Disclaimer: Thor não me pertence. Eu não ganho nada escrevendo isso.

Avisos: Slash, Lemon, M-Preg. Se não gosta dos gêneros citados, não leia.

O Espelho da Trapaça

Fragmentos

Os passos dele permanecem falsamente firmes durante o trajeto. Ele arrisca um olhar para o lado e vê o irmão carregando o Tesseract, o olhar focado no caminho à frente. Ao redor deles, as estrelas brilham no imenso e colorido pôr-do-sol de Asgard. Loki anda ignorando o bater acelerado de seu coração e o toque firme de Thor em suas costas.

Ainda em silêncio, os irmãos passam os portões que guardam o palácio e rapidamente se encontram na presença de Odin e dos anciãos. O deus da trapaça treme levemente ao se encontrar sobre o pesado olhar do Pai de Todos e se odeia por isso. Com passos lentos e decididos, Odin se aproxima de seus filhos, que se ajoelham – Loki precisando de um puxão de Thor para se abaixar.

- Loki, príncipe de Asgard. – o líder dos deuses começa, recebendo um olhar de reprovação do filho mais novo, um olhar que mostra o desejo do deus de se pronunciar e dizer que não é um asgardiano, que na verdade ele é o príncipe de Jotunheim, que ele é o monstro temido pelo povo de Asgard e não seu príncipe – Seus crimes contra este reino e o reino de Midgard foram graves, pedindo uma punição de mesmo nível. – Odin fez um movimento com a mão e um guarda se aproximou, retirando a mordaça metálica que sela os lábios do feiticeiro – Eu, Odin, Pai de Todos, nesse momento, o destituo de sua magia. – o choque no olhar do deus mais novo refletiu o fraco tremor na voz do líder de Asgard – Assim não terá como aplicar seus truques para ferir outros e também o destituo de sua voz, impedindo-o de enganar mais inocentes com suas mentiras.

Odin tampa a boca do filho, impedindo-o de protestar e, com seu poder, retira a magia e a voz do deus da trapaça. Thor tenta protestar, mas um olhar do pai é o suficiente para que o deus do trovão se cale. Sem poder interferir, Thor assiste enquanto o castigo do irmão é consumado. O coração do príncipe de Asgard dói ao assistir as lágrimas que caem silenciosamente pela face de Loki. O mesmo acontece com Odin, mas o Pai de Todos sabe que isso é necessário. Sem uma punição para pará-lo, Loki continuaria até destruir a todos e a si mesmo.

Quando o processo termina, Odin se afasta e Loki abaixa a cabeça, as mãos tocando a garganta, os lábios separados tentando pronunciar alguma coisa, mas nenhuma palavra consegue ser proferida. As unhas do deus da trapaça afundam na pele pálida, arrancando um pouco de sangue, mas são logo afastadas pelas mãos fortes de Thor, que tenta acalmar o irmão.

- Levem-no. – assim que a ordem é dada por Odin, dois guardas se aproximam e seguram Loki pelos braços, levantando-o e levando-o para sua cela.

- Pai! – Thor pede – Por favor.

Os soldados param no meio do caminho, aguardando a resposta de Odin. O Pai de Todos apenas repete o movimento, indicando que Loki deve ser levado. Os soldados obedecem, retirando o deus da trapaça do salão.

- Pai! – o deus do trovão se aproxima de Odin. Dor, tristeza e desespero brilhando nos olhos azuis – Isso é mesmo necessário?!

- Sim, Thor. – o rei de Asgard responde simplesmente e deixa o salão.

Um a um, todos os presentes se retiram, deixando o deus do trovão sozinho. Um grito deixa os lábios de Thor, assemelhando-se a um rugido. O peito do guerreiro sobe e desce em uma respiração descompassada que acompanha o ritmo alucinado com que o coração forte bate. Um soco é desferido contra uma das pilastras e Thor se deixa escorregar até o chão, o punho e a testa apoiados contra a superfície dura.

Por que tudo isso está acontecendo? Por que Loki fez tudo que fez? Será que ele não vê que a linhagem dele não importa, que ele ainda é o irmão mais novo de Thor? Que ele sempre vai ser o irmão de Thor... Outro soco é desferido e o deus do trovão se levanta, caminhando lentamente para os próprios aposentos, os pensamentos ainda focados no irmão. Thor tenta imaginar a dor que Loki sentiu ao descobrir a verdade e a imagem das lágrimas que o irmão derramou ao ser destituído de magia e poder veio a sua mente. Loki enganou, traiu e matou, mas está sofrendo, Thor pode ver isso. Seu irmão está sofrendo e não sabe lidar com isso.

Decidindo ajudar o irmão, Thor muda o caminho que segue, indo em direção as masmorras e procurando pela cela em que trancaram o príncipe de Asgard.

Enquanto isso, Loki anda de um lado para outro em sua prisão. As mãos batem e raspam nas paredes de pedra, a pele pálida é machucada, pintada de vermelho, mas ele não se importa. Loki tenta falar, gritar, mas nenhum som deixa sua boca. Em sua mente, ele amaldiçoa Odin e os anciãos por o terem punido dessa maneira. Ele amaldiçoa Thor por não impedi-los e então sua mente para por um momento e Loki pensa com mais clareza.

Thor. Seu irmão. Não, Thor e ele não são irmãos. Não há sangue os unindo. Eles são completamente diferentes, príncipes de reinos e raças diferentes. Ele é um jotun, Thor é um aesir. Thor é um príncipe, ele... Ele é um monstro e mostrou isso a todos. Ele mostrou o monstro que é a todos aqueles de Asgard, ele mostrou aos patéticos mortais de Midgard!

Então por que Thor não se voltou contra ele? Os chamados Vingadores o derrotaram, Odin o puniu. Thor o trouxe para casa. Por que Thor não o pune também? Não o olha com ódio ou desprezo? Por que ele insiste em agir da mesma maneira como sempre agiu para com Loki? Cuidando dele, protegendo-o. Por mais que tente, Loki não consegue entender a mente de Thor.

O som da cela sendo aberta chama a atenção do deus da trapaça, que se vira, deparando-se com Thor. Talvez ele estivesse errado e Thor só estivesse esperando o momento certo para castigá-lo com as próprias mãos. Loki respira fundo e engole as lágrimas, aguardando a ira que o deus do trovão certamente jogará contra ele.

Mas o ex-feiticeiro é surpreendido por um toque suave e carinhoso em sua face, afastando alguns fios negros de seu rosto. Assustado e desconfiado, Loki procura pelo olhar do irmão, encontrando nas íris azuis o que sempre encontrou nelas: carinho, amor, preocupação. Tal descoberta irrita Loki, que bate no pulso de Thor, afastando a mão do guerreiro de seu rosto.

- Loki. – Thor chama, tentando voltar a tocar o irmão, mas sendo repelido – Eu sinto muito. Eu não sabia que essa era a punição que nosso pai... – nesse momento Thor recebe um olhar de puro ódio de Loki, mas não se importa – Eu não sabia que essa era a punição que ele havia escolhido para você.

Incapaz de falar, Loki empurra o deus do trovão em uma tentativa de mostrar seu desejo de que ele vá embora. Thor aproveita a situação e segura os pulsos do irmão firmemente. Loki tenta se soltar, mas Thor sempre foi mais forte do que ele.

- Loki, deixe-me ajudá-lo a passar por isso. – Thor pede em um tom de voz baixo e suave, mas Loki não dá atenção, continuando a tentar se libertar – Você é meu irmão, deixe-me ajudá-lo.

Ouvir Thor chamá-lo de "irmão" é o limite para Loki, que reúne toda sua força e empurra o deus do trovão, conseguindo que ele o solte. O ex-feiticeiro então dá as costas para Thor, caminhando para o ponto mais afastado da cela.

- Loki... – Thor vai atrás do irmão, colocando as mãos espalmadas na parede, cada uma de um lado de Loki, encurralando-o.

Loki não responde ao chamado, mantendo o olhar baixo e tentando levantar uma barreira contra todas as lembranças e sensações que a aproximação de Thor o fazem sentir. Segurança. Desde pequenos, por mais que odiasse e tentasse evitar, Loki sempre se sentiu seguro perto de Thor. Amado. Loki nega a si mesmo, mas sente o quanto é amado, o quanto sempre foi amado por Thor. E tudo isso o desestabiliza e o confunde. Cansado, ele levanta o rosto e move os lábios, a voz não sai, mas o deus do trovão consegue entender as palavras.

"Vá embora"

Entendendo que não vai conseguir nada do irmão no momento, Thor assente e deixa a cela, indo finalmente para os próprios aposentos.

Sozinho em seu próprio e sufocante silêncio, Loki senta no chão, os joelhos dobrados e colocados perto do peito, os braços cruzados, a cabeça baixa. Seria muito mais fácil ser um monstro, um trapaceiro, um vilão, se Thor o odiasse também.