Se forem ler aconselho a ler ouvindo Glory Box do Portishead ou Trouble do Coldplay.

- Sabe do que eu mais tenho medo? – escrevo com uma letra perfeita para tentar mostrar a calma que não tenho.

Tom não responde, mas continuo mesmo assim.

- De perder a minha alma e não conseguir achá-la.

Intervalo.

- Se eu perde-la você me ajudará a achá-la, Tom?

Continuo enterrada em meus pesadelos, procurando onde está minha alma nesse imenso labirinto no qual estou presa. "Me devolva agora minha alma!" Quero gritar. Quero chorar as lágrimas que não tenho mais.

Presa aqui lutando por uma causa que já se foi para mim, mas eu tenho que fazer isso para ao menos poder dizer a mim mesma, mentira, dizer aos outros que não desisti de procurar aquela antiga Ginny adormecida ou morta que está dentro de mim. Isso é tão melancólico, provavelmente Tom riria do meu estado nesse momento, sussurraria em minha mente como sou patética e me perguntaria com veneno se eu já achei minha alma perdida.

Quero puxar o ar que não vem aos meus pulmões, "aonde você está?" perguntou-me em meus pesadelos, mas eu não sei a quem chamo, minha alma ou a Tom.

Eu a perdi e ele veio. Som dos seus pés tocando a pedra. Passos inconfundíveis, sutis como o medo. Me lembra de uma tarde qualquer que Tom me explicou a diferença entre o terror e medo. O terror para despertar é preciso ser lembrado, já o medo não adormece, ele se arrasta pelos seus ossos, corre em suas veias e por fim cobre a sua alma.

Tom pára calmamente atrás de minha poltrona, desliza sua mão como uma cobra pela cabeceira alta da poltrona de veludo, fecho meus olhos e não me mexo. Sinto sua respiração no topo de minha cabeça.

Por um instante a respiração de Tom não mais se encontra em choque com o topo de minha cabeça, ele deve estar sorrindo sadicamente penso. Ele não comenta nada, sabe que o comentário nesse exato momento passa pela minha cabeça, "preferiu a minha à ajuda de seu príncipe, Virgínia?", fico tentada a responder, mas prefiro calar-me.

Ele se senta calmamente em uma poltrona à minha frente. Seu olhar gelado se encontra com o meu, não nos víamos há três anos. Tom sorri friamente, mas não retribuo. Ele se inclina levemente para chegar mais perto.

- Como esta Virgínia? – pergunta-me friamente. – Não escreve faz tempo.

Olho com uma falsa calma.

- O de sempre Tom. – respondo seca. – Esqueci.

Ele volta a se encostar-se à cadeira, agora com as costas eretas.

- Senti saudades. – comenta com escárnio.

Prefiro não responder. Abaixo os olhos. Tom me analisa.

Meu olhar se encontra com o seu.

- Você já achou o que procura? – pergunta-me Tom com um tom venenoso.

Gargalho friamente.

- Sabe pequena Gina, você não irá achá-la nunca.

Congelo.

- Aonde você a escondeu? – pergunto levemente tensa.

Ele sorri com escárnio.

- Eu a matei.

Tom dá outro sorriso cínico.

- Mentira, você já está bem grandinha para saber – fala sarcástico – eu sou ela agora Virgínia.

Encaro os olhos de Tom.

- Então eu a achei, Tom, porque eu estou virando você.