-Aaaaa, iá! Iá!- gritava Rubi a cada golpe que dava com sua maneta na densa mata.

Havia saído para recolher gravetos que pudesse usar como tochas para iluminar a escura caverna que agora era seu lar. Seu estoque acabara na noite passada e não queria passar outra noite iluminando o lugar com uma chama artificial. No entanto, a quantidade absurda de vegetação alta daquele lugar não a ajudava em sua busca. Estava golpeando folhas há meia hora e, até então, sem sinal de madeira.

-Iá! IÁ! IÁÁÁ! ARGH, MATA IDIOTA!

Rubi sempre fora impaciente e aquelas plantas a irritavam facilmente . A cada golpe que dava, com mais raiva ficava e, quanto maior a raiva, mais fortes (e quentes) seus socos ficavam. Sua pele avermelhada começava a adquirir um tom levemente arroxeado quando viu uma silhueta azul encontrar seu punho.

-O-oh! Então é agora que vou morrer...?- disse uma moça de pele e vestido azul estirada no chão.

-Ah! Desculpa, desculpa, desculpa!- Rubi gritou.- E-eu não sabia que você estava aí!...

Rubi tentou ajudá-la a levantar-se, mas a temperatura de suas mãos estavam tão altas que ela acabou queimando uma parte do longo e ondulado cabelo da moça misteriosa que não pareceu importar-se com tal coisa.

A moça de azul pegou a mecha incendiada e abafou a chama com uma das mãos, apagando-a da mesma forma como se apaga uma vela com os dedos.

-Você é a Rubi.- simplesmente afirmou.

-C-como você sabe meu nome?!

Ela brincou com sua mecha queimada, que ainda soltava fumaça, um pouco sem jeito.

-Eu vi você se apresentando...- no futuro.

-...! Como você faz isso?! Aham... mas sim, meu nome é Rubi. E o seu?

-Você é uma pessoa bastante energética e nervosa- ela riu, ignorando a pergunta.- Cuidado para não matar ninguém por enquanto.

Rubi sentiu o rosto queimar de vergonha, mas seus olhos brilhavam de encanto pelos dizeres da moça misteriosa. Incrível como sua visão do futuro poupava o esforço de ter que se apresentar e falar de si mesma. Rubi geralmente se embolava em suas próprias palavras quando conversava e aquilo a estressava. E muito.

-A propósito, sou Safira. É um prazer conhecê-la. Desculpe-me por ter entrado na sua frente no mato é que eu... Estou um pouco perdida.

-Não, não, há há!- Rubi riu nervosa- Me desculpe você por... er, digo... pela minha mão ter socado... você. Não, pera, isso não soou bem. Argh, mas que-

-Está tudo bem, eu a perdoo. - Safira a cortou.

-Hum... então, e-eu estava procurando madeira para fazer algumas tochas para iluminar a caverna em que eu moro, mas já está escurecendo e não acho que essa mata seja segura para se passar a noite... Você pode ficar lá até amanhecer e puder enxergar o caminho de casa.

-Aceito o convite! E adoraria poder ajudá-la com a madeira também.

-Sério?!- ela disse mais alto do que devia. - Ahem, digo, obrigada. Mas, hum, Safira, não é? Se você consegue ver o futuro, como está perdida?

Ela suspirou.

-Eu vejo o futuro até uma certa distância apenas, infelizmente. Se não vejo o caminho de volta, significa que talvez eu fique muito tempo por aqui.

-Ah, sim, entendo... eu acho. Enfim, vamos então?- Rubi mudou de assunto, não querendo aprofundar-se no que não conseguia compreender.

-Sim, vamos.

Safira levitou até estar acima da alta vegetação e foi em direção ao oeste.

-Espera, é pro outro lado, Safira!

-Ah!- ela virou-se para o leste- Tem razão. É que faz bastante tempo que eu vago por essa mata.

-Bastante quanto?

-Muitas noites. Mais do que meus dedos podem contar.

Rubi corria como louca tentando alcançá-la.

-Ah!... Sim!... Dedos!...-arfava.- Aqui! Chegamos!

-Não, isso é só uma pedra.

Seu rosto esquentou novamente ao ver que Safira estava certa.

-Ah ha ha ha! É! Eu sei que é uma pedra, há há! Eu só tava... er, testando você. Sabe, pra ver se a visão do futuro ainda estava funcionando.

-He, He, é claro que estava.

O embaraço foi tanto que o rosto de Rubi ficou roxo.

-Agora sim chegamos- Safira pousou e entrou na pequena caverna.- Obrigada novamente por me acolher.

-N-não há de quê!- Rubi coçou a cabeça.