Das Flores

Por Padfoot


O mundo de Silmarillion não me pertence, bem como a todos os seus componentes. Estas linhas foram dedicadas a J. R. R. Tolkien e sua hábil capacidade de tocar os mais desavisados e amáveis corações com suas tintas de vida. Todos os créditos são dados, portanto, a ele. Que esta minha insônia tenha brotado um pouco da natureza não tão esclarecida de Vána, a Sempre-Jovem.


Vim de lá, de lá de dentro.

Fiz-me música em Sua mente.

Criou-me, Adorado, como uma de suas luzes faiscantes.

Encandeou-me de puros sentimentos para que, assim, atendesse aos seus pedidos.

Louvei-o, Magnânimo, como o merecedor de toda a glória vindoura e vi as notas formarem o caule.

Como minha irmã, pus-me a orquestrar cores e texturas jamais antes sonhadas.

Estas se misturavam aos perfumes vários que ousei sentir em meio aos arranjos de minha imaginação pueril.

Em certa ocasião, permiti que minha irmã e outros aparentados, e amigos de nossa parte da música, prosseguissem sem mim.

Fui-me encontrar Contigo, meu melhor e mais íntimo amigo.

Tinha dúvidas a tratar e não sabia mais como guarda-las apenas para mim quando seus olhos, tão sábios e justos, caíam sobre a interrogação que me corroía.

Senhor, o que fazer quando as diferenças entre nós brotam com o passar da idade?

Devo eu, tão pequena, separá-las de todo?

Posso eu, minúscula e imatura, utilizar de sua imperecível bondade?

A sua dádiva posso dar aos que não podem andar ou falar?

Em minha mente vejo-os, Senhor.

Não há segurança, mas há proteção.

Não há a ordem de dupla personalidade separada, como nas outras canções.

O que entoo não há malícia, pois eu não sei o que é.

Aquilo o que desconheço, Senhor, pode me ferir?

Pode a minha fraqueza estragar minha canção?

Pode a dúvida de quem não deixou o verde findar a maturação apodrecer?

Sua mão, Supremo, acariciou-me e pude sentir ali o efeito de suas palavras acalentadoras.

Senti-me tola por suscitar perguntas tão fúteis, mas descobri o significado de imperecível.

E foi com este dom que havia me concebido.

Antes mesmo de eu descobrir este teu feito, de confundir-me comigo mesma no adubo da inocência, perdoou-me o jeito.

E como cria sua, Pai, saí-me perfeita, embora minha irmã mais velha dissesse "incompleta".

Mas eu não o era.

Nunca o fui.

Pois para mim restou a estacionária sensação de um bom odor, o inabalável contato de uma pétala ao coração que ressoa, e a firmeza incerta de uma flor que cede ao poder do vento.

Diferenciou-nos a todos.

E deu-nos segredos de vitória em Teu nome.

Resguardou-me com dons para fazer-me sempre presente.

Chamou-me menina, mas deu-me mulher.

Amou-me aos teus olhos.

E quando deparamo-nos com tua magnífica obra, Divino...

Quão graça tivemos!

Entre relvas que declamamos ao som de instrumentos, ali estava o firmamento de Teus pensamentos.

E lá, lá estava: menores, singelas.

Quase imperceptíveis aos olhos mais ávidos pela grandiosidade.

Similares ao meu pueril pensamento.

Apesar de minha irmã ter criado as maiores e encorpado meu quase inaudível (mas apaixonado) e manso canto, ainda sim feliz fiquei.

Tão frágeis, tão minhas, tão eu.

Nomeei-as e as cheirei.

E ao meu toque, ao meu olhar, as avivei com Tua presença.

Preenchi-as com meu sentimento e dediquei-as a Ti.

Mas, em íntimo, também as dei a outro amado, que Tu mesmo me destes.

Não como castigo, mas como alusão as me destes com prazo.

Pereciam ao poder do Outro, mais violento e vil, e também ao tempo, como nos destes.

Isto porque mesmo o amor por Ti doado não poderia prevalecer à minha adoração.

E pelo meu entendimento que permitiu que prevalecessem aos brotos.

Como uma eterna criança que rejuvenesce em plenitude.