Prólogo – Uma carta do presente.
Desculpe, não sei quem é você, mas já não há mais tempo de se apresentar. Apenas deixarei isso tudo, cada palavra que aqui estará escrita, como uma herança. Não sei a quem, talvez ao mundo...
Viver. Sobreviver. Essas duas palavras estavam em minha cabeça a todo o momento enquanto eu permanecia lá, desacordado, alheio a tudo, ao fim de uma noite que, após a mesma, minha vida nunca mais seria a de antes.
De início, eu pensava qual foi o ato pecaminoso que eu cometi para ter um destino daqueles. Destinado a estar sozinho. Perguntava-me: por que eu estava vivo? A diferença, é que de início eu não queria achar a resposta para essa pergunta. Eu me recusava, porque não era isso que bem me importava. Não é como se ainda houvesse vida em mim. Eu apenas estava vivo.
Pelo menos era assim. Usei de artifícios para esconder de meus próprios olhos as marcas que remetiam àquela madrugada fria de 25 de Agosto. Não queria pensar nela, não conseguia pensar nela.
Eu achei que nunca superaria. Que estava fadado a uma vida sem mais nenhum feito, à deriva, apenas esperando em meio a um mar de lágrimas que a minha hora finalmente chegasse. Ah. A morte chegaria atrasada para mim.
Mas não é sobre meus sentimentos depois de tudo, que todos esses capítulos estarão dizendo. É a história. A pessoa que me fez mudar o ponto de vista que mantive, e que expliquei nesses últimos cinco parágrafos desta carta que ainda acho ser inútil. Inútil quando vejo de um jeito... Mas depois fico pensando, ela pode vir a ser necessária.
Ou meramente introdutória.
Viver ou sobreviver? Volto a me perguntar. Antes eu apenas pensava nas palavras "viver" e "sobreviver" sem conectá-las na mesma frase. Quem me fez formular essa pergunta em mente foi ele.
E dou graças a qualquer ser, por ele existir, e ter me feito formular essa pergunta.
E ter me ajudado a formular essa maldita pergunta.
E ter me ajudado a responder essa não mais tão maldita pergunta.
E ter me permitido abrir os olhos e receber o tempo de vida que me restou, de braços abertos.
E ao lado dele.
Kim Kibum.
