PRÓLOGO: O FINAL PELO COMEÇO

"Era uma vez, há muito, muito tempo atrás, em um reino muito distante..."

Não, não. Para tudo! Tá tudo errado! Alguém, por favor, apague essa frase?

Desculpem-me, mas a minha história não vai começar assim. Quer dizer, talvez eu esteja sendo um pouquinho egoísta e mandão demais porque ela não é só minha, mas envolve também muitas outras pessoas, principalmente uma pessoa, e muitas outras histórias paralelas. E, segundo uma pessoa, "Você não vê? Não era para você fazer parte dessa história! Você não pertence à ela!" Animador, não? Mas, voltando...

Primeiro porque ela nunca foi um conto, até porque contos são curtos - valeu, Amy, pelo fato de você ser uma chata, mas, apesar de tudo, ter me ensinado alguma coisa que eu estava distraído demais nas aulas para aprender - e essa história é muito longa. Também não é de fadas porque criaturas mágicas e misteriosas não existem - ou talvez exista nessa história, mas isso é você que vai decidir. Segundo porque, pelo curso da história, como você vai ver, ela não termina feliz, e terceiro porque eu odeio, odeio, contos de fadas!

Essa história (ler o terceiro parágrafo) não é só minha, mas também não se passa há muito tempo, nem em um reino, muito menos distante.

É muito difícil dizer, exatamente, quando e porque tudo começou, até porque uma coisa leva a outra e tudo é resultado de algumas escolhas e muito acaso. Talvez foi quando eu a vi, mas eu não teria a visto se não tivesse ido a faculdade e eu não teria ido para a faculdade se ainda morasse em Boston e eu eu não morava mais em Boston porque... bem aí a coisa fica longa demais e complica tudo e tudo o que eu não quero é que vocês se confundam mais do que eu estou. Por isso vou começar do ponto em que a vi pela primeira vez, até porque foi aí que minha vida realmente chegou a uma encruzilhada.

Bem, isso aconteceu a dois anos atrás, em L.A., Califórnia. Pois é, né? Vocês aí da poltrona devem estar pensando... Los Angeles! Hollywood! UAU! Atores famosos! Brilho! Glamour! Fama! Não, não é nada disso. E eu não fui pra lá para virar ator, muito menos a Amy. Isso sim seria engraçado e daria uma história bem melhor do que essa, além de poder render boas risadas. Infelizmente não é esse o caso, então, vou logo avisando: essa história não é engraçada - ela tá mais para uma tragédia grega - e é longa, por isso se você não estiver disposto é melhor procurar outra leitura antes de começar esta.

Bom, também vou facilitar um pouco as coisas pra vocês e não me demorar tanto assim.

Eu estava na faculdade de Amy, quer dizer, minha faculdade também, porque eu estava fazendo Matemática há três semanas, era um calouro, mas era um pouco estranho dizer que ela era minha. Sim, acho que foi aí que tudo começou...

"Alguns meses atrás..."

Eu estava sentado no extenso banco de concreto com uns amigos e, de repente, meus olhos foram tomados por uma surpresa agradável e impressionante.

Uma garota cruzou o portão e avançou os passos em direção ao campus pelo caminho pavimentado. Uma deusa flutuando. Não há outra palavra para isso.

Jamais esquecerei aquela primeira visão de Iris. O corpo alto e esguio delineado contra a claridade da tarde, a nítida sensação de fogo adormecido que parecia encontrar alguma expressão apenas num traço suave em seus olhos, maravilhosos, extraordinários, castanho-caramelados, diferente dos olhos de qualquer outra mulher que conheci; a força intensa da serenidade que ela possuía, que apesar disso transmitia a impressão de um espírito rebelde e indomável, em um corpo cuidadosamente civilizado... tais imagens ficarão gravadas para sempre em minha memória. Jamais as esquecerei.

E ela caminhava como uma deusa, sem esforço, parecendo deslizar cada vez para mais perto de mim, como num sonho...

Mas como aquilo (decididamente) não era um sonho, eu sabia que algo cortaria a minha alegria. E ela não parou, nem virou-se.

Ela passou por nós, uma brisa esvoaçando os seus cabelos de tons castanho-claros, numa profusão quase dourada por causa do sol que tocava seus fios, em um manto de ouro vermelho. Um farfalhar suave do tecido leve da sua saia chegou aos nossos ouvidos como também o cheiro floral que emanava dela. Nunca me esquecerei daquele cheiro. Como se a temporada primaveril tivesse sido aberta e todas as flores se misturassem para dar aquele aroma magnético e viciante.

Aquela pele de seda, perolado, bonita, brilhava ao sol da tarde.

Ela não olhou para nós, mas parecia saber que a olhávamos. Talvez pelo modo engraçado como ela tentava disfarçar um sorriso frouxo, ou talvez o jeito com que sua cabeça se inclinava ligeiramente ou o leve rubor em sua face... a verdade é que não sei bem. Ela era totalmente normal. Suas roupas delicadas porém simples, seus cabelos soltos, sem qualquer vestígio de escova e secador e seu rosto completamente limpo de qualquer maquiagem, não que ela precisasse dessas coisas.

– Uau! Ela parece ter um... um... um fogo adormecido!

– "Um fogo adormecido"? Qual foi a dessa? – Robert riu.

– E bota fogo nisso! Ela é demais, né mesmo? – Dylan sonhou.

– Bom, seja como for, este fogo está bem adormecido... – brincou Charlie.

– Quem... Quem é ela? – perguntei, hipnotizado.

– Aquela? De boa, Dan, aquela você não consegue.

Lancei-lhe um olhar ameaçador e superior ao mesmo tempo.

– E você poderia me dizer então quem é a garota impossível e o porquê dela ser?

Dando de ombros, Charlie explicou:

Aquela é Iris – disse, apontando com o queixo a garota que acabara de passar por nós. – Bom, ela é impossível. Esqueça! Ela parece achar que está a um patamar acima do nosso.

Reparei no modo como ele ressaltou o "achar", um pouco irritado. Era difícil pra Charlie encontrar alguém que fosse mais auto-suficiente do que ele.

– Vai ver se a explicação não é essa? Ela foi uma safadinha lá em cima e os deuses a expulsaram de lá – Dylan soltou um de seus comentários terríveis, mas tive de admitir que essa suposição divina tivesse me ocorrido. Robert revirou os olhos.

– Se ela for, que os deuses me perdoem, mas ela é mais bonita que Afrodite!

Fiquei olhando fielmente a garota atravessar todo o caminho de concreto até chegar ao prédio e parar na entrada. Ela havia se encontrado com, o que pareciam ser, suas amigas. Eram garotas bonitas, eu tinha que admitir, mas, que perto dela, perdiam todo e qualquer brilho. De todas, eu reconheci apenas Alex, uma loira sexy cheia de curvas, que não tinha das melhores famas. Havia ainda uma chinesa de olhinhos puxados e outra com cabelos preto azulados extremamente lisos.

Iris sorria docemente. Elas conversavam sobre algo. Então, subitamente, ela virou o rosto, como se soubesse que eu a olhava, fazendo seus cabelos flutuarem com o movimento, e seus olhos encontraram os meus, precisamente, e fixaram-se por menos de cinco segundos que mais pareceram uma eternidade, como se o tempo tivesse congelado naquele instante. Senti como se uma corrente elétrica tivesse passado por mim, me varrendo completamente. Foi como ver através daqueles olhos e eles não eram alegres, eram tristes. Aquilo me paralisou. Como uma garota tão bonita podia ser tão triste? Seria aquilo possível? Seus olhos... eles eram tão... profundos, misteriosos, tão cheios de segredos que eu queria conhecer!

E, no instante em que ela me mirou, pude sentir como se ela estivesse lendo minha mente, conhecendo meus segredos mais profundos, sabendo de pensamentos que eu até tinha me esquecido. Também nunca me esquecerei daquela sensação paralisante. Senti que eu estava corando, algo que não acontecia comigo há muito tempo e eu não fazia a menor ideia do porquê! Então, a segunda impressão que tive dela era de que ela poderia muito bem ser uma feiticeira.

Pude ver uma mudança radical em seu rosto, tão corado, agora empalidecido e seus olhos vivos, morrerem como se perdidos em um vácuo, e ela virou-se tão de repente quanto da primeira vez.

Não sei se foi exatamente aí que algo despertou em mim. Algo quente, algo que fervia e saltava e me fazia querer sorrir, sorrir e tê-la.

Logo em seguida, Alex olhou para mim e disse algo pra Iris, com um sorriso malicioso e eufórico. Iris, que havia pegado rapidamente um livro depois do nosso olhar mútuo, não lhe deu atenção, mantendo a cabeça baixa, ou talvez tenha lhe respondido algo que eu não consegui ver, já que ela estava de costas para mim.

– Terra para Dan! – Charlie gritou no meu ouvido.

– Oi? E o que ela faz? Digo, que curso?

– Bom, fazer, ela está te fazendo de bobo! Mas o curso que ela faz é História além de fazer uma especialização em Moda. Por quê? Vai tentar?

Todos riram que nem uns abestalhados. Iris tornou a olhar para mim, rápida e precisa e então desviou novamente, e, ainda confusa e perturbada, se despediu rapidamente das amigas e entrou no prédio. Quando percebi, todos estavam olhando pra mim, com aquele olhar preocupado e cheio de compaixão, como se olha um ratinho de laboratório pronto para ser testado com uma das novas e aterrorizantes soluções da medicina. Não gostei daquilo.

– É... o negócio tá sério mesmo... – suspirou, e depois explodiu, irritado. – Ela deve é ser uma bruxa! Em uma semana ela enfeitiçou todos os caras da faculdade! É só botarem os olhos nela e puft! acontece. A partir daí não tem mais volta. Só suspiros e olhares sonhadores... Vá com calma, tá?

Charlie falou, a meu ver, um pouco magoado. Era certo, ele também estava apaixonado por ela. A garota era simplesmente demais para alguém não estar. Então algo apitou no meu subconsciente. Bruxa. Não, eu não diria bruxa, era muito forte, mas uma pequena feiticeira sim.

– Que foi, amigo? – brinquei. – Ela pisou no seu coração, é? A rejeição foi tão grande assim?

Ele me lançou um olhar amargo e Dylan disse:

– Ela deu um belo tchau pra ele!

Charlie lhe deu uma cotovelada.

– Au! E não foi assim?

Ele bufou.

– Eu fui chamá-la pra sair e ela me disse não. Só isso.

Pude ver que ela havia ferido o orgulho de Charlie. Aquela garota era o máximo mesmo! Diminuir o ego de Charlie era um feito considerável.

– Só estou dizendo: não caia você também nessa, entendeu? A garota é linda? É. É a mais bonita que você já tenha visto? Talvez. Mas ela não quer nada com ninguém. E isso se aplica a você, também, viu? Não pense que é impenetrável e que todas se apaixonam por você, mas que não acontece o contrário. Você pode se apaixonar por ela e vou dizer: vai se dar muito mal. Por isso meu concelho é: não perca seu tempo. Uma palavra: E-s-q-u-e-ç-a!

Não gostava daquele tom cheio de compaixão, e mais, eu não precisava de compaixão. Odiei por um momento aquela mão no meu ombro e o olhar clemente. Virei-me abruptamente para ele.

– Quer dizer que você acha que ela vai me dizer um não?

– Acho.

– Então tá bom. Você vai ver que está errado. Nenhuma, nenhuma, resiste a mim e vou te mostrar que ela também não vai resistir.

Charlie desdenhou.

– Eu duvido.

Robert e Dylan alternavam olhares entre mim e Charlie. Eu sabia que meus olhos deviam estar pegando fogo, eu estava pegando fogo. O ódio queimava nas minhas veias, pulsava no meu coração. Estava com raiva. E fazia tempo que eu não a sentia de modo tão febril. Parecia que eu havia voltado a minha época negra, em que eu era um órfão zé-ninguém, franzino e que não tinha nada, que não conseguia nada.

Pude sentir a apreensão dos dois ao meu lado, os músculos contraídos, receosos.

– Aconteceu com ele também – Dylan cochichou para Robert.

– Ferrou. Ela também te pegou, cara – Robert falou para mim. Naquele instante não entendi bem o que ele quis dizer com aquilo.

– Ok, aposta feita – rosnei.

Sai nesse exato momento, deixando um anticlímax. Ouvi ainda Dylan dizer por trás de mim.

– Sabe, ia ser muito engraçado se o Dan se apaixonasse pela única garota que não gostasse dele.

Mas eles iam ver só. Aquela garota ia cair aos meus pés. Ela não poderia ser diferente das outras. No fundo, todas elas queriam receber cantadas, queriam ser disputadas, serem apreciadas. Isso, de um jeito ridículo, as fazia sentir vivas.

Mas agora, não era só sua beleza que me movia, era o sentimento de poder, o orgulho.

Droga! Eu devia saber, devia ter sabido... Não se consegue tudo que se quer, quando se quer, nem como se quer. Há sentimentos e mágoas, rancor e amarguras. A vida é azeda e dura. O amor é cruel e sádico. E o tempo nem sempre cura feridas. E a dela ainda estava aberta e latejante. Eu queria poder ter entendido, queria poder ter compreendido e agora eu poderia não estar perdendo-a.

Como eu estava enganado na época... Como eu era imaturo, impulsivo e egoísta, uma atitude tão vaidosa e adolescente. Como teria sido bom se eu não tivesse ficado até à tarde na faculdade naquele dia. Se bem que eu estava fadado a encontrar com ela um dia desses, sendo ela, mais tarde, a melhor amiga da minha irmã...

Tem coisa pior que essa? Eu acho que não...

Ah, não! Me lembrei de uma. Ela ir embora por sua causa, por sua pressa e vaidade. O amor da sua vida. Faz ideia do que é isso? Ver alguém importante indo embora para, tipo, nunca mais?

É... pelo visto eu ainda tinha muito o que aprender...

Bem, foi aí que tudo começou e é por isso, por causa dela e por culpa minha, que eu estou no meio de uma multidão de gente, tentando correr contra o tempo, em um saguão lotado de um aeroporto...


Quem é vivo sempre aparece! Hehehehe Pois é, eu ainda não morri!

Devo admitir que eu tava com saudades desse povinho lindo do fanfiction! Olha não quero me comprometer nem prometer nada ainda. Isso é só um prólogo de uma história que eu estou trabalhando por enquanto (enquanto as aulas não começam pra ser mais verdadeira!). Já tenho os primeiros capítulos prontos mas não sei se vou continuar ou não.

Ah, e se alguém teve dúvida é o nosso Dan que tá narrando, sim! É novo pra mim porque eu nunca tinha escrito do ponto de vista dele então espero que tenha ficado bom! Vou tentar fazer o máximo de capítulos com ele até porque diferente das minhas outras fanfics, ele agora vai ser uma personagem de destaque! ;P

Por isso, calma fãs do Dan! Talvez vocês se surpreendam um pouquinho com ele...

E um obrigada especial para Jady, por nunca ter desistido de mim! :')