1-Mudanças em nossas vidas

Saga G – 13 anos atrás

Itália, Ibiza

-Onde...

Os olhos se abrem fracamente observando luzes vermelhas no céu.

-... Onde eu estou?

Ela acorda completamente e as luzes vermelhas do céu são substituídas por um manto negro repleto de estrelas.

-Estou na Terra...?

Finalmente reparando em sua volta, Bellona, a semi-deusa musa de Ares, se vê em um campo de guerra, onde só havia sobrado sangue, corpos, armas e angustias.

-Então houve uma guerra aqui... –ela tenta pegar uma lança que se parte - Eu sinto a tristeza de todos esses cavaleiros mortos... – rindo com desprezo, comenta pra si mesma - Como os mortais são tolos...

Andando entre os cadáveres, Bellona pega algumas moedas de ouro no chão, que achou que lhe podiam ser úteis, até ver algo que chama sua atenção; uma espada grande com uma safira, que brilhava mesmo com o escuro da noite e estando repleta de sangue. Ela retira a espada da mão do corpo que a segurava, e pelas vestes e energia que sentia nele sabia que era um cavaleiro.

-Esta espada contém o sangue de mais de uma pessoa...

Sua energia começou a vibrar e, sem saber, Bellona utilizava seu cosmo que começava a despertar sentindo o ódio e angustia das vitimas.

-Olhem lá rapazes!Não esperava encontrar uma pessoa viva aqui!

Bellona se vira furtivamente e se depara com um grupo de homens arruaceiros que a cercavam e ainda segurava a espada, mas sem dar muito valor a ela.

-Pessoa? Isso ai é uma criança! –diz outro - Uma linda garotinha...

-Humanos sujos e infelizes... – seu desgostoso murmúrio alcançou o ouvido daquele que estava mais próximo a ela.

-Ainda vai querer zombar de nós?Faz tempo que eu não mato alguém, queridinha...

Com um leve sorriso no canto dos lábios, a garota sussurra com sarcasmo:

- Idiotas...

-Não se preocupe menina, não vamos matá-la.

Nessa hora, o homem com mais pose e bem arrumado do grupo saindo de seu estado de mudez usou um tom de voz malicioso, e revelando-se ser o chefe do bando.

-É bonita para uma garotinha. Será útil de escrava até ter mais idade...

Os outros homens também riam e dois deles foram pegar Bellona, mas na hora que chegaram perto foram esmurrados a uma velocidade incrível, e caídos no chão, se levantaram e foram para perto dos outros que também estavam surpresos.

O chefe do grupo pega uma espada não muito grande coisa e corre em direção a garota que apenas ergue o dedo como defesa, mas não adianta nada e ela acaba levando um grande corte na barriga.

-O... O que? –murmura Bellona enquanto leva a mão ao ferimento que doía - Meus poderes!Onde estão meus poderes de deusa?

Ela cai de joelhos e enquanto os homens riam, só conseguia olhar enfurecida para o céu.

-Deuses... -pensava - Vocês tiraram meus poderes! Agora entendo por que estou na Terra... Seja qual for à razão, não irei perdoá-los!

Ela tenta se levantar e pega a espada que deixou no chão para auxiliá-la. "Mesmo sem meus poderes de deusa sou uma das melhores guerreiras do Olimpo. Sei que agora tenho limitações, mas poderei sobreviver nesta Terra."

- Mortal insolente, pagará caro por essa afronta.

Todos os homens se preparam a pará-la, ao perceber pelos seus movimentos que sabia lutar. Nessa hora, seu cosmo que despertava ficou ainda mais forte fazendo não apenas que ela pudesse sentir novamente o ódio das vitimas dos sangues que banhavam a espada, mas sim canalizar sua energia nela para atacar, e isso que aconteceu. Um imenso raio de luz vermelho saiu da espada e matou todos os homens com um único golpe.

-Isso... Isso que eu fiz é... –dizia a garota espantada - Descobri um ataque poderoso, mas, para isso...

De repente seu corpo começou a ferver, mesmo com o frio da Itália, até ela ser rodeada por uma luz vermelha e se sentir tudo ficar confuso.

-Isso é o...

Ela cai no chão desmaiada, com o ferimento aberto na barriga sangrando mais que no começo.

"... Cosmo. Essa força que eu criei foi por que um cosmo se despertou em mim! Apesar de ser poderoso, não deixa de ser de um cavaleiro... Isso quer dizer que não serei mais uma deusa? Sou realmente uma humana? Sim, agora não posso contar mais com meus poderes... mas... senti uma presença perto de mim... Poderia ser ele? Claro, ele jamais me deixaria desamparada, mesmo não podendo estar ao meu lado. Obrigada, Ares..."

-Ela está acordando!

-Que bom!

Bellona – Mas o que...?

-Olá querida. Está se sentindo melhor? – diz uma senhora que segurava um pano úmido com sangue.

Bellona estava deitada em uma carroça guiada por um velho senhor, e sua esposa havia cuidado de seu ferimento e estancado a hemorragia.

Ela agora se sentava com extrema dificuldade, ao mesmo tempo em que deixava passar por sua cabeça pensamentos nada animador. Realmente não estava despertando de um terrível pesadelo. Encontrava-se na Terra sem seus poderes de deusa, e nenhuma ninfa para dar-lhe o tratamento que os deuses achavam no mínimo adequado. Recapitulando as cenas anteriores, tocou o ventre enfaixado tendo a certeza de seu atual inferno existencial. Conseguira utilizar todo seu cosmo em um único ataque, o que não era nada comparado ao que outrora podia fazer. Seu corpo estava fraco não só pelo recente ferimento, como também pela energia que gastou.

- Descanse, garota. O ferimento não foi muito profundo, mas mesmo assim necessita de descanso. Assim poderá recuperar mais rápido e voltar a seu caminho.

- Estas paragens não têm sido muito acolhedoras recentemente. – a senhora anunciou tristemente – Bandidos, proscritos e mercadores de pessoas todos os dias saqueiam e muitas das vezes matam pessoas. Você teve sorte.

Já estavam dentro de uma pequena de cidade e Bellona tinha que pensar rápido. Olhando para seu lado vê que os senhores trouxeram também a espada e ela a pega para começar a limpá-la enquanto pensava. Notando direito, ela vê que havia algumas inscrições antigas e um lugar para mais uma safira, só que menor, em cima da outra. Como se empenhava em batalhas, nunca se importou em estudar manuscritos antigos, e este seria o motivo de não poder traduzi-los.

-Algum problema querida? – diz a senhora.

- Não é nada. – só agora pensou em abrir a boca, mas mesmo assim, suas palavras surgiram sem intento algum. Estava pensativa em relação a espada.

- Acho que ela está bem melhor agora.

Em um segundo, tudo fica claro na cabeça de Bellona, enquanto eles passam na frente de uma taverna com cavalos presos a porta; ela vagaria pelo mundo a procura da outra safira para se tornar poderosa e assim se jogaria a uma jornada para aumentar seus poderes, já que não poderia mais retornar para casa.

Bellona moveu-se com certa dificuldade devido aos solavancos da carroça e a aos seus ferimentos, indicando que pretendia descer ali mesmo. O senhor puxou as rédeas para os cavalos apararem, depois se vira para ela colocando a mão em seu obro e empurrando para que se deitasse novamente.

- Sei que é uma menina forte, mas deve descansar pelo menos alguns dias.

Bellona nada falou por causa de seus pensamentos que estavam distantes. Nunca em toda sua vida precisou de repouso por causa de ferimentos, mas neste momento, era o que mais precisava, assim como tentar se adaptar a sua nova realidade. Sem poderes de deusa, sem uma refeição digna de seu status, e sem a companhia daquele ser com quem gostava de dividir suas aventuras. Tudo o que restava para ela era um mundo caótico, e pessoas estranhas. Só de olhar para a fruta que a senhora lhe oferecia chamou a seu rosto a repulsa e o nojo. Infelizmente, pensou, terei que me contentar com essas coisas. Por fim devorou a fruta em silencio, ficando assim até a sua partida. Saiu durante a noite, sem chamar a atenção de seus anfitriões, e nem deixou um bilhete agradecendo.

Agora a garota se encontrava sozinha nas ruas da pequena cidade italiana e entra na taverna. Lá havia muita música, muitos homens bebendo e mulheres dançando, tipicamente como os bares antigos. Alias a cidadezinha era bem antiga, tanto nas construções tanto no estilo de vida.

Todos olharam de canto de olho quando Bellona entrou; uma bela garota de 12 anos, pele branca, cabelos castanhos longos e levemente ondulados, olhos verdes, e trajando um belo vestido vermelho que era longo antes de ser rasgado na luta contra os arruaceiros, agora estava com os joelhos aparecendo.

Apesar de ser nova já era bem decidida, e ao chegar no balcão pede uma bainha que pudesse acomodar sua espada enquanto escolhe umas roupas novas. Passa um tempo e ela aparece na parte do bar novamente só que vestindo um conjunto roxo; a calça que tinha cortes de um dos lados na perna direita entrava em uma pequena bota também roxa, a blusa acima do umbigo com um pequeno decote e proteção para os ombros, ambos roxos, e uma capa de frio preta. Ao pegar a bainha, guarda a espada nela e a amarra na cintura, paga pelo que comprou e vai à direção aos homens de uma mesa.

-Qual dos senhores é dono do melhor cavalo preso ali fora?

-Seria comigo, senhorita... – disse um deles enquanto segurava uma carta de baralho, que provavelmente ia baixá-la a mesa.

-Vou ficar com ele – respondeu Bellona, enquanto jogava umas moedas de ouro a mesa -Isso basta?

-É o segundo. – respondeu o homem com uma cara atônita.

Ela sai do armazém sem dizer mais uma palavra, observa os cavalos para ver se o que comprou era o melhor mesmo e sai galopando pela silenciosa cidade, concentrada no rumo que sua nova vida seguiria.

Correu a noite toda, e ao amanhecer decidiu parar para descansar um pouco, já que não tinha sentido nenhuma energia de batalha por perto.

Para com seu cavalo, o qual batizou de Ares, perto de um lago e abre a cesta que ganhou da velha senhora para comer algo, pegando uma maça.

-Não é um mel dos deuses –disse após a primeira dentada- Mas não é tão ruim.

Enquanto comia pega sua espada e olha seu reflexo no lago; ela é uma deusa jovem, por isso apesar de ter centenas de anos tem aparência de 12, que agora era sua idade terrestre.

-Eu vou encontrar essa safira e me tornar bem mais forte... Eu não sei como fazer para voltar ao Olimpo, à única maneira que vejo é essa...

Ela se levanta e mira as árvores que dão inicio a um bosque. Canaliza sua energia na espada, a safira emite um pequeno brilho azulado e, em pouco segundos as árvores haviam sido destruídas.

- Um único corte, que é fatal. Quanto mais eu canalizar meu cosmo nessa espada mais irei controlar minha energia... Com a outra safira serei invencível! – diz Bellona pra si mesma – Ares... Não se esqueça de mim...

Áustria, algumas semanas depois.

A porta de uma taverna em uma pequena cidade austríaca acaba de ser quebrada pelo corpo de um homem que jazia no chão inconsciente. Dentro da taberna, encontrava-se uma mulher vestida com uma roupa velha surrada pelo tempo, pele levemente bronzeada, olhos e cabelos na cor violeta, estes sempre presos com presilhas feitas de ossos e dentes de algum animal. Esta ria com uma espada em punho se defendendo com ela de todos os objetos q eram jogados em sua direção. Quem passava pela ruela desse vilarejo escutava o som de coisas quebrando. A mulher se abaixa para pegar uma jarra de vinho bem na hora que uma cadeira acertaria a sua cabeça. Uns diriam que foi um golpe de sorte, outros diriam que ela era muito ágil e que percebeu a tempo de se esquivar. A verdade mesmo era que ela queria beber o vinho. Continuava rindo da situação.

- Você só é valente porque tem essa espada pra se proteger, caso contrario, já estaria estendida no chão!

- Não seja por isso. – ela joga a espada um pouco acima da cabeça do homem, e esta se prende na madeira da taverna.

Vários homens partem pra cima dela, e ela apenas desviava dos socos e chutes atacando ao mesmo tempo. Seu corpo movia com uma incrível rapidez. Não só batia e se defendia como também bebia o conteúdo da jarra, rindo toda vez que um punho passava de raspão em seu corpo.

- Lamentável!! Não há um homem nesta taberna capaz de derrubar uma garota. Embriagada ainda por cima. – a jovem ria tão alto, divertindo-se com a fúria dos homens presentes.

- Não cante vitória antes do tempo. Você vai acabar cometendo um erro, e ai você não escapa...

Quando ela se preparava para beber o vinho, um homem barrigudo quebrou o fundo da jarra. Ela olhou desconsolada para o liquido que caia no chão, e depois se volta com uma grande fúria para o autor desse desatino. Isso gerou um grande temor nos demais, e com esse temor, os homens arrancaram de suas almas coragem pra enfrentar a fera.

Mesmo estando em desvantagem, ela conseguia se livrar de alguns ataques. Eis que o cabo de uma espada acerta sua nuca, e ela cai de encontro ao chão.

- Mortal barulhenta!! Só assim ficou em silencio... – essa mulher encapuzada estava até então no canto da taberna, em silencio. Tudo o que ela queria era comer em paz.

- Maldita!! Quem pensa que é pra intervir na nossa briga??

- É isso mesmo! Só por causa disso, acabaremos com você, e depois será a vez dela.

Com movimentos rápidos ela mata todos eles. Muitos só souberam o que fazia todos estarem no chão quando era sua vez. Ela passeava pelos corpos que jaziam no chão sem perder a graciosidade de seus passos. Ela pega a espada de Delaine, e logo após pega a própria levando-a em seu ombro.

Em uma estrebaria, a figura da noite anterior estava de pé com um balde d'água e joga em Delaine que acorda assustada como se estivesse se afogando.

- Mas quem diabos você pensa que é pra me acordar assim?

Delaine olha a sua volta tentando reconhecer o lugar, e tentando se lembrar o que tinha acontecido no dia anterior. Ela sentia uma fisgada na sua nuca, passou a mão e constatou que havia um galo. Ignorando completamente o esbravejar da outra jovem, comunica em tom ausente de sentimentos:

- Você terá a honra de servir-me. Este é um pagamento justo por meus préstimos generosos a um ser perdido nos atributos dos festejos de Baco.

- Como é que é? Você com a maior cara deslavada me diz uma coisas dessas???!! Espera só eu sair dessa ressaca pra você ver o que é bom pra tosse.

Quando ela fez menção de se aproximar dela, chegou um grupo bem considerável de soldados. Todos armados e prontos pra atacar a qualquer momento.

- Todos esses soldados são para me prender só por causa da minha brincadeirinha na taverna? Vocês não têm nada melhor pra fazer não?

- Considere-se presa, forasteira... Se fizer resistência, vamos te matar... – o soldado se dirigia a Bellona, com certo receio.

- Ahh!! Isso não é justo!! Você ficou com a melhor parte.

- É para pequenos incômodos que servem os serviçais. Não sujarei novamente minhas mão com a escória.

Nesse momento mais soldados chegam, só que se vestiam completamente diferente.

- Delaine Rylie, dessa vez eu vou te colocar em um calabouço e jogar a chave fora.

- Pensando bem, acho melhor você cuidar do seu assunto. Não posso decepcionar meus amigos. – ela diz baixo para Bellona, e depois volta seu olhar para o capitão e diz sorrindo – Eduard, amável como sempre... Trazendo seus soldados para um passeio matinal? Eu já te avisei que alguém pode pensar mau sobre isso.

- Só por causa deste insulto arrancarei seu couro...

Eduard avançou com golpes de espada, mas a única coisa que ela fazia era se desviar e ficar pulando de um lado pro outro, rindo a todo instante. Bellona que até então lutava com bravura olhou pro lado e viu o que Delaine fazia. Isso a deixou muito irritada.

- Pensei ter escolhido um bom lacaio, mas ao que parece me enganei. É tão imprestável que não consegue nem mesmo empunhar a espada.

Embora Delaine estivesse ocupada "lutando" com Eduard e seus soldados, pôde ouvir claramente o comentário de Bellona.

- Se eu tivesse com a minha... – Delaine se interrompeu ao encostar na espada pendurada na cintura por uma bainha. Toda desajeitada, retira de sua proteção sorrindo. Em sua defesa faz cara de quem foi afetada por algum mal estar – Acho que ainda estou um pouco tonta...

Bellona meneou a cabeça em um ato de reprovação. As duas lutaram com todos os soldados, embora Delaine continuasse brincando com a situação. Restou apenas Eduard, que já não tinha forças pra continuar lutando. Este se viu encurralado com o último golpe de Delaine. Ela aproxima-se dele roubando um beijo e depois o derrubando em um chiqueiro de porcos. Ela estava indo embora com Bellona rindo de tudo, principalmente dele que gritava:

- Eu vou te matar, Delaine Rylie, por todos os deuses, eu juro.

- Dizem que é pecado jurar pelo nome dos deuses em vão.

- Pai de todos os deuses, estes humanos tem como virtude a promiscuidade.

- Não sei com que fala, garota, mas não acredito que esteja querendo me lisonjear.

Bellona fez uma cara de quem já esperava por algo parecido de um ser tão inferior

como Delaine que continua:

– Mesmo assim, contarei como o conheci só para matar sua curiosidade. – Delaine deu uma piscadela divertida para Bellona e continua – Eu estava tomando um vinho e brincando um pouco, quando vi uma multidão na frente da taverna. Eduard saiu correndo para ver o que estava acontecendo, e eu fui atrás dele. A confusão era por causa de um homem que estava desesperado, procurando por sua filha desaparecida. Juntei-me ao grupo de busca. No final das contas apareceu um exército querendo se apropriar do povoado, e foi ai que eu mostrei meu valor expulsando o exercito.

Retirou a espada da bainha fazendo gestos como se estivesse mesmo em uma batalha. Com um leve sorriso continuou:

– Com isso, acabei tomando o posto de capitão de Eduard. Pode ter certeza que ele ficou irritado com isso. – largou o leve sorriso, dando lugar para uma gargalhada ao lembrar-se da cena toda. De repente ficou séria e continuou com um tom de voz diferente. – Mas eu acabei descobrindo que o chefe do povoado raptava moças e transformava-as em suas escravas pessoais... Daí você já tem uma idéia do que aconteceu. Pra defender a moça, perdi meu posto de capitã e quase fui presa.

- Então você luta pela justiça? – Bellona perguntou querendo entender o motivo de um ser como aquele pôde se deixar levar a crer que tem total livre arbítrio sobre seu destino. "Como os mortais são tolos mesmo. Lutam por algo sem saber que seus destinos já foram traçados há muito tempo, e que só depende das três parcas para mudar seus destinos com um simples fiar ou corte de sua linha do destino".

- Não!! – Delaine exclamou veemente - Eu luto pra encontrar alguém que seja mais forte que eu, e que possa me derrotar.

Ela dizia rindo, enquanto Bellona concluía mentalmente "Definitivamente os mortais são uns completos idiotas". Andaram por algumas horas sob e som da voz estridente e barulhenta de Delaine que não parava de falar o tempo todo, contando algumas de suas aventuras. Bellona em alguns momentos teve até vontade de rir por causa das historias mirabolantes daquela que poderia se passar por um bobo de corte. Quando finalmente elas alcançaram outro vilarejo, pararam pra descansar. Delaine aproximou-se de Bellona dizendo de uma forma espalhafatosa:

-A sua espada é muito bonita... Deixe-me ver de perto...

- Afaste-se, idiota!!! – Delaine não ficou surpresa com o que Bellona havia dito, mas sim com a sensação que sentiu ao aproximar-se da espada.

- Essa não é uma espada comum... Seria a espada da lenda que meu avô me contou um dia?

- Isso não é da sua conta!! Meta-se apenas com o que lhe diz respeito, mor... – Bellona interrompeu-se ao lembrar que não deveria revelar sua verdadeira identidade a um ser inferior a ela.

Delaine ficou um tanto cismada com Bellona. Podia jurar que ela pretendia chamá-la de qualquer coisa, menos de serva ou escrava. Isso pouco importava, pois já teve uma breve idéia de como aquela a sua frente podia se comportar com as outras pessoas. Sem se deixar abater, sorriu perguntando:

- Não fomos apresentadas corretamente... Como devo te chamar?

- Bellona.

- Muito bem, Bellona... Pra onde iremos?? Por essas áreas não encontrei o que procurava.

- Você me seguirá aonde for, e terá a honra de me servir em todos os sentidos. Cuidará de minhas vestes, da ceia, e para lidar com vermes dos que estavam agora a pouco a me incomodar. Acho que pelo menos pra isso você deve servir.

- Vamos esclarecer uma coisa, Bellona. Eu sou uma guerreira que procura aventura, e você me parece a companhia ideal para tal propósito. Não sou sua escrava, serva ou qualquer outra coisa do tipo. – com um longo sorriso, Delaine mudou de assunto – Onde iremos?

Bellona pensou um pouco e, com a cara amarrada, se levantou e prendeu as poucas coisas que Delaine tinha com as suas, em seu cavalo.

- Grécia.

- Ótima escolha. Pra dizer a verdade estava pensando mesmo em dar uma passada por lá. Dizem que existem grandes guerreiros lá. Mas para alguém que veio ao pequeno povoado de Leibnitz, está tomando o caminho errado. A Grécia fica na outra direção. Devo supor que veio da Itália, pois os soldado que atacaram agora pouco vieram de um povoado próximo a Villach.

Bellona apenas ajeita-se em sua montaria, e Delaine dando de ombros, acompanhou a pé até o próximo vilarejo onde pegou um cavalo que pastava perto do rio. Finalmente as duas seguiram em frente com uma marcha rápida. Por todos os lugares que as duas paravam, Delaine aprontava das suas, e era sempre Bellona que a tirava das piores encrencas: "Quantas vezes eu vou ter que dizer pra não acertar a minha cabeça com o cabo da sua espada?" Bellona sempre se desanimava quando observava a sua companheira: "Uma serva deveria obedecer-me cegamente, e nunca agir por conta própria." Era sempre assim... Porém Bellona percebeu aos poucos que dentro daquela bagunceira e brincalhona escondia uma grande guerreira. A única coisa que ela não entendia era o motivo de Delaine agir assim. Quanto a Delaine, esta sempre se sentia insultada com a forma prepotente de Bellona, principalmente quando a companheira tratava-a como uma serviçal. E para mostrar que nem em sonho se tornaria servo de alguém, fazia tudo totalmente oposto do que lhe fora ordenado. Tinha sempre algo em mente: descobrir o motivo de tanta arrogância e superioridade da companheira. Nunca desistiria desse objetivo.

Continua...