Autora: Dana Norram
E-mail: Vide profile
Sinopse: Memórias são como fotografias. Imagens em preto e branco, guardadas dentro de caixas de vidro, trancadas à chave. Chaves que não se quebram nem enferrujam sob o peso do tempo.
Casal: Sirius Black e Remus Lupin
Classificação: PG-13 / Slash
Gênero: Romance/Geral
Spoilers: Harry Potter e o Príncipe Mestiço (Porque o único 'Enigma' do sexto livro para mim é como a Tonks não percebeu que Remus Lupin além de tão velho, tão pobre e tão perigoso, também é tão GAY!)


Disclaimer: Harry Potter não me pertence. Se me pertencesse, eu não estaria escrevendo fanfics. Ou talvez estivesse, porque não teria a mesma graça ver Sirius e Remus se pegando no original, para ser bem sincera.

Aviso: Esta fanfic contém SLASH. E se você não sabe o que é Slash também não sabe o que está perdendo. Afinal, se Sirius e Remus já são bons separados, imagine o que eles não podem fazer juntos! Trabalho em equipe é uma coisa divina, eu garanto a vocês.


Você ainda se lembra?
Por Dana Norram

... Do primeiro Natal?

Sirius Black nunca gostara realmente dos Natais.

Desde que ingressara em Hogwarts, há quase seis anos, ele descobriu que aquela deveria ser uma época alegre e descontraída, sem segundas intenções ocultas dentro dos embrulhos coloridos. Uma comemoração bem diferente da festa formal, medida e regrada que costumava acontecer no nº12 de Grimmauld Place, onde os presentes eram escolhidos a dedo e não com o coração. Onde não havia real intenção de agradar, apenas de impressionar quem estivesse de fora. As felicitações frígidas que não se estendiam aos mesmos olhos frios e cinzentos que ele herdara.

Seu primeiro Natal de verdade aconteceu aos quatorze anos, quando finalmente conseguiu convencer os pais a deixá-lo passar o feriado com James Potter e sua família. Naquele 25 de dezembro, Sirius conheceu o real calor de um "Feliz Natal" seguido de um forte abraço e sentiu o verdadeiro sabor de uma ceia preparada com carinho e consideração. Ele lembrava de ter se perguntado por que não podia ser igual na Mui Antiga e Nobre Casa dos Black e finalmente chegou à conclusão que sentia inveja de James e de seus pais por conseguirem ser tão felizes com coisas tão simples quanto uma mesa repleta de pessoas que se amavam acima das aparências.

Por meses, Sirius desejou poder passar todos os seus próximos Natais na companhia dos Potters, até descobrir que ele nunca alcançaria aquele grau de felicidade. Era muito óbvio que os laços que ele tinha com James jamais seriam como os laços que ele poderia ter com sua família, caso eles se dessem bem de verdade. James era seu melhor amigo no mundo inteiro, mas amigos não podem substituir seus pais, nem mesmo irmãos...

Não podiam substituir Remus.

Sirius levou algum tempo para perceber que a verdadeira razão dele ansiar tanto pelas Luas Cheias nada tinha a ver com a sua peculiar vontade de quebrar todas as regras da Escola numa única noite. Foram precisos vários meses para que entendesse que o calor sentido cada vez em que ele acordava na Casa dos Gritos e encontrava um Remus ainda adormecido em cima do seu pêlo de cão não era apenas alívio em ver seu amigo bem. Aquela sensação não passava do disfarce de um sentimento muito maior e mais confuso. Simplesmente impossível de se exprimir em palavras.

Não que Sirius Black fosse exatamente ruim com palavras, embora admitisse com toda a sua modéstia que fosse melhor, muito melhor, quando apelava para os gestos.

"Você está me deixando mal acostumado, você sabe..."

Era verdade que Remus fizera uma cara muito engraçada quando Sirius se ofereceu para lhe aplicar uma massagem nas costas pela primeira vez, numa tarde abafada enquanto os dois estavam sozinhos no dormitório do quinto ano da Grifinória. Sirius engolira em seco diante da expressão de Remus e dera de ombros, argumentando que carregar tantos livros acabaria deixando-o curvado igual a uma velha.

Com uma risada contida e um aceno discreto, Remus largou o livro que estava lendo sobre a famigerada pilha que parecia nunca diminuir aos pés da sua cama e se aproximou de Sirius devagar. Seus olhos castanhos estavam tomados por um brilho tranqüilo, mas, ao mesmo tempo, sagaz. Um brilho que parecia perguntar "por quê?" enquanto as mãos de Sirius traçavam um caminho sinuoso pelas costas que se retesaram de leve diante do primeiro toque.

Eles nunca mencionaram o assunto a James e Peter. Sirius só se oferecia para fazer aquilo quando tinha certeza de que eles não seriam surpreendidos no dormitório, no jardim ou em alguma das passagens secretas que pouco a pouco eram adicionadas ao Mapa do Maroto, as linhas traçadas pelas mãos firmes de Remus.

Não que naquela noite eles precisassem do mapa para ter certeza de que ninguém apareceria de repente. Era Natal e, pela primeira vez, passariam tendo apenas um ao outro como companhia. Peter fora para casa e James tivera de fazer uma viagem de emergência para visitar os avós. Sirius e Remus tinham o dormitório só para eles.

Não era como se tivessem medo ou mesmo vergonha. A verdade era que todos os amigos possuíam seus pequenos segredos entre si e aquele era o segredo deles. Para falar a verdade, Sirius era muito egoísta e aquilo era algo que ele não gostaria de dividir com mais ninguém. O cheiro de tinta e pergaminho, dos livros que Remus carregava para cima e para baixo impregnado nas vestes gastas e nos cabelos castanhos. A sensação de que podia esquecer da sua família, dos deveres e de todo o mundo lá fora enquanto apertava os músculos tensos e assistia ao amigo fechar os olhos e sorrir.

"Por Merlin, Aluado, eu poderia usar uma marreta nas suas costas..."

Remus balançou a cabeça e reprimiu uma risada enquanto se ajeitava melhor no colchão macio, a barriga virada para baixo. Sirius notou os fios de cabelo da nuca do amigo se arrepiarem de leve quando suas mãos esbarraram sem querer na pele desprotegida do pescoço dele e não conseguiu reprimir uma risada quando Remus contorceu o corpo instantaneamente.

"Sabe, é complicado fazer isso se o senhor continuar sendo tão sensível assim..."

Remus virou-se de lado, a cabeça apoiada num dos braços, um olhar repreensor na face rosada. Sirius engoliu em seco, puxando as mãos de volta.

"Eu não sou sensível." Retrucou Remus, erguendo uma das sobrancelhas castanhas.

"Claro que é." Disse Sirius. "Quase deu um pulo só porque eu esbarrei no seu pescoço!"

"Isso não tem nada a ver com sensibilidade." Defendeu-se Remus. "Está frio e suas mãos são geladas."

Sirius tanto não esperava por aquela resposta que chegou até mesmo a erguer as mãos, encostando os dedos na própria face para verificar a temperatura deles.

"Não são, não" Sirius fez uma careta, "Você quem é o senhor 'super-sensível' mesmo."

"Não sou, não." Remus sentou sobre a cama e agarrou a base do próprio suéter, lançando a Sirius um olhar desafiador. "Quer apostar?"

Os olhos cinzas de Sirius piscaram algumas vezes antes que ele conseguisse fazer um aceno afirmativo com a cabeça. Mas ele não conseguiu dizer, nem fazer nada enquanto Remus puxava a blusa que usava por cima da cabeça e a largava displicentemente sobre a cama, antes de se deitar outra vez de barriga para baixo, suas costas nuas, pálidas e marcadas ao alcance das mãos repentinamente paralisadas de Sirius.

"Anda, Almofadinhas... ficou com medo de eu estar certo agora, hum?"

Com um inspirar fundo de ar, Sirius se aproximou e, antes de reparar que suas mãos tremiam, ele já tinha apoiado ambas sobre a pele de Remus, que desta vez não se contorceu diante do toque, deixando apenas um leve suspiro escapar.

A pele era quente e dava para sentir o palpitar suave do coração de Remus debaixo de seus dedos. Sirius apertou as mãos sobre as costelas, fazendo força nos pontos que estavam mais tensos, sentindo-o relaxar e soltar mal disfarçados grunhidos a cada ponto que era pressionado demoradamente. A garganta de Sirius estava seca, mas não havia nada no mundo que faria com que ele largasse Remus sozinho naquele momento. Era como se naquelas raras ocasiões ele se deixasse levar e se colocasse à mercê de Sirius. Como se ele colocasse, literalmente, sua vida nas mãos do amigo. Talvez de um modo muito metafórico, mas, ainda assim, genuíno.

"Isso é bom." Murmurou Remus, abraçando o travesseiro e enterrando o rosto no tecido branco. Sirius sorriu para si e apertou o ponto em que acabara de tocar mais uma vez, assistindo à respiração de Remus falhar por um instante antes de voltar ao normal.

Anos convivendo no mesmo dormitório mostraram a Sirius muitas coisas que o restante de Hogwarts ignorava e ignoraria para sempre. Como as cicatrizes que nem mesmo Madame Pomfrey conseguira curar e que desciam pálidas pelas costas de Remus. Esta cicatriz em especial, que ele ganhara ao ser mordido ainda criança Sirius vira pela primeira vez quando ambos tinham doze anos e ele e James tinham acabado de descobrir sobre o Lobisomem. Mas somente agora Sirius podia ver que, descendo junto à marca estreita, havia uma fileira de pequenas pintas. E ele sentiu algo que se parecia um minúsculo choque subir por entre seus dedos quando os deslizou em cima de cada uma delas.

"Sirius...?"

"Sim?"

"Isso não está me parecendo bem uma massagem."

Sirius sentiu o rosto quente e ficou surpreso consigo mesmo. Anos enganando Filch e boa parte do corpo docente haviam lhe dado a falsa sensação de que nada mais poderia deixá-lo corado. Parou o que estava fazendo, mas não removeu as mãos das costas de Remus. Nem mesmo quando o amigo apoiou os braços no colchão e ergueu o corpo, se virando de forma que as mãos de Sirius agora se encontravam em sua cintura.

"Ah, é?" Balbuciou Sirius, sentindo que, apesar de neve que caia lá fora, o ar dentro do dormitório era quente e aconchegante como o de uma tarde de primavera.

"É." Confirmou Remus, colocando suas mãos sobre as de Sirius como se fosse tirá-las de onde estavam. "Parece que você está, sabe, me alisando assim... de propósito."

"Oh." Sirius abaixou o olhar, confuso, e fez menção de puxar os braços, mas as mãos de Remus o mantiveram no lugar. Ele voltou a encará-lo. "E se eu estiver?"

"Você está?" Remus perguntou em voz baixa, se aproximando de Sirius o bastante para encostar a ponta do seu nariz no dele.

"Eu posso estar." Respondeu, a voz falhando ao mesmo tempo que suas mãos voltaram a tremer.

"Você quer estar?" E o tom de Remus mudara para algo que lembrava urgência e medo.

"Talvez eu queira." Sirius sorriu de um jeito quase obsceno.

"Almofadinhas..." Remus umedeceu os lábios inconscientemente e balançou a cabeça, começando a puxar suas mãos, mas Sirius as segurou com força.

"Eu quero." Ele disse, de repente, o coração batendo forte, quase descompassado.

Os olhos castanhos de Remus o fitaram com atenção.

"Eu quero." Repetiu, cobrindo os lábios de Remus com os seus. "Eu quero."

Sirius já tinha fechado os olhos e não pôde ver os lábios de Remus se curvando num sorriso tímido, mas vitorioso. Não viu, mas pôde sentir as mãos magras subindo pelos seus braços para daí enlaçarem seu pescoço de forma quase possessiva. Sirius sentiu os lábios úmidos começarem a se movimentar contra os seus de leve e assim pôde virar a cabeça de lado, abrindo a boca devagar, permitindo que a língua quente se encostasse à sua.

Não passou pela sua cabeça que aquilo pudesse ser errado ou que simplesmente não devesse estar acontecendo. Pois algo tão bom quanto aquele toque não podia estar errado, de forma alguma. E, ao separar os lábios, ambos dividiram um cúmplice e fascinado instante de silêncio, antes de voltarem a se beijar, sem que qualquer vestígio de medo, culpa ou preocupação assolasse seus pensamentos.

Foram apenas uns poucos segundos, sim, mas Sirius sabia que nunca se esqueceria deles.


Notas da Autora:

(x) Este ano eu fui uma ficwriter tão exemplar, não fui? Escrevi fanfic no aniversário do Remus ("No quarto ao lado") e agora uma especial de Natal, coisa que eu nunca tinha feito antes. E, ainda por cima, essa aqui é toda alegrinha, sem mortes e o dramalhão de sempre, vejam vocês! Eu mereço comentários repletos de açúcar de confeiteiro por isso, não mereço?

(x) Agora, já aviso que a minha idéia mesmo é fazer uma série com uns sete ou oito capítulos sob o título de "Você ainda se lembra?". Cada parte irá ser referente a um pedaço da vida/relacionamento dos nossos filhotes preferidos, cada um sendo uma história fechada (como esta) com um subtítulo equivalente. Não tenho previsão para postar o próximo, embora já tenha escolhido o subtítulo em questão. Então, devo continuar? (#puppy eyes#) Sugestões de temas a serem abordados? Todos vocês sabem como a história deles termina, certo? Certo!

(x) Pois é, eu tenho fetiche por massagem, sim. Principalmente massagem nas costas. Alguém aí conhece algum massagista bonitão para me apresentar? Eu juro que cuido bem dele!

Agradecimentos: A Lily Carroll (que leu a fic e teve a cara de pau de virar para mim e dizer "tem certeza de que foi você quem escreveu isso?") e a Calíope Amphora, minha insubstituível beta-reader.