We Are The Same
"Eu espionei por você, menti por você, me coloquei em perigo mortal por você."
Era tudo verdade, e mais um pouco. Albus conseguia entender a indignação, a sensação de ser usado; ele mesmo não passara por ela? Não se sentira enganado, abandonado, todos aqueles anos atrás. Mas Severus não tinha acabado, e sua voz continuava a falar, e parecia ser capaz de apagar todos os anos entre aquela fatídica tarde e a noite que parecia mais escura que nunca.
"Tudo isso supostamente para manter o filho de Lily Potter em segurança! Agora você me conta que tem criado o garoto como um porco para o abate..."
Ele estava, mais uma vez, marcando uma criança inocente para morrer, sem motivo, sem razão. E atrás dos olhos negros do homem que tinha consentido em lhe trazer a morte, Albus podia vez os olhos azuis de Ariana, frios, e os olhos cheios de vida de Harry, os olhos do garoto que aprendera a amar – e como alguém poderia não amá-lo? Sério, ele olhou para o homem à sua frente, esperando que ele tivesse menos essa dor para compartilhar.
"Mas isso é comovente, Severus. Você passou a gostar do garoto, afinal de contas?"
Não gostaria que ele tivesse esta culpa no coração à mais, mas ao mesmo tempo, esperava que algo tivesse conseguido penetrar as barreiras firmes que tinham construído em torno de suas dores e decepções. Não era apenas um velho tolo, pecando por amar, como Tom diria.
"Dele?" gritou o outro, e a dor em suas palavras parecia cortar, seria destrutiva se ainda houvesse algo dentro de Albus que pudesse ser destruído. Um traído, um traidor, um jogador de xadrez com a vida de inocentes, tão ruim agora quanto tinha sido quando jovem, diferente daquele homem, que fora capaz de mudar tanto – e para tão melhor. "Expecto Patronum!"
Da ponta da varinha irrompeu a corsa prateada: ela aterrisou no chão da sala e saltitando pelo aposento, saiu pela janela.
Esta era uma benção que jamais poderia esperar ter. Não tinha memórias que não tivessem sido manchadas pela traição posterior. Amara Gellert com todo seu ser, no entanto, jamais poderia usá-lo como uma boa memória, como uma forma de conjurar aquela espécie de poder. Não, tinha falhado, e tinha levado a pessoa que fora a mais importante de sua vida apenas à derrocada, à solidão, ao vazio que parecia tomar conta de ambos – nenhuma besta prateada poderia vir para consolá-lo. Quando se voltou para Snape, seus olhos estavam marejados de lágrimas, de dor, compreensão e alguma inveja.
"Depois de todo esse tempo?" perguntou, conhecendo muito bem aquela dor.
"Sempre" respondeu Severus, e fechando os olhos, Albus acenou.
Não haveria mais ninguém, para nenhum dos dois. Nunca. E a solidão tomaria conta de Severus como dominara sua vida, temendo falhar novamente, temendo amar novamente, pois nunca haveria ninguém como Gellert – como Lily – e não haveria lágrimas que consertassem suas falhas.
Ele era um velho tolo, afinal.
