Quando eu te esquecer…
Talvez um dia eu me consiga livrar de ti, e olhar-te com um sorriso
amigável apenas, disposto a ouvir-te falar sobre ele. Talvez
eu ria dos teus desenlaces amorosos, explicando que nada é tão
confuso ou complicado quanto tu pensas, enquanto eu me quebro por
dentro lembrando-me de minha falta de consideração para comigo e de
como eu tenho propensões a ser masoquista. E então eu posso
consolar-te quando, na verdade, sou eu quem precisa de conforto...
Posso até mesmo prontificar-me a falar com ele, e perguntar
porque te fez isso; e eu, certamente, estarei, na mesma noite, a
definhar-me sobre o meu travesseiro, na minha cama, odiando-me mais
ainda. Por ser um cobarde.
Talvez, mais tarde, me enterneça ao
observar-te ao lado dele divertindo–me com a tua concepção tão
simples do que é amor, mesmo tu sabendo quem ele é. E quem sabe
então, eu pare de me iludir esperando que tu de um momento para o
outro percebas que o certo é o lobo e não o vampiro. E, quem
sabe... Talvez eu arranque este ferro, que és tu, do meu coração,
quando me der conta que eu ainda tenho a mesma posição na tua vida.
Sou o teu melhor amigo. Nada mais do que o teu estúpido melhor
amigo.
Sou apenas, aquele que esteve ao teu lado em todos os momentos, aquele que abria mão de tudo para ajudar-te. Aquele que sempre temeu por ti, e apesar de tudo, sempre te amou, mesmo quando tu não estavas com humor para ser gentil com ninguém. Sou aquele que sempre te repreendeu quando assim pensou ser necessário. E mesmo que tu te esqueças, eu fui aquele que esteve aqui, quando ele te abandonou sem piedade. Sou aquele que se doa sem restrição a ti.
Fui sempre o primeiro que esteve ao teu lado quando algo mal
aconteceu, e o último a me afastar. Sou aquele que te compreende com
um olhar. Se eu pudesse... eu proteger-te-ia para a eternidade. Eu
impediria que te ferisses e seria ainda mais super protector.
Conheço-te como se fosses eu. E posso decifrar cada expressão do
teu rosto.
Eu sei que sou a tua razão. E que estou mais tempo que
o aconselhável na tua mente. E eu sei que me amas e te preocupas...
Do teu modo. Eu sei que precisas desesperadamente de mim. Também sei
que tu não és boa em demonstrar os teus sentimentos, mas, aos meus
olhos, tu transpareces. Porque apenas eu posso entender-te quase
completamente.
Talvez, algum dia, faça piadas do quanto estão bem um para o outro sem ter que forçar um sorriso. Ou talvez, eu consiga demonstrar toda a felicidade que não sinto ao ver-vos juntos, e talvez se eu repetir isso cem vezes na minha cabeça, eu me consiga convencer a mim mesmo que realmente sinto tal felicidade... E aí, talvez eu esteja liberto de ti.
É engraçado... Tu nem me notas. Não quando ele está ao teu
redor.
Eu queria odiar-te por me humilhar desta forma em troca de
nada mas sei que nunca poderei odiar-te. Odeio-me por te amar, e por
não conseguir dominar este sentimento. Odeio-me por não ter
auto-respeito e me continuar a postar a teus pés. Odeio-me por não
conseguir mostrar que apenas eu posso realmente fazer-te feliz. Eu
odeio-me por sofrer desta forma quase tanto como o odeio a ele. Eu
odeio invejá-lo.
Eu não vou odiar-te por me teres feito apaixonar por ti, mas, tu
deves saber, a culpa é toda tua. Não vou forçar-te a amar-me, mas
eu realmente desejo que ao menos sintas e reconheças uma minúscula
parte de toda a devoção que eu te dispenso.
Oh, Deus, a quem
estou a tentar enganar?
Quando eu não te amar mais… Terei
parado de respirar.
