decisão totalmente inédita e contrária a tudo o que o mundo mágico esperava... — Começou a falar com voz entusiasmada o locutor. — Sendo já 04:35h da tarde, a Suprema Corte encerrou a sessão, deixando a Draco Malfoy, filho dos conhecidos comensais da morte Lucius e Narcissa Malfoy, em liberdade...

Narcissa se deixou cair novamente sobre a cadeira de madeira onde esteve sentada desde aquela manhã. Sabia, pelas notícias da rádio, que o julgamento de Draco seria esse dia. Não a deixavam aproximar-se ao Ministério, e muito menos fazer uma visita a seu filho, assim que, igual ao que havia feito durante o julgamento de Lucius, não tinha mais opção que esperar sentada naquele lugar que agora chamava de lar, enquanto outros decidiam a vida dos dois homens que tanto amava.

— Nos informam que temos alguns distúrbios na entrada do Ministério... — Informou a voz do homem, logo após um momento de silêncio. — Sim, ao que parece, muitos bruxos e bruxas não estão de acordo com o veredicto e decidiram mostrar seu descontentamento plantando-se no átrio... — O locutor parecia repetir o que alguém mais o informava nesse momento. Narcissa apertou os punhos com força, sentindo raiva de que toda essa gente quisesse condenar um menino a algo tão horrível como a prisão. A seu menino. — Os aurores já os estão dispersando, repito, dita manifestação já está sendo dispersa, assim que é melhor não se aproximar... — O locutor pareceu ficar sem palavras um momento mais. Narcissa conteve a respiração; se havia algo que não ia fazer era alegrar-se pela liberdade de seu filho até que o tivesse em casa... E esperava que isso fosse logo. — Bem, senhores, me dizem que o distúrbio foi controlado rapidamente, o Ministro em pessoa, ao que parece, saiu para pedir à população que se retirasse e nos dará uma coletiva de imprensa esta noite. Não se preocupem, pois poderão escutar cada notícia importante em sua rádio confiável de sempre: TWR3. E, antes de continuar com a transmissão, façamos uma contagem: já chega a trinta e sete o total de comensais de alto-escalão julgados, sendo Draco Malfoy o segundo a ser liberado — a primeira foi Narcissa Malfoy. Correm rumores de que foi o próprio Harry Potter quem advogou por ambos antes que os julgamentos dessem início, por algum tipo de dívida de vida, ainda que, como sempre sucede com "O grande salvador do mundo mágico", não nos confirmaram nada. Até agora, a condenação mais curta imposta pela Suprema Corte foi para Gregory Goyle, quem, segundo muitas testemunhas, participou da batalha final — ainda que não conte com a marca no braço e não tenha assassinado ninguém — e foi condenado a quarenta anos na nova prisão de segurança máxima de Azkaban. As condenações mais severas foram, como a comunidade mágica clamava, penas de morte, as quais já foram aplicadas à vinte dos trinta e sete comensais julgados. Segue sendo uma reviravolta muito interessante a liberação de Draco Malfoy, a quem todos davam por condenado à prisão perpétua, após saber-se de sua participação no assassinato do diretor Albus Dumbledore. Pelo visto, a Suprema Corte parece ter sido muito mais branda com ele, recebendo a mesma condenação que os bruxos e bruxas que faziam parte das fileiras inferiores de Você-sabe-quem, dito número eleva-se a centenas de magos. Sabemos que os Malfoy já não contam com nada da riqueza que antes os caracterizavam e os faziam tão influentes, sendo assim, só nos resta confiar que o critério da Suprema Corte seja adequado e que não estejam cometendo um erro ao deixar nas ruas um dos mais jovens Comensais. E, ao meu parecer, senhores, não importa se levam ou não a marca no braço, é um Comensal e... — Narcissa decidiu que havia escutado demais, seu filho foi liberado e isso era o importante, o único que importava agora. Seria melhor começar a preparar tudo para quando chegasse, sabia que a vida seria dura de agora em diante, mas pelo menos tinha seu filho ao lado e isso sempre seria um grande alívio.

ººººº

Draco não tinha se dado conta de quanto tempo levava preso até um dia antes, quando leu que no contrato que havia firmado figurava a data 20 de julho de 1998. Ele poderia jurar que levava anos, ou quiçá décadas, recluso. Durante a primeira semana que permaneceu nessa cela, havia tentado manter a conta, porém logo desistiu. Pensou que era melhor não saber, evitar um pouco mais o desespero.

Agora, com o contrato guardado no bolso e a varinha na mão, enquanto se acercava àquela garrafa vazia de cerveja amanteigada — que era uma chave de portal — para chegar em casa, com sua mãe, começava a pesar sobre seus ombros o tempo que permaneceu na escuridão; mais de três meses sem ver o verdadeiro céu, a lua ou o sol, sem ver seus pais... Mudou sua linha de pensamento enquanto segurava com mais força que o normal a garrafa vazia. Não queria pensar em seus pais ainda. Não sabia bem o que havia passado com seu pai, somente que estava morto, mas sua mãe estava lá fora, em algum lugar, esperando-o, e isso já era bastante reconfortante. Com isso bastava, no momento.

— Em dez segundos, Malfoy — disse a voz irritada de um auror atrás dele.

Draco apenas assentiu desinteressadamente, iniciando sua própria contagem regressiva na cabeça. Sentia como o seu coração se agitava e como começava a se fazer difícil respirar. Apenas estava em sete em sua cabeça quando a pressão em seu estômago aumentou significativamente. Pelo que lhe pareceu um tempo muito longo, seu corpo foi pressionado e puxado em todas as direções, enquanto, ao redor, as cores e luzes mudavam rapidamente. Seus ouvidos começaram a zumbir e logo pode sentir, por fim, um chão sob seus pés. Suas pernas flexionaram-se ligeiramente para não cair e quando finalmente se manteve em equilíbrio, abriu os olhos, embora não tenha se dado conta de que os tinha fechados. Piscou algumas vezes, tratando de se acostumar à deslumbrante luz que iluminava todo aquele lugar. Soltou a garrafa que usou como chave de portal e esta caiu no chão, fazendo um som grave e repetitivo, embora não tenha se quebrado. Contudo, isso não interessava a Draco: a única coisa que lhe importava era a silhueta que tinha adiante, a mulher que tinha em frente, que o olhava daquela maneira que fazia com que seu coração aquecesse e sua confiança crescesse; a maneira como sua mãe o olhava.

Narcissa apertou os lábios ligeiramente, vendo seu filho materializar-se diante dela. Por um instante, não soube exatamente o que fazer; seus músculos e membros se petrificaram e o único que atinava fazer era olhá-lo. Olhar cada golpe, cada cabelo fora do lugar, o quão magro se encontrava, os dedos e as mãos machucados, a forma em que segurava com tanta força a varinha. Seu olhar... Seu olhar tão similar ao de Lucius, seus olhos e feições... Parecia ligeiramente assustado, ou talvez surpreso.

Seus movimentos foram sincronizados, ambos deram alguns passos através do aposento e se reencontraram em um abraço cálido e forte, um abraço que falava de dor, de arrependimento, de saudade... Draco se deixou envolver pelo calor de sua mãe e pensou que seria genial ficar ali para sempre, em um lugar onde se sentia protegido, onde sabia que nada ruim aconteceria. Sentiu as lágrimas mornas de sua mãe deslocar-se pelo seu pescoço e, pela primeira vez desde que foi encarcerado, se permitiu seguir sua mãe e chorar também. Chorar de felicidade por vê-la, de pesar por seus amigos caídos, por seu pai. Chorar pela incerteza do futuro, chorar porque, no fim das contas, era um garoto de apenas dezoito anos, que havia sido lançado em mundo hostil... Chorar porque não sabia mais o que podia fazer.


Notas finais:

Traduzidas, em negrito; acrescidas, em itálico.

1- Tom Marvolo Riddle: Tom Servolo Riddle(Tom Sorvolo Ryddle, em espanhol). Na edição original, chama-se Tom Marvolo Riddle, contudo, foi mudado para que funcionasse o anagrama "Eis Lord Voldemort"(Soy Lord Voldemort, em espanhol). A autora preferiu adotar a nomenclatura inglesa e isso será respeitado ao longo da fic (O mesmo para os demais personagens, porque não consigo digitar "Lúcio Malfoy" ou "Gregório Goyle" sem arrancar fios de cabelo pela gastura.

2- Gregory Goyle: Na realidade, no sétimo livro não se diz o que passou com Goyle após o incêndio. Na vez seguinte em que se vê a Draco, é quando ele está tratando de escapar no saguão, mas sozinho. Tampouco ele é mencionado durante o último momento no Grande salão, ou quando já estão todos livres de Voldemort. Sendo assim, presumirei que foi lutar a favor de Voldemort e que por isso, Draco (que só pensava em escapar) se separou dele.

3- TWR: The wizard rádio. (Eu sei, não é muito original).

IMPORTANTE: A autora menciona nas notas do terceiro capítulo que a história também conterá mpreg (Num futuro longínquo). Particularmente, não gosto desse tema mesmo com toda liberdade de abstração que o mundo mágico oferece , mas quando o alerta veio eu já estava completamente envolvida pela trama e paguei pra ver. Ainda bem que Zafy não colocou a notificação no primeiro capítulo, pois HPyFP é uma fic tão maravilhosa e densa que até a questão da mpreg é bem desenvolvida e crível. Portanto, caso você, assim com eu, torça o nariz para gravidez masculina, dê uma chance para essa história e comprove como qualquer tema é factível se o autor souber como abordá-lo.

PRÓXIMO CAPÍTULO - DEPOIS DA GUERRA: A HISTÓRIA DE HARRY